rogermachado – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Palmeiras treina por uma semana para quase nada. Boa campanha, pouca bola http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/17/palmeiras-treina-por-uma-semana-para-quase-nada-boa-campanha-pouca-bola/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/17/palmeiras-treina-por-uma-semana-para-quase-nada-boa-campanha-pouca-bola/#respond Sun, 17 Nov 2019 21:29:43 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7578 O Palmeiras tinha um cenário favorável na rodada para retomar a disputa pelo título. Uma semana de preparação, o líder Flamengo empatando jogo antecipado e escalando muitos reservas em Porto Alegre contra o Grêmio por conta da final da Libertadores. Sem contar o Bahia em má fase, seis rodadas sem vencer – quatro derrotas, dois empates.

E o que se viu na Fonte Nova foi mais do mesmo. Uma equipe pragmática e persistente, que não se entrega e busca a vitória durante os noventa minutos, porém com repertório limitado demais. Basicamente bola no Dudu, especialmente nos minutos finais. Mérito do ponteiro alviverde, melhor do último Brasileiro, um atleta que se cuida muito para jogar sempre.

Mas é muito pouco para tamanho investimento. Ainda que a ausência de Felipe Melo, com desconforto muscular, sempre pese na saída de bola – apesar da atuação até correta de Thiago Santos. A equipe toca, inverte o lado, tenta as combinações pelos flancos, movimenta o trio de meias do 4-2-3-1 habitual: Dudu, Gustavo Scarpa e Zé Rafael, Lucas Lima e Willian entraram no segundo tempo. Mano Menezes também trocou Deyverson por Borja.

Até consegue as oportunidades para ir às redes, mas a chance cristalina na jogada bem construída é muito rara. Mesmo com 54% de posse e 21 finalizações, seis no alvo. O Bahia nem foi compacto no 4-1-4-1 de Roger Machado, nem intenso na pressão sobre o adversário com a bola e nas transições ofensiva e defensiva. A confiança está lá embaixo e não há muito mais por que lutar na competição.

Achou um gol no primeiro tempo com a falta de Arthur Caike mal cobrada, porém furando a barreira para sair do alcance de Weverton. Gilberto segue no jejum que chega a 12 partidas, Fernandão entrou e pouco acrescentou no ataque. E mesmo com o estádio morno como o jogo, o Palmeiras não arrancou o gol da vitória depois de empatar com Borja.

Por mais que a informação do gol de Gabriel Barbosa sobre o Grêmio fosse desanimadora, havia muito tempo para reviravoltas nas partidas. O Palmeiras parece consciente que não há consistência para a arrancada espetacular em busca do “milagre”. O aproveitamento de quase 69% daria título em outras temporadas, sim. Mas no contexto de 2019 está claro que é insuficiente. Boa campanha, mas pouca bola. Uma semana de treinamentos para quase nada.

A temporada deve terminar sem conquistas. Direção e Mano Menezes têm muito a refletir e planejar para fazer diferente em 2020. O sarrafo subiu e é preciso evoluir. As soluções dos últimos anos não resolvem mais.

(Estatísticas: Footstats)

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Por que o grito de campeão transborda da garganta do torcedor do Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/11/por-que-o-grito-de-campeao-transborda-da-garganta-do-torcedor-do-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/11/por-que-o-grito-de-campeao-transborda-da-garganta-do-torcedor-do-flamengo/#respond Mon, 11 Nov 2019 09:38:19 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7548

Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Na saída do intervalo no Maracanã novamente abarrotado, a vitória parcial do Bahia por 1 a 0 apontava o maior desafio para o Flamengo de Jorge Jesus. Era o algoz do turno, último time a vencer os rubro-negros, há 22 partidas – dezoito no Brasileiro. O líder encarava pela primeira vez a missão de buscar uma virada jogando em casa.

Isso sem Jorge Jesus à beira do campo – suspenso pelo terceiro amarelo, foi substituído pelo auxiliar João de Deus. Também sentindo a ausência de Arrascaeta, o meia que cria os espaços em retaguardas bem fechadas. Como a do time de Roger Machado, novamente armado no 4-1-4-1 que compacta os setores em 30, 35 metros. Com todos os jogadores de linha guardando a meta de Douglas Friedrich e prontos para os contragolpes.

Explorando o lado de Rodinei, mais uma vez o “elo fraco” do time na reposição a Rafinha, também suspenso. Vacilando duas vezes no gol do adversário: mal posicionado e depois permitindo que Elber pegasse o rebote da própria cabeçada e batesse para Willian Arão marcar contra, em raro lance de infelicidade do volante na nova fase com Jesus.

O time do “arame liso” cercaria, tocaria a bola, mas dificilmente furaria o organizado sistema defensivo do oponente. A equipe “pecho frio”, que decepcionou tantas vezes em jogos decisivos, derreteria mentalmente com a desvantagem. Com o gol sofrido em lance iniciado pela falta de sorte de Pablo Marí, que desarmou Nino Paraíba, mas a bola bateu em Filipe Luís e voltou para o lateral fazer o cruzamento procurando Elber. A própria torcida murcharia com as adversidades que por tantas vezes fizeram o time de coração sucumbir nos últimos anos. Parecia que não era o dia.

Mas esse Flamengo é diferente. A começar pela coragem de mudar taticamente de acordo com o que pede a partida. O plano inicial com Vitinho aberto pela direita, Bruno Henrique do lado oposto e Everton Ribeiro por dentro, atrás de Gabriel Barbosa. Provavelmente para criar sobrecarga pelos lados e inibir os avanços dos laterais do Bahia, principalmente Nino Paraíba que faz com Artur a “ala forte” da equipe.

Depois com Bruno Henrique por dentro fazendo dupla com Gabriel, Everton voltando a ser ponta articulador pela direita e Vitinho retornando ao setor esquerdo. Ainda faltando a infiltração, o toque criativo, apesar da posse de bola e do volume de jogo. A missão era mesmo complicada.

Mas Reinier voltou para a segunda etapa na vaga de Vitinho. A joia da base que não foi para a seleção sub-17 ficou na referência do ataque, como uma espécie de centroavante para aproveitar a estatura e o vigor físico. Bruno Henrique voltou a abrir pela esquerda e Everton Ribeiro e Gabriel alternavam: um aberto à direita, outro mais por dentro.

Funcionou rápido, com Everton pelo meio acionando Gabriel. O artilheiro canhoto serviu com o pé direito um cruzamento preciso para Reinier empatar de cabeça. Mas não havia nada decidido, o Bahia era mais um adversário que, mesmo vivendo mau momento sem vencer há cinco partidas, jogava a vida para se recuperar e também desafiar o grande time do país no momento.

A torcida deu outra prova de confiança ao não questionar com vaias ou gritos de “Burro!” a troca de Gerson por Piris da Motta. Afinal, é praxe no Brasil o time precisando da vitória trocar volante ou meio-campista por atacante, na maioria das vezes desequilibrando os setores. Mas era preciso proteger melhor Rodrigo Caio e Pablo Marí. Arão ganhou mais liberdade.

Filipe Luís também. O lateral que foi alvo de piadas e memes nos 3 a 0 em Salvador, em estreia um tanto precipitada pela falta de condicionamento físico, já fazia boa partida. Mas foi primoroso no segundo tempo. Como articulador por dentro, com seus passes precisos e objetivos. Capricho e talento na inversão para Gabriel, novamente infiltrando a partir da direita, servir Bruno Henrique, vice-artilheiro da competição com 16 gols.

Virada consolidada com a inesperada cobrança de falta de Arão no travessão que Gabriel aproveitou o rebote para chegar aos 21 gols, igualando Zico em 1980 e 1983. Faltando seis rodadas para o fim do campeonato. Também consagrar uma de suas melhores atuações com a camisa do clube. O grande destaque individual ao lado de Filipe Luís.

Três a um. Um segundo tempo bem diferente do que o Flamengo costumava apresentar. Em bola e força mental. Depois da demonstração de maturidade na quinta para “tourear” no Nílton Santos um Botafogo duro, por vezes violento e disposto até a deixar a vida em campo, a equipe mostrou confiança no próprio taco para construir uma virada de time pronto para voos maiores. Com 62% de posse, 19 finalizações  – onze no segundo tempo – e 21 desarmes, muitos deles no campo de ataque. Um certo exagero nos cruzamentos: quarenta e um! Mas trocando 461 passes, contra apenas 190 do Bahia.

Por isso foi inevitável a empolgação da torcida. Os mais velhos só viram tamanha imposição sobre os rivais e tantas vitórias seguidas, sem maiores oscilações ou vacilos por conta do “oba oba”, na geração Zico que pode ser estendida até o time do “Maestro” Júnior em 1991/1992. Os mais jovens nem no Brasileiro de 2009, com arrancada só na reta final, ou nos títulos de Copa do Brasil (2006 e 2013).

O apaixonado, escaldado por tantas decepções, vinha segurando a onda com pés no chão. O grito de “É campeão!”, porém, transbordou da garganta neste domingo. Do peito estufado e orgulhoso com a equipe que vai demolindo recordes, lotando o Maracanã e vencendo de todas as maneiras possíveis. Desta vez foi a virada que fez a vantagem para o Palmeiras aumentar para dez pontos. Pode chegar a 13, com um jogo a mais, se vencer o Vasco em jogo antecipado para o Fla decidir a Libertadores no dia 23 em Lima.

Agora é com a matemática para confirmar o título, mas o rubro-negro já consagrou o time de Jorge Jesus. De João de Deus. Que parece abençoado pelo Cristo e destinado a redimir a maior torcida do país com vitórias e taças. Ao menos o Brasileiro parece questão de tempo.

(Estatísticas: Footstats)

 

 

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Flamengo e Grêmio antecipam no Brasileiro o grande duelo corpo x mente http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/17/flamengo-e-gremio-antecipam-no-brasileiro-o-grande-duelo-corpo-x-mente/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/17/flamengo-e-gremio-antecipam-no-brasileiro-o-grande-duelo-corpo-x-mente/#respond Thu, 17 Oct 2019 15:09:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7442

Foto: Agencia Estado

Quando o auxiliar de Rogério Ceni, o francês Charles Hembert, justificou as nove mudanças no Fortaleza por conta da intenção de mandar a campo um time mais “fresco”, ficou clara a estratégia do treinador suspenso de tentar vencer o Flamengo na saúde.

Porque Jorge Jesus não faz concessões. É a “carne toda para assar” sempre. O treinador português sempre coloca para jogar o melhor que tem disponível, de preferência com a formação mais ofensiva possível. Na intensidade máxima que o time resistir. Este foi o problema maior durante a maior parte da disputa no Castelão.

O líder absoluto do Brasileirão sentiu demais os cinco desfalques – Rafinha, Filipe Luís, Everton Ribeiro, Arrascaeta e Bruno Henrique, mais ainda o calor cearense, além da umidade e o gramado longe de ser um tapete. Gerson suportou 45 minutos enquanto Jesus tentou encontrar o melhor posicionamento para o camisa oito. Começou com meio-campista central num 4-4-2, depois tentou emular Everton Ribeiro como ponta articulador pela direita e, por fim, se alinhou a Willian Arão à frente de Piris da Motta, o substituto de Lucas Silva que sentiu logo no início da partida.

Apesar da fraca atuação na primeira etapa, o técnico dobrou a aposta ao descansar Gerson e colocar Vitor Gabriel para fazer dupla com Gabriel Barbosa, deslocando Reinier para o lado direito de um quarteto ultraofensivo – Vitinho à esquerda. Sem abrir mão da última linha de defesa avançada e exigindo um esforço ainda maior do já desgastado Willian Arão no meio-campo.

Mas foi na força mental que o Flamengo construiu uma virada improvável. Na confiança em seu modelo de jogo e também que a fase permite acreditar que tudo pode dar muito certo. Mesmo quando as pernas parecem falhar e o desempenho geral cai. No “abafa” com Rodrigo Caio na área adversária para disputar a bola com Quintero que terminou no pênalti convertido por Gabriel Barbosa e participar da jogada ensaiada na cobrança de lateral de Renê, finalizada por Reinier, o “reforço” de última hora negado à CBF para o Mundial Sub-17.

Sim, o VAR…Este que escreve não marcaria nenhum dos dois pênaltis: o de Pablo Marí convertido por Bruno Melo entra na “exigência” atual de que os defensores não tenham braços. Afinal, o que é movimento natural para quem está correndo, controlando o espaço que ocupa, a distância em relação ao adversário e à bola? Difícil interpretar, assim como o de Quintero de costas para Rodrigo Caio… Já em relação às duas bolas em campo é uma irregularidade que poderia ter sido observada pelo árbitro de vídeo, mas a interferência no lance é interpretativa. Ou seja, de novo o recurso que deveria ser uma solução se mostrando um problema. Ou a “bengala” preferida para o derrotado.

O Flamengo venceu e manteve os oito pontos de vantagem no topo da tabela. Confiança no teto para o Fla-Flu, último compromisso antes da volta da semifinal da Libertadores. Ambos no Maracanã. Jorge Jesus esgota as energias de seus comandados, mas há compensações: o time mantém altos níveis de concentração e capacidade de competir. Mantendo o foco no Brasileiro, o jogo pelo torneio continental psicologicamente mantém o seu tamanho real, sem superdimensionamentos. Transita entre “o jogo do ano” e mais uma partida em busca das duas conquistas. Se falhar ainda há uma chance, que não é pequena, de levantar taça em 2019.

Algo que o Grêmio não tem. É a Libertadores ou se contentar em terminar o ano com o título gaúcho. Um efeito colateral da cultura copeira do clube. Após a dura eliminação nos pênaltis para o Athletico na Copa do Brasil, depois de abrir 2 a 0 em Porto Alegre, o time de Renato Gaúcho vai administrando o Brasileiro para não se afastar do G-6 e, se tudo der errado, ficar com aquela última vaga entre os quatro primeiros e se garantir na fase de grupos da Libertadores em 2020.

Depois da vitória sobre o Ceará por 2 a 1 e a goleada sobre o Atlético Mineiro por 4 a 1, a chance de encostar no Corinthians, quarto colocado, seria diante do Bahia na Arena em Porto Alegre. Algo, porém, não funcionou e parece ter muita relação com o aspecto mental. Porque o Grêmio respira Flamengo desde o dia dois de outubro. Ou a partir do momento em que soube que enfrentaria os rubro-negros.

Com a proximidade do confronto derradeiro é natural que a ansiedade aumente e fique difícil se concentrar na outra competição. Na última partida com titulares antes da viagem ao Rio de Janeiro, a provável formação da próxima quarta-feira, com Geromel de volta à zaga, Leonardo Moura na lateral direita, Maicon e Luan no meio-campo. deu errado além do placar adverso diante da equipe de Roger Machado.

“Com cinco minutos eu olhei para o banco e disse: não é a nossa noite. Com 35 minutos eu queria que o jogo terminasse. Perguntei para os jogadores se estavam com as pernas pesadas, disseram que não. Agora, às vezes no jogo se sente outras coisas”, explicou o treinador. Pois o Grêmio sentiu a proximidade do jogo mais esperado. Nitidamente. Ninguém quer arriscar nada. Bola dividida, um “sprint”… Como ficar de fora do “filé mignon”?

Os donos da casa nitidamente se pouparam e jogaram em ritmo de treino, com direito a drible de Kannemann na intermediária armando contragolpe para o adversário. O clima no estádio com pouco mais de 13 mil presentes colaborava. Mas para o Bahia era decisão e Roger não abriria de seu modelo fora de casa recuando linhas, defendendo com dez homens em um espaço de trinta metros e acelerando as transições ofensivas com Artur e Elber pelas pontas e Gilberto no centro do ataque. Depois entrou Arthur Caike, que converteu no final o pênalti sobre o lateral Giovanni. Para comprovar no placar o sucesso da estratégia do tricolor baiano.

Na coletiva pós-jogo, obviamente, Renato Gaúcho mais uma vez chamou os holofotes todos pra si e desviou dos problemas do seu time. Criticou a retranca do Bahia, exaltou pela enésima vez a proposta de jogo ofensiva e criticou o futebol brasileiro, só salvando Flamengo, Santos e Athletico, além do Grêmio. Porque o treinador veterano sabe que seus atletas preferiram não correr riscos e de novo o Brasileiro foi relegado a segundo plano.

Mesmo com os enormes riscos de eliminação na Libertadores. O Grêmio vai enfrentar o melhor time do país no momento, dentro de um Maracanã lotado e pulsante, e já começa o jogo com o 0 a 0 que não o favorece por conta do 1 a 1 da ida no Rio Grande do Sul. Sim, o cenário provavelmente terá alguns ingredientes menos dramáticos: o Flamengo deve sofrer ao menos com o desfalque de Arrascaeta e, mesmo que um milagre aconteça e Jorge Jesus conte com todos os titulares, não terá a intensidade e o vigor físico dos titulares como em Porto Alegre. E Renato chega desta vez com um grupo mais completo. Lá pelos 20, 25 minutos do segundo tempo no Maracanã a estratégia pode dar muito certo e seu time sobrar fisicamente.

O confronto, porém, não deixa de ser equilibrado, imprevisível e sem prognósticos. Ou melhor, só um: será o duelo corpo x mente, antecipado nesta quarta dentro do Brasileiro. O Grêmio que vai descansar no domingo, com reservas enfrentando o Fortaleza no Castelão, chegará mais inteiro, porém com o peso de jogar a vida. A vantagem da experiência da maioria do grupo de Renato ao disputar sua terceira semifinal sul-americana consecutiva também carrega o fardo de só superar a meta se alcançar a decisão. O peso psicológico é grande e se fez presente com força diante do Bahia.

Já o Flamengo irá ao Maracanã leve e confiante, embora cansado. É óbvio que pelo resultado conquistado na ida e por conta do alto investimento na formação do elenco, agora a final da Libertadores é uma meta palpável. Mas, a rigor, o feito de voltar a ficar entre os quatro primeiros da América do Sul depois de 35 anos já é considerável. E se vier a eliminação, a conquista do Brasileiro seguirá bem próxima. O Fla-Flu de domingo é o tema do momento e o Grêmio só a partir de domingo, depois das 20h. Sem neuras, nem expectativas exageradas.

No insano calendário brasileiro é impossível ter “mente sã, corpo são”. Renato Gaúcho escolhe o fôlego, Jorge Jesus prefere a moral das vitórias. Quem vai levar vantagem no jogaço de quarta-feira?

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A maturidade de Roger Machado no Bahia “herdeiro” da Chapecoense http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/01/a-maturidade-de-roger-machado-no-bahia-herdeiro-da-chapecoense/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/01/a-maturidade-de-roger-machado-no-bahia-herdeiro-da-chapecoense/#respond Tue, 01 Oct 2019 11:05:29 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7359

Imagem: Divulgação / Bahia

Roger Machado iniciou a carreira como auxiliar-técnico do Grêmio em 2011 e chegou a comandar a equipe em dois clássicos Gre-Nal. Mas só assumiu o comando de um time profissional em 2014, no Juventude. Apenas cinco anos de atividade e sem encerrar uma temporada desde 2015.

Não é exagero dizer que, aos 44 anos, vive uma primeira etapa no ofício, dentro do aprendizado diário no futebol. Ganhou notoriedade precoce com a boa campanha do Grêmio no Brasileiro de 2015, superando a expectativa de apenas lutar para se manter na Série A em uma fase de transição do clube e, combinando desempenho e resultado, chegando à Libertadores.

Depois se tornou refém do próprio sucesso com expectativas exageradas no próprio time gaúcho em 2016 e depois Atlético Mineiro e Palmeiras, equipes com elencos estelares e muita pressão. Decisões equivocadas e alguma dificuldade na gestão de elenco, mesmo sendo um ex-jogador com liderança em campo, eram naturais no processo. Mas como não se expor e desgastar no olho do furacão?

O Bahia surgiu como uma oportunidade de recomeço. Sucedendo trabalho interessante de Enderson Moreira na reta final de campanha vitoriosa no estadual. Em um clube com planejamento e que entende suas possibilidades na temporada. Oferece estrutura compatível com a Série A do Brasileiro e busca ser competitivo dentro de sua realidade. Herdando, de certa forma, o posto da Chapecoense antes da tragédia de 2016, como um clube organizado e emergente, capaz de duelar com os maiores orçamentos do país.

Depois de chegar ao fundo do poço e disputar a Série C, mudanças no estatuto sepultando práticas e políticas arcaicas e nada democráticas fizeram o clube se reinventar e trazer sua torcida para perto novamente. Com gestão mais profissional, programa de sócio-torcedor e sendo forte em casa, na repaginada Fonte Nova.

Com o “plus” da consciência social que gera ações inclusivas, a favor da liberdade e contra preconceitos enraizados no país. Vanguarda remando contra a maré em tempos recentes. Um exemplo a ser seguido, mesmo com o risco que corre todo aquele que não faz alianças de ocasião.

Voltando ao campo, Roger aproveita a condição de “zebra” do Bahia no contexto atual do futebol brasileiro, apesar da bela história de dois títulos nacionais, para tornar seu trabalho mais versátil. Sua equipe parte quase invariavelmente de uma estrutura tática no 4-1-4-1, mas procura ser compacta o tempo todo.

Quando necessita atacar aproxima os jogadores formando triângulos pelos lados, apostando em diagonais dos pontas Artur e Elber abrindo os corredores para os laterais Nino Paraíba e Moisés e usando Gilberto como pivô e principal finalizador – é o vice-artilheiro do Brasileiro com 11 gols.

Mas também sabe recuar linhas negando espaços no próprio campo e guardando a meta de Douglas Friedrich muitas vezes com os dez jogadores de linha em cerca de 30 metros. Sem abrir mão, porém, das rápidas transições ofensivas, especialmente com seu trio atacante. Velocidade, toques objetivos e eficiência no acabamento das jogadas. Proposta que atingiu seu ápice nos 3 a 0 sobre o Flamengo em Salvador. A última derrota do time de Jorge Jesus, lìder e invicto há nove rodadas.

O Bahia foi às redes 27 vezes e sofreu 18 gols. Não está entre os ataques mais positivos, nem entre as defesas menos vazadas. Mas é a equipe com mais jogos sem levar gols: 12 no total. Equilibra os números para se manter na primeira página da tabela. Agora com sonhos mais altos, chegando ao G-6 com os 2 a 0 fora de casa sobre o Avaí e ficando a um ponto do quarto colocado, o Corinthians que tem um jogo a menos.

É óbvio que há aspectos que necessitam de evolução, como aumentar o número de finalizações – só seis equipes concluem menos na competição – e alternar um pouco o jogo em transição com posse de bola quando a equipe está controlando a partida com vantagem no placar. Sem levar sufoco, nem dar tanto trabalho a Douglas, um dos goleiros com mais intervenções no campeonato.

Mas a campanha supera as expectativas, assim como aconteceu na Copa do Brasil: chegou às quartas e foi eliminado em disputa relativamente parelha com o Grêmio de Renato Gaúcho. Time que herdou o modelo de jogo de Roger em 2016, corrigiu problemas, aprimorou virtudes, acrescentou a alma copeira que é tradição do tricolor e constroi uma das trajetórias mais vitoriosas do clube. Um exemplo a ser seguido.

Mais maduro, o técnico vai tentando fazer sua história com passos seguros. Pragmatismo e entendimento das características dos atletas disponíveis. Agora com “casca” e respaldo para domar o vestiário e evoluir no comando. As metas realistas dão serenidade para buscar a superação e a vaga na Libertadores nunca foi algo tão palpável.

Com Roger, o Bahia só cresce como equipe e instituição e aumenta as chances de furar a bolha das grandes potências nacionais.

(Estatísticas: Footstats)

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Bahia repete 2000 e atropela Flamengo estelar. Gilberto foi Jajá http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/04/bahia-repete-2000-e-atropela-flamengo-estelar-gilberto-foi-jaja/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/04/bahia-repete-2000-e-atropela-flamengo-estelar-gilberto-foi-jaja/#respond Sun, 04 Aug 2019 21:12:50 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6991 Em setembro de 2000, o Flamengo enfrentou o Bahia na Fonte Nova. Vinha de cinco jogos invictos na Copa João Havelange e enfrentaria um adversário de campanha irregular. Em campo, três estrelas contratadas com a parceria da ISL: Petkovic, Edilson e Denilson. Gamarra e Alex ficaram de fora. Mais o jovem Adriano e Júlio César na meta. Clima de festa em Salvador, recepção calorosa no aeroporto… E goleada por 4 a 1 do Bahia de Evaristo de Macedo sobre a equipe comandada por Carlinhos. Três gols do centroavante Jajá, grande destaque da partida.

Quase 19 anos depois, um cenário parecido. Com estreia de Filipe Luís e mais Diego Alves, Rafinha, Everton Ribeiro, Gerson, De Arrascaeta e Bruno Henrique em campo. Sem Gabriel Barbosa, lesionado e suspenso, Jorge Jesus desfez o 4-1-3-2 e repaginou a equipe num 4-2-3-1 mais básico, com Piris da Motta na vaga do desgastado Cuéllar, Everton e Gerson abertos, De Arrascaeta centralizado e Bruno Henrique mais adiantado.

Muitos titulares apesar do enorme desgaste físico e emocional da classificação para as quartas da Libertadores vencendo o Emelec no tempo normal e nos pênaltis. Novamente aquele ambiente festivo típico das idas do Fla ao Nordeste. Quem conhece a história do clube era capaz de imaginar que a desmobilização seria natural.

Para tornar tudo ainda mais complicado, uma boa atuação do Bahia de Roger Machado. No 4-1-4-1 costumeiro, trazendo todos os jogadores para o próprio campo na compactação defensiva e acelerando nos contragolpes. Especialmente a eficiência no ataque, aproveitando falhas do oponente.

Vacilo de Thuller no posicionamento dando condição legal, gol de Gilberto. Erro de Diego Alves na saída da meta com os pés, outro do camisa nove. Transição defensiva catastrófica dos rubro-negros, assistência de Artur e o terceiro do artilheiro da tarde, que não ia às redes desde maio. O Fla não sofria três gols em uma mesma partida há um ano. Tudo isso em 45 minutos. Cinco finalizações do Bahia, quatro no alvo e três gols. Mesmo com apenas 38% de posse.

A segunda etapa foi do Flamengo, com Reinier e Renê nas vagas de Piris e Filipe Luís e depois Berrío substituindo Arrascaeta, mantendo linhas adiantadas e buscando o ataque. Concluiu doze vezes, porém apenas uma na direção da meta de Douglas Frienrich. Faltou profundidade aos ataques sem o “Gabigol”. Rafinha não conseguiu chegar ao fundo, nem houve espaços às costas da defesa do time da casa para a velocidade de Bruno Henrique.

O Bahia teve chances de ampliar e a entrada de Ramires no lugar de Giovanni melhorou a produção do meio-campo. Sete finalizações certas em onze. Pode e deve ser a referência de desempenho do time de Roger Machado dentro da proposta de jogo.

Jorge Jesus precisa refletir sobre a gestão do elenco na temporada, mesmo com tantas lesões. Dentro de um grupo heterogêneo em termos de condição física e capacidade de competir não é possível entregar intensidade total duas vezes por semana. Ainda mais em um Flamengo que costuma pagar pela desconcentração.

Aconteceu em 2000, na velha Fonte Nova. No estádio renovado, um roteiro parecido com o mesmo desfecho. Melhor para Gilberto, que foi Jajá.

(Estatísticas: Footstats)

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Grêmio na semifinal ao seu estilo. Bahia de Roger exagerou na cautela http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/17/gremio-na-semifinal-ao-seu-estilo-bahia-de-roger-exagerou-na-cautela/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/17/gremio-na-semifinal-ao-seu-estilo-bahia-de-roger-exagerou-na-cautela/#respond Thu, 18 Jul 2019 00:26:02 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6885 A proposta do Bahia ficou bem clara no primeiro tempo na Fonte Nova. O mesmo 4-1-4-1 com linhas recuadas e acreditando no escape com Artur alternando pelas pontas. Ou seja, mantendo a ideia de Roger Machado em Porto Alegre, apesar do contexto diferente.

Cenário que deixou o Grêmio confortável para jogar no seu estilo depois de um início naturalmente tenso, com a torcida baiana quente e tentando empurrar o time de coração.A equipe gaúcha rodava a bola no ritmo do meio-campo passador formado por Maicon, Matheus Henrique e Jean Pyerre. Com 66% de posse, mas dificuldade para criar a chance cristalina pela ausência de espaços para as infiltrações em diagonal de Alisson e Everton. Ainda assim, finalizou sete vezes, duas no alvo. Mesmo número do Bahia, mas o time da casa concluiu apenas quatro vezes.

O Bahia adiantou um pouco as linhas no início do segundo tempo, com Ramires mais meia e o desenho próximo de um 4-2-3-1. Porém ainda insistindo com Artur mais fixo pela direita e bem vigiado por Cortez e pela cobertura de Kannemann. Quando a disputa parecia mais equilibrada, Alisson não buscou a diagonal às costas da defesa adversária, mas cortou dois oponentes da direita para dentro e bateu de canhota no canto esquerdo de Douglas Friedrich, que não alcançou.

Só com a desvantagem no placar e no confronto o time baiano resolveu se lançar à frente. Difícil de entender este comportamento, já que a equipe deixa para se expor justamente quando a tensão e, consequentemente, a chance de errar é maior. Com muito campo para correr, Alisson disparou e só parou contido por falta de Moisés. O árbitro Bráulio da Silva Machado primeiro marcou pênalti e depois, com auxílio do vídeo, refez a decisão anotando a infração fora da área, mas expulsando o lateral do time da casa porque o ponteiro ia na direção do gol.

Com um a menos ficou bem mais complicado. Roger não repôs a lateral, trocou Elber e Elton por Arthur Caike e Shaylon e colocou Fernandão no lugar de Ramires para se juntar a Gilberto na área gremista insistindo com cruzamentos e ligações diretas – foram 21 lançamentos nos últimos 45 minutos.

Mas sem assustar. O Grêmio se posicionou atrás, Geromel e Kannemann dominaram nas rebatidas e nos contragolpes, com Rômulo, Luan e Pepê nas vagas de Maicon, Jean Pyerre e Alisson teve até chances de ampliar. Terminou com 61% de posse e 13 finalizações contra 11, quatro a três no alvo.

A diferença foi o chute de Alisson. Ou a postura de um time experiente e vencedor, com modelo de jogo mais que assimilado e experiência no mata-mata. O time de Renato Gaúcho está em mais uma semifinal de Copa do Brasil. O Bahia teve campanha digna, mas deve refletir sobre o excesso de cautela. Mesmo com a grandeza do Grêmio, não era para tanto.

(Estatísticas: Footstats)

 

 

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A aula de compactação do Bahia de Roger Machado que matou o São Paulo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/30/a-aula-de-compactacao-do-bahia-de-roger-machado-que-matou-o-sao-paulo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/30/a-aula-de-compactacao-do-bahia-de-roger-machado-que-matou-o-sao-paulo/#respond Thu, 30 May 2019 11:22:24 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6614

No contragolpe que decidiu o jogo na Arena Fonte Nova e a classificação do Bahia para as quartas de final da Copa do Brasil, Artur disparou contra a defesa exposta do São Paulo e serviu Ernando. Zagueiro que apareceu na frente para tocar na saída de Tiago Volpi.

O defensor finalizando como centroavante foi a consequência do grande mérito do time de Roger Machado nos 180 minutos das oitavas do mata-mata nacional: a compactação. Para atacar e defender, na execução do 4-1-4-1. As linhas ficavam tão próximas que a distância entre Ernando e Gilberto, a referência no ataque, era de, no máximo, 30 metros.

A destacar o trabalho dos ponteiros: Artur e Elber jogaram de uma linha de fundo à outra com inteligência, bom posicionamento e intensidade. Em vários momentos recuando como laterais e formando uma barreira de seis jogadores protegendo a meta do goleiro Douglas Friedrich. Permitindo que Nino Paraíba e Moisés ficassem mais próximos de Ernando e Lucas Fonseca estreitando a marcação por dentro e impedindo as infiltrações são-paulinas pelo “funil”.

Elber cansou e deu lugar a Arhur Caike. Artur, ex-Londrina e Palmeiras, suportou o ritmo jogando de área a área durante os noventa minutos. Com o terceiro passe para gol é um dos líderes de assistências no torneio. Foi o melhor em campo na Fonte Nova.

Bahia posicionado no 4-1-4-1, mas com os ponteiros Artur e Elber voltando quase na linha de defesa para estreitar a marcação por dentro e também negar amplitude ao São Paulo. Gilberto, o atacante de referência, voltava até o campo de defesa para garantir a compactação, mas sem abrir mão de jogar (reprodução Sportv).

Retranca? Longe disso. No início do jogo, aproveitando a torcida quente, o Bahia adiantou a marcação e foi compacto na frente, dificultando a saída do adversário e pressionando. Na segunda etapa, administrando a vantagem construída no Morumbi com gol de Elber, um posicionamento mais conservador.

Natural pela diferença de capacidade de investimento, porém sempre com contra-ataque planejado. Nunca abrindo mão de jogar. Teve 34% de posse no jogo de volta, mas concluiu nove vezes, quatro na direção da meta de Tiago Volpi. Sempre pareceu mais perto da vitória.

O São Paulo de Cuca sofre com vários problemas no trabalho coletivo, sendo o maior a dificuldade de criar espaços no campo adversário. Em Salvador, o chute mais perigoso foi o de Helinho, de longe que bateu forte no travessão de Douglas. A melhor entre as 12 finalizações, oito no alvo. Em 270 minutos contra o Bahia, incluindo o empate sem gols pelo Brasileiro, nenhuma bola nas redes adversárias.

Além da falta de confiança de um time há muito tempo sem títulos existe uma dificuldade técnico-tática: Helinho, Everton, Toró, Pato, Hernanes, Nenê, Igor Gomes, Tche Tche…Jogar instalado no campo do oponente não é a deles. Precisam das brechas cedidas pelo adversário para jogar.

Tudo que o Bahia de Roger negou no confronto. Foi uma aula de compactação que matou o rival mais poderoso. De um time que sabe o que faz em campo e, com justiça, está entre os oito classificados na Copa do Brasil.

(Estatísticas: Footstats)

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Na aula ou na praia, técnicos precisam decidir o que fazer com nosso caos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/07/na-aula-ou-na-praia-tecnicos-precisam-decidir-o-que-fazer-com-nosso-caos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/07/na-aula-ou-na-praia-tecnicos-precisam-decidir-o-que-fazer-com-nosso-caos/#respond Fri, 07 Dec 2018 12:26:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5638 Mano Menezes, Dunga, Tite, André Jardine, Zé Ricardo, Emily Lima e outros estão na sala de aula da CBF no curso de Licença Pro. Renato Gaúcho alterna com a praia. Vanderlei Luxemburgo prefere o poker. Ou criar polêmica com jornalistas no seu canal no Youtube. Afinal, segundo ele, se tivesse que aparecer em qualquer curso sobre futebol seria para ensinar. Nada para aprender…

Independentemente do que cada um faz nas férias, forçadas ou não, os treinadores no Brasil precisam encontrar respostas para um grande problema brasileiro. Um dilema, talvez. O que fazer com o nosso caos de todo dia?

O primeiro cenário caótico é o do calendário. Não dá para só ficar reclamando do excesso de jogos e do tempo escasso para pré-temporada e treinamentos ao longo do ano e usar como muleta ou álibi quando as coisas não acontecem e os resultados não aparecem. Ou se unem, buscam adesão dos jogadores, os mais afetados pelo desgaste no campo, e tentam mudar com greves, protestos, o que for possível…ou procuram soluções para minimizar os danos.

Que coloquem como condição, de preferência em contrato, a utilização de um time “alternativo” na grande maioria dos jogos do estadual. Reservas e jovens fazendo transição para o profissional. Tanto para diminuir o total de jogos na temporada dos titulares quanto para entrosar uma equipe que será útil quando as partidas de Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil ficarem “encavaladas” no segundo semestre.

Aí entra outro caos: o amadorismo dos dirigentes. Os mesmos que contratam medalhões para funcionarem como escudos ou dão oportunidades aos mais jovens para mostrarem que o clube está antenado, passando uma aura de moderno. Para demitir na primeira sequência ruim de resultados. É preciso criar mecanismos de proteção no momento da contratação, quando está com mais moral e o diretor pressionado pela torcida atrás do “salvador”.

Outra saída é regulamentar um limite de troca de treinadores por temporada. Assim esse ciclo de tentativa e erro, o “vamos ver no que vai dar”, sem critério ou planejamento, por ouvir falar, será interrompido. Haveria uma melhor avaliação do perfil do profissional de acordo com a tradição do clube e as características dos jogadores. Para evitar discrepâncias como Roger Machado no Palmeiras que tende a jogar um futebol reativo ou Jair Ventura no Santos com DNA ofensivo.

Mas é dentro do campo que a questão do caos se torna mais complexa. Porque os técnicos trabalham para minimizar as aleatoriedades inerentes ao esporte e ter maior controle do jogo sem a bola, mas dependem deste mesmo caos para atacar.

Ou seja, no trabalho defensivo a missão é compactar setores, sem brechas. Concentração máxima para pressionar o adversário com a bola, fechar linhas de passe e cuidar das coberturas e dos movimentos coletivos para garantir superioridade numérica no setor em que está a bola e proteger o “funil”. Racionalidade absoluta para se organizar e evitar a “bagunça”.

Já com a bola é o inverso. Tudo fica entregue ao talento do jogador para passar, infiltrar, driblar e finalizar. Natural, é assim no mundo todo. Só que por aqui não há a preocupação de pensar na maneira de atacar para potencializar essa qualidade. Fazer com que o mais habilidoso tenha apenas um marcador pela frente.

Isso só acontece nos contragolpes. Quando o oponente cede o espaço depois que a bola sai da pressão logo após a perda e a defesa fica mais exposta. Um drible em velocidade e o caminho está aberto. Mas como, se o adversário está cada vez mais preocupado em não ceder esse campo?

Nossa tradição é de deixar as ações ofensivas para as iniciativas individuais. Muricy Ramalho até hoje, como comentarista, afirma que o treinador só deve intervir quando não há qualidade ou quando esta não está aparecendo. Seu Santos campeão da Libertadores vivia fundamentalmente dos lampejos de Neymar.

Não é só o Muricy. Nem vem de hoje essa mentalidade. O futebol brasileiro dos coletivos de onze contra onze e de jogadores que passavam uma carreira inteira no mesmo clube construía as jogadas combinadas pelo entrosamento natural de anos atuando juntos. Os próprios atletas tinham suas jogadas ensaiadas. O trabalho coletivo acontecia pela repetição, não por um estímulo.

Agora os elencos mudam o ano todo. Entradas e saídas, encontros e despedidas. Muitas contratações e vendas na janela europeia, justamente quando a temporada afunila e os jogos quarta e domingo obrigam o que acabou de chegar a se readaptar ao jogo daqui e se entender com os novos companheiros em jogos decisivos. Loucura.

Então um time deixa a posse de bola para o adversário, que não sabe o que fazer com ela além de acionar o melhor jogador da equipe. A única forma de diminuir o caos atacando é na bola parada. Cada um no seu lugar, movimentos ensaiados. Ainda assim, depende de onde a bola cai, como o oponente está posicionado, aonde vai cair o rebote, etc.

Não é apenas questão de dinheiro, da venda cada vez mais precoce de nossos talentos e da partida até dos mais velhos que se destacam, mesmo para centros periféricos como China, mundo árabe, etc. É também de falta de ideias. As semanas cheias quando só resta o Brasileiro, mesmo quando o elenco está menos sujeito a baixas, não costumam gerar avanços na execução do modelo de jogo.

O tempo faz os adversários estudarem melhor as ações de ataque mais efetivas, otimizarem o trabalho defensivo. É quando falta repertório para quem se propõe ou precisa atacar, seja pelo mando de campo, peso da camisa ou pressão da torcida. Não dá para viver de contra-ataque e bola parada.

Eis o desafio dos treinadores. Com ou sem licença ou diploma. Estudando ou no ócio criativo. É urgente que nosso jogo seja tão sentido quanto pensado. Não pode ser só raça, fechar a casinha, bola no craque do time e seja o que Deus quiser. O jogo evoluiu, com e sem a bola. Chegou a hora das soluções, porque as desculpas já conhecemos.

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Palmeiras pode se impor na América com adaptações ao estilo que já é seu http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/02/palmeiras-pode-se-impor-na-america-com-adaptacaoes-ao-estilo-que-ja-e-seu/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/02/palmeiras-pode-se-impor-na-america-com-adaptacaoes-ao-estilo-que-ja-e-seu/#respond Mon, 03 Dec 2018 01:24:15 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5616

Foto: César Greco/Folhapress

Copa do Brasil de 2015 e Brasileiros de 2016 e 2018. Os títulos do Palmeiras na Era Paulo Nobre/Crefisa tiveram Marcelo Oliveira, Cuca e Luiz Felipe Scolari no comando. Treinadores com diferenças nas visões de futebol, mas que no clube seguiram uma linha em comum pelas circunstâncias.

Um jogo mais direto, de fácil assimilação e simples execução. Marcando correndo e não posicionado, com grande desgaste físico e mental, porém crescendo em momentos decisivos, grandes jogos – final contra o Santos na competição de mata-mata. Um tanto rústico, às vezes tosco. Mas eficiente e vencedor no cenário nacional.

Estilo bem distante da Academia, de Ademir da Guia. Palmeiras não mais do Dudu volante discreto e elegante, fiel escudeiro do camisa dez eterno do clube. Mas do Dudu atacante, intenso e rápido, que chama o jogo para si e quer decidir o tempo todo. Ambos históricos.

Pode não agradar a todos e propor uma discussão profunda sobre o nível do futebol jogado no Brasil, mas no país do futebol de resultados é suficiente para dirigentes, treinadores, atletas, boa parte dos jornalistas e a grande maioria dos torcedores. Na cabeça de muitos o questionamento é simples: se venceu no mata-mata e nos pontos corridos, por que mudar?

O Palmeiras até tentou alterar a rota. Com Eduardo Baptista, Alberto Valentim e Roger Machado. Jovens treinadores com conceitos mais atuais, acreditando em um jogo elaborado, de domínio pelo controle da bola. Mas penando com problemas na gestão do grupo e/ou para fazer os jogadores assimilarem e aceitarem uma nova maneira de entender o jogo.

Na troca de Roger por Felipão, as declarações de Edu Dracena deram o tom: é melhor jogar protegido, com a última linha de defesa mais recuada, não tão exposta. A saída da defesa mais sustentada, que apela para a ligação direta assim que o adversário tenta pressionar procura um centroavante  – mais Deyverson que Borja – que disputa essa bola e tenta retê-la. Se perde, apenas ele e mais três ou quatro entraram no campo de ataque. Outros seis ou sete já estão prontos para defender. Difícil ser surpreendido em contragolpes.

Pressão no homem da bola, encaixe e perseguições impedindo jogadores livres nas tabelas, triangulações e ultrapassagens. Concentração. Bola roubada, acionamento direto e constante do pivô ou do talento maior. No caso, Dudu. Sempre partindo de uma das pontas para decidir com passes ou finalizações.

Quando o time perde a bola, pressiona, retoma e vai criando volume, mais jogadores se aproximam da área rival e aí fluem as jogadas pelos flancos com os laterais chegando e Bruno Henrique, o volante mais ofensivo na execução do 4-2-3-1, se juntando ao quarteto ofensivo.

Rodando o elenco, com mais reservas que titulares enquanto o time seguiu vivo na Copa do Brasil e na Libertadores, construiu uma campanha espetacular no Brasileiro. Invicto por 23 rodadas, melhor turno da história dos pontos corridos. Superando no saldo de gols o Corinthians do ano passado. Os mesmos 47 pontos em 57 possíveis. Impressionantes 82% de aproveitamento. Campeão só na penúltima rodada por conta dos muitos tropeços no turno com Roger e pela campanha do vice Flamengo – 72 pontos que garantiriam títulos em outras edições do campeonato, inclusive a de 2009, vencida pelos rubro-negros.

Primeira conquista de Felipão por pontos corridos no Brasil. Delegando mais poderes, liderando o vestiário de forma mais leve e serena, contando com Paulo Turra na montagem dos treinamentos. Mas ainda essencialmente Felipão.

Para 2019,  a Libertadores novamente como meta. Para buscar o tão sonhado título mundial nos moldes atuais da FIFA para sepultar de vez as provocações dos rivais. A impressão que a eliminação para o Boca Juniors na semifinal do torneio continental deixou é de que a maneira de jogar está ultrapassada numa disputa em nível mais alto e não é suficiente para vencer além das fronteiras do país. Mas talvez com alguns ajustes as chances aumentem.

Na derrota por 2 a 0 na Bombonera, o Palmeiras tentou controlar o jogo negando espaços ao time xeneize e buscando as transições ofensivas rápidas. Teve 43% de posse, acertou 242 passes. Mas efetuou 53 lançamentos e errou 40 porque eram ligações diretas com muito mais chances para os defensores. Também 56 rebatidas. Ou seja, foi um time de chutões. De positivo, os 24 desarmes corretos contra 15.

No triunfo com Roger sobre o mesmo Boca na fase de grupos, 302 passes num universo de 48% de posse, 12 finalizações contra 11 , 17 desarmes certos, mas 11 lançamentos certeiros de 36 e só 37 rebatidas. Por mais que haja diferenças óbvias de pressão, mobilização e espírito num mata-mata, são números que deixam lições.

Qual o aprendizado possível? O que Felipão já disse em coletivas desde a eliminação: tentar ficar mais com a bola. Mesmo que seja através de passes simples, com jogadores próximos. Para acalmar o jogo, respirar, pausar. Há jogadores com qualidade no fundamento para isto no meio-campo: Felipe Melo, Bruno Henrique, Moisés, Lucas Lima, Gustavo Scarpa…Basta adaptar a proposta e estimular os atletas a fazerem a leitura do momento certo para tirar velocidade, quebrar o “bate-volta”.

Já a eliminação para o Cruzeiro na Copa do Brasil, também na semifinal, teve um contexto diferente: primeiro jogo em São Paulo, mas o gol de Barcos logo no início. Diante do time de Mano Menezes, especialista na organização defensiva, o Palmeiras sofreu para criar espaços. Teve 66% de posse, finalizou 19 vezes, nove no alvo. Mas faltou preparar as chances mais cristalinas para ao menos empatar. Cruzou 37 vezes na área cruzeirense. Descontando a polêmica na disputa de Dracena com o goleiro Fabio que a arbitragem viu falta no final da partida, a equipe de Scolari produziu pouco.

Um número chama atenção: apenas três tentativas de viradas de jogo, duas bem sucedidas. Diante de um sistema defensivo com linhas compactas e atenção aos movimentos, virar o jogo tirando da zona de maior pressão na marcação para achar um Dudu com mais liberdade para o confronto direto com o marcador é o cenário desejado. O Palmeiras está acostumado a acelerar. Podemos chamar até de “vício”. Há qualidade para fazer diferente.

Basta querer e treinar certo. Missão para Felipão, Turra e comissão técnica. Se o estilo tem agradado por garantir taças não é preciso renegá-lo, só torná-lo mais versátil e adaptável às demandas. Como pede o futebol atual no mais alto nível. Com Marcelo Oliveira e Cuca, o Alviverde ficou bem distante do sonho da América. Já Felipão chegou mais perto.

Polindo, ajustando e incrementando um pouco o repertório conforme a necessidade é possível dar o tão esperado passo para dominar também o continente com o estilo que já é seu.

A Libertadores já premiou times propositivos e reativos. Superataques e retrancas. Também equipes “mutantes” ou “camaleões”. Entregou duas taças a Scolari nos anos 1990. Por que não outra a um Felipão “renovado” em 2019?

(Estatísticas: Footstats)

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São Paulo de Jardine sofre com dilema: como mudar de estilo sem treinar? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/23/sao-paulo-de-andre-jardine-sofre-com-dilema-como-mudar-de-estilo-sem-treinar/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/23/sao-paulo-de-andre-jardine-sofre-com-dilema-como-mudar-de-estilo-sem-treinar/#respond Fri, 23 Nov 2018 10:40:07 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5561

Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net

Em conversa informal recente com este blogueiro, Roger Machado ressaltou o maior dilema dos treinadores que tentam algo diferente no futebol brasileiro: mudar comportamentos sem tempo para treinar dentro do nosso calendário inchado. Mais complicado ainda quando esses automatismos do jogador vêm desde as divisões de base.

Roger citou o exemplo de um atleta sob seu comando que recebeu insistentemente orientações para guardar seu posicionamento na ponta às costas do lateral adversário. Se este descesse, a marcação estaria pronta para fechar os espaços, evitar a superioridade numérica e, ao recuperar a bola, acionar rapidamente o atacante com espaço para acelerar e só parar na área do oponente.

No campo, porém, o ponta voltava com o lateral e o time perdia a referência para os contragolpes. No intervalo, Roger foi conversar com o jogador e ele respondeu: “professor, eu sei o que você me pediu. Mas meu corpo corre instintivamente para colar no lateral porque eu faço isso desde garoto”.

Há décadas nosso jogo é baseado em confrontos individuais. Ponta contra lateral, volante contra meia, zagueiro contra centroavante. Indo e voltando, com perseguições mais ou menos longas. Marcação que prioriza o homem em detrimento do espaço.

Ainda que Zezé Moreira tenha sido um dos pioneiros da marcação por zona nos anos 1950 como discípulo do treinador húngaro Dori Kruschner. Só com a ascensão de Tite no Internacional e depois no Corinthians é que a velha lógica sem a bola foi resgatada e atualizada, mas à base de muito trabalho e convencimento dos comandados.

E assim chegamos ao São Paulo, que sai de Diego Aguirre para André Jardine. modelos de jogo diametralmente diferentes. Para piorar, o próprio clube hoje não tem uma identidade. As duas referências, Telê Santana e Muricy Ramalho, embora tenham trabalhado juntos no início e este trate aquele como grande referência, na prática são ideias opostas. Ofensiva e reativa. Este embate, ainda que inconsciente, existe até na direção do futebol, com Raí e Ricardo Rocha dos tempos de Telê e Diego Lugano, campeão com Muricy.

Jardine recebeu o time e tem cinco partidas para melhorar desempenho e alcançar resultados com o objetivo de se manter no projeto para 2019. Ainda com o compromisso de afirmar seu estilo, deixar uma “assinatura”.

Missão inglória, principalmente pela falta de tempo para treinar. Ou seja, é preciso mudar hábitos na conversa, com auxílio de vídeos e uma ou outra sessão de treinamentos. Sair de uma proposta reativa, baseada na velocidade pelos flancos e nas jogadas aéreas com bola parada ou rolando definindo rapidamente os ataques, para um trabalho com posse de bola, compactações defensiva e ofensiva, pressão depois da perda, paciência para movimentar e trocar passes até infiltrar e finalizar.

Mudar a lógica, ainda que tenham o espaço como referência e não o homem. É preciso trocar o sistema inteligente com o carro em movimento e precisando cumprir metas a curtíssimo prazo. A oscilação seria mais que natural e até esperada, mesmo com a motivação natural pela troca de comando.

Foi o que aconteceu em São Januário na derrota por 2 a 0 para o Vasco. Com 68% de posse de bola, 378 passes trocados e nove finalizações, a rigor teve duas grandes oportunidades: uma no belo chute do lateral Reinaldo que passou muito perto da trave esquerda de Fernando Miguel, que já estava sem reação no lance, e na defesa espetacular do goleiro cruzmaltino em cabeçada de Rodrigo Caio. Na bola parada, já dentro de um abafa final no desespero buscando o empate.

Poucas infiltrações em jogadas trabalhadas. Para piorar, Jucilei errou passe fácil com a equipe saindo do posicionamento defensivo para a transição ofensiva e Andrey aproveitou o desequilíbrio para bater forte e o goleiro Jean aceitar o chute de longe no primeiro gol. Com o time escancarado já nos acréscimos, o pivô de Maxi López encontrou Yago Pikachu livre para definir o jogo.

A reação ensaiada no empate contra o Grêmio e na vitória sobre o Cruzeiro, ambos no Morumbi, travou no Rio de Janeiro contra o Vasco. Faltam duas partidas: Sport no Morumbi e Chapecoense na Arena Condá. Confrontos com times desesperados na luta para se manter na Série A, que devem optar por um jogo mais físico e reativo. Atraindo para explorar espaços às costas da defesa tricolor.

Missão complicada para André Jardine e seus conceitos. Pelo menos entre os jogos haverá uma semana para treinamentos. Será suficiente para assimilar tantas ideias novas? Como diz Roger Machado, o relógio está sempre contra quem não opta pelo futebol mais simples. O São Paulo é só mais um clube que não entende e respeita processos e desafia o tempo. Quase sempre não funciona e seguimos insistindo.

(Estatísticas: Footstats)

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