premierleague – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Era Jürgen Klopp é de futebol intenso, mas também inteligente e adaptável http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/#respond Fri, 26 Jun 2020 12:37:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8690

Foto: Reuters

Há recortes históricos que com um mínimo distanciamento do tempo podem ser definidos como uma mudança de paradigma. Mesmo em um esporte tão complexo e instável como o futebol.

O Barcelona foi para o intervalo em Anfield perdendo por 1 a 0 pelo jogo de volta da semifinal da Liga dos Campeões 2018/19. Havia vencido por 3 a 0 no Camp Nou e ainda tinha uma boa vantagem a administrar fora de casa. Se fizesse um gol o Liverpool teria que fazer mais quatro.

E a imagem no vestiário do time catalão era de absoluto desespero. Ainda que o trauma da eliminação na edição anterior do torneio continental para a Roma também ecoasse,  estava claro no semblante de Messi, Suárez, Jordi Alba e outros que a tragédia parecia inevitável. O discurso, sem muita convicção, era de que era preciso retomar o ritmo no estilo Barcelona, de posse de bola. Mas todos sabiam que na prática isso seria impossível. Os 4 a 0 no final foram apenas a consequência natural.

Porque vivemos a Era Jürgen Klopp no futebol. O que não quer dizer necessariamente que seja o treinador que vence tudo que disputa. Não foi assim com Rinus Michels, nem Cruyff, Arrigo Sacchi, Alex Ferguson ou José Mourinho. Talvez Pep Guardiola, com currículo impressionante e único, seja a exceção. Ainda assim, já se vão quase nove anos sem vencer a Champions.

Notamos a ascendência das ideias de um treinador no esporte quando praticamente em qualquer partida é possível notar as digitais dele no que acontece em campo.

Repare que cada vez falamos menos em posse de bola como critério para observar o domínio de uma equipe sobre a outra. Melhor dizendo, ter a bola ainda é um indício, mas cada vez mais importante é atacar com volume e agredindo o adversário. Não tocando e circulando sem “machucar”.

O Jurgen Klopp do Borussia Dortmund e do início do trabalho no Liverpool era do futebol “rock’n’roll”. Intensidade máxima, “gegenpressing” e uma fome como se houvesse amanhã. Só que em muitas partidas isso tudo virava pressa, ansiedade. Ou um desperdício de energia que cobrava o preço ao final do jogo ou do campeonato.

Mas Klopp é inteligente e tem sensibilidade para notar a direção dos ventos. Também sabe ouvir, embora não abra mão de suas convicções. Estava nítido que seria preciso se adaptar ao que pede cada jogo. Como ele percebeu na própria Premier League com outros treinadores, como Antonio Conte e o próprio Guardiola, que venceu no Manchester City combinando elementos inegociáveis do seu modelo de jogo com a intensidade do futebol praticado na Inglaterra. Também com a eletricidade de Klopp.

Pausas. Era preciso ter momentos de circulação da bola para variar a intensidade do jogo. Passar de lado para abrir o campo e as linhas do oponente não é pecado. Klopp fez o Liverpool voltar a ser temido. Junto com a camisa pesada, natural que alguns adversários apelassem para retrancas. Linha de cinco, dez jogadores atrás da linha da bola e protegendo a própria área. Acelerar o tempo todo muitas vezes significava dar de cara com o muro. Em loop, até cansar.

Klopp viu a solução nas inversões de bola de seus laterais: Alexander-Arnold e Robertson fazem a troca de corredor com frequência e eficiência. Também se juntam na frente ao tridente Salah-Firmino-Mané. Com o brasileiro recuando para colaborar na articulação e os dois ponteiros buscando as infiltrações em diagonal. Cabe aos zagueiros e aos meio-campistas se impor fisicamente, mas também colaborar com a manutenção da posse quando é preciso. Henderson cresceu demais nesta proposta, tanto como volante mais fixo como um meia pela direita.

Antes o treinador alemão queria um ambiente difícil de respirar em campo. Agora ele entende que há momentos em que é preciso encher e esvaziar os pulmões para pensar melhor e fazer o que é necessário em campo. Sem a loucura de antes, que lembrava o piloto inglês Nigel Mansell nos anos 1980/90 na F-1: batia recordes seguidos de volta mais rápida para perder a prova por falta de combustível ou em uma manobra arriscada e pouco inteligente.

É claro que o talento continua sendo fundamental. Sem Alisson e Van Dijk é bem provável que o Liverpool continuasse com a defesa como elo fraco e comprometedor no mais alto nível competitivo. Mas encontrar as peças certas que o dinheiro pode comprar também é sinal de amadurecimento.

Isso tudo constroi o Liverpool campeão inglês, depois de 30 anos. A primeira conquista na Era Premier League. Com sete rodadas de antecedência, 23 pontos de vantagem sobre o então bicampeão City. Time de Guardiola que caiu diante do Chelsea por 2 a 1. Justamente os Blues, algozes dos Reds em 2014, no lendário escorregão de Steven Gerrard que negou mais uma vez a conquista do título. Como o pontinho da temporada passada.

Desta vez não houve margem para erro. Cada jogo da liga foi tratado como uma decisão. Com a natural oscilação que os times ingleses costumam sofrer quando disputam o Mundial de Clubes. Viagem, desgaste, os jogos seguidos na virada do ano. Cobrou o preço nas copas nacionais e também na Champions. Mas estava claro desde o início que esta temporada era a da dedicação aos pontos corridos. Da redenção.

Veio em meio a uma pandemia. A retomada do campeonato serviu para fazer justiça ao melhor time. E também a Klopp, a mente dominante desta era do futebol intenso, vertical. Mas também inteligente e adaptável. De acordo com a demanda. A do Liverpool andava reprimida, agora é só alegria. Ou alívio, pelo contexto do mundo.

Mas em qualquer campo onde a bola role haverá o toque de Jürgen Klopp. Carisma incrível, sorriso franco, uma certa loucura cativante. Mas acima de tudo um grande treinador de futebol. O melhor do planeta. Agora o “zeitgeist”, ou o espírito do tempo, está com ele.

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Manchester City voa baixo, roda elenco e aquece turbinas para Champions http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/22/manchester-city-voa-baixo-roda-elenco-e-aquece-turbinas-para-champions/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/22/manchester-city-voa-baixo-roda-elenco-e-aquece-turbinas-para-champions/#respond Mon, 22 Jun 2020 20:53:15 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8675 Com as vitórias em casa por 3 a 0 sobre o Arsenal no jogo que faltava na 29ª rodada e 5 a 0 sobre o Burnley, o Manchester City fez cair para 20 pontos a vantagem do Liverpool na liderança da Premier League. Mas com 24 pontos ainda em jogo, o título dos Reds é questão de tempo e matemática.

Mais importante que garantir o “pódio” novamente, uma característica dos trabalhos de Pep Guardiola em todas as ligas que disputou desde 2008 – a pior colocação foi o terceiro lugar na estreia na Inglaterra em 2016/17 -, é retomar rapidamente o ritmo para atingir dois grandes objetivos.

O primeiro é um tanto circunstancial: já que é praticamente impossível manter a hegemonia nos pontos corridos, a luta pelo bicampeonato do mata-mata nacional ganhou muita importância. Depois de “unificar” as conquistas em 2019, os citizens mantiveram o domínio na Copa da Liga Inglesa e estão nas quartas da Copa da Inglaterra contra o Newcastle.

A grande meta, porém, é, claro, o título inédito da Liga dos Campeões. Primeiro administrando a vantagem sobre o Real Madrid construída fora de casa com os 2 a 1 no Bernabéu. Sem a presença da torcida no Etihad Stadium, mas com a possibilidade de gerir melhor o elenco em relação ao time merengue, que acabou de assumir a liderança do Espanhol e vai lutar pela recuperação do domínio da liga. Até pela obsessão do treinador Zinedine Zidane, que valoriza demais a superioridade nos pontos corridos.

Guardiola também pensa assim, mas sabe que desta vez terá que ser forte nas disputas eliminatórias para tornar a temporada histórica e atingir o ápice antes da provável punição da UEFA, afastando o clube de competições europeias por dois anos, acusados de burlar o fair play financeiro.

Por isso tenta nivelar o grupo de jogadores por cima. mantendo apenas Ederson, David Silva e Mahrez na formação de um jogo para outro na volta. Revezando Cancelo/Walker e Mendy/Zinchenko nas laterais, Eric Garcia/Otamendi e Laporte/Fernandinho na zaga; Rodri/Gundogan e De Bruyne/Bernardo Silva no meio. Aguero/Gabriel Jesus no centro do ataque e Sterling/Foden nas pontas. Ainda Leroy Sané, que volta de séria lesão e sairá no final da temporada, mas está à disposição do treinador.

A mesma valorização da posse com linhas adiantadas e pressão logo após a perda da bola, porém com momentos de aceleração e intensidade máximas. Sempre com triangulações em todos os setores, mas também jogadas mais longas, como o passe de Fernandinho para Mahrez no segundo gol sobre o Burnley. Muita gente chegando ao ataque no sistema base 4-3-3, mas com rotações – pontas, laterais e meias alternando abertos e por dentro nas ações ofensivas – e volume de jogo que tontearam os dois adversários até agora.

Oito gols marcados, 68% de média na posse de bola, acerto acima de 90% nos passes, 39 finalizações (19 no alvo), nenhuma na direção da meta de Ederson em 180 minutos. Mesmo relativizando o nível dos adversários, não é pouco. Até porque o Burnley vinha de sete partidas de invencibilidade e apenas três gols sofridos.

O City retorna voando baixo e aquece as turbinas para competir forte no que resta em 2019/20. Temporada problemática pelo contexo, mas que ainda pode ser gloriosa e histórica.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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Liverpool empata clássico e sofre na volta porque depende demais do ritmo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/21/liverpool-empata-classico-e-sofre-na-volta-porque-depende-demais-do-ritmo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/21/liverpool-empata-classico-e-sofre-na-volta-porque-depende-demais-do-ritmo/#respond Sun, 21 Jun 2020 20:27:45 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8669 O Liverpool de Jurgem Klopp ganhou a Europa e o mundo em 2019 depois de apurar o modelo de jogo e adicionar peças essenciais para o salto de qualidade, como Alisson na meta e Van Dijk na zaga.

Mas sempre com intensidade máxima, volume de jogo sufocante na maior parte do tempo. Mesmo aos poucos trabalhando mais a bola, controlando ritmo e dosando energias. O amadurecimento do “gegenpressing”, do futebol “rock’n’roll” do treinador alemão.

A pausa de mais de 90 dias foi inesperada e tirou tudo do contexto. Virou o mundo de ponta a cabeça e a melhor equipe do planeta foi junto no turbilhão. Havia, inclusive, o temor de que a conquista da Premier League, prioridade na temporada, fosse ameaçada pelo fim precoce da competição sem um campeão.

A volta foi um alento, mas obviamente gerando um problema: como retomar a essência do modelo de jogo com tanto tempo parado e um período curto de preparação? E já no clássico de Liverpool  contra o Everton. Mesmo sem perder para o rival local desde 2010, era um desafio para os Reds. Porque depende demais do ritmo de jogo para funcionar.

Com Salah no banco e Robertson de fora, o líder absoluto da liga adiantou as linhas, ficou com a bola e investiu no perde-pressiona, virando a chave rapidamente na transição defensiva. Mas a “ferrugem” era clara, apesar do domínio. Forçando naturalmente pela direita com Alexander-Arnold e Minamino, enquanto Milner descia menos no habitual improviso pela lateral esquerda.

O Everton de Carlo Ancelotti respondia com um 4-4-2 compacto e acelerando para sair logo da pressão do rival e entrar no campo de ataque. Acionando Richarlison e Calvert-Lewin, dupla na frente que buscava as infiltrações entre zagueiros e laterais adversários.

Domínio vermelho com posse de 70% e 85% de efetividade nos passes, porém com dificuldades para desequilibrar o sistema defensivo do Everton para criar a chance cristalina. Fazendo mais força pra jogar, o desgaste foi inevitável.

Os primeiros a sentir foram Milner e Minamino. Depois Matip saiu com problemas físicos. Klopp usou as cinco substituições tirando também Keita e Firmino. Com Joe Gomez, Oxlade-Chamberlain, Lovren, Wijnaldum e Origi, o nível caiu. Em todos os aspectos.

E o Everton terminou o jogo com menos posse e finalizações – nove contra dez, três no alvo para cada lado. Mas com a impressão de que poderia ter encerrado no Goodison Park com torcida virtual um jejum de uma década. Três oportunidades seguidas, a melhor na jogada de Richarlison pela esquerda que encontrou a letra de Calvert-Lewin para grande defesa de Alisson. No rebote, chute de Davies desviado em Gomez e tocando na trave direita.

O clássico naturalmente não teve o nível habitual de um jogo deste tamanho. A boa notícia para o Liverpool é que a vantagem sobre o Manchester City que pode cair para 20 pontos se o time de Guardiola vencer em casa o Burnley amanhã, no encerramento da rodada, parece imune a oscilações. Faltando oito rodadas.

Mesmo em um anticlímax, o fim de jejum de 30 anos está cada vez mais próximo.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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Principais ligas voltam na Europa, mas quem é capaz de superar o Bayern? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/07/principais-ligas-voltam-na-europa-mas-quem-e-capaz-de-superar-o-bayern/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/07/principais-ligas-voltam-na-europa-mas-quem-e-capaz-de-superar-o-bayern/#respond Sun, 07 Jun 2020 13:02:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8613

Foto: Getty Images

A liga espanhola volta na quinta-feira, dia 11. A Premier League no dia 17 e o Italiano no dia 20. Ótima notícia para quem gosta de futebol, obviamente respeitando todos os cuidados dentro de uma pandemia. Com os protocolos utilizados na Bundesliga como modelo para dar o máximo de segurança a atletas, comissões e todos os envolvidos em uma partida de futebol.

Mas o campeonato alemão também tem uma referência em desempenho dentro do campo. O Bayern de Munique, que parou no dia 8 de março já na liderança da competição e virtualmente classificado para as quartas da Liga dos Campeões depois de enfiar 3 a 0 no Chelsea em Londres, retomou as atividades com força total e já emendou cinco vitórias. Somando às quatro antes da parada já são nove seguidas.

Dezessete gols marcados, quatro sofridos. Sete pontos de vantagem sobre o Borussia Dortmund faltando quatro rodadas. O octacampeonato é questão de tempo e matemática. Mas o que salta aos olhos mesmo é o rendimento da equipe comandada por Hans-Dieter Flick.

Um rolo compressor que impressiona pelo volume de jogo. Fruto de um modelo que coordena bem a ocupação do campo de ataque trabalhando a bola e as transições ofensivas demolidoras. Sempre com muitos jogadores chegando à frente e mobilidade para descoordenar a marcação adversária.

Os laterais Pavard e Davies podem atacar por dentro ou por fora – e o lateral direito francês está cada vez melhor nas jogadas aéreas. Os pontas Coman e Gnabry alternam pelos flancos e também procuram o centro, alternando com Thomas Muller, destaque com 20 assistências e recuperando a capacidade de desequilibrar encontrando espaços para facilitar o trabalho coletivo.

No meio-campo, Kimmich e Goretzka jogam de área a área, organizando e também aparecendo para finalizar. Porque os zagueiros Boateng e Alaba também são geradores de jogo, até porque contam com a inteligência na cobertura de Neuer. Na frente, a máquina de gols Lewandowski, com trinta dos noventa marcados pela equipe em 30 rodadas.  44 em 38 partidas na temporada.

Por mais que se relativize a força dos concorrentes na Alemanha e considere a cultura de vitória dos bávaros que esmaga os rivais também mentalmente, o futebol do Bayern tem momentos de espetáculo cada vez mais frequentes. Como o golaço de Goretzka, o segundo nos 4 a 2 sobre o Leverkusen. Ou o de Lewandowski, completando linda combinação de Muller e Kimmich no terceiro dos 5 a 0 sobre o Fortuna Düsseldorf.

Individualidades potencializadas pelo trabalho da equipe de Flick, lembrando em vários momentos o time dominante da tríplice coroa comandado por Jupp Heynckes em 2012/13. É líder em posse de bola (62%), mas também em finalizações por jogo (18), segundo o site Whoscored.com.

Difícil prever o que pode acontecer na volta da Champions em agosto, ainda mais com a possibilidade de termos definição de vaga em jogo único. Mas considerando o crescimento do desempenho na volta é difícil imaginar uma outra equipe alcançando nível tão alto.

Um desafio para as incógnitas Real Madrid e Barcelona e a Juventus, dominante na Itália. Quem sabe Pep Guardiola não idealizou outra revolução durante a parada forçada e seu Manchester City volte surpreendendo?

A única certeza é que hoje o time a ser batido na Europa é o redivivo gigante bávaro. Unindo estética e eficiência, vencendo e encantando.

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Futebol em Quarentena – Os dez melhores times que vi em quatro décadas http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/#respond Tue, 17 Mar 2020 19:31:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8174

Foto: Javier Soriano / AFP

O futebol parou nos principais centros, inclusive no Brasil. Felizmente, a sensatez prevaleceu e quem puder ficar em casa para não arriscar um colapso nos atendimentos hospitalares por conta da pandemia do coronavirus, melhor para todos.

Mas o blog não pára e aproveita para olhar para trás e abrir espaços para postagens que em tempos velozes, de imediatismo e exigência do “quente”, do “gancho”, não costumam ter muito espaço.

Por isso a série “Futebol em Quarentena” trará rankings, análises de times históricos, jogos lendários, confrontos “dos sonhos” entre grandes equipes de épocas diferentes e o que mais pintar até a bola voltar a rolar no mundo – em breve, esperamos todos.

Para começar, a vontade da maioria do público que votou na enquete no Twitter:

Imagem: Reprodução / Twitter

Então seguem os melhores times (clubes) que vi em quase 40 anos acompanhando apaixonadamente o futebol. Com as devidas particularidades, incluindo memória afetiva. Lista é pessoal, sempre. E daqui a um ano pode mudar também… Vamos lá!

1º – Barcelona de Guardiola – 2010/11

Não foi a equipe mais vencedora comandada por Pep Guardiola na Catalunha, já que na primeira temporada do treinador novato (2008/09) veio a tríplice coroa. Mas mesmo perdendo a Copa do Rei para o Real Madrid de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, o Barcelona da temporada 2010/11 foi um primor coletivo que iluminou ainda mais o talento de Xavi, Iniesta, Messi e Daniel Alves.

O gênio argentino, definitivamente como “falso nove”, destruiu as defesas adversárias e foi o elemento de desequilíbrio em um modelo de jogo que tangenciou a perfeição. Pressão pós-perda, posse de bola, construção do jogo desde o goleiro e criação de superioridade numérica no setor da bola, sempre buscando o homem livre. Cansava e atordoava os adversários e conseguia impor a maneira de jogar, mesmo nas raras derrotas. Combinação quase perfeita do melhor das escolas espanhola, holandesa e argentina.

2º – Milan de Arrigo Sacchi – 1988/1989

Os 5 a 0 sobre o Real Madrid pela semifinal da Liga dos Campeões no Giuseppe Meazza representam o melhor do fantástico time dos holandeses Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco Van Basten. Comandados por Sacchi, que revolucionou o futebol italiano atualizando ideias de Rinus Michels.

Defesa em linha, comandada por Franco Baresi, marcando por zona, adiantando e aproximando setores, muitas vezes jogando em trinta metros e trabalhando a bola voltado para o ataque. Combinando a cultural solidez defensiva do “Calcio” com um estímulo ao talento que só rivalizava com a genialidade de Maradona no Napoli. Em 1990, faturou o bicampeonato europeu, último a conseguir o feito antes do Real Madrid de Zinedine Zidane. Um alento e um deleite em tempos de futebol defensivo, simbolizado pela Copa do Mundo disputada na própria Itália.

3º – São Paulo de Telê Santana – 1992/1993

Ganhar duas vezes seguidas a Libertadores é raro. Numa época ainda de muita violência no futebol sul-americano, além das já habituais arbitragens “polêmicas” e pouco controle de doping era ainda mais complicado. E priorizando o futebol bem jogado, mais raro ainda.

O que não era difícil era rivalizar com os gigantes europeus num período anterior à Lei Bosman, que transformou os grandes clubes do Velho Continente em verdadeiras seleções transnacionais. O São Paulo de Telê Santana conseguiu ser competitivo e ter momentos de futebol arte. O melhor exemplo na final do Mundial de 1992, contra o Barcelona. Com Cafu e Muller abertos, Rai e Palhinha por dentro e o suporte de Toninho Cerezo. Tocando, girando, envolvendo e virando para cima do “Dream Team” de Johan Cruyff. Um tempo de supremacia tricolor no planeta.

4º – Arsenal “Invincibles” – 2003/04

Campeão invicto da Premier League, já muito competitiva à época. O que o Liverpool de Klopp e o Manchester City de Guardiola sonharam, mas não conseguiram, os Gunners de Arsene Wenger fizeram história. Não é um título de Champions, mas não deixa de ser um feito extraordinário.

Méritos do time de contra-ataques de almanaque, mas que nunca abdicava de atacar. Uma equipe completa e que vivia um momento coletivo extraordinário, que potencializava as individualidades de Patrick Vieira, Thierry Henry e Dennis Bergkamp. Com auxílio luxuoso de Robert Pirés, Gilberto Silva, Ashley Cole e Fredrik Ljungberg. Transpiração e inspiração para primeiro garantir a taça, depois a trajetória imaculada e histórica. Que dificilmente será repetida.

5º – Bayern de Munique de Jupp Heynckes – 2012/13

Um rolo compressor improvável, depois do revés nos pênaltis em casa para o Chelsea na final europeia em Munique e de perder a hegemonia na própria Alemanha para o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp. Na temporada que Jupp Heynckes anunciou que se despediria dos gramados e o gigante bávaro foi atrás de Guardiola em seu “ano sabático”.

Parecia fim de festa. Mas com Robben e Ribéry desequilibrando pelas pontas, o Bayern atropelou o Barcelona com 7 a 0 no agregado e média de 40% de posse de bola. Mesmo sendo o segundo melhor no quesito na Europa, atrás justamente do time blaugrana. Provando ser uma equipe “camaleã”, que se adaptava às demandas das partidas, algo que seria tendência nos anos seguintes. Faturou a tríplice coroa, sendo o último título de outro clube que não Barcelona e Real Madrid na década até o Liverpool quebrar a sequência na temporada passada. Timaço!

6º – Flamengo de Zico – 1981/1982

O time que “unificou” os títulos depois do Santos de Pelé nos anos 1960. Em maio de 1982, era o último campeão da cidade (Taça Guanabara), estado (Rio de Janeiro), país (Brasil), continente e mundo. Com inovações táticas que virariam tendências.

Congestionando o meio-campo com um volante (Andrade) e quatro meias (Tita, Adílio, Zico e Lico), mais Nunes, o centroavante que caía pelas pontas abrindo espaços para os mais talentosos – incluindo os laterais Leandro e Júnior. Mas um camisa nove que aparecia para decidir as partidas mais importantes. Tocando, girando as peças e colocando os adversários na roda. Faltou um período maior de hegemonia no continente, mas o legado da maneira de jogar é imenso, influenciando a inesquecível seleção brasileira da Copa da Espanha.

7º – Liverpool de Jurgen Klopp – 2019/20

Uma construção paciente, qualificando o elenco, tornando a maneira de jogar mais versátil, adicionando pausas no estilo “rock’n’roll” do treinador alemão. Sofrendo com goleiros e zagueiros fracos inicialmente, para depois ir ao mercado e contratar Alisson e Virgil Van Dijk.

Para dar segurança a um ataque avassalador. Com Mohamed Salah, Roberto Firmino e Sadio Mané próximos uns dos outros e da meta adversária e os laterais Alexander-Arnold e Robertson abrindo o campo e sendo os principais municiadores de um time como volume de jogo sufocante e força mental para sair de várias situações difíceis. Venceu a Champions em 2019 e alcançou a melhor campanha do clube na história da Premier League, mas sem faturar o sonhado título nacional que deve vir agora, se a temporada na Inglaterra não for cancelada.

8º – Real Madrid de Zinedine Zidane – 2016/2017

Por motivo de: TRICAMPEÃO da Champions. Não é todo dia que acontece, mesmo descontando algumas atuações pouco inspiradas, pitadas de sorte e arbitragens polêmicas. Chama ainda mais atenção a manutenção da base nas três conquistas e o fato de ser a estreia de Zinedine Zidane no comando técnico de uma equipe de primeira divisão.

O auge na temporada 2016/17, com a conquista também do título espanhol. E o encaixe de Isco, armando um 4-3-1-2 muito móvel e mutante. E essencialmente técnico, com Carvajal e Marcelo abrindo o campo, Cristiano Ronaldo se juntando a Benzema na frente e muito controle no meio-campo, sustentado por Toni Kroos e Luka Modric. Todos suportados por Casemiro na proteção a Varane e Sergio Ramos. Se tudo desse errado, lá estava Keylor Navas para garantir. A camisa entortou varal algumas vezes, mas era um time com muito poder de decisão.

9º – Boca Juniors de Carlos Bianchi – 2000/2003

Um time “embaçado” para enfrentar, especialmente em mata-mata. Mas também capaz de ganhar o Apertura invicto, no início desta caminhada em 1998. Equipe que sabia amassar os adversários na Bombonera e cinicamente cozinhá-los como visitante. E, se tudo desse errado, ainda havia o “rei dos pênaltis” Oscar Córdoba na meta.

No ritmo de Juan Roman Riquelme. Craque um tanto tímido, de hábitos estranhos. Mas um “enganche” de enorme talento e leitura de jogo, inclusive da temperatura. O típico dez que dita o ritmo, acelerando ou escondendo a bola. Faturando a Libertadores em 2000, 2001 e 2003, superando o milionário Palmeiras e o Santos de Diego e Robinho. No último sem Riquelme e Palermo, mas com o jovem Carlos Tévez e Guillermo Schelotto. Uma máquina de faturar taças comandada por Bianchi, um estrategista copeiro que estava na hora certa e no clube certo para fazer história.

10º – Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo – 1996

Sim, o time alviverde mais vencedor comandado por Luxemburgo foi o de 1993/94. Este foi um “meteoro” que não durou seis meses. Mas, ora bolas! Futebol também é lúdico, capaz de fazer sonhar e encantar. E este que escreve chegou a faltar aulas e deixar de ver o time de coração para acompanhar esse futebol encantador.

Foram 102 gols e 13 goleadas de um time fulminante. Cafu e Júnior voando nas laterais, Djalminha e Rivaldo entregando talento no meio, Muller fazendo o pivô e Luizão perdendo e também fazendo muitos gols, tamanha era a superioridade coletiva e individual. Que encaixou no primeiro treinamento, segundo relato do próprio Djalminha a este que escreve em um “Bola da Vez” na ESPN Brasil em 2014. Só um título paulista, um revés doído para o Cruzeiro na final da Copa do Brasil, mas e daí? Nunca será esquecido e está na lista porque sim!

É isso!

Certamente muitos flamenguistas que acham que o futebol começou em 2019 vão cobrar: “Ain, e o time atual do Jorge Jesus?” Calma! Vamos esperar construir a história da equipe, ainda que ganhar Brasileiro com recorde nos pontos corridos e Libertadores no mesmo ano seja um feito espetacular. Mas vamos aguardar!

Para os mais inconformados, fica a promessa de uma análise mais detalhada do atual campeão nacional e continental em breve.

 

 

 

 

 

 

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“Molezinha” na Inglaterra pode atrapalhar o Liverpool na Champions? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/19/molezinha-na-inglaterra-pode-atrapalhar-o-liverpool-na-champions/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/19/molezinha-na-inglaterra-pode-atrapalhar-o-liverpool-na-champions/#respond Wed, 19 Feb 2020 09:47:59 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8007

Foto: Susana Vera / Reuters

Nos últimos anos, o argumento mais utilizado para justificar fracassos de Juventus, Bayern de Munique e Paris Saint-Germain na Liga dos Campeões foi a falta de desafios dos times, soberanos em suas ligas nacionais.

As equipes sobravam diante da concorrência e quando enfrentavam times de campeonatos mais competitivos sentiam o peso e acabavam sucumbindo.

Então, por coerência, não dá para dizer o mesmo do Liverpool em relação à Premier League?

Na temporada passada, apenas a derrota para o Manchester City que custou o titulo. Agora, as surreais 25 vitórias em 26 rodadas. 97,4% de aproveitamento. Com um desequilíbrio muito maior em relação a Bundesliga e Série A italiana nesta temporada.

É claro que o Inglês não deixou de ser competitivo, mas a equipe de Jurgen Klopp, por méritos próprios, parece ter encontrado uma espécie de fórmula, que adicionada à cultura de vitória faz o time se impor mesmo quando não apresenta bom desempenho. E os adversários vão jogando a toalha, até Pep Guardiola no bicampeão Manchester City.

Diego Simeone se recusa, especialmente em mágicas noites de Champions em Madrid. Antes no Calderón, agora Wanda Metropolitano. Mesmo na quarta colocação no Espanhol, dois pontos atrás do surpreendente Getafe e a 13 do líder Real Madrid.

É claro que o gol de Saúl Ñíguez logo aos quatro minutos condicionou o jogo e deixou o cenário à feição da concentração defensiva e do clima Davi x Golias que o treinador argentino adora criar. Compactou setores e contou com atuações gigantescas dos brasileiros Felipe e Renan Lodi para não permitir uma finalização do atual campeão europeu na direção da meta de Oblak.

E poderia ter machucado ainda mais os visitantes se Morata não perdesse duas boas chances, uma delas em furada grosseira dentro da área adversária. O Liverpool teve 67% de posse, 83% na efetividade nos passes e até alguns momentos de volume de jogo. Com a costumeira pressão pós-perda que fez o time da casa acertar apenas 67% dos passes.

Faltou, porém, a habitual contundência na frente. A ponto de Klopp, insatisfeito, mexer justamente no ataque: trocar Mané e Salah por Origi e Oxlade-Chamberlain. Sem sucesso, até porque o problema não era exatamente de qualidade individual, mas de incômodo nítido com o que o jogo impôs.

É claro que uma virada em Anfield é mais que possível, até provável. Só que os Reds terão que resgatar uma fúria que não vem sendo necessária pela “molezinha” na Inglaterra. Mas contra o Atlético de Simeone será obrigatória.

(Estatísticas: UEFA.com)

 

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Liverpool agora concorre apenas com a história da Premier League http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/19/liverpool-agora-concorre-apenas-com-a-historia-da-premier-league/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/19/liverpool-agora-concorre-apenas-com-a-historia-da-premier-league/#respond Sun, 19 Jan 2020 18:59:09 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7846 Na campanha de 20 vitórias e um empate antes da 23ª rodada, o Liverpool só não havia vencido o Manchester United – 1 a 1 no Old Trafford. Sem contar o West Ham, no jogo adiado por conta da disputa do Mundial de Clubes.

Em Anfield, o desempenho da equipe de Jurgen Klopp foi condizente com o tamanho do clássico entre os maiores vencedores na Inglaterra. E do tamanho da “fome” dos Reds para quebrar um jejum de 30 anos sem dar chances aos concorrentes.

Mas Salah e Firmino perderam chances cristalinas, o brasileiro da camisa nove e Wijnaldum tiveram gols bem anulados com o auxílio do VAR. No momento em que o volume de jogo do melhor time do mundo ofereceu algum espetáculo. Só foi às redes, porém, no início com mais uma arma do vasto repertório: o jogo aéreo na bola parada com Van Dijk.

Depois baixou a intensidade, passou a ceder espaços e permitiu chances aos Red Devils. Com Martial, Fred, Andreas Pereira. Foram nove finalizações, quatro no alvo. Uma equipe menos madura e consolidada desmancharia no final com o sufoco do rival depois de jogar até para construir uma goleada. E o sofrimento foi mesmo grande.

Até Alisson acionar  Salah com o adversário todo no campo de ataque e o egípcio tocar na saída do goleiro De Gea. Na 16ª finalização, a quinta no alvo. 2 a 0. O sétimo jogo seguido sem ser vazado. Para chegar aos 64 pontos em 66 possíveis. A melhor campanha na história das cinco grande ligas da Europa neste número de jogos. No principal campeonato nacional do planeta.

O vice-líder Manchester City, com 48 pontos, só pode chegar a 93 pontos nas 15 rodadas que faltam. Ou seja, com mais 30 pontos, ou dez vitórias, em 16 partidas o Liverpool vencerá pela primeira vez a Premier League. Mas a sede por recordes é clara. Então a conta mais certa é que faltam 37 pontos, ou 12 vitórias e um empate, para superar os 100 pontos dos citizens em 2017/18.

Porque esse time que já é um dos melhores da década agora concorre apenas com a história na Inglaterra.

(Estatísticas: BBC)

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Gabriel Jesus é reserva de Aguero e não tem obrigação de ser “Fenômeno” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/05/gabriel-jesus-e-reserva-de-aguero-e-nao-tem-obrigacao-de-ser-fenomeno/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/05/gabriel-jesus-e-reserva-de-aguero-e-nao-tem-obrigacao-de-ser-fenomeno/#respond Sun, 05 Jan 2020 06:50:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7798

Foto: Getty Images

O Brasil é cinco vezes campeão do mundo e, no universo das seleções, teve dois períodos de domínio: o primeiro de 1958 a 1970, com três títulos em quatro Copas e protagonismo de Garrincha e Pelé; o segundo de 1994 a 2007, com mais duas conquistas mundiais e cinco jogadores contemplados com as maiores premiações individuais – Romário em 1994, Ronaldo em 1996, 1997 e 2002, Rivaldo em 1999, Ronaldinho Gaúcho em 2004 e 2005 e Kaká em 2007.

A última fase coincidiu com a perda de relevância das Copas do Mundo. A partir de 2008, com a hegemonia de Messi e Cristiano Ronaldo, a Liga dos Campeões ganhou força e o argentino e o português dominaram mesmo sem um título mundial por suas seleções. O Brasil teve Neymar oscilando, três eliminações em quartas de final e os 7 a 1 no Mineirão em 2014.

Olhando para a história do futebol, um ocaso compreensível. Tirando o “espasmo” em 1982, foi mais ou menos o que o aconteceu entre 1970 e 1994. A arrogância brasileira, porém, cobra um protagonismo ininterrupto, como se o escrete canarinho perdesse sempre para si mesmo e ninguém mais jogasse em alto nível no planeta. Uma percepção que muda pouco no senso comum, mesmo com jogos internacionais sendo transmitidos como nunca por aqui.

E toda derrota carrega seu vilão no jeito emocional de analisar o jogo no “país do futebol”. Em 2018, além das quedas de Neymar, a falta de gols de Gabriel Jesus, então com 21 anos, foi o grande alvo dos críticos. De fato, o jovem atacante do Manchester City não teve bom desempenho, embora tenha sido útil taticamente em muitos momentos.

Mas a expectativa criada pelos gols na campanha do ouro olímpico, nas eliminatórias e o da vitória no amistoso contra a Alemanha que foi tratado como jogo oficial e uma “revanche” contra os algozes da Copa no Brasil foi exagerada.

Porque Gabriel Jesus não é um extra-classe. E pode construir uma carreira digna, mesmo sem seguir a linhagem de Ronaldo e Romário que Adriano Imperador ensaiou uma continuidade. Na carreira tem 86 gols e 29 assistências em 209 partidas. No City, 58 bolas nas redes adversárias e 19 passes para gols. É comandado por Pep Guardiola desde que chegou a Manchester.

E é reserva de Kun Aguero. Simplesmente o maior artilheiro da história do clube com 245 gols em 357 jogos. Presente nos quatro títulos da Era Premier League, sendo peça decisiva em todos – especialmente no primeiro, temporada 2011/12, a primeira do argentino no clube, definindo o título com o terceiro gol, já nos acréscimos, sobre o Queens Park Rangers. Aos 31 anos é ídolo inquestionável, um símbolo.

Por isso Pep Guardiola o chamou de “insubstituível” e classificou Gabriel Jesus como “um bom reserva”. O suficiente para ferir o orgulho brasileiro, ainda mais por exaltar um “hermano”. Bobagem, até porque o brasileiro é jovem, tem mostrado evolução e ganha minutos naturalmente nas temporadas. Aguero não dá conta de todos os jogos da temporada, seja por desgaste ou lesões, suspensões… E há tempos esse conceito de titulares e reservas mudou significativamente, com o aumento da intensidade da disputa.

Jesus já marcou oito gols em dezessete aparições na liga, os dois últimos nos 2 a 1 sobre o Everton. Sete vezes saindo do banco de reservas. Na Liga dos Campeões foi às redes quatro vezes, no mesmo número de partidas – uma vez saindo do banco. Aguero tem dez gols na competições por pontos corridos em 15 jogos. Mais dois gols em três partidas pela Champions. Mais um na goleada por 4 a 1 sobre o Port Vale pela Copa da Inglaterra.

Os números podem ser semelhantes na média, mas são atacantes de prateleiras diferentes. Ao menos por enquanto, e no contexto do City. Falta ao brasileiro mais “punch” em jogos grandes, mas vem evoluindo em fundamentos e ficando menos afobado na hora de tomar a decisão perto da meta adversária. Questão de tempo e treino.

Porque ninguém é obrigado a ser “Fenômeno”, ou “gênio da grande área”. Guardiola conhece bem e sabe como utilizá-lo. Na seleção, Tite tenta encaixar o camisa nove com Roberto Firmino, mas não é tão simples sem a rotina de treinamentos. Parte do processo. Ainda assim, foi peça importante na conquista da Copa América no Brasil ano passado.

E a vida segue, como deve ser. Sem histeria ou fatalismo. O atacante brasileiro não pode viver apenas entre a consagração e o fracasso. Ser gênio ou um lixo. Jesus é bom e deve ficar ainda melhor. O tempo precisa ser aliado, não adversário na nossa pressa de definir uma carreira. Menos mal que Guardiola tem paciência e plena noção do que tem nas mãos. Pensando também no futuro.

(Estatísticas: Whoscored.com)

 

 

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Com Arteta, Arsenal tenta sair do limbo que, no Brasil, ameaça o São Paulo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/30/com-arteta-arsenal-tenta-sair-do-limbo-que-no-brasil-ameaca-o-sao-paulo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/30/com-arteta-arsenal-tenta-sair-do-limbo-que-no-brasil-ameaca-o-sao-paulo/#respond Mon, 30 Dec 2019 11:47:58 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7784

Foto: Getty Images

Mikel Arteta se aposentou como jogador em 2016 no Arsenal, aos 34 anos, e foi ser auxiliar de Pep Guardiola no Manchester City. Com visão privilegiada de meio-campista e sensibilidade para lidar com os atletas que enfrentava até pouco tempo atrás, era uma “ponte” importante entre treinador e elenco.

Conceitos atuais e liderança que seduziram o Arsenal a apostar no espanhol para suceder Unai Emery no comando técnico. Arteta que foi convidado por Arsène Wenger assim que parou de jogar para comandar a Academia. Desenvolvendo jovens atletas que hoje são a esperança do clube e do novo treinador em um projeto a médio/longo prazo, a julgar pelo contrato de três anos e meio.

O grande obstáculo em sua primeira experiência é justamente a urgência de uma torcida que está cansada de esperar. Porque o clube demorou a entender que era hora de agradecer a Wenger pelos serviços prestados e buscar outros caminhos. Por mais que se defenda trabalhos a longo prazo e se reverencie quem consiga executar um projeto durante décadas, a noção de “timing” é fundamental.

Faltou isso à diretoria dos Gunners. Ou o bilionário Stan Kroenke, “dono” do clube, deu mais importância aos lucros do que aos resultados esportivos. Na prática, a imagem de clube que contrata e trabalha na evolução de jovens atletas que vão vencer em outras agremiações foi consolidada e teve em Cesc Fàbregas seu maior símbolo. Chegou ao clube em 2003, com 16 anos foi o jogador mais jovem a entrar em campo pelo time principal. No entanto, não pôde ser considerado campeão invicto em 2003/04 porque não jogou nenhum minuto pela Premier League.

Saiu em 2011, com apenas uma Copa da Inglaterra (2004/05) e uma Supercopa (2004). Para ganhar quase tudo no Barcelona em três anos, exceto a Liga dos Campeões, e vencer sua primeira Premier League logo em sua volta à Inglaterra, mas pelo Chelsea, grande rival do Arsenal.

Foram anos se satisfazendo com a quarta vaga na Inglaterra para a Champions, campanhas que foram minguando depois do vice-campeonato em 2006 e da chegada às semifinais em 2008/09. Com incrível sequência de sete eliminações nas oitavas, a última de forma humilhante para o Bayern de Munique por 10 a 2 no placar agregado em 2016/17.

Com a ascensão do Tottenham de Mauricio Pochettino e a redenção do Liverpool de Jürgen Klopp se juntando a Manchester City e Chelsea, além das oscilações do Manchester United, não havia mais vaga no principal torneio de clubes do planeta para os Gunners. Precisou que o próprio Wenger, imaginando a possibilidade de demissão, encerrasse o ciclo de 22 anos como manager em abril de 2018. Período que ele mesmo considerou longo demais em entrevista posterior à saída: “Sou uma pessoa que gosta de se mover, mas também gosto de um desafio. Só que eu acabei sendo um prisioneiro dos meus próprios desafios”, declarou à rádio francesa “RTL”.

Depois do fenômeno “Invincibles” em 2003/04, os títulos vieram apenas na Copa da Inglaterra: 2004/05, 2013/14, 2014/15 e 2016/17. Tornando o clube recordista de conquistas do torneio, com 13. Mesmo número de títulos ingleses, só ficando atrás de Manchester United e Liverpool. Mas apenas três na Era Premier League, desde 1992.

Um clube vencedor, mas que parece ter se enfiado em uma espécie de “limbo”. A falta de maiores ambições durante anos, uma sensação de imobilidade conformada. O Arsenal ficou morno, sem enorme crise nem grande conquista. Wenger virou refém de sua própria imagem que ganhou um ar romântico e até quixotesco ao longo do tempo.

Fez mal, porém, à instituição que hoje luta para se reposicionar. Na derrota para o Chelsea no Emirates por 2 a 1, segunda partida de Arteta no comando depois do empate por 1 a 1 na estreia contra o Bournemouth, uma virada improvável dos Blues depois do domínio dos donos da casa, especialmente no primeiro tempo. Gol de Aubameyang, mas falha grotesca de Leno no gol de Jorginho aos 38 minutos e, quatro minutos depois, o golpe final com Abraham. Mais um revés para o algoz na final da última Liga Europa, com goleada por 4 a 1.

Para deixar o time na 12ª colocação no campeonato. A sete pontos da vaga na Liga Europa, a seis da zona de rebaixamento. Um elenco com potencial para ir além, mas que tem em Mesut Özil a imagem mais emblemática: 31 anos, no clube desde 2013. Acomodado, de brilhos esparsos e que desaparece em momentos decisivos. Como se reconstruir desta forma? Só Arteta no comando não basta.

Um buraco que, no Brasil, ameaça o São Paulo. Clube ainda mais vencedor que o Arsenal, pelas grandes conquistas internacionais, mas que segue errante, sem rumo desde o tricampeonato brasileiro em 2008. Depois da Sul-Americana em 2012, um duro período de seca, mesmo no Paulista que já perdeu relevância no cenário nacional.

Turbulência política, a perda da imagem de “Soberano” e também do Morumbi como palco dos grandes jogos dos rivais Corinthians e Palmeiras, o que gerava receitas e prestígio pela imagem de clube organizado. Hoje vive de olhar para o passado buscando algum sinal, uma luz.

Tentou a guinada com a contratação de Daniel Alves, o jogador mais vencedor da história do futebol, com 40 títulos oficiais na carreira. Mas nem o carisma mudou o marasmo, ao menos por enquanto. Os grandes “feitos” na temporada foram a vaga direta na fase de grupos da Libertadores – com a sexta colocação no Brasileiro, aproveitando as vagas deixadas por Flamengo e Athletico – e ter sido o único time a não ser derrotado pelo campeão com recorde de pontos. Muito pouco para um gigante.

Mas parece suficiente para Fernando Diniz, que detecta poucas carências para o elenco. De fato, há qualidade. Falta, porém, uma centelha de protagonista difícil de encontrar depois que se acostuma com papeis secundários. O risco é o hábito de ser coadjuvante empurrar ladeira abaixo, como parece o caminho do Arsenal na Inglaterra. Um triste ocaso para tanta história.

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Show do Liverpool em Leicester confirma: quem corre certo cansa menos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/26/show-do-liverpool-em-leicester-confirma-quem-corre-certo-cansa-menos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/26/show-do-liverpool-em-leicester-confirma-quem-corre-certo-cansa-menos/#respond Thu, 26 Dec 2019 22:02:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7773 O Liverpool encarou a sequência de jogos em dezembro com dois grandes objetivos: primeiro se garantir no mata-mata da Liga dos Campeões, depois a disputa de uma “final” nos pontos corridos fora de casa contra o Leicester City. No meio havia um Mundial de Clubes no Catar, que virou obrigação pela eliminação vexatória dos jovens do time C na Copa da Liga Inglesa para o Aston Villa por 5 a 0.

Vitória sobre o Salzburg garantindo a liderança do grupo no torneio continental, primeira conquista intercontinental…e o melhor ficou para o último dos nove jogos disputados no mês: 4 a 0 sobre o vice-líder da Premier League no “Boxing Day”.

Mais do que a intensidade natural da equipe de Jürgen Klopp, o que chamou mais atenção foi a organização. Para defender e atacar. Sem bola, cortando todas as conexões com Jamie Vardy, artilheiro da competição com 17 gols. Atenção especial a Tielemans e Maddison, os principais criadores na móvel linha de meias no 4-1-4-1 de Brendan Rodgers.

Com a bola, a consolidação da ideia de ter cada vez mais os laterais adiantados e próximos do trio Salah-Firmino-Mané. Com o retorno de Wijnaldum, o meio-campo foi novamente sólido, mesmo ainda sem o lesionado Fabinho. Mas é pelos lados que o melhor time do mundo cria mais e com eficiência.

Com Robertson acelerando pela esquerda na busca do fundo ou até da finalização. E Alexander-Arnold sobrando como o grande articulador da equipe, junto com Roberto Firmino. Pela meia esquerda acionando Roberto Firmino no primeiro gol. No mesmos setor cobrando o escanteio que terminou no pênalti convertido por Milner, que entrara na vaga de Keita. Pela direita servindo Firmino no terceiro e o próprio lateral aparecendo para marcar o quarto e último.

Simplesmente 4 a 0 em Leicester. O campeão da temporada 2015/16 havia sofrido apenas dois gols nos últimos nove jogos em casa. Não era derrotado em seus domínios desde abril. O Liverpool simplesmente não tomou conhecimento. 59% de posse, 15 finalizações a três – seis a zero no alvo. Zero. Não permitiu nenhuma finalização na direção da meta de Alisson.

E nenhum sinal de desgaste. Por uma razão simples e que não muda, mesmo com toda evolução no esporte: quem corre certo cansa menos. Sem contar a confiança por tantas vitórias e agora conquistas. Quando se sabe o que fazer, que espaço ocupar, qual brecha fechar do adversário e atacar do oponente, tudo fica muito mais fácil.

Um timaço que encaminha o título inglês com dezessete vitórias, um empate e um jogo a menos. Treze pontos de vantagem na liderança. Todas as condições de pulverizar os recordes impostos pelo Manchester City de Pep Guardiola nas duas últimas temporadas. Há talento, execução precisa e um fôlego que parece inesgotável para seguir empilhando vitórias.

(Estatísticas: BBC)

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