rodrigocaio – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Calma inicial, “blitz” no 2º tempo: a estratégia no massacre do Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/24/calma-inicial-blitz-no-2o-tempo-a-estrategia-no-massacre-do-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/24/calma-inicial-blitz-no-2o-tempo-a-estrategia-no-massacre-do-flamengo/#respond Thu, 24 Oct 2019 03:37:08 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7478 O maior mérito do Flamengo nos 5 a 0 históricos no Maracanã foi respeitar o Grêmio. Mesmo desfalcado, fragilizado e inferior em dois terços do duelo de ida em Porto Alegre, era o último brasileiro campeão da Libertadores e semifinalista no ano passado.

Por isso o esforço hercúleo do departamento de futebol para colocar todos os titulares em campo. Com Rafinha de capacete e De Arrascaeta em uma incrível recuperação de cirurgia no joelho. Era decisão e o tratamento dado à partida, mesmo sem poupar no Brasileiro, foi condizente com o tamanho de uma semifinal que o clube não protagonizada desde 1984. Inédita na fórmula atual.

Acima de tudo, a mudança na estratégia habitual. No lugar da pressão inicial, a calma e um nítido cuidado para se adaptar à tensão da partida, Rafinha se acostumar com o capacete no duelo com Everton Cebolinha e perceber a reação de Arrascaeta. O Grêmio percebeu e tentou tirar proveito adiantando a marcação e se impondo fisicamente.

Renato Gaúcho optou por Paulo Miranda improvisado na lateral direita, André no ataque e Michel no meio dando liberdade a Maicon, que desperdiçou a grande chance do tricolor gaúcho no início. Quando Everton ficou no mano com Rodrigo Caio já com cartão amarelo. Poderia ter mudado toda a história. E consagrado a estratégia do técnico gremista de optar por um time mais forte, talvez tentando repetir a receita da vitória sobre o River Plate na ida da semifinal do ano passado em Buenos Aires – 1 a 0, gol de Michel.

O Flamengo sentiu um pouco a pressão. Afinal, as experiências recentes em confrontos de mata-mata não foram nada bem sucedidas. Mas havia jogadores experientes e muita confiança no modelo e no plano de jogo. Aos poucos foi se aprumando e o quarteto ofensivo começou a se mover. Everton Ribeiro saiu da direita para dentro, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa circulando e Arrascaeta se soltando. E Rafinha descendo mais pelo corredor direito.

Poderia ter feito o gol na cabeçada de Bruno Henrique em cruzamento de Rafinha. Depois um toque de Arrascaeta pela direita que quase encobriu Paulo Victor. Em seguida, uma virada de Gabriel e depois a rápida transição ofensiva de Bruno Henrique iniciando e finalizando no rebote do goleiro em chute do camisa nove.

Placar aberto, time e torcida aliviados no fim do primeiro tempo. E Jorge Jesus estava pronto para inverter a estratégia na volta do intervalo: a “blitz” viria no início da segunda etapa. Aproveitando a guarda mais baixa do rival. E o que se viu foi um massacre.

Saída já partindo para o ataque e quase ampliando. Cobrança de escanteio, golaço de Gabriel Barbosa. Pênalti em Bruno Henrique, outro do “Gabigol”. E o Grêmio jogou a toalha. A ponto de sofrer dois gols bem parecidos dos zagueiros rubro-negros: Rodrigo Caio e Pablo Marí. Ainda um anulado de Bruno Henrique e, no final, quase Diego Ribas, que teve tempo para entrar e já ganhar minutos. Outra vitória da comissão técnica a volta tão rápida.

Uma apoteose que completou de forma mágica um dia diferente no Rio de Janeiro, com clima de confiança e alegria, mas sem “oba oba”.  Coisa rara em termos de Flamengo. Os 5 a 0 representam a maior derrota deste Grêmio de Renato e a maior goleada do time carioca sobre o gaúcho. Imposição histórica, inquestionável. Que não traz para si o favoritismo na final da Libertadores contra o River Plate em Santiago, mas faz a América do Sul olhar com mais respeito para o clube de vexames internacionais recentes.

Jorge Jesus virou a história do avesso. Em comportamento, no método, na proposta e, principalmente, na seriedade com que encara cada partida. Seu Flamengo já está guardado nas retinas, aconteça o que acontecer daqui para frente. E a grande vitória até aqui teve cinco dedos do técnico português. Cinco. Uma maneta para chegar à decisão depois de 38 anos.

 

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Flamengo e Grêmio antecipam no Brasileiro o grande duelo corpo x mente http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/17/flamengo-e-gremio-antecipam-no-brasileiro-o-grande-duelo-corpo-x-mente/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/17/flamengo-e-gremio-antecipam-no-brasileiro-o-grande-duelo-corpo-x-mente/#respond Thu, 17 Oct 2019 15:09:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7442

Foto: Agencia Estado

Quando o auxiliar de Rogério Ceni, o francês Charles Hembert, justificou as nove mudanças no Fortaleza por conta da intenção de mandar a campo um time mais “fresco”, ficou clara a estratégia do treinador suspenso de tentar vencer o Flamengo na saúde.

Porque Jorge Jesus não faz concessões. É a “carne toda para assar” sempre. O treinador português sempre coloca para jogar o melhor que tem disponível, de preferência com a formação mais ofensiva possível. Na intensidade máxima que o time resistir. Este foi o problema maior durante a maior parte da disputa no Castelão.

O líder absoluto do Brasileirão sentiu demais os cinco desfalques – Rafinha, Filipe Luís, Everton Ribeiro, Arrascaeta e Bruno Henrique, mais ainda o calor cearense, além da umidade e o gramado longe de ser um tapete. Gerson suportou 45 minutos enquanto Jesus tentou encontrar o melhor posicionamento para o camisa oito. Começou com meio-campista central num 4-4-2, depois tentou emular Everton Ribeiro como ponta articulador pela direita e, por fim, se alinhou a Willian Arão à frente de Piris da Motta, o substituto de Lucas Silva que sentiu logo no início da partida.

Apesar da fraca atuação na primeira etapa, o técnico dobrou a aposta ao descansar Gerson e colocar Vitor Gabriel para fazer dupla com Gabriel Barbosa, deslocando Reinier para o lado direito de um quarteto ultraofensivo – Vitinho à esquerda. Sem abrir mão da última linha de defesa avançada e exigindo um esforço ainda maior do já desgastado Willian Arão no meio-campo.

Mas foi na força mental que o Flamengo construiu uma virada improvável. Na confiança em seu modelo de jogo e também que a fase permite acreditar que tudo pode dar muito certo. Mesmo quando as pernas parecem falhar e o desempenho geral cai. No “abafa” com Rodrigo Caio na área adversária para disputar a bola com Quintero que terminou no pênalti convertido por Gabriel Barbosa e participar da jogada ensaiada na cobrança de lateral de Renê, finalizada por Reinier, o “reforço” de última hora negado à CBF para o Mundial Sub-17.

Sim, o VAR…Este que escreve não marcaria nenhum dos dois pênaltis: o de Pablo Marí convertido por Bruno Melo entra na “exigência” atual de que os defensores não tenham braços. Afinal, o que é movimento natural para quem está correndo, controlando o espaço que ocupa, a distância em relação ao adversário e à bola? Difícil interpretar, assim como o de Quintero de costas para Rodrigo Caio… Já em relação às duas bolas em campo é uma irregularidade que poderia ter sido observada pelo árbitro de vídeo, mas a interferência no lance é interpretativa. Ou seja, de novo o recurso que deveria ser uma solução se mostrando um problema. Ou a “bengala” preferida para o derrotado.

O Flamengo venceu e manteve os oito pontos de vantagem no topo da tabela. Confiança no teto para o Fla-Flu, último compromisso antes da volta da semifinal da Libertadores. Ambos no Maracanã. Jorge Jesus esgota as energias de seus comandados, mas há compensações: o time mantém altos níveis de concentração e capacidade de competir. Mantendo o foco no Brasileiro, o jogo pelo torneio continental psicologicamente mantém o seu tamanho real, sem superdimensionamentos. Transita entre “o jogo do ano” e mais uma partida em busca das duas conquistas. Se falhar ainda há uma chance, que não é pequena, de levantar taça em 2019.

Algo que o Grêmio não tem. É a Libertadores ou se contentar em terminar o ano com o título gaúcho. Um efeito colateral da cultura copeira do clube. Após a dura eliminação nos pênaltis para o Athletico na Copa do Brasil, depois de abrir 2 a 0 em Porto Alegre, o time de Renato Gaúcho vai administrando o Brasileiro para não se afastar do G-6 e, se tudo der errado, ficar com aquela última vaga entre os quatro primeiros e se garantir na fase de grupos da Libertadores em 2020.

Depois da vitória sobre o Ceará por 2 a 1 e a goleada sobre o Atlético Mineiro por 4 a 1, a chance de encostar no Corinthians, quarto colocado, seria diante do Bahia na Arena em Porto Alegre. Algo, porém, não funcionou e parece ter muita relação com o aspecto mental. Porque o Grêmio respira Flamengo desde o dia dois de outubro. Ou a partir do momento em que soube que enfrentaria os rubro-negros.

Com a proximidade do confronto derradeiro é natural que a ansiedade aumente e fique difícil se concentrar na outra competição. Na última partida com titulares antes da viagem ao Rio de Janeiro, a provável formação da próxima quarta-feira, com Geromel de volta à zaga, Leonardo Moura na lateral direita, Maicon e Luan no meio-campo. deu errado além do placar adverso diante da equipe de Roger Machado.

“Com cinco minutos eu olhei para o banco e disse: não é a nossa noite. Com 35 minutos eu queria que o jogo terminasse. Perguntei para os jogadores se estavam com as pernas pesadas, disseram que não. Agora, às vezes no jogo se sente outras coisas”, explicou o treinador. Pois o Grêmio sentiu a proximidade do jogo mais esperado. Nitidamente. Ninguém quer arriscar nada. Bola dividida, um “sprint”… Como ficar de fora do “filé mignon”?

Os donos da casa nitidamente se pouparam e jogaram em ritmo de treino, com direito a drible de Kannemann na intermediária armando contragolpe para o adversário. O clima no estádio com pouco mais de 13 mil presentes colaborava. Mas para o Bahia era decisão e Roger não abriria de seu modelo fora de casa recuando linhas, defendendo com dez homens em um espaço de trinta metros e acelerando as transições ofensivas com Artur e Elber pelas pontas e Gilberto no centro do ataque. Depois entrou Arthur Caike, que converteu no final o pênalti sobre o lateral Giovanni. Para comprovar no placar o sucesso da estratégia do tricolor baiano.

Na coletiva pós-jogo, obviamente, Renato Gaúcho mais uma vez chamou os holofotes todos pra si e desviou dos problemas do seu time. Criticou a retranca do Bahia, exaltou pela enésima vez a proposta de jogo ofensiva e criticou o futebol brasileiro, só salvando Flamengo, Santos e Athletico, além do Grêmio. Porque o treinador veterano sabe que seus atletas preferiram não correr riscos e de novo o Brasileiro foi relegado a segundo plano.

Mesmo com os enormes riscos de eliminação na Libertadores. O Grêmio vai enfrentar o melhor time do país no momento, dentro de um Maracanã lotado e pulsante, e já começa o jogo com o 0 a 0 que não o favorece por conta do 1 a 1 da ida no Rio Grande do Sul. Sim, o cenário provavelmente terá alguns ingredientes menos dramáticos: o Flamengo deve sofrer ao menos com o desfalque de Arrascaeta e, mesmo que um milagre aconteça e Jorge Jesus conte com todos os titulares, não terá a intensidade e o vigor físico dos titulares como em Porto Alegre. E Renato chega desta vez com um grupo mais completo. Lá pelos 20, 25 minutos do segundo tempo no Maracanã a estratégia pode dar muito certo e seu time sobrar fisicamente.

O confronto, porém, não deixa de ser equilibrado, imprevisível e sem prognósticos. Ou melhor, só um: será o duelo corpo x mente, antecipado nesta quarta dentro do Brasileiro. O Grêmio que vai descansar no domingo, com reservas enfrentando o Fortaleza no Castelão, chegará mais inteiro, porém com o peso de jogar a vida. A vantagem da experiência da maioria do grupo de Renato ao disputar sua terceira semifinal sul-americana consecutiva também carrega o fardo de só superar a meta se alcançar a decisão. O peso psicológico é grande e se fez presente com força diante do Bahia.

Já o Flamengo irá ao Maracanã leve e confiante, embora cansado. É óbvio que pelo resultado conquistado na ida e por conta do alto investimento na formação do elenco, agora a final da Libertadores é uma meta palpável. Mas, a rigor, o feito de voltar a ficar entre os quatro primeiros da América do Sul depois de 35 anos já é considerável. E se vier a eliminação, a conquista do Brasileiro seguirá bem próxima. O Fla-Flu de domingo é o tema do momento e o Grêmio só a partir de domingo, depois das 20h. Sem neuras, nem expectativas exageradas.

No insano calendário brasileiro é impossível ter “mente sã, corpo são”. Renato Gaúcho escolhe o fôlego, Jorge Jesus prefere a moral das vitórias. Quem vai levar vantagem no jogaço de quarta-feira?

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O campeonato brasileiro do mimimi existe desde sempre http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/30/o-campeonato-brasileiro-do-mimimi-existe-desde-sempre/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/30/o-campeonato-brasileiro-do-mimimi-existe-desde-sempre/#respond Mon, 30 Sep 2019 09:28:12 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7353

Imagem: Reprodução TV Globo

“O futebol brasileiro é uma armação contra o meu time, mas continuo torcendo/treinando/dirigindo/jogando porque quando eu vencer será contra tudo e contra todos”. Eis o resumo do pensamento vigente de praticamente todos os agentes do esporte no país: torcedores, técnicos, dirigentes e atletas.

É assim desde que este blogueiro acompanha futebol. Todos os times lendários foram campeões com acusações de favorecimento. Flamengo de Zico, São Paulo de Telê Santana, Palmeiras da Parmalat, Corinthians de Luxemburgo…O curioso é que muitos ainda na ativa que diziam que essas equipes só ganhavam “roubado”, agora, entregues ao saudosismo, exaltam os esquadrões.

Mesmo os campeões recentes, como o São Paulo tricampeão brasileiro, o Cruzeiro bi, o Corinthians de Tite e o Palmeiras vencedor em 2016 e 2018, ganham asteriscos dos rivais. Beneficiados por CBF, arbitragem, TV Globo…E os torcedores campeões, claro, têm certeza de que venceram superando a “armação” para um rival alinhado com os poderosos. Quer reclamar? “Chola mais”. Em tempos de redes sociais isso se amplifica ainda mais.

Agora o Palmeiras reclama do gol anulado no final do empate por 1 a 1 com o Internacional no Beira-Rio. Lance polêmico porque o texto da nova orientação cria uma espécie de prioridade na marcação: caso o atacante toque com mão ou o braço, mesmo involuntariamente, o lance deve ser invalidado. Na disputa, porém, houve uma carga no Willian Bigode e também toque no braço do zagueiro Klaus.

A arbitragem deu vantagem, Bruno Henrique fez o gol que seria o da virada. Analisando todo o lance com o VAR, o toque de Willian anulou o ataque. Bem discutível. Mas é motivo para sugerir uma grande conspiração a favor do Flamengo, como fizeram Mano Menezes e o presidente Maurício Galiotte?

O mesmo Fla que protestou na semana passada, com Jorge Jesus e o diretor de futebol Marcos Braz, por conta da convocação de Rodrigo Caio e Gabriel Barbosa, além de Reinier para a sub-17, e sugerindo nas entrelinhas favorecimento aos concorrentes que tiveram apenas um ou nenhum chamado, inclusive o Palmeiras. Munição para torcedores colocarem todas as suspeitas possíveis sobre o campeonato.

A grande questão é: se acreditam mesmo em algo encomendado por que ainda participam/ acompanham a competição? Ou a intenção é só reclamar mesmo? Para ser beneficiado mais à frente ou, se tudo der errado, já ter “argumentos” para rebater as provocações do vencedor e encobrir os próprios erros?

A única certeza é que a mesma vontade de protestar não se vê na disposição de resolver os problemas. Profissionalizar a arbitragem? Para quê? Não há interesse, até porque o que seria da maioria dos debates sem os erros dos apitadores, VAR incluso. Imagine passar duas horas falando apenas sobre…futebol!

Discutir o calendário para que as datas FIFA sejam respeitadas? Não, bem mais cômodo chorar e transferir responsabilidades. Sem contar que os estaduais salvam o ano de muitos times que se dizem grandes, mas não têm a mínima capacidade de disputar os grandes títulos. Por incompetência administrativa e, muitas vezes, corrupção mesmo. No entanto é mais fácil culpar a receita de TV ou o patrocínio “suspeito” dos clubes dominantes.

Todos querem a bengala, o colo quentinho e macio para abrir o berreiro. É o campeonato brasileiro do mimimi que sempre existiu. Talvez reclamassem lá no passado do domínio do Vasco “Expresso da Vitória”, do Santos de Pelé, do Botafogo de Garrincha, do Palmeiras da Academia, do Cruzeiro de Tostão, do Internacional de Falcão…O esporte preferido por aqui é o chororô. Quem será a vítima na próxima rodada?

 

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O estranho desconforto do Flamengo com tudo tão favorável http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/26/o-estranho-desconforto-do-flamengo-com-tudo-tao-favoravel/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/26/o-estranho-desconforto-do-flamengo-com-tudo-tao-favoravel/#respond Thu, 26 Sep 2019 09:55:31 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7327

Foto: Diego Maranhão / AM Press / Lancepress

Logo depois dos 3 a 1 do Flamengo sobre o Internacional, aumentando o recorde do clube e igualando o do Cruzeiro 2003 no Brasileiro com oito vitórias seguidas, Gabriel Barbosa, na saída do gramado do Maracanã, comentava em entrevista para o Premiere sobre os problemas que o time encontrou para enfrentar o time colorado depois das expulsões de Bruno e Paolo Guerrero, ainda no primeiro tempo:

“Foi um jogo atípico com as duas expulsões. Tão inusitado que a gente nem treina assim, com essa vantagem. Eles acharam um gol por desatenção nossa, mas depois conseguimos controlar e fazer os gols”, explicou o atacante.

De fato, foi muito inusitado ver uma equipe ofensiva e de boa técnica cumprindo sua pior atuação nessa sequência de triunfos justamente quando tinha tudo tão favorável: estádio cheio, torcida quente, adversário em frangalhos emocionalmente e se defendendo com as duas linhas de quatro que restaram a Odair Hellmann. Oito na linha e Marcelo Lomba na meta. Desmontando o 4-1-4-1 que teve Nonato no meio e Patrick aberto pela esquerda.

Mesmo uma equipe de jogadores e treinador rodados, muitos com vivência no futebol europeu, pode se complicar diante da obrigação de se impor. Aumentando ainda mais o favoritismo e, consequentemente, a responsabilidade de vencer e até a obrigação de aplicar uma goleada. Sempre mexe com o emocional.

O início do segundo tempo, com um a zero de vantagem no pênalti sofrido e convertido por Gabriel, teve o Fla relaxado demais, desconcentrado. Talvez pela primeira etapa tão frenética quanto a arbitragem de Luiz Flávio de Oliveira. Pênalti marcável de Bruno em Gabriel, expulsão cabível, mas exagerada, do lateral com 17 minutos de jogo. Nunca saberemos se no Beira-Rio a decisão seria a mesma, assim como é difícil imaginar o absurdo pênalti anotado sobre Pedro Rocha a favor do Cruzeiro contra o Flamengo no sábado sendo marcado no Maracanã. A arbitragem no mundo todo tende a ser caseira, sabemos bem.

Este que escreve viu falta de Rodrigo Caio sobre Guerrero na área rubro-negra, apesar de todo o “teatro” do camisa nove do time gaúcho, pouco antes do surto do peruano ofendendo o quarto árbitro e levando vermelho direto. O sangue no rosto não é garantia de agressão do adversário – Rodrigo Caio também se lesionou na disputa – e o destempero de um jogador tão experiente é injustificável.

Willian Arão e Rodrigo Caio disputaram com “pé mole” a bola com Patrick e o Inter empatou no chute de Edenilson. Poderia transformar a disputa em David x Golias e igualar um jogo que parecia resolvido. A apreensão e o medo do vexame chegaram a cortar o ar. Mas o cruzamento de Rafinha na cabeça de Arrascaeta voltou a descomplicar e, com o Inter exausto de tanto correr atrás, Bruno Henrique fechou o placar em assistência do uruguaio.

O Flamengo terminou o jogo com Gerson, Berrío, Everton Ribeiro, Reinier, Vitinho e Bruno Henrique. Mais os laterais Rafinha e Filipe Luís apoiando ao mesmo tempo. 67% de posse, 20 finalizações contra duas. Em nenhum momento, porém, transmitiu total confiança no desempenho. Cruzou 31 bolas, um número alto mesmo para quem tem média de 25 por jogo.

Não havia necessidade de pressa nem descompasso, mas o Flamengo de Jesus não foi bem. Curiosamente, foi melhor no primeiro tempo, com apenas um homem a mais e execução mais equilibrada do 4-4-2 com Bruno Henrique próximo de Gabriel e Everton Ribeiro e De Arrascaeta pelos lados. No apito final, os colorados se cumprimentaram até com mais entusiasmo, mesmo derrotados. Apesar da festa da torcida para atletas e Jorge Jesus, o clima era de alívio. A fala de Gabriel deixa claro: o estranho desconforto deve servir de alerta.

Independentemente de treinar ou não contra nove homens, time que busca grandes títulos não pode dar a mínima chance a um oponente tão vulnerável. Mesmo o Inter digno e abnegado no Maracanã.

(Estatísticas: Footstats)

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Sem discutir calendário não há como questionar convocações http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/21/sem-discutir-calendario-nao-ha-como-questionar-convocacoes/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/21/sem-discutir-calendario-nao-ha-como-questionar-convocacoes/#respond Sat, 21 Sep 2019 05:01:47 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7299

Foto: divulgação / CBF

As datas FIFA incomodam os grandes clubes da Europa. Como são verdadeiras seleções mundiais, os jogadores partem para servir suas seleções e os treinadores perdem quase dez dias de trabalho. Guardiola, Klopp, Simeone, Conte…todos já reclamaram em algum momento da desmobilização deste período e os dirigentes fazem eco. Não por acaso a Liga das Nações foi criada pela UEFA para minimizar as queixas.

Agora imagine dizer para qualquer um deles que no Brasil o calendário sequer oferece a pausa nas competições para os jogos de seleções. Ou seja, o mínimo. Depois querem que os melhores do mundo venham para cá comprovar a competência…

Não há como debater seriamente quase nenhuma questão do futebol brasileiro sem discutir o calendário. Inchado pelos estaduais para manter uma estrutura federativa arcaica e que pouco contribui para o esporte que deveria ser gerenciado pelos clubes. Mas Copa União e Primeira Liga estão na história para mostrar que é difícil, quase impossível haver parcerias, mesmo em torno de interesses comuns.

Por isso a CBF decide com a Rede Globo o calendário e os clubes obedecem. E se aceitam fica difícil reclamar de qualquer coisa. Mesmo a opção de Tite de convocar dois jogadores do Flamengo (Rodrigo Caio e Gabriel Barbosa) e dois do Grêmio (Matheus Henrique e Everton) para a data FIFA de outubro, em meio a jogos decisivos do Brasileiro. E apenas um dos outros, incluindo o Palmeiras, atual campeão e vice-líder, com o goleiro Weverton. Para enfrentar Senegal e Nigéria em Cingapura. Sem contar as convocações pré-olimpica e sub-17.

É justo o protesto contra o desequilíbrio, ainda mais considerando que o atual líder terá também De Arrascaeta no Uruguai, Berrío na Colômbia e Reinier na sub-17. Cinco perdas.  O clube carioca ficou de se pronunciar depois do jogo contra o Cruzeiro no Mineirão e talvez alguma decisão seja tomada para minimizar os danos. O time gaúcho, priorizando totalmente a Libertadores, pode se aproveitar na carona. Outros também.

Mas só reclamar é o suficiente? Se há um clube capaz de desafiar essa estrutura carcomida é o Fla. Maior torcida do Brasil, saúde financeira, enorme exposição midiática – incluindo engajamento em redes sociais –  e domínio estadual suficiente para encarar a FFERJ. Como organizar um Carioca sem o “trem pagador”, ainda mais considerando os problemas financeiros dos rivais locais Vasco, Fluminense e Botafogo? Há margem para sozinho exigir redução do número de jogos e respeito às datas FIFA, levando às últimas consequências e pagando para ver com coragem. Mas há interesse?

A receita de TV do Carioca é boa e agora, depois de um período como oposição da CBF na gestão Bandeira de Mello, houve uma tentativa de reaproximação com o convite para Rodolfo Landim chefiar a delegação brasileira na Copa América. Agora muitos torcedores rubro-negros criam teorias de conspiração sobre um suposto favorecimento aos clubes que apoiaram Rogério Caboclo na eleição – só Flamengo, Corinthians e Athletico não votaram no atual presidente da entidade máxima do futebol nacional. O time paranaense teve o goleiro Santos convocado e o Corinthians nenhum.

É óbvio que Tite poderia ter feito diferente e chamado um de cada clube brasileiro. Ou nenhum, se limitando a convocar jogadores atuando na Europa. Mas coerência tem passado longe do técnico da seleção há algum tempo. Ou desde que aceitou o convite de Marco Polo Del Nero, em 2016.

Por outro lado, ele foi contratado para cuidar do seu trabalho de convocar, treinar e jogar, não minimizar os danos do calendário. Até porque a prioridade da CBF sempre foi a seleção. E quando Tite diz que a Copa do Brasil tem preponderância sobre o Brasileiro pode soar absurdo, mas é uma sinalização dos próprios clubes, que mandam a campo equipes só com reservas na competição por pontos corridos.

Inclusive o Flamengo, nos tempos de Abel Braga. Justamente por considerar os pontos recuperáveis. Os mesmos que estão sendo tão valorizados agora por conta da convocação. Como levar tão a sério? Um olhar ainda mais cético pode até desconfiar que a intenção da gritaria é apenas criar um álibi ou muleta em caso de insucesso no final.

Definitivamente é uma história sem mocinhos, herois ou vítimas. Tipicamente brasileira. Alguém ousaria perguntar a Guardiola se ele encararia?

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Flamengo, agora líder, está ficando bonito de se ver http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/25/flamengo-agora-lider-esta-ficando-bonito-de-se-ver/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/25/flamengo-agora-lider-esta-ficando-bonito-de-se-ver/#respond Mon, 26 Aug 2019 00:05:53 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7113 Montar um time para jogar em Fortaleza pelo Brasileiro para, três dias depois, decidir uma vaga na semifinal da Libertadores em Porto Alegre não é tarefa simples. Ainda mais perdendo o pouco inteligente e mal assessorado Cuéllar, que se recusou a jogar.

Mas o Flamengo precisava ser competitivo contra o Ceará, ainda mais depois do surpreendente empate do Santos em casa contra o Fortaleza depois de abrir 3 a 0. Valia a liderança e Jorge Jesus foi feliz. Poupou de início os laterais Rafinha e Filipe Luís e mais Everton Ribeiro e Bruno Henrique. Todos, porém, no banco de reservas para qualquer eventualidade.

O resultado foi uma das melhores atuações do time carioca no ano. Depois da variação 4-2-3-1/4-4-2 dos 2 a o sobre o Internacional na quarta-feira, mais um desenho tático se somou ao repertório do treinador português: um 4-1-4-1 com Willian Arão alinhado a Gerson por dentro, muito semelhante ao dos tempos de Abel Braga e dentro de uma proposta reativa que era interessante para esta partida. Ainda mais depois dos 3 a 0 para o Bahia em Salvador dentro de um contexto semelhante.

Primeiro gol em jogada ensaiada na cobrança de lateral. A sacada foi Rodrigo Caio perto da linha de fundo e da meta adversária. Toque para trás, assistência de Berrío e belo chute de Pablo Marí, cada vez mais seguro e comprovando ser um achado de Jorge Jesus.

Depois uma sequência de 19 passes até Renê conduzir por dentro clareando a jogada e Berrío servir Gabriel Barbosa no 12º gol do artilheiro do campeonato – vigésimo quinta na temporada. O colombiano poderia ter se consagrado com um gol além das duas assistências, mas perdeu chance cristalina no primeiro tempo.

Saiu para a entrada de Bruno Henrique. Rafinha e Everton Ribeiro também foram a campo, substituindo João Lucas e Gerson. Cedendo 14 finalizações ao Ceará de Enderson Moreira que lutou o tempo todo, dominou parte do primeiro tempo e teve três gols (bem) anulados. Mas novamente sendo eficiente na frente: dez conclusões, metade no alvo. Três nas redes, repetindo o placar no Castelão em 2018.

Grand finale na bicicleta espetacular de Arrascaeta. Sem exageros, um candidato ao Prêmio Puskas. Compensando alguns momentos de displicência do uruguaio na partida. Pura arte para garantir o topo na tabela de uma equipe bem treinada. Variações táticas, qualidade técnica e muita seriedade. O símbolo é o outrora contestado Willian Arão. Evolução absurda nas mãos de Jesus e um desfalque importante para quarta.

Não garante título, nem mesmo a classificação no Beira-Rio. Mas é a quarta atuação consistente em sequência: Grêmio, Vasco, Internacional e agora Ceará. O Flamengo de Jorge Jesus está ficando bonito de se ver.

(Estatísticas: Footstats)

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Flamengo atropela Goiás com a fome que vinha faltando há muito tempo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/14/flamengo-atropela-goias-com-a-fome-que-vinha-faltando-ha-muito-tempo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/14/flamengo-atropela-goias-com-a-fome-que-vinha-faltando-ha-muito-tempo/#respond Sun, 14 Jul 2019 15:55:54 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6865 Em sua estreia no Maracanã com 65 mil presentes, Jorge Jesus começa a sinalizar como pretende fazer o Flamengo atuar em casa para abrir sistemas defensivos bem fechados: reunindo o máximo de qualidade técnica possível e colocando intensidade, principalmente na pressão logo após a perda da bola. Mesmo no sol de inverno carioca às 11h.

A goleada por 6 a 1 sobre o Goiás, com 4 a 1 ainda no primeiro tempo, não indicam uma exibição próxima da perfeição. O time rubro-negro teve problemas naturais para uma mudança tão radical na formação e no modelo de jogo. Com Rafinha estreando pela direita e Trauco à esquerda colocando Renê no banco. No meio, Willian Arão sendo o titular como volante à frente da defesa no 4-1-3-2.

Duas dificuldades chamaram a atenção: no momento de tensão depois que o Goiás empatou com Kayke após falha de Rodrigo Caio, o time afunilou demais as jogadas. Porque Rafinha e Trauco têm características de laterais construtores, sem rapidez e intensidade para chegar ao fundo. Sem espaços acabavam cruzando da intermediária ofensiva e facilitando a marcação.

Também a transição defensiva ainda descoordenada quando o Goiás saía da pressão inicial e achava o rápido e habilidoso Michael pela esquerda. Ponteiro que acertou a trave de Diego Alves. Arão também vai se adaptando à tamanha responsabilidade defensiva, já que Everton Ribeiro, Diego, Arrascaeta, Gabriel Barbosa e Bruno Henrique, por mais que se esforcem, não conseguem uma compactação perfeita quando a equipe recua linhas.

De Arrascaeta foi o fator de desequilíbrio em sua melhor atuação pelo novo clube. Abriu o placar completando jogada que iniciou com a ação individual de Everton Ribeiro e passou por Gabriel. Depois descomplicou o 1 a 1 com lindo passe para Trauco enfim chegar rapidamente ao fundo e servir Bruno Henrique em um lance de presença de área e sorte.

Com vantagem no placar e o Goiás zonzo, o Flamengo mostrou uma força que já tinha nos tempos de Abel, mesmo sem organização. Tendo campo para acelerar e muita gente para chegar na área adversária, o final do primeiro tempo foi de um vendaval que terminou em mais dois de Arrascaeta: aparecendo na área completando passe rasteiro para trás de Gabriel e depois um cruzamento da esquerda que encobriu o goleiro Tadeu.

O uruguaio ainda encontraria Gabriel solto no quinto gol aos 10 minutos do segundo tempo. Para o Goiás desistir de vez de buscar qualquer recuperação e Jorge Jesus pensar no jogo da volta pelas quartas da Copa do Brasil contra o Athletico. Descansou Rafinha, Arão e Bruno Henrique e colocou Rodinei, Cuéllar e Vitinho para manter a intensidade e seguir atacando, mantendo a comunhão com a torcida. Até o passe de Everton Ribeiro, a segunda assistência de Arrascaeta e outro gol de Gabriel.

Festa na arquibancada e um otimismo com razão de ser. Afinal, a fome mostrada em campo era o que vinha faltando há muito tempo. A posse de bola rondou entre 65% e 70% (67% no final)  e foram 28 finalizações. 17 no alvo, o que mostra evolução também na contundência da equipe que sofreu tantas vezes com o “arame liso” – cercar sem furar a defesa do oponente.

Mas é nítido e até lógico que ajustes precisam de tempo e também da colaboração das novidades já anunciadas, como Gerson e o zagueiro Pablo Marí, e quem mais chegar – apesar dos três gols de Gabriel em dois jogos, o centroavante típico continua sendo necessidade.

É preciso reforçar o óbvio: nem sempre será assim, nem no Maracanã. Até porque o desgaste pela sequência de jogos deve reduzir o ritmo alucinante dessas duas primeiras partidas depois de 20 dias de treinamentos. Mas não há como recolher o elogio à atuação mais que promissora na maior goleada do Brasileiro. É um novo Flamengo se desenhando.

(Estatísticas: Footstats)

 

 

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Um olhar cético sobre Jorge Jesus na véspera da estreia pelo Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/09/um-olhar-cetico-sobre-jorge-jesus-na-vespera-da-estreia-pelo-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/09/um-olhar-cetico-sobre-jorge-jesus-na-vespera-da-estreia-pelo-flamengo/#respond Tue, 09 Jul 2019 20:59:23 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6841

Foto: Nathália Almeida/90min

A saída de Abel Braga do comando técnico do Flamengo se mostrou necessária, principalmente porque o trabalho não apresentava margem de evolução, mesmo com resultados satisfatórios dentro do planejamento do clube: título carioca, classificação para as oitavas da Libertadores como líder do seu grupo, vaga encaminhada nas quartas de final da Copa do Brasil e campanha aceitável no Brasileiro, considerando que haveria uma pausa durante a Copa América.

Mas, a rigor, era um time inconstante, que tinha como proposta, ao menos no início, definir mais rapidamente as jogadas aproveitando o campo cedido pelo adversário ao recuar as linhas. Valorizar menos a posse de bola e ser mais contundente no ataque. No entanto, a defesa sofria mesmo diante de times fracos, como os de menor investimento no Rio de Janeiro, e o treinador veterano, apesar do controle do vestiário, não conseguia tirar o melhor das estrelas contratadas para a temporada 2019.

Chega Jorge Jesus. Iniciativa arrojada da diretoria, trazendo um treinador português que conhecia o futebol brasileiro apenas como admirador da qualidade técnica dos jogadores e espectador das competições nacionais, mesmo nas madrugadas de Lisboa. Mas que vai tomar contato de fato só agora, vivenciando as agruras de um calendário inchado e as incertezas dentro de um cenário de enorme equilíbrio de forças e a imprevisibilidade no mata-mata.

Tudo isso temperado com muita pressão. Interna pela necessidade de um título para a nova diretoria que foi alvo de críticas por, em um primeiro momento, aceitar e avalizar declarações polêmicas de Abel. Também por conta da emissão de notas oficiais estapafúrdias e escorregar na própria comunicação. Sem contar o caso do incêndio em instalações do Ninho do Urubu que vitimou dez jovens no início do ano e até agora segue sem solução que ampare de fato as famílias.

Ainda uma torcida desesperada por uma conquista relevante para calar as provocações dos rivais locais e interestaduais, especialmente o “cheirinho” que virou galhofa. Mais os críticos da demissão do antecessor e aqueles que se apavoram toda vez que um estrangeiro chega para comandar um time de grande popularidade.

Diante de todo esse cenário é necessário um olhar cético para as possibilidades do time rubro-negro na temporada. Mesmo considerando a opção por Jorge Jesus válida e até necessária, pensando na evolução do futebol jogado no país.  Porque há algumas ações neste período sem jogos que merecem atenção especial, já pensando no momento em que a sequência de partidas será intensa e não haverá tempo para treinamentos.

Jorge Jesus avaliou o elenco como desequilibrado e pediu um zagueiro para atuar pelo lado esquerdo, um meio-campista dinâmico pensando na função de meia central na linha de três dentro da execução do 4-1-3-2 que vem sendo treinado. Também um centroavante mais típico para atuar como referência. Mais a possibilidade de repatriar Filipe Luís e qualificar também a lateral esquerda.

Ninguém chegou até agora e a temporada vai recomeçar. Com o jogo decisivo contra o Athletico pela Copa do Brasil já na quarta-feira. Léo Duarte e Rodrigo estarão em campo formando a zaga, Diego Ribas no papel desgastante de auxiliar o volante na marcação por dentro e ainda a missão de municiar os atacantes, além de se apresentar para as finalizações. Será que o meia suporta tantas atribuições em uma reta final de carreira? Na frente segue a dupla Bruno Henrique-Gabriel Barbosa.

Ou seja, no momento em que as possíveis contratações se apresentarem não haverá tempo para adaptação e entrosamento. A entrada no time será a forceps, com outras decisões pelo caminho. Como o confronto com o Emelec pela Libertadores no final do mês. É claro que o elenco, já com Rafinha integrado, tem condições de superar esses primeiros obstáculos, mas é inegável que há um atraso dentro do planejamento da comissão técnica.

A proposta de jogo exige intensidade máxima, principalmente na pressão logo após a perda da bola. Muita concentração e um desgaste mental tão grande quanto o físico. Até pela reunião de jogadores técnicos, mas pouco acostumados, ao menos no Brasil, com tamanha dedicação sem a bola. Jorge Jesus está testando seus novos comandados dentro de um período só de treinamentos. Fica a dúvida quanto a dura sequência de partidas em meio às viagens, muitas delas cruzando um país continental.

E se os resultados não forem os esperados, o treinador agora elogiado por seu temperamento forte, liderança e energia,interferindo até na estrutura do centro de treinamento, certamente será questionado. E ninguém sabe exatamente como repercute no vestiário as broncas públicas, como o “tá mal, Arão!” que se ouviu na Gávea durante o jogo-treino contra o Madureira. Willian Arão e seus companheiros já demonstraram em outros momentos claro incômodo com críticas e cobranças internas e um certo gosto pelo paternalismo. Por enquanto, Jesus tem respaldo total, mas como será em outro contexto?

Por tudo isso é recomendável um pouco de cautela nesta véspera de estreia oficial do novo comandante. Apesar da euforia de uma torcida sempre otimista a cada mudança, em um eterno “agora vai!” Ninguém sabe como será quando a calmaria dos últimos dias sem competições virar a panela de pressão que é o Flamengo querendo transformar a capacidade de investimento em conquistas relevantes. A missão de Jesus não é simples. Por enquanto a salvação está apenas no sobrenome.

 

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Flamengo classificado em jogaço! Corinthians ofensivo só valorizou clássico http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/04/flamengo-classificado-em-jogaco-corinthians-ofensivo-so-valorizou-classico/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/04/flamengo-classificado-em-jogaco-corinthians-ofensivo-so-valorizou-classico/#respond Wed, 05 Jun 2019 02:45:06 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6647 A necessidade de reverter a desvantagem de um gol fez o Corinthians valorizar demais a vitória por 1 a 0 e a classificação do Flamengo para as quartas de final da Copa do Brasil.

Mesmo sem Fagner, lesionado e já integrado à seleção,foi a melhor atuação coletiva do time de Fabio Carille em 2019, só faltando a eficiência nas finalizações, belas defesas de Diego Alves à parte.

Porque o time rubro-negro sentiu demais a falta da dinâmica de Cuéllar no meio-campo e do passe diferente de Arrascaeta na articulação – ambos já servindo aos seus países na preparação para a Copa América.

Piris da Motta errou muito no primeiro tempo, mas se aprumou na volta do intervalo com um auxílio mais efetivo de Willian Arão, depois Ronaldo, na execução do 4-2-3-1 armado pelo interino Marcelo Salles. Diego lutou muito e liderou os companheiros, mas novamente atrapalhou o time em alguns ataques por reter demais a bola.

Ainda assim, foi um jogaço. O Corinthians ameaçando pela esquerda com Clayson e Danilo Avelar para cima de Pará. Mais o volume construído pelo meio-campo formado por Ralf, Junior Urso e Sornoza. O meia equatoriano responsável pelas bolas paradas que atormentaram o Fla no primeiro tempo e o volante mais fixo do 4-1-4-1 de Carille explodindo o travessão de Diego Alves em um chute espetacular.

O Flamengo equilibrou no final da primeira etapa com marcação mais ajustada e Gabriel Barbosa e Everton Ribeiro enfim fazendo Cássio trabalhar. A disputa seguiu parelha na segunda etapa, mas com Vagner Love complicando a vida de Léo Duarte e Rodrigo Caio nas viradas de pivô para a finalização. Mais um chute que fez Diego Alves trabalhar. Foram nove conclusões do time paulista, quatro no alvo. Sete do Fla, três na direção da meta de Cássio.

A mais precisa de Rodrigo Caio, que confirmou a classificação. Assistência de Everton Ribeiro, o grande destaque do setor ofensivo do Fla. Para tornar tudo ainda mais eletrizante, o assistente marcou impedimento inexistente e Leandro Vuaden precisou da ajuda do VAR para confirmar o gol único da partida. Minutos de ansiedade até a explosão rubro-negra no Maracanã. Também de Rodrigo Caio, execrado no São Paulo por uma questão ética em jogo contra o Corinthians e se redimindo a cada grande atuação no Fla. Com garra e liderança.

O time paulista, porém, não se rendeu e Boselli quase marcou do meio do campo na saída de bola. O argentino se juntou a Gustavo e Love na formação ultraofensiva que arriscou tudo em busca do gol salvador. Sem sucesso.

O Flamengo cumpre a meta principal à espera de Jorge Jesus. Com mais fibra que bola, porém superior na análise geral do confronto. Ponto positivo a questão anímica em um time que falhou tantas vezes em jogos grandes. Resta ao Corinthians o alento de uma grande evolução no desempenho que deve ser referência para Carille, especialmente em jogos fora de casa. É possível atacar mais.

Fica para o Brasileiro e a Sul-Americana. Porque é o Flamengo que segue vivo no mata-mata nacional.

(Estatísticas: Footstats)

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Virada de um Flamengo mal treinado sobre Athletico misto não pode iludir http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/26/virada-de-um-flamengo-mal-treinado-sobre-athletico-misto-nao-pode-iludir/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/26/virada-de-um-flamengo-mal-treinado-sobre-athletico-misto-nao-pode-iludir/#respond Sun, 26 May 2019 21:32:21 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6594 O ato final da vitória do Flamengo por 3 a 2, com a bela cabeçada de Rodrigo Caio, a comemoração apoteótica e os jogadores abraçando o treinador Abel Braga – vaiado durante a partida, especialmente quando o placar apontava 2 a 1 para o Athletico -, certamente foi marcante e emocionante para o torcedor que mais uma vez compareceu em ótimo número no Maracanã – mais de 45 mil pagantes.

A virada, porém, não pode mascarar mais uma péssima atuação coletiva do time rubro-negro. Depois de uma semana para treinar e contra uma equipe com apenas três titulares e focada na Recopa Sul-Americana contra o River Plate. Mesmo muito mexido, o time de Tiago Nunes mostrou consciência na execução do plano de jogo. Sem abdicar do ataque, criando oportunidades para mais gols além das duas bolas nas redes de Marcelo Cirino.

Porque o problema do Fla é crônico: time recua linhas para tentar aproveitar os espaços cedidos pelos adversários com velocidade. Principalmente depois que abre o placar. Só que defende mal, deixa muitos espaços entre os setores e nas transições ofensivas depende fundamentalmente das ações individuais de seus talentos.

Como no primeiro gol, consequência de um pênalti sofrido e convertido por Gabriel Barbosa. Este que escreve não marcaria a falta do goleiro Santos confirmada pela arbitragem com auxílio do VAR. A cobrança perfeita mascarou mais uma tomada de decisão equivocada do camisa nove à frente do goleiro com bola rolando. Muita afobação e  pouca inteligência para definir.

Ao contrário de Bruno Henrique, que completou cruzamento para começar a virar o emocional do time e da torcida com o empate. Já no desespero, com Rodinei, Vitinho e Lincoln em campo. Levantando 46 bolas na área adversária. Cedendo espaços, com Renê salvando gol certo de Tomás Andrade. Praticamente dividindo a posse de bola (51% x 49%) e permitindo onze finalizações de um time misto.

A 12ª conclusão do Fla, quinta no alvo, foi a redentora de Rodrigo Caio. Para elogiar a indignação com a derrota e até com o empate, que tantas vezes faltou em tantos momentos da gestão de Bandeira de Mello e outros treinadores. Mas o desempenho como equipe segue devendo. Nem sempre a fibra vai bastar.

(Estatísticas: Footstats)

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