pauloautuori – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 São Paulo não venceu melhor da Europa em 2005, mas méritos são inegáveis http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/24/sao-paulo-nao-venceu-melhor-da-europa-em-2005-mas-meritos-sao-inegaveis/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/24/sao-paulo-nao-venceu-melhor-da-europa-em-2005-mas-meritos-sao-inegaveis/#respond Sun, 24 May 2020 20:49:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8542

Foto: Martin Rickett / Getty Images

Em dezembro de 2005, o melhor time da Europa já era o Barcelona de Ronaldinho. Líder do Espanhol, melhor campanha da fase de grupos da Liga dos Campeões 2005/06, superando Arsenal e Lyon no saldo de gols. Em novembro, massacrara o Real Madrid de Vanderlei Luxemburgo no Santiago Bernabéu por 3 a 0, na memorável atuação do brasileiro camisa dez blaugrana, que arrancou aplausos da torcida do maior rival. Ao final da temporada seria campeão nacional e europeu, no auge do trabalho de Frank Rijkaard no comando técnico.

Mas o Liverpool de Rafa Benítez era forte. Na Premier League, caçava o líder Chelsea, campeão da temporada anterior e comandado por José Mourinho. Os Blues também foram adversários dos Reds na fase de grupos da Champions. Empataram em 0 a 0 os dois jogos. O time vermelho vinha de uma invencibilidade de 11 jogos, sem sofrer gols, e carregavam uma confiança quase inquebrantável por conta da reação na final contra o Milan, saindo de um 3 a 0 contra, empatando e vencendo nos pênaltis. O “Milagre de Istambul”.

Na semifinal do Mundial, passaram com facilidade pelo Deportivo Saprissa, o surpreendente time da Costa Rica que vencera a Liga dos Campeões da CONCACAF. Três a zero e o campeão europeu carregava um favoritismo natural para a segunda edição do torneio organizado pela FIFA. O retrospecto recente, nos dez anos de 1995 a 2005, já mostrava um domínio do Velho Continente: foram oito conquistas a três, considerando as duas edições de 2000.

Também porque o São Paulo enfrentara mais dificuldades contra o Al-Ittihad na vitória por 3 a 2. O campeão da Libertadores que, depois do título sul-americano, passou o segundo semestre oscilando, chegou a flertar com a zona de rebaixamento no Brasileiro, mas terminou na 11ª colocação. Exatamente o meio da tabela na edição com 22 clubes.

Justificava os cuidados defensivos da equipe comandada por Paulo Autuori na final em Yokohama, reprisada pela TV Globo neste domingo, para São Paulo. Especialmente depois do gol de Mineiro, aos 27 minutos do primeiro tempo. O auge do único momento real de equilíbrio na partida.

O Liverpool, que fazia um jogo mais direto, terminou com 53% de posse porque impôs seu volume de jogo, buscando Morientes e Luis Garcia nas ligações diretas e jogo aéreo. Finalizou 21 vezes contra apenas quatro dos sul-americanos. Oito a dois na direção da meta.

Três ataques que terminaram com a bola nas redes bem anulados pela arbitragem, atuação portentosa de Rogerio Ceni, especialmente na antológica defesa em cobrança de falta de Steven Gerrard. Já ídolo e líder em Anfield, grande destaque da equipe inglesa que empurrou o São Paulo para um 5-2-2-1 com os alas Cicinho e Junior mais recuados e Josué e Mineiro se desdobrando à frente da defesa. Amoroso e Danilo ajudavam a fechar espaços e Aloísio, depois Grafite, lutando sozinho contra os zagueiros Carragher e Hyypia.

O São Paulo se virou como pôde e teve méritos inegáveis. O maior deles foi o de resistir. Sem vergonha de se reconhecer inferior na partida e defender a vantagem conquistada. No final, a justa celebração apoteótica, no Japão e no Brasil.

Porque definitivamente não venceu qualquer um no tricampeonato mundial inédito para brasileiros e, por isso, histórico.

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Paulo Autuori, parte 2: “Botafogo de 1995 tinha conceitos do futebol atual” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/07/paulo-autuori-parte-2-botafogo-de-1995-tinha-conceitos-do-futebol-atual/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/07/paulo-autuori-parte-2-botafogo-de-1995-tinha-conceitos-do-futebol-atual/#respond Thu, 07 May 2020 16:32:51 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8445

Imagem: Tactical Pad

Na segunda parte da entrevista com Paulo Autuori, o Botafogo de 1995. Dentro e fora de campo, fazendo um paralelo com o momento atual do futebol brasileiro.

BLOG – O Botafogo campeão brasileiro de 1995 seria competitivo em 2020?

PAULO AUTUORI – Eu vivi muitos anos em Portugal e aprendi lá uma frase: “As comparações são odiosas”. São contextos diferentes, pessoas diferentes, momentos diferentes. No futebol brasileiro e mundial. Por outro lado, eu converso muito com Wilson Gottardo, Gonçalves e Wilson Goiano e todos são unânimes: se jogássemos hoje conseguiríamos fazer muitas coisas e sermos competitivos.

BLOG – Mas um time que aplicava compactação, trabalho coletivo sem bola, talvez com exceção do Túlio, os meias Beto e Sergio Manoel fechando pelos lados na execução de um 4-2-2-2 típico da época, mas na prática se defendendo com duas linhas de quatro…

PAULO AUTUORI – Sim, era uma equipe que tinha conceitos do futebol atual. Bem distribuída em campo, que ocupava os espaços com inteligência. A compactação dos setores já era bem clara, assim como as coberturas próximas. De fato, a contribuição do Beto e do Sérgio Manoel sem bola era fundamental.

Eu também apostava muitos nas parcerias, que é algo bem natural no futebol brasileiro. O lateral que combina com o meia e o atacante pelo lado. Ou do volante com o meia e o atacante por dentro. Muitas triangulações. E marcação por zona, até porque eu vinha do futsal.

BLOG – Os jogadores assimilaram as ideias com facilidade?

PAULO AUTUORI – Era um grupo de jogadores inteligentes. Donizete e Gonçalves vieram do futebol mexicano já com uma boa leitura. E tínhamos um jogador muito inteligente no meio-campo, que era o Leandro Ávila. Posicionamento perfeito na frente da defesa.

BLOG – O que você vê na dinâmica de jogo agora que você já trabalhava na época?

PAULO AUTUORI – Tirávamos bem a bola da zona de pressão. Aliás, uma das discussões mais estéreis do futebol é essa em relação ao uso de termos mais modernos. Ora, isso funciona na vida. Na minha época se chamava o amigo de “bicho”, mais recentemente eles se chamam de “brow”, hoje já deve ser outra coisa. Cada época tem seu vocabulário e no futebol também é assim.

Abrir o campo para avançar mais rapidamente. Trabalhávamos com inversões do Leandro Ávila para o André Luís pela esquerda e o mesmo do outro lado, com Jamir passando ao Wilson Goiano. O Jamir ganhou a vaga do Moisés no meio-campo por conta dessa facilidade.

BLOG – O Botafogo era de propor o jogo ou trabalhava de forma mais reativa?

PAULO AUTUORI – Há várias formas de jogar futebol e vencer. Não concordo com essa visão de que todos os times têm que construir o jogo desde a defesa, ter mais posse de bola. Isso é uma ditadura que não combina com o esporte. O contraditório é fundamental.

Eu adquiri conceitos aprendendo ao longo da carreira. Eles não são meus. E é sempre possível aprender até com aquele que você critica. Por exemplo, o Giovanni Trapatonni, treinador italiano, me irritava com o defensivismo das suas equipes, mas eu fui estudar a sua maneira de trabalhar sem bola e trouxe na época algumas coisas para acrescentar ao meu trabalho. Mas não consigo jogar à espreita, apenas especulando.

BLOG – Nós, jornalistas, erramos ao exigir mais de equipes com potencial para entregar mais?

PAULO AUTUORI – O que eu critico é a falta de respeito com alguns profissionais. E a exigência de se jogar apenas de uma maneira. Nem sempre é possível. Adiantar marcação só se for um movimento coletivo, não individual. Se as características dos jogadores permitirem. Essa é a beleza do futebol.

Muito me espanta vermos na TV Globo, por exemplo, uma programação que respeita minorias, diversidade e liberdade na parte artística e no jornalismo. Mas no futebol os analistas não respeitam visões diferentes. Cheira a hipocrisia.

BLOG – Você chegou desacreditado por ser um desconhecido. Como foi reverter isso?

PAULO AUTUORI – Nem eu esperava trabalhar no futebol brasileiro. No Botafogo eu havia trabalhado em 1986, mas na equipe de juniores (sub-20). O Antonio Rodrigues e o Leo Rabello que acreditaram em mim. O Carlos Augusto Montenegro teve a coragem de me dar uma oportunidade.

Meus primeiros trabalhos foram atrás do gol do Estádio Caio Martins. O campo estava passando por uma reforma. E de cara eu mostrei uma variedade de trabalhos táticos que começou a construir a credibilidade que eu tinha com o grupo.

BLOG – Mas havia problemas internos, inclusive divergências entre jogadores.

PAULO AUTUORI – O problema era que o Gottardo e o Sergio Manoel achavam que o Túlio, por ser a estrela, deveria ser mais participativo na reivindicações dos jogadores junto à diretoria. Tinha também a questão dele receber do patrocinador, enquanto o elenco sofria com meses de salários atrasados. Mas o grupo se ajudava, inclusive financeiramente, e todos se uniam em torno de um objetivo comum.

BLOG – Parece que em termos administrativos não mudou muita coisa no clube.

PAULO AUTUORI – De 1995 para cá não conseguimos dar passos à frente com solidez. Isso de forma geral, em relação aos clubes. Só Athletico, Grêmio e Bahia, em termos de gestão. E o Flamengo começando com o Bandeira de Mello e conseguindo as conquistas agora.

O Botafogo é gigantesco, tem história enorme. E tudo que sou eu agradeço ao Botafogo. Por isso voltei e trabalhando como treinador, função que não pretendia mais exercer. Era minha hora de contribuir.

Mas por consequência de sua grandeza há uma cobrança por vitórias na mesma proporção. Só que se cria uma incompatibilidade entre a exigência e as condições de formar uma equipe vencedora, que corresponda às expectativas e também as pressões de torcida e imprensa.

BLOG – O que falta, então, aos clubes brasileiros?

PAULO AUTUORI – Coragem na gestão. Para chegar aos resultados precisa planejar e executar. Citando novamente o Flamengo, ali só tem como dar errado se os gestores fizerem muita besteira. Não pode se fechar para as quebras de paradigmas, ao novo. Sem discurso populista, contratar jogador sem ter como pagar, demitir treinador para agradar torcida e imprensa.

Acho que essa transformação dos clubes em empresas pode ajudar. Tenho conversado muito com o Montenegro sobre isso. Também acredito na boa solução que é dar oportunidades aos ex-atletas que se preparam para gerir, como, por exemplo, o Mauro Silva na Federação Paulista de Futebol. Uma das raras boas iniciativas e que deve servir de exemplo.

 

Veja também: Paulo Autuori – parte 1: “Futebol brasileiro deveria estar planejando 2021”.

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Paulo Autuori, parte 1: “Futebol brasileiro deveria estar planejando 2021” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/06/paulo-autuori-parte-1-futebol-brasileiro-deveria-estar-planejando-2021/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/06/paulo-autuori-parte-1-futebol-brasileiro-deveria-estar-planejando-2021/#respond Wed, 06 May 2020 16:05:10 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8438

Foto: Doha Stadium Plus Qatar / Mohan

O treinador do Botafogo sempre foi uma voz dissonante e crítica no meio um tanto asséptico do futebol brasileiro, em que se foge das declarações que podem gerar polêmica sobre os temas mais relevantes no esporte e na sociedade.

Nesta primeira parte da entrevista, Paulo Autuori fala sobre a vida em meio a uma pandemia, o calendário brasileiro, demissões nos clubes e o tratamento que o país dá aos seus idosos.

BLOG – Em 2013, no “Bola da Vez” na ESPN Brasil, você me disse que o futebol não poderia ser um mundo à parte da sociedade. Sete anos depois, essa pressa de alguns clubes para voltarem a jogar em meio à pandemia seria uma tentativa de se manter como esse mundo paralelo, onde quase tudo é permitido?

PAULO AUTUORI – Foi bom você lembrar disso. Quem seria eu se quisesse retornar agora? O que mais me dá força é saber que tenho sido coerente comigo mesmo. O discurso não mudou. Eu tenho uma máxima que quem trabalha comigo conhece: “Futebol é vida”. Não pode ser descolado da sociedade.

Sou completamente contra a volta aos treinamentos. Desculpe, mas quem aprova isso não tem a mínima noção da quantidade de pessoas envolvidas em uma sessão de treinos. E de origens distintas. Muitos olham apenas para a ponta do iceberg.

A base da pirâmide do meio futebol recebe entre dois salários mínimos e cinco mil reais. Isso incluindo Séries A e B. Gente que usa transporte público. Como eu vou dar treino sem roupeiro e massagista? Até analista de desempenho, que é uma função nova, tem suas dificuldades. Como forçar essas pessoas a trabalharem sem a devida proteção?

Por isso minha crítica de longos anos à CBF. Nada pessoal contra quem trabalha lá, é apenas uma questão de conceitos, divergência de opiniões. As pessoas que tomam decisões lá estão totalmente fora da realidade do futebol.

BLOG – Sei que você é treinador no Botafogo, não dirigente como já foi em outros clubes. Mas o clube acabou de demitir o Sebastião Leônidas, ídolo e funcionário de longa data, com 82 anos. Você tem 63 anos. O futebol brasileiro – ou melhor, o Brasil trata mal os seus idosos?

PAULO AUTUORI – O Brasil, não só futebol, trata mal o seu cidadão. E estou tranquilo para dar minha opinião porque, quando chego a um clube, aviso que, mesmo estando a serviço da instituição, eu tenho direito a ter uma opinião, ainda que crítica a essa mesma instituição.

Trata mal e há muito tempo. Estou nesse meio há 45 anos. No caso dos idosos, contexto no qual estou incluído, a falta de respeito é total. Não há a menor preocupação com eles. Eu morei em vários países e na maioria o tratamento é completamente diferente. Nem vou falar do Japão, porque é covardia. Lá os mais velhos são aproveitados em funções com menos exigência física e eles se sentem úteis e produtivos para a sociedade.

Mas no geral podem viajar e desfrutar dos anos que trabalharam e contribuíram. Aqui o meu pai, já falecido, teve que voltar a trabalhar já aposentado, com problema de visão, por necessidade. Isso quando o idoso encontra mercado de trabalho. É uma realidade muito cruel.

BLOG – Mas o que pensa especificamente sobre essas demissões em massa nos clubes brasileiros?

PAULO AUTUORI – Qualquer cidadão quando vê que alguém perde o emprego fica triste e lamenta. O que acontece nos clubes tem a ver com a gestão. Não se preocuparam em enxugam as máquinas e muitas vezes confundem aquilo que é necessidade com o que é vontade pessoal. É preciso priorizar o que é necessário, sem arrumar jeitinho de colocar um aqui e outro acolá e se preparar para momentos difíceis. Porque só se pensa em cenários positivos e em qualquer empreitada é preciso pensar em todas as hipóteses.

É algo que vai acontecer, e não só no futebol. Neste momento da pandemia muitas empresas estão demitindo funcionários, mas no futebol transcende um pouco. Mesmo sem ter como prever uma situação como a atual, é preciso tratar as coisas com muito mais responsabilidade e o requisito básico de gastar muito menos do que se arrecada.

BLOG – Você sempre foi crítico do que chamava de banalização do futebol, com jogos todos os dias para preencher grades de programações de TV. Agora vivemos o extremo oposto. Haverá uma reflexão sobre isso na volta ou, pelo contrário, a tendência é empilhar jogos para compensar o tempo perdido?

PAULO AUTUORI – Eu vejo com muita preocupação. Noto que há uma grande oportunidade para fazermos mudanças que são inexoráveis, mas só se fala em salvar o calendário de 2020.

É um ano totalmente atípico, o futebol brasileiro já devia estar planejando 2021. Porque o cenário é único. Nas grandes guerras você tinha nações batalhando entre si, mas as outras, ainda que envolvidas diplomaticamente, acompanhavam de longe. Agora não, todos estão sendo atingidos. A crise é global, o mundo parou.

O momento seria de reflexão para salvaguardar 2021. Debater de maneira clara a adequação ao calendário europeu, os prós e contras. Se houver espaço para opinar, ninguém pode reclamar depois. Muitos jogos são um malefício, mas poucos ou nenhum como agora, também. Temos condições de equilibrar. O problema é que aqui temos um solo infértil de ideias e debates. Porque há um prazo de validade, já que os clubes não se organizaram minimamente para enfrentar uma crise desse tamanho.

BLOG – Eu sei que isolamento social não é período de férias, mas o que você tem feito nesse tempo livre em casa?

PAULO AUTUORI – Eu tenho uma personalidade mais discreta, sou tranquilo. Então a minha vida em casa não mudou muito. Eu sou um crítico das redes sociais, dessa vida irreal. Uma necessidade de passar a imagem do que não é. Pessoas conectadas o tempo todo no próprio mundo, cada vez mais isoladas Estou levando a vida. Sou humanista, sinto falta do convívio, da conversa olho no olho. Ir ao cinema, teatro, restaurante com amigos também me faz muita falta.

Me ocupo com tudo que possa me fazer crescer. E algumas tarefas domésticas, já que estou sozinho aqui no apartamento (risos). Mas não serei diferente do que já era e não creio nessas teorias de que as pessoas vão mudar depois da pandemia. Só aqueles com bom senso e alguma sensibilidade podem passar a dar valor a outras coisas depois disso tudo.

Leio muito e não respiro futebol 24 horas por dia, porque acho que se perde abrangência no pensamento. Quanto mais aberto, mais apto a produzir no seu trabalho. E o futebol é antropologia pura. O homem e seu contexto. Ninguém nasce jogador de futebol. Todos têm suas angústias, medos, frustrações…

 

Na segunda e última parte da entrevista, Autuori recorda o Botafogo campeão brasileiro de 1995, dentro e fora de campo. Amanhã, aqui no blog.

 

 

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João Pedro, mais um menino a brincar tão rápido no nosso playground http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/24/joao-pedro-mais-um-menino-a-brincar-tao-rapido-no-nosso-playground/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/24/joao-pedro-mais-um-menino-a-brincar-tao-rapido-no-nosso-playground/#respond Fri, 24 May 2019 10:19:49 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6585

Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

João Pedro tem 17 anos, é da base de Xerém e já está vendido pelo Fluminense, afundado em dívidas e crise política. O Watford pagou cerca de 45 milhões de reais.

Uma bagatela a julgar pelo que o menino fez até agora. Sete gols em dez jogos no profissional. Mais que Ronaldo Fenômeno e Neymar. Nove finalizações, todas certas, em 216 minutos em campo. Mais duas assistências. Salvou o time na Copa do Brasil contra o Cruzeiro que sofreu no Brasileiro com dois gols do atacante rápido, inteligente e de incrível destreza nas finalizações.

O Atlético Nacional de Barcos e comandado por Paulo Autuori penou ainda mais. Na estreia como titular, João Pedro teve 11 minutos de Romário: dois gols, um de cabeça aproveitando os 1,86 m de quem esticou rápido e outro tocando por cima do goleiro, mais o cruzamento preciso da esquerda para Luciano testar para as redes. Eficiência máxima. Um primeiro tempo fenomenal com mais uma bola na rede, fechando os 4 a 1 no Maracanã. Na segunda etapa ainda teve mais uma chance em jogada individual. Cinco finalizações, três gols. Espetáculo que deixa o Flu mais próximo das oitavas da Copa Sul-Americana.

Playground do menino que brinca, dança e se diverte. Mas já vai embora. Em 2020, com 18 anos, já estará na Premier League. Como Gabriel Jesus pelo Manchester City e Richarlison no Everton. Ou Vinícius Júnior em “La Liga” com a camisa do Real Madrid. E tantos outros que já foram ou ainda vão. Nossa dura sina é curti-los tão pouco por aqui e depois só na TV. Ou raramente em um estádio brasileiro com a camisa verde e amarela.

Faz parte do jogo. Do direito de trabalhar onde quiser, de garantir a família e a si mesmo em carreira tão curta e incerta. De fazer o time que o revelou ganhar mais 10% de uma venda futura com valor bem acima do pago pelo clube inglês, que terminou esta edição do campeonato nacional em 11º lugar. Nem precisa ser gigante para tomar o doce da nossa boca.

Que o Flu e sua torcida usufruam do jovem que tornou mais contundente o ataque do time de Fernando Diniz que antes ficava com a bola e sofria para traduzir o domínio no placar. Que todos aproveitem para olhar bem de perto um talento tipicamente nosso. Cada vez mais cedo tipo exportação.

Nas Laranjeiras, forma com Marcos Paulo, outro jovem talento, uma dupla tratada como “Casal 20”. Lembrando Washington e Assis, protagonistas no tricampeonato carioca de 1983 a 1985 e no título brasileiro de 1984. Atacantes que não foram formados no clube, mas atuaram com a camisa tricolor por anos – Assis de 1983 a 1987 e Washington, que chegou junto com o parceiro do Atlético Paranaense e ficou até 1989.

Marcos Paulo e João Pedro não devem durar duas temporadas no profissional do Flu. Vão brincar em áreas de lazer mais sofisticadas. Para o mundo aplaudir. Sinal dos tempos.

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Eles não podem errar! A dura transição do mercado de treinadores no Brasil http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/05/25/eles-nao-podem-errar-a-dura-transicao-do-mercado-de-treinadores-no-brasil/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/05/25/eles-nao-podem-errar-a-dura-transicao-do-mercado-de-treinadores-no-brasil/#respond Thu, 25 May 2017 10:05:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=2740 Quando Zé Ricardo chamou Matheus Sávio para dar instruções enquanto a torcida do Flamengo no Serra Dourada pedia a entrada da joia Vinícius Júnior, o treinador sabia que corria riscos por suas convicções.

Afinal, se o time fosse eliminado da Copa do Brasil, independentemente do rendimento do jovem atacante, que entrou muito mal contra o San Lorenzo na traumática derrota na Libertadores, as chances de ser demitido cresceriam exponencialmente.

Mas Sávio, assim como contra o Atlético Mineiro no Maracanã, na estreia do Campeonato Brasileiro, colocou um cruzamento no fundo das redes do goleiro Felipe do Atlético-GO. O choro copioso do jogador foi sintomático. É muita pressão para quem ainda está no início de sua trajetória entre os profissionais.

O mesmo vale para os treinadores. No país do futebol de resultados, o comandante passa de “boa novidade” e “atualizado” para “estagiário” e “rolando lero” a cada semana. Mesmo que a sua equipe esteja organizada e o placar adverso tenha vindo por uma infelicidade na defesa ou chances perdidas na frente.

Ou até se eles se equivocarem, algo absolutamente natural. No mais imprevisível e caótico dos esportes, o que foi treinado baseado em observação e análise pode dar errado por uma noite ruim do atleta e aquela mudança aleatória, mais por conta da intuição, pode terminar em vitória. Para quem tem bagagem já é um desafio, imagine para novatos.

Eles simplesmente não podem errar. Seja Zé Ricardo, Roger Machado, Eduardo Baptista…Mesmo Jair Ventura, com enorme crédito no Botafogo, quando tentou mudar a maneira de jogar contra o Barcelona de Guayaquil no Estádio Nilton Santos e saiu derrotado as críticas vieram pesadas.

A transição no mercado de treinadores é dura. Depois dos 7 a 1 que mandaram Luiz Felipe Scolari para a China e da queda em desempenho e resultados de grifes como Vanderlei Luxemburgo, Muricy Ramalho e até Marcelo Oliveira, apesar dos títulos com Cruzeiro e Palmeiras, um buraco foi aberto para uma leva de profissionais com conceitos atualizados, vendo e pensando o futebol como é jogado nos grandes centros.

Um jogo mais coletivo e que trabalha com informações e gestão na comissão técnica. Menos com carisma e discursos motivacionais. Quando o resultado acontece, tudo isso é louvado. Se não, bate a saudade dos velhos nomes e de fórmulas antigas. Como se o que deu certo na década passada necessariamente dará em 2017.

O cenário é complexo. Dá para contar nos dedos de uma das mãos os treinadores do país que conseguem unir vivência como ex-jogador, conteúdo atual, sensibilidade na gestão de grupo e da comissão técnica. Ou seja, no auge da carreira. O melhor deles está na CBF.

Por conta de todas as dificuldades citadas, as experiências com estrangeiros não foram felizes – vide Diego Aguirre, Ricardo Gareca, Edgardo Bauza, Juan Carlos Osorio, entre outros. Quando estão começando a aprender o idioma para se comunicar já estão passando no RH e voltando para casa.

Simplesmente não há paciência, porque falta convicção para acreditar num projeto de longo prazo. Roger Machado e Zé Ricardo acharam que teriam um pouco mais de paz e respaldo para trabalhar por conta de conquistas nos estaduais. Mas basta uma sequência de resultados ruins e tudo é esquecido.

Ainda mais em clubes dos quais se espera muito. Pela capacidade de investimento e ilusão alimentada por departamentos de marketing e também por nós da imprensa, o torcedor passa a crer que seu time de coração conta com um elenco estelar e que basta o treinador distribuir certo as camisas e não atrapalhar para tudo acontecer.

Não é assim que funciona. Estar atualizado nas ideias e métodos ajuda a não ser surpreendido, a minimizar a aleatoriedade do jogo. Mas não garante nada. Muito menos onde não se valoriza filosofia e identidade, só o placar final e a conquista que vão gerar memes e zoações. Até tudo ser esquecido no próximo jogo.

Por ora, Dorival Júnior é o sobrevivente na Série A, comandando o Santos desde julho de 2015. Já Ney Franco foi demitido do Sport depois de perder a Copa do Nordeste para o Bahia com menos de dois meses de trabalho. Treinadores com rodagem de mais de uma década. Paulo Autuori, com mais de quarenta anos à beira do campo, cansou. “A rotina consome”, explicou. Vai ser gestor no Atlético-PR e abre espaço para Eduardo Baptista.

Paciência não significa ser permissivo e deixar de cobrar o desempenho que chega ao resultado. Os profissionais são bem remunerados para isso. O ponto nevrálgico é o imediatismo, a incapacidade de observar um lastro de evolução, vislumbrar um futuro melhor. Tudo ainda se resume à tentativa e erro. Até acertar. Para ontem.

Enquanto isso, segue a roda vida, a máquina de moer técnicos. Zé Ricardo escapou no gol de Matheus Sávio. Quem será o próximo?

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Maracanã elétrico de Libertadores faz a diferença para o Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/04/13/maracana-eletrico-de-libertadores-faz-a-diferenca-para-o-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/04/13/maracana-eletrico-de-libertadores-faz-a-diferenca-para-o-flamengo/#respond Thu, 13 Apr 2017 03:10:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=2545 Torcida não ganha jogo sem resposta do time em campo. Mas a atmosfera criada pela massa rubro-negra no Maracanã lotado por mais de sessenta mil pagantes, desde o mosaico simulando o gol de Zico na final da Libertadores em 1981, nitidamente desestabilizou o Atlético Paranaense no início da partida.

O Flamengo sentiu a ausência de Everton e Mancuello nem tanto pela improvisação no meio-campo de Trauco pela esquerda no 4-2-3-1. O peruano cumpriu bem a missão pelo lado e fechando o meio e encaixou lindo lançamento para Guerrero ir às redes logo aos seis minutos e subir ainda mais o tom das arquibancadas.

O problema era Renê na lateral esquerda, claramente sentindo o peso do jogo e sofrendo ora com Nikão, ora com Douglas Coutinho em uma equipe paranaense igualmente desfalcada, sem Otávio e Felipe Gedoz no meio-campo, mas compensando com bom desempenho com Matheus Rossetto.

Instintivamente o Fla buscava mais o lado direito, mas Gabriel não conseguia dar o melhor acabamento às jogadas. Mas quando Arão infiltrou no tempo certo, o cruzamento, mesmo com desvios, encontrou Diego para a finalização perfeita do segundo gol. Aos 15 minutos, para deixar o adversário ainda mais zonzo. O camisa dez ainda acertou o travessão e um bom passe vertical para Guerrero.

Por isso aumenta a preocupação com sua lesão no joelho. Sem ele e com Matheus Sávio, a equipe penou para acertar as transições ofensivas em velocidade na segunda etapa e surpreendentemente encontrou em Marcelo Cirino, substituto de Gabriel, uma válvula de escape para cima do frágil Sidcley.

Paulo Autuori tentou dar agilidade na frente com Grafite e João Paulo e volume no meio com Luiz Otávio. Faltou contundência ao time que teve 54% de posse, porém finalizou apenas três vezes, duas no alvo. Incluindo o gol de Nikão, completando, impedindo, jogada pela direita que iniciou com falha de Renê na saída de bola.

O Fla foi eficiente, acertou na direção da meta de Weverton sete das dez conclusões. Nos minutos finais, incluindo cinco de acréscimo, a calma para tocar a bola mesmo com a improvisação de Márcio Araújo no lugar do lesionado Pará, que deu lugar a Cuéllar e deixou o time ainda mais desfigurado.

A torcida jogou junto e o apito final foi celebrado com alívio e do tamanho da importância da vitória que alça o time à liderança do Grupo 4 com o empate entre Universidad Católica e San Lorenzo.

Em disputa tão parelha no jogo e no grupo, o Maracanã elétrico de Libertadores fez a diferença para o Flamengo.

(Estatísticas: Footstats)

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Weverton salva Atlético Paranaense de pagar pelo mito do “time cascudo” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/02/09/weverton-salva-atletico-paranaense-de-pagar-pelo-mito-do-time-cascudo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/02/09/weverton-salva-atletico-paranaense-de-pagar-pelo-mito-do-time-cascudo/#respond Thu, 09 Feb 2017 03:01:46 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=2255 Weverton Millonarios CAP

Como entender que um time com vantagem mínima para o jogo de volta na casa do adversário e mais 2640 metros de altitude em Bogotá, precisando de vigor físico e velocidade nos contragolpes, escale dois veteranos na frente e sofrer durante praticamente todo o jogo?

O Atlético Paranaense até teve bom início, ocupando o campo de ataque, trocando passes e criando oportunidade com os ponteiros do 4-2-3-1 montado por Paulo Autuori: de Nikão para a cabeça de Pablo e grande defesa do goleiro Nicolás Vikonis.

Mas se complicou quando o Millonarios adiantou linhas e passou a forçar pelos flancos com as duplas Palacios e Nuñez pela direita e Machado e Quiñonez do lado oposto, acionados pelo meia Rojas, mais o suporte de Jhon Duque, o autor do belo gol da vitória no tempo normal que igualou tudo nos pênaltis.

O lance vai ficar marcado pelo corte seco no jovem lateral Sidcley antes da finalização. Mas Autuori e sua equipe taticamente pagaram pelo mito do “time cascudo”. A tese de que para jogar Libertadores tem obrigação de ser experiente. Como se fosse outro jogo. Mas continua sendo futebol.

Faltou rapidez na frente com Carlos Alberto e Grafite e força no meio para resistir ao volume da equipe colombiana, com Otávio sobrecarregado pela queda física de Lucho González, de 36 anos, até as entradas de Matheus Rossetto e Felipe Gedoz nas vagas do argentino e de Nikão, que caiu muito de produção depois do bom início. Sacrificado por ser a única referência de velocidade.

O Millonarios teve 61% de posse e 28 finalizações, mas só sete no alvo. Muito por abusar da velocidade da bola na altitude, porém sem direção. Acertou 12 desarmes contra apenas quatro do time brasileiro. O Atlético não teve intensidade para reagir.

Sobrou eficiência nas cobranças de pênalti e, principalmente, competência de Weverton na defesa da cobrança do zagueiro Franco, mais a sorte no chute de Nuñez no travessão. O Atlético segue vivo em busca da fase de grupos da Libertadores, mas sofreu mais que o esperado na Colômbia.

Que sirva de lição para o desafio na terceira fase, contra Universitário do Peru ou o paraguaio Deportivo Capiatá.

Millonarios forte pelos flancos, empurrando o Atlético que não tinha velocidade nos contragolpes com Carlos Alberto e Grafite na frente e Lucho González sobrecarregando Otávio no meio-campo (Tactical Pad).

Millonarios forte pelos flancos, empurrando o Atlético que não tinha velocidade nos contragolpes com Carlos Alberto e Grafite na frente e Lucho González sobrecarregando Otávio no meio-campo (Tactical Pad).

(Estatísticas: Footstats)

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Autuori retoma tema calendário, mas problema não é o jogo da segunda-feira http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2016/07/12/autuori-retoma-tema-calendario-mas-problema-nao-e-o-jogo-da-segunda-feira/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2016/07/12/autuori-retoma-tema-calendario-mas-problema-nao-e-o-jogo-da-segunda-feira/#respond Tue, 12 Jul 2016 14:24:13 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=1153 O Atlético Paranaense entrou no G-4 com a vitória sobre o Cruzeiro por 3 a 0 construída com autoridade e controle de jogo no segundo tempo. Mas o técnico Paulo Autuori não parecia tão satisfeito e na entrada ao vivo no programa da emissora detentora dos direitos de transmissão na TV fechada, o Sportv, reclamou do jogo marcado para segunda à noite.

Quem já conversou com Autuori sabe da sua opinião sobre o que ele chama da banalização do futebol com jogos em todos os dias da semana. Segundo ele, não há mais um tempo para arejar a mente e se criar uma expectativa saudável para um grande jogo devido à massificação.

Questionamento respeitável. E retomar o tema calendário é sempre saudável. Mas, na prática, mudou pouco para seu Atlético a preparação para a partida no Mineirão. Até teve um saldo positivo, já que ganhou mais um dia. Mais pertinente foi a reclamação anterior, do adiamento do segundo tempo da partida contra a Chapecoense para a quinta-feira à tarde, quando a manhã seria mais razoável por minimizar os prejuízos na rodada seguinte.

É notório o poder da televisão na ordem dos jogos de cada rodada. A influência, por questões comerciais, é desproporcional. Não por acaso os clubes mais organizados procuram outras fontes de receita para se tornarem autossustentáveis e dependerem menos das cotas.

Só que o problema está longe de ser os jogos às segundas. Se no meio da semana os times atuarem na quinta e depois no domingo, dá na mesma que jogar domingo, quarta e sábado.

Mais passível de discussão é a distribuição de jogos nos domingos às 11h. Por envolver desgaste físico e logística complicada, deveria haver um revezamento, com todos jogando o mesmo número de partidas, ou quase isso.  Não é o caso. Ainda assim, não é o olho do furacão.

A grande questão continua a mesma: os estaduais inchados consumindo quatro meses da temporada, de fevereiro a maio, e obrigando a encavalar datas de Copa do Brasil, Brasileiro, Libertadores e Sul-Americana e invadir as datas FIFA, prejudicando exatamente os clubes competentes que, em boa fase, cedem os jogadores para as seleções. Punem o formador e o investidor.

A adequação ao calendário europeu é tema polêmico. Este que escreve defende uma temporada de teste para se avaliar todas as questões, como, por exemplo, presença de público, audiência na TV, lógística e desgaste dos jogadores atuando no verão em partidas intensas numa fase intermediária do campeonato brasileiro.

Ao final do debate entre Autuori e o apresentador Galvão Bueno, este leu um trecho de nota oficial da CBF afirmando que “calendário é tema complexo tratado continuamente com muita seriedade, sempre buscando conciliar todos os interesses”. Será mesmo todos?

O colega Luis Filipe Chateaubriand, estudioso do calendário brasileiro, colunista do Lance sobre o tema e ex-colaborador do Bom Senso FC, foi convocado para um grupo de trabalho da CBF. Participou de algumas reuniões e desistiu. Palavras dele: “Saí porque vi que a proposta é por mudanças tópicas, se tanto. Acredito que nosso calendário precisa de mudanças profundas”.

Difícil, quase impossível. Os estaduais inchados mantêm a estrutura federativa. O clubes pequenos são beneficiados jogando contra os grandes, embora a maioria seja prejudicada na sequência sem ter algo relevante a disputar nos outros sete meses do ano. Este vota no presidente da Federação que vota no presidente da CBF e a estrutura segue intacta. A TV, com os estaduais para transmitir, exige que os principais times, ou os que entregam maior audiência, usem seus principais jogadores – com a Globo fez com o Flamengo este ano.

Que a iniciativa de união dos clubes seja concreta, sem que as rivalidades dos dirigentes-torcedores atrapalhem o processo de amadurecimento do futebol brasileiro. Tardio, mas cada vez mais urgente.

 

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