robertofirmino – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Comparação mais justa nos Mundiais de 12 e 19 não é entre Fla e Corinthians http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/18/comparacao-mais-justa-nos-mundiais-de-12-e-19-nao-e-entre-fla-e-corinthians/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/18/comparacao-mais-justa-nos-mundiais-de-12-e-19-nao-e-entre-fla-e-corinthians/#respond Mon, 18 May 2020 11:50:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8508 As reprises na TV Globo da conquista do Mundial de Clubes 2012 pelo Corinthians, para São Paulo, e da Libertadores do ano passado pelo Flamengo despertaram nas redes sociais uma rivalidade que nunca fez muito sentido para este que escreve, que viveu a época da “Fla-Fiel”, de torcedores engrossando a massa do “parceiro” em disputas interestaduais.

Uma união de times extremamente populares que foi minada primeiro pelo bairrismo crescente em programas de TV que deveriam ser de âmbito nacional e depois pela internet, com a tola “polêmica” sobre qual a maior torcida do país.

Apesar do jogo exibido do time carioca ter sido contra o River Plate em Lima, muitos corintianos fizeram questão de lembrar da derrota do Flamengo para o Liverpool no Mundial em dezembro. Mantendo o clube paulista como o único sul-americano a vencer o torneio organizado pela FIFA nesta década.

Méritos inquestionáveis de uma conquista invicta desde a Libertadores da equipe comandada por Tite. E a comparação não faz sentido também porque o registro que fica para os corintianos é de uma festa apoteótica no Japão e dos rubro-negros de tristeza no Catar, apesar do orgulho pelo desempenho do time. Celebração só em 1981, com os 3 a 0 sobre o mesmo gigante inglês em Tóquio, na conquista reconhecida pela FIFA como Mundial.

Mas a comparação correta para avaliar apenas os desempenhos dos times brasileiros deve ser entre os adversários. Qual time impôs mais resistência: o Chelsea de Rafa Benítez há quase oito anos ou o Liverpool de Jürgen Klopp há cinco meses?

Bem, os Blues não eram o melhor time da Europa nem quando conquistaram a tão sonhada Liga dos Campeões. Apesar do heroismo de resistir ao Bayern na final em Munique e ter eliminado o Barcelona de Guardiola na semifinal, os comandados de Roberto Di Matteo, liderados em campo por Didier Drogba, foram o grande azarão e não tiveram uma grande atuação para chamar de sua no período.

Em dezembro, sem Drogba e com Rafa Benítez, era um time ainda mais fragilizado. Eliminado por Juventus e Shakhtar Donetsk na fase de grupos da Champions 2012/13, terminaria em terceiro lugar na Premier League, 14 pontos atrás do campeão Manchester United, e sem faturar nenhuma copa nacional.

Só a Liga Europa contra o Benfica, mas pela capacidade de investimento de Roman Abramovich à época, não passou de um prêmio de consolação. Tanto que Benítez acabou demitido no final da temporada para o clube londrino repatriar José Mourinho.

No Mundial, vitória protocolar sobre o Monterrey por 3 a 1 na semifinal. Impondo a enorme superioridade técnica de um time que ainda contava com Cech, Ivanovic, David Luiz, Ashley Cole, Lampard, Hazard e Fernando Torres.

É óbvio que o Corinthians não venceu qualquer um. Nem foi uma vitória por acaso, abrindo mão de jogar futebol. Se cuidou na execução do 4-4-1-1 que tinha Danilo pela esquerda e Emerson se aproximando de Paolo Guerrero, autor do gol do título. Para depois compactar setores marcando por zona, uma novidade à época nos times brasileiros, e contar com as defesas de Cássio para segurar o campeão europeu estelar.

Inegavelmente um feito histórico e único nos últimos dez anos, de domínio cada vez maior dos times do Velho Continente. Não só pelo abismo financeiro, mas por conta da evolução constante dos métodos e do rendimento no mais alto nível.

Eis o mérito do Flamengo, mesmo sem levantar a taça. Encarou de fato o melhor time europeu e do planeta naquele momento. Classificado para o mata-mata da Liga dos Campeões e líder absoluto da Premier League, com título praticamente encaminhado já em dezembro.

Com Alisson, Van Dijk, Alexander-Arnold, Robertson, Henderson, Salah, Firmino e Mané. À beira do campo, o melhor treinador do planeta na atualidade. Mesmo considerando a intensidade mais baixa na disputa do Mundial e o susto na semifinal contra o Monterrey usando time misto, os Reds eram favoritos absolutos.

Ainda mais em tempos recentes, com sul-americanos eliminados nas semifinais em 2013, 2016 e 2018 – sem contar o “pioneiro” Internacional contra o Mazembe em 2010. O Flamengo ao menos cumpriu a obrigação contra o Ah Hilal, apesar do susto e da necessidade de virar o jogo para 3 a 1.

Na decisão, o mérito da equipe de Jorge Jesus foi tentar jogar, utilizando conceitos atuais que surpreenderam até Alisson e Firmino, brasileiros que atuam no Liverpool. Duelando pela posse de bola e ocupando o campo de ataque em vários momentos.

Nunca saberemos se o Flamengo, caso tivesse aberto o placar, também se fecharia como o Corinthians. E é preciso considerar o maior desgaste por ter se dedicado e vencido também o Brasileiro, enquanto o time paulista praticamente abandonou a principal competição nacional e respirou Chelsea desde a conquista da Libertadores em julho.

O cansaço cobrou uma conta alta na prorrogação e o gol de Firmino fez justiça ao melhor time da decisão. Que criou chances cristalinas e fez Diego Alves trabalhar quase tanto quanto Cássio em Yokohama. Não há o que contestar, apesar da chance desperdiçada por Lincoln no último ataque dos 12o minutos.

Tudo isso em um trabalho de cinco meses, bem menos que os mais de dois anos de Tite. Um no início, outro no ápice. Mas fundamentalmente com adversários vivendo momentos bem distintos.

O Corinthians conseguiu o objetivo final, a vitória. O Flamengo ficou com a esperança de retornar, abafada agora pela pandemia. Para o histórico de vexames internacionais nos últimos tempos, o título da Libertadores já foi uma conquista espetacular, ainda mais com a virada no final sobre o então campeão River de Marcelo Gallardo com os gols de Gabriel Barbosa.

Mas como vivemos tempos de comparações descabidas para provocar e gerar “engajamento”, forçaram um paralelo que, como tudo, precisa de contextualização para ser melhor compreendido. Sem o simplismo de apenas olhar o placar final e arrotar “verdades”. Felizmente o futebol é bem mais que isso.

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Luizão foi um bom camisa nove, mas errou feio ao falar sobre centroavantes http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/06/luizao-foi-um-bom-camisa-nove-mas-errou-feio-ao-falar-sobre-centroavantes/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/06/luizao-foi-um-bom-camisa-nove-mas-errou-feio-ao-falar-sobre-centroavantes/#respond Mon, 06 Apr 2020 11:35:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8257

Foto: Pedro Ivo Almeida / UOL

“O Brasil não tem centroavante hoje. Não temos e sentimos muita falta disso. O Brasil foi pentacampeão mundial sempre com um 9, uma referência. […] Gabriel Jesus e Firmino não começaram a carreira como centroavantes. Eles são adaptados ali”.

Palavras do ex-jogador Luizão no programa “Última Palavra” no canal Fox Sports. Campeão mundial em 2002 e um bom centroavante, artilheiro e vencedor por Palmeiras, Vasco, Corinthians, São Paulo e Flamengo.

Mas errou feio ao falar sobre a sua posição. Em relação ao passado e aos tempos atuais. E não venham com o velho, surrado e furado papo de “ele jogou, você nunca chutou uma bola e não pode criticar”. Posso, sim. Primeiro pela liberdade de expressão, segundo porque ele já parou de jogar e está ali analisando o cenário futebolístico. E precisa ter conhecimento para não dizer bobagem.

E ele disse. “O Brasil foi pentacampeão mundial sempre com um 9, uma referência”. Quem era a referência em 1970, justamente a seleção considerada a melhor não só brasileira, mas de todas as Copas?

A resposta: ninguém. Tostão era um meia-atacante, um “ponta-de-lança”. Na equipe montada por Zagallo tinha a função de se movimentar, abrir espaços. Procurar o lado esquerdo, ajudando Rivellino, já que o lateral Everaldo praticamente não atacava. Deixava o corredor central para Pelé e as infiltrações em diagonal de Jairzinho.

Fez apenas dois gols no Mundial, na vitória por 4 a 2 sobre o Peru nas quartas de final da Copa no México. Foi muito mais importante, porém, facilitando o trabalho dos companheiros. Muito longe de ser o tal “homem-gol”.

A rigor, o único centroavante típico campeão mundial pelo Brasil foi Vavá, em 1958 e 1962. E mesmo ele também se movimentava. Com Zagallo mais recuado, ele dava dois passos para o lado esquerdo para que o jovem Pelé entrasse para concluir. Quatro anos depois, também ajudou com mobilidade para que Garrincha brilhasse.

Ronaldo e Romário foram craques geniais, atacantes completos – ou quase, já que o Fenômeno, por conta de um trauma por bolada, passou a ter medo de cabecear. Não atuavam exatamente na referência. Em 1994 o ataque era uma dupla, com Bebeto. Ambos criavam e finalizavam. No último título mundial brasileiro, o 3-4-3 da primeira fase precisou ser desmontado e Rivaldo ganhou mais liberdade para sair da esquerda e também formar uma dupla com Ronaldo.

Em algumas Copas, ter uma referência mais atrapalhou que colaborou. No Mundial de 1982, na Espanha, o grande time de Telê Santana contava com Serginho Chulapa. Artilheiro do Brasileiro daquele ano pelo São Paulo ao lado de Zico, mas com menos jogos. Um típico homem-gol, jogador do último toque para as redes. Alto, forte, sempre rondando a área adversária.

E perdeu gols de forma constrangedora. O mais grave justamente na derrota para a Itália, no primeiro tempo, tomando à frente de Zico. Livre, na cara do goleiro Zoff. Fora as muitas chances desperdiçadas nos demais jogos, especialmente na estreia contra a União Soviética. Apenas dois gols, contra a semiamadora Nova Zelândia e diante da Argentina, completando com total liberdade um cruzamento perfeito de Falcão.

Para muitos analistas, se a seleção tivesse um típico ponta pela direita em alto nível, o ataque e o time ficariam mais equilibrados com Sócrates e Zico se alternando como “falso nove”. Ou jogando com um atacante mais móvel, como Careca ou Nunes, que se deslocasse para a direita, no espaço deixado pelo “quadrado mágico” no meio. A referência não colaborou em nada.

O mesmo em 2014. Fred chegou ao Mundial longe do bom momento de 2012, quando foi campeão e artilheiro do Brasileiro com o Fluminense, e 2013, também vencedor e goleador da Copa das Confederações pela seleção. Na Copa, apenas um gol, nos 4 a 1 sobre Camarões. E uma falta de mobilidade que facilitou a marcação, sobrecarregou Neymar e desequilibrou a equipe de Felipão até a tragédia dos 7 a 1.

A crítica a Gabriel Jesus na última Copa do Mundo é válida. De fato, terminar o Mundial sem gols não é para se orgulhar. Os citados acima, em má fase ou não jogando como centroavante, ao menos foram às redes. A juventude do atacante de 21 anos atenua, mas não justifica a falta de contundência.

Mas fazer gols não era a única função de Jesus. Assim como Tostão em 1970, sem comparações, a tarefa era facilitar com mobilidade o trabalho de Neymar e Philippe Coutinho, as duas grandes estrelas. Algo muito comum no futebol mundial, como Suárez trabalhando para Messi no Barcelona e Benzema para Cristiano Ronaldo no Real Madrid tri da Liga dos Campeões.

E Giroud na França campeã mundial. O camisa nove alto e forte não marcou gols no torneio disputado na Rússia, assim como Gabriel Jesus. No entanto, o posicionamento no centro do ataque empurrou as defesas adversárias para trás e criou os espaços que Mbappé, Griezmann e Pogba precisavam para desequilibrar.

Roberto Firmino, também criticado por Luizão, é o nove do Liverpool, atual campeão da Champions e virtual da Premier League, se houver um final para esta edição do Inglês. Faz gols, mas a função principal é recuar, articular e deixar brechas para as infiltrações em diagonal de Salah e Mané.

Jogar exclusivamente para um goleador no centro do ataque é coisa do passado. As equipes hoje são muito mais móveis e dinâmicas, até pela falta de espaços. O ideal é tirar a referência justamente para dificultar a retaguarda do oponente. Lewandowski, Cavani, Diego Costa, Icardi, Aguero…Todos marcam gols, mas também se mexem bastante.

Assim como Luizão, que nos anos 1990 já procurava os flancos e deixava Rivaldo, Muller e Djalminha brilharem no lendário Palmeiras de 1996. O mesmo no Vasco campeão da Libertadores de 1998 com Donizete e Ramon ou Pedrinho e no Corinthians campeão brasileiro e mundial em 1999/2000 com Marcelinho Carioca, Edilson e Ricardinho. E aparecendo na área para ser decisivo e colocar o Brasil no Mundial de Japão/Coreia do Sul com dois gols sobre a Venezuela na última rodada das eliminatórias, em 2001.

Jogava bem, mas mandou mal na análise sobre a sua posição. Mais uma prova de que jogar e comentar são tarefas distintas. Uma não é, nem pode ser, consequência natural da outra. Só o feeling não basta, é preciso saber.

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Show do Liverpool em Leicester confirma: quem corre certo cansa menos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/26/show-do-liverpool-em-leicester-confirma-quem-corre-certo-cansa-menos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/26/show-do-liverpool-em-leicester-confirma-quem-corre-certo-cansa-menos/#respond Thu, 26 Dec 2019 22:02:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7773 O Liverpool encarou a sequência de jogos em dezembro com dois grandes objetivos: primeiro se garantir no mata-mata da Liga dos Campeões, depois a disputa de uma “final” nos pontos corridos fora de casa contra o Leicester City. No meio havia um Mundial de Clubes no Catar, que virou obrigação pela eliminação vexatória dos jovens do time C na Copa da Liga Inglesa para o Aston Villa por 5 a 0.

Vitória sobre o Salzburg garantindo a liderança do grupo no torneio continental, primeira conquista intercontinental…e o melhor ficou para o último dos nove jogos disputados no mês: 4 a 0 sobre o vice-líder da Premier League no “Boxing Day”.

Mais do que a intensidade natural da equipe de Jürgen Klopp, o que chamou mais atenção foi a organização. Para defender e atacar. Sem bola, cortando todas as conexões com Jamie Vardy, artilheiro da competição com 17 gols. Atenção especial a Tielemans e Maddison, os principais criadores na móvel linha de meias no 4-1-4-1 de Brendan Rodgers.

Com a bola, a consolidação da ideia de ter cada vez mais os laterais adiantados e próximos do trio Salah-Firmino-Mané. Com o retorno de Wijnaldum, o meio-campo foi novamente sólido, mesmo ainda sem o lesionado Fabinho. Mas é pelos lados que o melhor time do mundo cria mais e com eficiência.

Com Robertson acelerando pela esquerda na busca do fundo ou até da finalização. E Alexander-Arnold sobrando como o grande articulador da equipe, junto com Roberto Firmino. Pela meia esquerda acionando Roberto Firmino no primeiro gol. No mesmos setor cobrando o escanteio que terminou no pênalti convertido por Milner, que entrara na vaga de Keita. Pela direita servindo Firmino no terceiro e o próprio lateral aparecendo para marcar o quarto e último.

Simplesmente 4 a 0 em Leicester. O campeão da temporada 2015/16 havia sofrido apenas dois gols nos últimos nove jogos em casa. Não era derrotado em seus domínios desde abril. O Liverpool simplesmente não tomou conhecimento. 59% de posse, 15 finalizações a três – seis a zero no alvo. Zero. Não permitiu nenhuma finalização na direção da meta de Alisson.

E nenhum sinal de desgaste. Por uma razão simples e que não muda, mesmo com toda evolução no esporte: quem corre certo cansa menos. Sem contar a confiança por tantas vitórias e agora conquistas. Quando se sabe o que fazer, que espaço ocupar, qual brecha fechar do adversário e atacar do oponente, tudo fica muito mais fácil.

Um timaço que encaminha o título inglês com dezessete vitórias, um empate e um jogo a menos. Treze pontos de vantagem na liderança. Todas as condições de pulverizar os recordes impostos pelo Manchester City de Pep Guardiola nas duas últimas temporadas. Há talento, execução precisa e um fôlego que parece inesgotável para seguir empilhando vitórias.

(Estatísticas: BBC)

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Os problemas do futebol brasileiro que pesaram contra o Flamengo no Mundial http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/21/os-problemas-do-futebol-brasileiro-que-pesaram-contra-o-flamengo-no-mundial/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/21/os-problemas-do-futebol-brasileiro-que-pesaram-contra-o-flamengo-no-mundial/#respond Sat, 21 Dec 2019 22:58:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7760 A bola do empate que caiu no pé direito de Lincoln e foi por cima da meta de Alisson no final da prorrogação foi o último sinal de que o Flamengo fizera muito mais do que o possível na final do Mundial de Clubes em Doha contra o Liverpool.

O time titular, já na história do clube, igualou mais do que o esperado em 77 minutos o confronto com a melhor equipe da Europa e do planeta. Os Reds perderam chances cristalinas com Firmino, uma na trave no início do segundo tempo, e Keita.

Mas os comandados de Jorge Jesus responderam como nenhum outro brasileiro campeão sul-americano neste século em agressividade, qualidade técnica e organização para atacar e defender. Nem mesmo o Corinthians de Tite que venceu há sete anos o Chelsea em crise de Rafa Benítez, apresentou algo parecido.

A partida, porém, mostrou que alguns problemas do futebol brasileiro pesam a mão e puxam para baixo qualquer equipe do país que queira estabelecer um patamar mais próximo das principais equipes do mundo.

A começar pelo calendário que colocou o Flamengo em seu 74º jogo oficial no ano justamente no desafio mais complicado. São 76 se contarmos os dois pela Flórida Cup. Quinze deles no estadual, que é sempre o que desequilibra a balança e, pior, atropela a temporada no segundo semestre. Ainda mais em ano de Copa América.

Não adiantou muito a “intertemporada” que ajudou Jorge Jesus assim que assumiu o comando técnico. O desgaste foi absurdo, até pela sequência de jogos no returno do Brasileiro emendados com Libertadores que fizeram o Flamengo entrar em campo, na média, uma vez a cada quatro dias. Sem os quatro meses dedicados a algo que só existe no Brasil, aquele gás que faltou na prorrogação poderia ter deixado o duelo com o gigante europeu menos desigual por mais tempo.

Assim como um elenco mais equilibrado. A chance desperdiçada por Lincoln – que não tem culpa de nada e procurou contribuir sempre, inclusive com gol importante na vitória sobre o Botafogo no Nilton Santos – poderia ter caído em pés mais experimentados saindo do banco. O time já sentira a queda de produção depois das trocas de Everton Ribeiro e De Arrascaeta por Diego e Vitinho.

O milagre do encaixe de quatro contratações em janeiro com outras quatro no meio do ano, mais o treinador estrangeiro, não foi suficiente para compensar a reposição com muitos garotos e “heranças” do passado que até surpreenderam pela recuperação e reinvenção, como Diego Ribas. Mas é preciso planejar melhor o ano e, de preferência, começar a temporada com o grupo mais completo.

E também escolher com mais critério o técnico para não precisar fazer a troca durante a temporada. Resultado também da prática habitual de trabalhar por etapas, pensando no primeiro semestre de estadual e fase de grupos de Libertadores e depois nas principais competições. Mas o que poderia ter feito o Flamengo de Jorge Jesus com pré-temporada decente, calendário digno e elenco completo desde o início do ano?

A esperança dos rubro-negros é que isso seja possível em 2020. Só que outro obstáculo intransponível do futebol nacional ameaça se impor no ano que vem: o mercado volátil e sujeito a propostas sedutoras em moedas bem mais fortes que o real. Como garantir a manutenção de Gabriel Barbosa, Bruno Henrique e outros destaques da temporada se até mercados alternativos, como China e o “mundo árabe”, podem desmanchar o que foi feito?

O Liverpool nada tem com isso e alcançou o título inédito. Mesmo sem ser prioridade, a celebração foi grande. Até pela dificuldade da conquista. Consolidada no belo gol de Firmino em contragolpe letal na prorrogação. Depois de um primeiro tempo que quase levou Jurgen Klopp à loucura e deixou todos cientes de que não estavam enfrentando qualquer um.

Mas venceram. Porque têm um trabalho de quatro anos. Aperfeiçoando processos e acertando mais nas contratações. Talvez o Flamengo tivesse melhor sorte contra Karius na meta, ou mesmo Adrian. Desta vez havia Alisson, que venceu o duelo particular com Gabriel Barbosa.  Há dinheiro e planejamento para preservar o que funciona e gastar no intuito de minimizar problemas. Mesmo com os desfalques na zaga e no meio-campo, o time segue fortíssimo.

O Flamengo fez o que pôde. Foi uma ilha de excelência no Brasil e no continente, mas nos detalhes que atrapalham o futebol do país há décadas – e o time mais popular também carrega sua responsabilidade por não se insurgir, de fato, contra o que é possível mudar – não conseguiu dar o salto definitivo.

Há muito do que se orgulhar, mas também refletir para seguir crescendo e tentar “o mundo de novo” sem precisar esperar mais 38 anos.

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Única vantagem do Flamengo sobre o Liverpool é não ter nada a perder http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/19/unica-vantagem-do-flamengo-sobre-o-liverpool-e-nao-ter-nada-a-perder/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/19/unica-vantagem-do-flamengo-sobre-o-liverpool-e-nao-ter-nada-a-perder/#respond Thu, 19 Dec 2019 12:57:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7754

Foto: Ali Haider / EPA

When you ain’t got nothing, you got nothing to lose” é um dos últimos versos da longa letra de “Like a Rolling Stone”, do cantor e compositor Bob Dylan, Nobel de Literatura em 2016. Algo como “quando você não tem nada, você nada tem a perder”.

O Flamengo tem muito. O melhor time da América do Sul, um treinador de bom nível, enorme torcida e a oportunidade de trabalhar a marca globalmente ao chegar à decisão do Mundial contra o campeão europeu.

Mas para grande parte do planeta, objetivamente, não passa de uma “zebra” contra o Liverpool. Fadado a ser o vice da sétima conquista consecutiva do vencedor da Liga dos Campeões no torneio da FIFA. Na grande maioria delas sem muito trabalho para o grande favorito.

Muitos podem não entender toda essa superioridade. Olham para o campo, não veem Messi e Cristiano Ronaldo para justificar todo esse temor. E talvez analisando jogador por jogador pelo potencial técnico, de fato, não haja tanta diferença assim. Só que a questão é outra, mais complexa.

O Liverpool é muito melhor porque tem em Jurgen Klopp um treinador de primeira prateleira no futebol mundial. Sem contar os quatro anos no clube que consolidam o trabalho que só veio a ser coroado com um título em maio na conquista da Champions, há um aperfeiçoamento constante dos processos.

Por conta do alto investimento em ciência e tecnologia para melhorar os treinamentos. Como é possível ganhar segundos e metros na circulação de bola para chegar mais rapidamente ao ataque? Ou a melhor maneira de estar distribuído em campo para recuperar a bola assim que a perde ao fazer pressão. Sem contar os recursos para mapear atletas com potencial, utilizando profissionais de scout no mundo todo.

E tudo é testado semanalmente no mais alto nível, no campeonato nacional e na Champions, contra times que possuem capacidade de investimento semelhante ou até bem superior. O jogo fica mais intenso e de melhor nível técnico e tático naturalmente. Por isso a disparidade.

Qual é a única vantagem do Flamengo para a final de sábado em Doha? Justamente não ter nada a perder. A responsabilidade do campeão da Libertadores é vencer a semifinal e o time rubro-negro já conseguiu. Agora é buscar a cereja do bolo em um ano histórico.

O fato de ser a última partida de 2019 pode ser a grande chave para Jorge Jesus tirar de um grupo desgastado em final de temporada força e concentração máximas para tentar fazer a partida perfeita e entregar o prometido ao “povo que pede o mundo de novo”. É deixar tudo em campo e partir para as férias com a sensação de dever cumprido.

Porque será necessária uma concentração absurda da última linha de defesa para evitar as infiltrações de Salah e Mané em diagonal. Atenção total de Willian Arão e Gerson não só contra os meias dos Reds – que pode ser uma dupla entre Wijnaldum, caso se recupere, Milner, Oxlade-Chamberlain e Keita. Mas principalmente para bloquear a habitual movimentação de Roberto Firmino às costas dos volantes adversários.

E como conter os laterais Alexander-Arnold e Robertson? Everton Ribeiro e De Arrascaeta ou Bruno Henrique vão jogar de uma linha de fundo à outra? Ou Jesus vai estreitar os quatro defensores para que os meias pelos lados recuem como laterais formando uma linha de cinco ou seis protegendo a meta de Diego Alves? É viável mudar tanto o modelo de jogo correndo o risco de isolar e tirar Gabriel Barbosa do jogo?

Ou a solução mais lógica é arriscar tudo sem alterar a proposta, mantendo a defesa adiantada e buscar a superação na pressão constante sobre o adversário com a bola para conter o volume de jogo do Liverpool? River Plate e Al-Hilal tentaram fazer contra o próprio Flamengo e a conta veio salgada no segundo tempo com enorme desgaste que permitiu as viradas. O Monterrey também pregou na semifinal contra o “mistão” dos ingleses. Quando Klopp mandou os três titulares do banco para o campo não havia mais fôlego para lutar contra.

Deu para entender a missão inglória? O tamanho do desafio? A melhor notícia para o flamenguista é que se o triunfo improvável vier, o ano será o mais glorioso da história do clube. Talvez o maior de um time brasileiro em todos os tempos. Estadual, Brasileiro em 38 rodadas – e não em, no máximo, seis jogos, como o Santos de Pelé na Taça Brasil em 1962 e 1963 – e ainda Libertadores e um Mundial superando o time que efetivamente é o melhor da Europa. Em tempos de êxodo e seleções transnacionais dos clubes mais ricos do planeta.

O time de Jorge Jesus é franco-atirador e só volta a jogar em fevereiro de 2020. Já o Liverpool encara no “Boxing Day”, cinco dias depois da final no Catar, o Leicester City, vice-líder da Premier League, obsessão dos Reds na temporada. É preciso medir os esforços. Já o Flamengo parte para a epopeia. Pode deixar a vida em campo. Até porque há a possibilidade, que a direção luta bravamente contra, de ser a última vez que jogadores e treinador estarão juntos, diante do volátil mercado brasileiro e sul-americano.

Voltando aos versos de Dylan, na frase seguinte à citada no início deste texto, ele diz “You’re invisible now, you’ve got no secrets to conceal”. O Flamengo, de fato, nada tem a perder. Nem tem segredos a esconder. Só não estará invisível no sábado. Talvez termine mesmo como o coadjuvante da vez. No pior cenário um mero “sparring”. Mas se virar a história do avesso ganhará de vez a eternidade.

 

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Liverpool se arrisca além da conta, mas cumpre “protocolo” e está na final http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/18/liverpool-se-arrisca-alem-da-conta-mas-cumpre-protocolo-e-esta-na-final/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/18/liverpool-se-arrisca-alem-da-conta-mas-cumpre-protocolo-e-esta-na-final/#respond Wed, 18 Dec 2019 19:55:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7752 A formação inicial do Liverpool para a semifinal em Doha era consequência dos desfalques na defesa de Matip e Lovren, lesionados, e Van Dijk, que passou mal e nem saiu do hotel. O meio-campo perdeu Fabinho e Wijnaldum, também por contusão. O desgaste de tantos jogos e da viagem ao Catar empurraram Alexander-Arnold, Roberto Firmino e Mané para a reserva.

Restou a Jurgen Klopp fazer uma espécie de “cata-cata”: Milner improvisado na lateral-direita, Henderson adaptado à zaga ao lado de Joe Gómez; meio-campo formado por Lallana, Oxlade-Chamberlain e Keita. No primeiro tempo, Origi pela direita, Shaqiri do lado oposto e Salah no centro do ataque. Time mexido demais, confiando na imposição natural dos europeus no Mundial.

Sofreu durante todo o jogo. Principalmente pela resposta rápida do Monterrey ao gol de Keita, completando assistência espetacular de Salah. Na bola parada,  Funes Mori aproveitou uma das muitas falhas defensivas do time inglês para empatar. O campeão da Concacaf, invicto desde outubro e finalista do Mexicano, era organizado e intenso sem bola na execução do 4-1-4-1, com atuação primorosa do zagueiro Nicolas Sánchez, e explorava a rapidez de Pabón nas costas de Robertson, mal acostumado com a cobertura de Van Dijk.

Mais uma demonstração de que se entrar “blasé” demais, sem competir em bom nível, as dificuldades são enormes para qualquer time. O Monterrey finalizou 16 vezes contra 12, oito a seis no alvo. Fez de Alisson um dos destaques da partida. Mas não construiu a virada que parecia possível. O tempo passou e Klopp apelou para Arnold, Mané e Firmino.

O brasileiro foi o último a entrar, na vaga de Origi. Com o temido tridente no ataque e o cansaço do adversário, com vários atletas caindo com câimbras, a dúvida era se haveria tempo para definir no tempo normal, evitando o desgaste de uma prorrogação que seria trágica para os Reds pensando na sequência da temporada.

A visão privilegiada de Arnold, porém, achou a infiltração de Firmino para resolver o problema. Mesmo se arriscando além da conta, o Liverpool cumpre  o “protocolo” com os 2 a 1. Os europeus chegam a mais uma decisão do Mundial de Clubes. Nunca ficaram de fora, com maior ou menor esforço.

E seguem com favoritismo absoluto. Assim como o Al-Hilal contra o Esperánce, esse Liverpool não serve como parâmetro de análise para o Flamengo. É decisão e Klopp deve usar a melhor escalação possível. Com intensidade e concentração bem diferentes. Mesmo muito desfalcado, a vantagem ainda é considerável.

Cenário bem diferente de 38 anos atrás em Tóquio. Mas em jogo único tudo pode acontecer.

(Estatísticas: FIFA)

 

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Liverpool comprova força de melhor da Europa em “final” na Champions http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/10/liverpool-comprova-forca-de-melhor-da-europa-em-final-na-champions/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/10/liverpool-comprova-forca-de-melhor-da-europa-em-final-na-champions/#respond Tue, 10 Dec 2019 19:45:48 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7708 Não faltou coragem ao RB Salzburg na Áustria. O 4-1-3-2 montado por Jesse Marsch tinha mobilidade na frente com Hwang e Minamino se juntando ao jovem artilheiro Haaland, mais o apoio do lateral Ulmer pela esquerda e dos meio-campistas Szoboszlai e Mwepu alternando pelos flancos. Muita intensidade, inclusive na pressão no campo de ataque.

Mas o Liverpool é forte demais, acostumado a jogos decisivos. Variações táticas, saindo do 4-3-3 habitual para um 4-4-2 sem a bola com Mané recuando pela esquerda e um 4-2-3-1, com Keita, o substituto de Fabinho, se juntando ao tridente ofensivo ocupando o setor direito.

O camisa oito apareceu na área adversária para desperdiçar boa chance no primeiro tempo e finalizar grande jogada pela esquerda de Mané em um início de segunda etapa com muita autoridade da equipe de Jurgen Klopp. Também força mental, simbolizada por Salah, que perdeu três chances claríssimas – duas no primeiro tempo – para aproveitar a quarta driblando o goleiro Stankovic e finalizando sem ângulo. Indo às redes logo na oportunidade mais difícil.

Ratificando um domínio refletido nos números: 57% de posse e 21 finalizações contra 11 – sete no alvo para cada lado. O melhor time da Europa e do planeta deu mais uma prova de seu poder na partida que ganhou cara de “final” pela grande campanha do Napoli, mas a liderança do Grupo E ficou mesmo com o atual campeão. De Van Dijk que controlou bem Haaland e cumpriu mais uma atuação sem erros, insuperável no confronto direto.

Dos laterais Alexander-Arnold e Robertson, novamente fundamentais abrindo o campo e acelerando as transições ofensivas. Também de mais uma atuação inteligente de Roberto Firmino, na movimentação de um camisa nove que também é “dez”. Encontrando no corredor esquerdo um novo espaço para confundir a marcação.

Um time inteligente e versátil que quase sempre encontra uma maneira de superar os rivais. Com bola no chão, na velocidade, no jogo aéreo, na força…Pode sofrer, mas vence.

Mesmo priorizando a Premier League, segue vivo na defesa do título europeu. E é ainda mais favorito para ganhar o mundo pela primeira vez, mesmo sem fazer tanta questão assim. Porque competir em alto nível é questão de hábito para esse Liverpool já histórico.

(Estatísticas: UEFA)

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Liverpool perde sequência histórica, mas comprova força contra United http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/20/liverpool-perde-sequencia-historica-mas-comprova-forca-contra-united/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/20/liverpool-perde-sequencia-historica-mas-comprova-forca-contra-united/#respond Sun, 20 Oct 2019 17:58:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7454 Não foi só a ausência de Salah, poupado por problemas físicos. Apesar dos 100% de aproveitamento em oito rodadas da liga e 17 vitórias seguidas contando as nove da temporada passada, o Liverpool não vem jogando bem dentro do próprio padrão de excelência.

Acontece com grandes equipes: a confiança na “receita” de sucesso acaba estagnando a evolução de desempenho. O time de Jurgen Klopp acostumou-se a atacar os adversários apostando na bola roubada no campo adversário, em rápidas inversões de bola para os cruzamentos dos laterais Alexander-Arnold e Robertson ou nas combinações do seu trio de ataque. Origi entrou na vaga de Salah, mas desta vez participou pouco e sobrecarregou Firmino e Mané.

Só apareceu no Old Trafford ao sofrer falta clara de Lindelof e, no contragolpe, passe de McTominay para Daniel James pela direita servir Rashford para vencer Alisson, que retornou à equipe. O VAR observou, mas o árbitro Martin Atkinson preferiu manter a decisão interpretativa do campo confirmando o gol do Manchester United. Um erro “à moda antiga”, digamos. Mas a observação objetiva do toque na mão de Mané anulou corretamente o gol dos Reds no final do primeiro tempo.

A vantagem era tudo que queriam os Red Devils para administrar a vantagem dentro da proposta reativa de Solksjaer na execução do 5-3-2 que não teve Paul Pogba no meio-campo, nem Tuanzebe, vetado no aquecimento, como zagueiro pela esquerda. Apesar da necessidade de vitória por conta da fraca campanha: duas vitórias, três empates e três derrotas antes da nona rodada. O técnico-ídolo norueguês estava na corda bamba e apostou tudo na consistência defensiva.

Os alas Wan-Bissaka e Ashley Young esperavam Robertson e Arnold, os três zagueiros – Lindelof, Maguire e Rojo – vigiavam Firmino e as diagonais dos ponteiros. McTominay, Fred e Andreas Pereira cuidavam de Fabinho, Henderson e Wijnaldum. A missão era negar os espaços para que o Liverpool não criasse volume nem acelerasse as transições ofensivas.

Bem sucedida até Klopp começar a trabalhar usando o banco de reservas. Primeiro trocando Origi por Oxlade-Chamberlain, repaginando a equipe num 4-2-3-1. Depois Lallana entrou na vaga de Henderson para jogar pela direita e completar uma inversão bem feita para a assistência de Robertson. Com Keita no lugar de Wijnaldum, o líder absoluto da Premier League dominou e poderia até ter construído no final a virada que seria histórica, igualando o recorde de 18 triunfos consecutivos do Manchester City.

Faltou mais qualidade. Assim como Solksjaer não teve muitas opções para mudar o jogo e só trocou nos minutos finais, tirando Rashford e Pereira e colocando Martial e Williams. O Liverpool pode lamentar o erro de arbitragem que mudou o curso da partida, o United perdeu a chance de tirar a invencibilidade do grande rival histórico. O resultado, porém, não foi ruim para ninguém.

Porque os Reds comprovam sua força. Mesmo sem brilho consegue ser muito competitivo. Foram 68% de posse e dez finalizações contra sete, quatro a dois no alvo. Em um palco tradicionalmente hostil, mas forçando o maior vencedor do Campeonato Inglês a se entrincheirar e reconhecer a inferioridade – refletido nos 15 pontos e nas doze posições de distância na tabela.

Não é pouco. A melhor notícia é que o Liverpool pode e deve melhorar.

(Estatísticas: BBC)

 

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Pela “Lei de Guardiola”, é hora do Liverpool encerrar seu jejum vergonhoso http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/07/pela-lei-de-guardiola-e-hora-do-liverpool-encerrar-seu-jejum-vergonhoso/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/07/pela-lei-de-guardiola-e-hora-do-liverpool-encerrar-seu-jejum-vergonhoso/#respond Mon, 07 Oct 2019 17:08:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7391

Foto: Liverpool FC

Imagine que um time é o mais vencedor do seu país, com grande vantagem sobre os demais e, em um espaço de trinta anos é capaz de não conquistar mais nenhum título, mesmo mantendo boa parte de seu poder institucional, midiático e financeiro. Justamente no período em que o campeonato nacional se reformula e atrai os olhos do mundo pela competitividade e qualidade do espetáculo.

Assim vê um rival entrar numa era de conquistas e ultrapassá-lo em títulos. Para aumentar a vergonha, times outrora pequenos precisam apenas de dinheiro para se tornarem grandes e um deles, menor ainda, nem necessita de um grande mecenas para faturar sua taça e entrar para a história.

Esta é a realidade do Liverpool. Clube tradicional, representante de um futebol “raiz”. Com torcida apaixonada, do tocante “You’ll Never Walk Alone” em Anfield Road. Carisma puro, ainda mais agora com uma figura como Jurgen Klopp no comando técnico. Por isso o vexame de não conquistar o Campeonato Inglês desde 1989/90, nenhuma edição da Premier League, a grande revolução do futebol no país, é algo que muitos tentam minimizar ou mesmo ocultar. Vendo o Manchester United na Era Ferguson se tornando o clube mais vezes campeão, Chelsea e Manchester City se transformarem em grandes vencedores e marcas mundiais e até o minúsculo Leicester City fazer a festa.

Sim, a campanha na temporada passada foi a melhor da história dos Reds, a terceira de todos os tempos. De campeão, não fosse o ponto a mais do também histórico City de Pep Guardiola. No ano do título da Liga dos Campeões que não vinha desde 2005. Neste caso, a frustração nacional de fato pode ser relativizada. Mas antes, não. Era apenas a simpatia que protegia o Liverpool de críticas mais pesadas ao redor do mundo, tirando uma reclamação aqui, uma provocação acolá…Especialmente em 2013/14 com o título perdido para o City e tendo como grande símbolo a falha grotesca do ídolo Steven Gerrard na derrota para o Chelsea que “ressuscitou” os citizens.

Mas parece que está chegando a hora de encerrar esse jejum tão incômodo. O Liverpool de Klopp inicia a EPL com oito vitórias. Algumas com aquele cheiro de campeão, como nas duas últimas rodadas, arrancadas à forceps sobre Sheffield United (1 a 0) e Leicester (2 a 1). Jogando mal e com mais sorte que juízo. Além disso, vê o grande concorrente City já perder oito pontos. Uma oscilação incomum pensando nas duas últimas temporadas.

É óbvio que não há nada decidido na Inglaterra. Questão de matemática simples: ainda faltam trinta jogos! Mas, segundo a própria “Lei de Guardiola”, uma liga se perde nas oito primeiras rodadas. Palavras de quem venceu sete campeonatos por pontos corridos em dez anos de carreira, com direito a um ano “sabático”. Se o City do próprio Pep vacilou e parece ser o único real candidato ao título além do Liverpool, numa espécie de campeonato à parte, o que sobra? A forte equipe de Jurgen Klopp. Mesmo em um calendário mais pesado desta vez, emendando o Mundial de Clubes com o período de jogos seguidos na virada para 2020.

Mas Klopp  mantém a base vencedora e trabalha para afinar ainda mais a sintonia do trio desequilibrante Salah-Firmino-Mané. Apostando em mais solidez defensiva e momentos de posse de bola para alternar com a intensidade máxima. Ainda assim fazendo jogos “malucos”, típicos da Premier League com transições em cima de transições, ataques e contragolpes. Aparentemente com um foco maior no campeonato nacional, já que vem de duas finais e um título na Champions.

Pura vertigem para alimentar o sonho da conquista. Mesmo em análise um tanto prematura, ele nunca pareceu tão perto. Para acabar com esse jejum vergonhoso, uma espécie de “vexame oculto”. De quem não caminha sozinho e, por isso, é blindado em tantos momentos.

 

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Carlo Ancelotti, o doutrinador dos melhores técnicos do mundo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/18/carlo-ancelotti-o-doutrinador-dos-melhores-tecnicos-do-mundo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/18/carlo-ancelotti-o-doutrinador-dos-melhores-tecnicos-do-mundo/#respond Wed, 18 Sep 2019 10:18:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7276

Imagem: Reprodução/Napoli

Em 2013/14, Pep Guardiola era considerado o melhor treinador do mundo depois de construir em Barcelona uma das maiores e melhores equipes da história do futebol e conseguir, já na primeira temporada no Bayern de Munique, imprimir suas digitais no estilo de um time que havia faturado a tríplice coroa com Jupp Heynckes.

Mas na semifinal da Liga dos Campeões foi atropelado pelo Real Madrid com um 5 a 0 no agregado, sendo quatro na casa dos bávaros. Está registrado no livro “Guardiola Confidencial”, de Martí Perarnau (Editora Grande Área), o arrependimento do treinador catalão por ter mandando a campo uma formação muito ofensiva – com Robben, Muller, Mandzukic e Ribéry no ataque –  e deixado espaços generosos para os contragolpes merengues.

O que não tira o enorme mérito de Carlo Ancelotti. Um treinador mais reconhecido por sua liderança serena e pela capacidade de fazer seus comandados correrem por ele do que pelo gênio tático ou estratégico. Mas que entregou a resposta mais avassaladora ao “método Pep”.

Um 4-4-2 no posicionamento defensivo com linhas muito compactas e estreitas. Gareth Bale e Angel Di María recuando praticamente como laterais e a entrada da própria área bastante congestionada, com os laterais Carvajal e Coentrão, mais Xabi Alonso e Modric protegendo Pepe e Sergio Ramos.

Na retomada, uma transição ofensiva em altíssima velocidade com poucos toques e sempre verticais para explorar os espaços às costas dos defensores e acionar Benzema e, principalmente, Cristiano Ronaldo, autor de dois gols. Sem contar a força na bola parada com Sergio Ramos para descomplicar o jogo e abalar o oponente já no primeiro tempo. Um 4 a 0 que colocou o Real na final que daria a tão sonhada “La Decima” ao maior vencedor do torneio continental.

Quatro anos depois, o treinador italiano volta à cena para enquadrar outro técnico consagrado como o melhor do planeta: Jurgen Klopp, campeão europeu com o Liverpool depois de amadurecer e aprimorar o modelo de jogo mais influente da atualidade, inclusive impactando o próprio Guardiola. Baseado em volume construído com pressão no campo adversário, ataques rápidos e contundentes com mobilidade dos jogadores e muita gente chegando na área para finalizar.

O Napoli de Ancelotti já havia sido um duro adversário na temporada passada, também na fase de grupos, depois de levar 5 a 0 em um amistoso de pré-temporada. Dois jogos equilibrados, com uma vitória para cada lado por 1 a 0. Em Anfield, o Napoli teve a bola do empate e da classificação com Milik, mas Alisson salvou com uma defesa espetacular. Os Reds ficaram com a segunda vaga, atrás do PSG, graças aos gols marcados, já que fizeram campanha similar à do time italiano, inclusive no confronto direto e no saldo. Por pouco o time que venceria a edição da Champions não parou na Liga Europa.

O sorteio da fase de grupos para a atual temporada voltou a colocar Napoli e Liverpool no mesmo grupo, mas desta vez sem outro favorito para transformar em “grupo da morte”, embora o Red Bull Salzburg tenha demonstrado sua força nos 6 a 2 sobre o Genk. E Ancelotti aprimorou a resposta a Klopp no San Paolo.

Como Salah, Firmino e Mané se caracterizam pela mobilidade e por se procurarem no ataque, o Napoli não se importou em desorganizar a sua última linha defensiva, formada por Di Lorenzo, Manolas, Koulibaly e Mario Rui, contanto que evitasse os deslocamentos dos atacantes adversários com liberdade. Não raro foi ver Koulibaly, o melhor em campo, sair de sua posição com zagueiro pela esquerda e bloquear Salah do lado oposto.

Até porque Mario Rui muitas vezes esperava o apoio de Alexander-Arnold, deixando Insigne livre para os contragolpes, acelerando com Lozano pela esquerda. À direita, Callejón e Mertens faziam os mesmos movimentos rápidos tentando explorar os espaços às costas dos laterais do time inglês e obrigando Matip e Van Dijk a se exporem nas coberturas. O quarteto ofensivo também pressionava a saída de bola do time vermelho.

Allan e Fabian Ruíz protegiam a entrada da área contra Fabinho, Henderson, Milner e o movimento de recuo de Firmino buscando espaços às costas dos meio-campistas. Com a consciência de que é praticamente impossível conter totalmente o volume dos atuais campeões da Europa, que terminaram o jogo com 51% de posse e 12 finalizações contra dez do time da casa.

Mas dificultando a conclusão precisa do rival e, principalmente, buscando ser mais eficiente ofensivamente. O Napoli teve melhor aproveitamento nos passes (87% contra 85%) e nas finalizações  no alvo (5 a 4). Abriu o placar em um pênalti mais que duvidoso de Robertson em Callejón que Mertens converteu e matou no final com Llorente, que entrara na vaga de Lozano, em um raro vacilo de Van Dijk.

Para complicar um Liverpool que dá sinais desde o início da temporada, por declarações de jogadores e do próprio Klopp, de que a Premier League é a obsessão na jornada 2019/20. Depois do vice mesmo com a melhor campanha da história do clube, parece ser um consenso de que chegou a hora de encerrar o jejum que já dura 30 anos.

Mas ninguém em Anfield espera cair na fase de grupos da Champions. E não deve mesmo, apesar do Napoli que se apresenta novamente como uma incômoda pedra no sapato. No cumprimento logo após o apito final, o italiano brincou com o colega alemão dizendo que este não deveria ficar preocupado, porque perder novamente no San Paolo pode significar vencer mais uma vez a Champions.

Típico Carlo Ancelotti, o doutrinador dos melhores técnicos do mundo.

O 4-4-2 do Napoli de Ancelotti que não se importava em desorganizar a última linha para parar o trio Salah-Firmino-Mane. Na transição ofensiva, velocidade com Callejón e Mertens pela direita e Insigne e Lozano à esquerda (Tactical Pad).

(Estatísticas: UEFA)

 

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