ronaldinho – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Volta de Fred ao Flu vale pelo ídolo, mas pode repetir “flop” de Ronaldinho http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/06/volta-de-fred-ao-flu-vale-pelo-idolo-mas-pode-repetir-flop-de-ronaldinho/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/06/volta-de-fred-ao-flu-vale-pelo-idolo-mas-pode-repetir-flop-de-ronaldinho/#respond Sat, 06 Jun 2020 07:00:05 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8606

Foto: Lucas Merçon / Fluminense

O retorno de Fred ao Fluminense teve “tour solidária”, com o ídolo tricolor pedalando e arrecadando doações em tempos de pandemia. Mesmo aos 36 anos e sendo um dos personagens do rebaixamento do Cruzeiro, o atacante ainda desfruta de visibilidade e gera repercussão e engajamento.

Neste sentido é válido para o clube carioca. A mobilização da torcida em torno do maior artilheiro do clube no século, campeão brasileiro em 2010 e 2012 e referência de 2009 a 2016 pode ser fundamental em um momento de crise sem precedentes no futebol nacional. A iniciativa do jogador de receber dois salários mínimos até o início do Brasileiro e o plano do Flu de torná-lo um embaixador do clube também são positivos. Mesmo em um contexto de salários atrasados e complexo cenário econômico.

A grande questão é como vai se dar o encaixe do centroavante na equipe comandada por Odair Hellmann. Um Fluminense que se ajustava no início da temporada combinando a criatividade e a experiência de Nenê com a rapidez e a intensidade de Wellington Silva, Marcos Paulo e Fernando Pacheco pelos flancos e Evanilson no centro do ataque. Muitas vezes com o centroavante voltando para ajudar sem bola e Nenê “descansando”. Ganso seria a reposição a Nenê, mas numa função mais de organização no meio que criação no ataque.

Odair inicialmente deve encaixar Fred na frente com Nenê por trás em um 4-2-3-1. A solução, porém, tende a sacrificar os ponteiros, que terão que voltar sem bola para formar uma linha de quatro com os dois volantes – Henrique, Hudson e Yago Felipe disputam as vagas. Necessidade da equipe, até porque os laterais Gilberto e Egídio não são exatamente exímios defensores.

Ou colocar muita intensidade na pressão logo após a perda da bola. O problema é que eles também serão a referência de velocidade e de profundidade para atacar os espaços às costas da defesa adversária. Fred faz a parede, Nenê lança e quem infiltra? Aquele que fez pressão no oponente ou veio de trás porque estava protegendo as laterais.

Uma formação possível do Fluminense com Fred: 4-2-3-1 com Nenê ganhando liberdade e os dois sacrificando os ponteiros que precisam recompor, pressionar e ainda acelerar e buscar os espaços às costas da defesa adversária (Tactical Pad).

É o dilema de escalar dois jogadores mais lentos e menos intensos na frente. A mesma dificuldade que o próprio Fluminense enfrentou em 2015 para encaixar Ronaldinho Gaúcho. Outro que mobilizou e atraiu holofotes para o clube, mas entregou pouco no campo. Não só pelas próprias dificuldades de se manter concentrado e disposto a competir, mas porque o ajuste do time para abrigar o talento do novo camisa dez ao lado de Fred comprometeu o trabalho coletivo.

Enderson Moreira e Eduardo Baptista tiveram que exigir de jogadores como Marcos Júnior, Osvaldo, Gustavo Scarpa e Cícero um esforço hercúleo para defender e atacar com intensidade máxima, quase de uma linha de fundo à outra. Uma missão inglória no futebol atual, que já exige demais fisicamente com todos se entregando. Imagine precisando compensar dois homens.

Se houver compreensão com a necessidade de rodar o elenco, Odair pode mudar a equipe, colocar estrelas no banco e utilizá-las em momentos específicos. As cinco substituições agora permitidas podem ajudar. E a combinação de juventude e experiência é sempre saudável na formação de uma equipe.

Mas o risco de “flop” existe. Mesmo para um ídolo como Fred, que parece feliz e motivado. Bom para ele, vejamos se será positivo também para o Fluminense onde mais importa: no campo.

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São Paulo não venceu melhor da Europa em 2005, mas méritos são inegáveis http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/24/sao-paulo-nao-venceu-melhor-da-europa-em-2005-mas-meritos-sao-inegaveis/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/24/sao-paulo-nao-venceu-melhor-da-europa-em-2005-mas-meritos-sao-inegaveis/#respond Sun, 24 May 2020 20:49:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8542

Foto: Martin Rickett / Getty Images

Em dezembro de 2005, o melhor time da Europa já era o Barcelona de Ronaldinho. Líder do Espanhol, melhor campanha da fase de grupos da Liga dos Campeões 2005/06, superando Arsenal e Lyon no saldo de gols. Em novembro, massacrara o Real Madrid de Vanderlei Luxemburgo no Santiago Bernabéu por 3 a 0, na memorável atuação do brasileiro camisa dez blaugrana, que arrancou aplausos da torcida do maior rival. Ao final da temporada seria campeão nacional e europeu, no auge do trabalho de Frank Rijkaard no comando técnico.

Mas o Liverpool de Rafa Benítez era forte. Na Premier League, caçava o líder Chelsea, campeão da temporada anterior e comandado por José Mourinho. Os Blues também foram adversários dos Reds na fase de grupos da Champions. Empataram em 0 a 0 os dois jogos. O time vermelho vinha de uma invencibilidade de 11 jogos, sem sofrer gols, e carregavam uma confiança quase inquebrantável por conta da reação na final contra o Milan, saindo de um 3 a 0 contra, empatando e vencendo nos pênaltis. O “Milagre de Istambul”.

Na semifinal do Mundial, passaram com facilidade pelo Deportivo Saprissa, o surpreendente time da Costa Rica que vencera a Liga dos Campeões da CONCACAF. Três a zero e o campeão europeu carregava um favoritismo natural para a segunda edição do torneio organizado pela FIFA. O retrospecto recente, nos dez anos de 1995 a 2005, já mostrava um domínio do Velho Continente: foram oito conquistas a três, considerando as duas edições de 2000.

Também porque o São Paulo enfrentara mais dificuldades contra o Al-Ittihad na vitória por 3 a 2. O campeão da Libertadores que, depois do título sul-americano, passou o segundo semestre oscilando, chegou a flertar com a zona de rebaixamento no Brasileiro, mas terminou na 11ª colocação. Exatamente o meio da tabela na edição com 22 clubes.

Justificava os cuidados defensivos da equipe comandada por Paulo Autuori na final em Yokohama, reprisada pela TV Globo neste domingo, para São Paulo. Especialmente depois do gol de Mineiro, aos 27 minutos do primeiro tempo. O auge do único momento real de equilíbrio na partida.

O Liverpool, que fazia um jogo mais direto, terminou com 53% de posse porque impôs seu volume de jogo, buscando Morientes e Luis Garcia nas ligações diretas e jogo aéreo. Finalizou 21 vezes contra apenas quatro dos sul-americanos. Oito a dois na direção da meta.

Três ataques que terminaram com a bola nas redes bem anulados pela arbitragem, atuação portentosa de Rogerio Ceni, especialmente na antológica defesa em cobrança de falta de Steven Gerrard. Já ídolo e líder em Anfield, grande destaque da equipe inglesa que empurrou o São Paulo para um 5-2-2-1 com os alas Cicinho e Junior mais recuados e Josué e Mineiro se desdobrando à frente da defesa. Amoroso e Danilo ajudavam a fechar espaços e Aloísio, depois Grafite, lutando sozinho contra os zagueiros Carragher e Hyypia.

O São Paulo se virou como pôde e teve méritos inegáveis. O maior deles foi o de resistir. Sem vergonha de se reconhecer inferior na partida e defender a vantagem conquistada. No final, a justa celebração apoteótica, no Japão e no Brasil.

Porque definitivamente não venceu qualquer um no tricampeonato mundial inédito para brasileiros e, por isso, histórico.

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Fracasso da seleção “Joga Bonito” em 2006 começou com ilusão no Mangueirão http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/18/fracasso-da-selecao-joga-bonito-em-2006-comecou-com-ilusao-no-mangueirao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/18/fracasso-da-selecao-joga-bonito-em-2006-comecou-com-ilusao-no-mangueirao/#respond Sat, 18 Apr 2020 08:39:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8316

Foto: Evaristo Sá / AFP Photo

É preciso dar nome aos bois. Foram os perfis do Esporte Interativo no Facebook e no Twitter que começaram a onda de saudosismo com a seleção brasileira de 2006. Difícil entender  a razão, mas foi lá. Talvez uma espécie de “efeito rebote” dos 7 a 1 de 2014.

Muito já foi dito sobre o fracasso do grande favorito, o time do slogan “Jogo Bonito”. Que ganhou tudo depois do título mundial em 2002: Copa América (com reservas), Eliminatórias e Copa das Confederações. Menos o principal, na Alemanha.

Por isso é preciso contextualizar, resgatar a história com informação precisa. Justamente para entender que o período de futebol exuberante foi bastante efêmero, embora impactante e capaz de despertar emoções que andavam adormecidas. Talvez desde o recital de Romário contra o Uruguai em 1993 garantindo vaga no Mundial dos Estados Unidos, com favoritismo imediato acoplado. Ou o encantamento em 1982, para os mais velhos.

Temos que voltar ao dia 20 de maio de 2004, no Stade de France, em Paris. Ao jogo comemorativo do centenário da FIFA. Aquele dos uniformes que replicavam modelos do passado, de um lendário domínio de Zidane saltando e aconchegando a bola no peito. Do empate sem gols.

Também da seleção comandada por Carlos Alberto Parreira com Juninho Pernambucano, usando a camisa dez, e Zé Roberto no meio-campo, Kaká e Ronaldinho, este com a camisa sete, mais adiantados encostando em Ronaldo Fenômeno. Isso soa familiar, não?

O 4-3-1-2 brasileiro em 2004 contra a França: Juninho e Zé Roberto atrás de Kaká, que encostava na dupla de Ronaldos na frente. Cafu e Roberto Carlos faziam os corredores pelos flancos (Tactical Pad).

Desenho tático que dava mais liberdade à então estrela reluzente Ronaldinho e exigia um pouco mais taticamente do Kaká em ascensão no Milan. Que continuava dependendo fundamentalmente de Cafu e Roberto Carlos – o primeiro com 34 anos, o outro com 29 – para abrir o campo e chegar à linha de fundo.

O desempenho coletivo não empolgava e os resultados eram apenas razoáveis nas eliminatórias. Cinco vitórias, cinco empates e uma derrota para o Equador por 1 a 0 na despedida da temporada. O grande momento com os titulares foi contra a Argentina, no Mineirão, com os três pênaltis sofridos e convertidos por Ronaldo. Com Juninho, Zé Roberto e Kaká no meio, mas Luís Fabiano fazendo companhia ao Fenômeno na frente na vitória por 3 a 1.

Seguiu monótono e burocrático no início de 2005 com uma vitória magra sobre o Peru no Serra Dourada, gol de Kaká. Com a substituição que foi uma espécie de ensaio para o que viria: saiu Juninho Pernambucano, entrou Robinho. Desfazendo o 4-3-1-2/4-3-2-1 e indo para o 4-2-2-2.

Contra o Uruguai em Montevidéu, com Ricardo Oliveira se juntando a Ronaldo na frente, mas dando lugar a Robinho. Empate por 1 a 1. O suficiente para amadurecer Parreira, que no jogo seguinte arriscou o sistema mais ousado que variava naturalmente em campo para o 4-2-3-1 pela mobilidade de Robinho, se juntando a Kaká e Ronaldinho no apoio a Adriano, o substituto de Ronaldo em Porto Alegre.

Os 4 a 1 empolgaram Parreira, que repetiu a ousadia no Monumental de Nuñez. Mas a sede de revanche dos argentinos ajudou a construir os 3 a 1, na última derrota brasileira naquelas eliminatórias. No dia oito de junho, a oito dias da estreia na Copa das Confederações contra a Grécia.

Sem Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo. Com Cicinho, Gilberto e Adriano. Campanha oscilante, com boa estreia nos 3 a 0 sobre os gregos, mas derrota por 1 a 0 para o México e empate por 2 a 2 com o Japão. Segunda colocação do grupo, confronto com a anfitriã Alemanha na semifinal.

E Adriano, já “Imperador” na Internazionale e com moral por ter sido decisivo na conquista da Copa América com o gol salvador sobre a Argentina, ganhou de vez a confiança de Parreira com dois gols nos alemães e mais dois sobre a mesma albiceleste.

Nos 4 a 1 tratados como um marco daquela seleção. A despeito do desgaste e dos desfalques dos grandes rivais, de fato a seleção apresentou futebol de alto nível com momentos de arte, como na longa troca de passes até o cruzamento de Cicinho na cabeça de Adriano.

O “click” se deu com a movimentação na frente que preenchia melhor os espaços: Adriano, ao contrário de Ronaldo, procurava o lado direito para cortar para dentro e finalizar. Isso permitia que Robinho e Ronaldinho se alternassem à esquerda e Kaká circulasse com liberdade. Com vitalidade nas laterais, o jogo ficou mais fluido.

A formação que venceu a Copa das Confederações, com Robinho se mexendo no quarteto com Kaká, Ronaldinho e Adriano e mais o apoio dos laterais Cicinho e Gilberto (Tactical Pad).

A expectativa, então, era como seria com a volta dos titulares. Contra o Chile não foi possível pela suspensão de Ronaldinho. O Fenômeno entrou na frente, com Robinho recuando para fazer dupla com Kaká na criação. O espetáculo nos 5 a 0 empolgaram o Mané Garrincha e muitos brasileiros. Este que escreve se lembra de receber “scraps” de amigos mais jovens no finado Orkut perguntando: “era assim em 1981/1982?”

Com três gols, Adriano virou titular absoluto e Parreira enxergou a viabilidade do “quarteto mágico” contar com o Imperador e Ronaldo na frente. Apesar da loucura de alguns torcedores e comentaristas que sonhavam com um quinteto que incluiria Ronaldinho e Robinho, o treinador sabia que um teria que ficar de fora.

Na despedida das eliminatórias, dos estádios brasileiros e dos jogos oficiais em um ano mais que vencedor, a primeira oportunidade de escalar Kaká e Ronaldinho no meio, Adriano e Ronaldo na frente. Também a chance de terminar com mais uma conquista, ainda que simbólica: a liderança na disputa sul-americana, pelo saldo de gols, em caso de vitória sobre a Venezuela em Belém e uma derrota da Argentina, já classificada, para o Uruguai que lutava pela quinta vaga, a da repescagem, com a Colômbia.

Deu tudo certo em Montevidéu com os uruguaios marcando 1 a 0. Também no Mangueirão, com os 3 a 0 sobre o frágil adversário, antepenúltimo colocado. Sem atuação de gala,com o quarteto centralizando demais o jogo. O suficiente, porém, para convencer Parreira que a base para o Mundial estava montada. Foi o erro capital. O jogo da ilusão.

Com Kaká e Ronaldinho na articulação e Adriano e Ronaldo na frente, uma seleção engessada, que centralizava demais o jogo e necessitava de seus laterais veteranos para abrir o campo – note Cafu bem aberto no canto inferior direito (reprodução TV Globo).

Porque a convicção foi alimentada pelo amistoso “inconclusivo” contra a Rússia em março – vitória por 1 a 0, gol de Ronaldo. E as “carnes assadas” Luzern, da Suíça, e Nova Zelândia, já na preparação para a Copa, que começou com a bagunça em Weggis.

É óbvio que o desgaste de Ronaldinho na temporada europeia com título da Champions, a queda vertiginosa de rendimento de Adriano e os problemas físicos de Ronaldo contribuíram, mas o fato é que a seleção ficava engessada no 4-2-2-2. Cafu e Roberto Carlos não conseguiam mais entregar tanta eficiência e vigor jogando de uma linha de fundo à outra e Zé Roberto era sobrecarregado cobrindo o enorme buraco no meio.

Porque Parreira queria Kaká bem aberto à direita, como exigiu de Raí em 1994. O mesmo com Ronaldinho do lado oposto, na esperança que ele brilhasse adotando posicionamento parecido com o do 4-3-3 do Barcelona de Frank Rijkaard. Não podia dar certo. O fato é que a mobilidade de Robinho alternando pelos flancos era mais que necessária.

Ficou claro no terceiro jogo do Mundial, depois dos triunfos sem nenhum brilho sobre Croácia por 1 a 0, gol de Kaká, e por 2 a 0 sobre a Austrália – Adriano e Fred. Mesmo considerando a fragilidade do Japão treinado por Zico, a seleção ficou mais solta com as mudanças de Parreira: Cicinho e Gilberto nas laterais, Gilberto Silva e Juninho Pernambucano no meio e Robinho se juntando a Kaká, Ronaldinho e Ronaldo, que marcou dois gols e ficou a um do recorde em Copas do Mundo.

O 15º tento veio no início das oitavas contra Gana, aproveitando bela assistência de Kaká. Com a volta de Adriano, forçada por uma lesão de Robinho, e o quarteto engessado. Mas deu para o gasto, especialmente pela atuação fantástica de Zé Roberto, autor do terceiro gol. Nas quartas, o reencontro com a França do redivivo Zidane, que foi às redes contra a Espanha e sonhava se aposentar como bicampeão mundial.

Robinho se recuperou, mas não para noventa minutos. Sem confiança em Adriano, Parreira cometeu seu último equívoco no ciclo como treinador da seleção: resgatar o que não deu certo e precisou mudar lá em 2004: Juninho Pernambucano entrando no meio-campo com Gilberto Silva, substituto do lesionado Emerson, e Zé Roberto. Kaká na ligação e Ronaldinho se juntando a Ronaldo na frente.

O mesmo 4-3-1-2 do amistoso em Paris dois anos antes. Mas diante dos Bleus mais concentrados e coordenados, com Ribéry e Malouda negando espaços a Cafu e Roberto Carlos, Makelele e Vieira cuidando de Kaká e Ronaldinho e Zinedine Zidane flutuando em campo e humilhando quem aparecesse na frente. Inclusive com chapéu em Ronaldo.

O 1 a 0 com gol de Henry saiu barato. A única finalização na direção da meta de Barthez foi de Ronaldo, aos 45 minutos do segundo tempo. Já com Adriano na vaga de Juninho, Robinho na de Kaká e Cicinho no lugar de Cafu. Era tarde e o Mundial se encerrou para o Brasil com Ronaldinho como grande decepção. Uma caricatura do melhor do planeta, aquele que ameaçava concorrer ao Olimpo de Pelé e Maradona.

Frustração que provocou mudanças como a invenção de Dunga como treinador, para impor disciplina e evitar a farra de Weggis. A volta do capitão de 1994 sepultava o sonho de resgatar 1970 com os craques que não conseguiram brilhar coletivamente.

Deixa saudades talvez pela reunião dos Bolas de Ouro – incluindo Kaká, que venceria em 2007 – antes da Era Messi x Cristiano Ronaldo. Mas como time era inviável, mesmo há 14 anos. E o jogo pouco comentado em outubro no Mangueirão pesou mais que os 4 a 1 sobre a Argentina em Frankfurt.

Os colegas do Esporte Interativo não devem se lembrar. Memória afetiva e, por isso, seletiva. Compreensível.  Ainda mais com as derrotas que viriam depois, com Neymar como estrela solitária e sem chances nas premiações individuais. Seja como for, é preciso reconhecer: em 2005 foi mais lúdico e divertido mesmo.

 

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O que tem faltado à seleção brasileira desde 2002? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/22/o-que-tem-faltado-a-selecao-brasileira-desde-2002/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/22/o-que-tem-faltado-a-selecao-brasileira-desde-2002/#respond Sun, 22 Mar 2020 13:12:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8186

Foto: Arquivo / CBF

“O Brasil não pode estar tantos sem ser campeão mundial”. Palavras de Jorge Jesus em entrevista ao canal Fox Sports.

Em 2022 serão vinte anos. Menos que os 28 entre 1930 e 1958 e os 24 que separaram as Copas no México e nos Estados Unidos. Mas, de fato, muito tempo para quem costuma ser competitivo até quando não vive seus melhores momentos.

Pode ser algo natural, como a Alemanha que ficou de 1990 a 2014 sem a conquista, mesmo chegando à decisão em 2002 e sendo semifinalista nas duas Copas seguintes, uma delas em casa. Ou a sinalização de que a Europa está levando para o universo de seleções a superioridade que ostenta entre os clubes. Em técnica, tática e gestão, não bastando mais aos sul-americanos contar com os craques.

Desde 2012, um sul-americano não conquista o Mundial de Clubes. Desde 2002, os europeus vencem os Mundiais. Dois na Europa (Alemanha e Rússia), mas um na África (do Sul) e outro no Brasil. Único país sul-americano vencedor no Velho Continente em 1958 e que sediou o primeiro Mundial na América conquistado por um europeu.

Observando caso a caso, porém, é possível notar que tem faltado “timing” à seleção brasileira. Em 2005, 2009, 2013 e 2017, anos anteriores às Copas, viveu momentos melhores que na “hora da verdade”. Objetivamente, a campeã mundial não costuma ser a melhor do ciclo de quatro anos, mas a que sobrevive nas circunstâncias daquele mês de disputa.

O problema é que não há como mensurar isso, muito menos planejar. Pior ainda no Brasil, em que se cobra resultados da seleção até em amistosos. A ponto de Dunga tratar os primeiros jogos de 2014, ainda com o trauma dos 7 a 1, como verdadeiras finais. Muitas vezes deixando as substituições naturais de uma partida que não vale pontos para o final, ganhando tempo e administrando a vitória.

Ou Tite tratando o primeiro confronto contra os alemães depois do “Mineirazo”, a menos de três meses do Mundial, como uma final de Copa e também fazendo substituições no final para garantir a vitória por 1 a 0, gol de Gabriel Jesus. Superestimando uma Alemanha já sinalizando uma queda que se concretizaria na Rússia, com eliminação na primeira fase.

O país pentacampeão precisa ganhar sempre. E as eliminatórias sul-americanas acabam sendo tratadas como uma Copa de pontos corridos. Melhores campanhas para as Copas de 2006, 2010 e 2018. O que significaram? Grupos praticamente fechados, um trabalho torto de “manutenção” que tirou os desafios e acomodou os titulares absolutos. Sem contar a chance que dá para os adversários estudarem os padrões para anulá-los.

Em 2018, algo suis generis. Uma mudança na proposta de jogo dentro das necessidades de dois fatos não planejados: a queda de rendimento de Renato Augusto, seguido de problemas físicos, e a dificuldade para furar a linha de cinco na defesa da Inglaterra praticamente reserva no empate sem gols em Wembley.

Era novembro de 2017 e Tite resolveu criar uma nova maneira de atacar, mais posicional. Abriu Willian na ponta direita, colocou Daniel Alves para articular por dentro, centralizou Coutinho e ficou sem um organizador no meio, que era Renato Augusto, além de quebrar a mobilidade que existia com Coutinho vindo da direita para dentro na execução do 4-1-4-1 das eliminatórias.

Não foi isso que decretou a eliminação para a Bélgica, mas as atuações apenas razoáveis na primeira fase e nas oitavas contra o México abalaram a confiança que desmoronou no primeiro tempo do duelo com o gol contra de Fernandinho, substituto do pilar Casemiro, e o segundo de Kevin De Bruyne. A reação na segunda etapa com bombardeio contra a meta de um inspirado Courtois não foi suficiente para a virada.

De 2005 a 2013, outro fator que aumentou a impressão de que estava tudo certo e bastava esperar 12 meses, sem evolução, apenas para confirmar o hexa: a Copa das Confederações. Ou das ilusões.

Em 2005, uma Argentina desfalcada e exausta. Em 2009, a favorita Espanha tropeçando contra os Estados Unidos na semifinal e, quatro anos depois, a mesma Roja caminhando para um fim de ciclo e sem levar o torneio muito a sério tomando um 3 a 0 no Maracanã que criou o delírio coletivo de “O campeão voltou!”

O exemplo de 2002 também não é o melhor. Troca de comando técnico um ano antes, crise na eliminação para Honduras na Copa América e classificação sofrida na última rodada das eliminatórias. O acaso acabou protegendo bastante o Brasil na trajetória até o título na Ásia.

Primeiro a gratidão de Luiz Felipe Scolari acima da convicção. Aliviado por não ser o primeiro treinador a deixar o time canarinho fora de um Mundial, o técnico, ainda no vestiário do Castelão depois dos 3 a 0 sobre a Venezuela, prometeu que os onze que entraram em campo estariam na lista final.  Oito entrariam em campo na estreia contra a Turquia.

Três mudanças: Cafu, que entrou na vaga de Beletti, e dois do trio ofensivo – Ronaldinho Gaúcho, que até entrou no decorrer do jogo em São Luis, e Ronaldo Fenômeno, que se recuperava de gravíssimas lesões no joelho direito. O trio de “R’s”, com Rivaldo, era uma ideia de Felipão antes mesmo de assumir o comando técnico da CBF.

Em Porto Alegre, o treinador vira, sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, o trio destruir a Argentina em 1999 num amistoso que terminou 4 a 2. Bastou posicionar Ronaldinho mais perto dos meio-campistas e Rivaldo próximo de Ronaldo para dar liga de vez.

Encaixe que se deu a partir das quartas contra a Inglaterra. Antes, sofrimento com uma equipe desequilibrada, que perdera o capitão Emerson lesionado na véspera da estreia e posicionou Gilberto Silva mais próximo do trio de zagueiros para dar liberdade aos alas Cafu e Roberto Carlos, o meia Juninho Paulista e o trio de ataque com posicionamento mais fixo: Ronaldinho e Rivaldo nas pontas, Ronaldo de centroavante. A ideia era emular o 3-3-1-3 de Marcelo Bielsa na Argentina.

Com Kleberson mudando o complicado duelo contra a Bélgica nas oitavas, Felipão rearrumou a equipe em um 3-5-2 que mantinha a variação com Edmilson adiantando como volante quando o adversário atuava com apenas um atacante. Mas dando liberdade de vez ao trio que acabou desequilibrando na reta final.

Uma Copa um tanto suis generis, com as favoritas França e Argentina saindo na primeira fase – muito pelo desgaste da temporada europeia que não sacrificou Ronaldo e Rivaldo, vindo de lesões – e arbitragens para lá de suspeitas. A mais escandalosa nas quartas favorecendo a anfitriã Coreia do Sul contra a Espanha. Mas também beneficiando o Brasil, como no pênalti mais que “mandrake” sobre Luizão nos 2 a 1 sobre a Turquia na fase de grupos e o gol anulado de Marc Wilmots para a Bélgica, ainda com zero a zero no placar.

Mas não tira os méritos da conquista. O Brasil foi a melhor seleção naquele mês de junho. Como precisa ser no final de 2022, se houver Mundial no Catar em um cenário de pandemia e eventos esportivos empurrados para frente no mundo todo.

A questão é como construir uma trajetória de evolução constante até a Copa. Como fizeram, por exemplo, Espanha e Alemanha. A Roja em um ciclo que duraria até a Euro de 2012, os alemães persistindo com o trabalho de Joachim Low mesmo sem conquistas durante todo o período.

Tite terá tempo para refletir. Não se sabe como será o futebol depois da pandemia. A pausa, inclusive, não foi tão boa para a estrela maior, Neymar, de novo em alta com a classificação do PSG para as quartas da Liga dos Campeões.

A missão será inglória em qualquer cenário. Para encerrar o jejum que não é tão inaceitável como Jorge Jesus enxerga. Mas é claro que incomoda.

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Neymar é o melhor jogador brasileiro pós-Pelé, mas não o maior http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/13/neymar-e-o-melhor-jogador-brasileiro-pos-pele-mas-nao-o-maior/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/13/neymar-e-o-melhor-jogador-brasileiro-pos-pele-mas-nao-o-maior/#respond Wed, 13 Feb 2019 13:31:00 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5915

Imagem: Reprodução Placar

A edição especial de fevereiro da revista Placar rende homenagem aos 10 anos de carreira de Neymar no futebol profissional celebrando o craque do PSG como “o maior jogador brasileiro pós-Pelé”. Será?

Quem lê este blog sabe que aqui não há perseguição ao camisa dez da seleção brasileira e do Paris Saint-Germain. Pelo contrário, os textos procuram situar bem no contexto do futebol nacional e mundial a estrela solitária do país cinco vezes campeão do mundo.

Aliás, este é um fator a ser considerado na análise. Todos os nossos protagonistas sempre tiveram alguém para dividir responsabilidades e holofotes: o jovem Pelé teve Didi e Garrincha, em 1970 o veterano camisa dez dividiu com Gerson, Tostão, Rivelino e Jairzinho os méritos pelo tricampeonato mundial. Depois Rivelino viu Zico surgindo, mais tarde o Galinho seria a estrela junto com Sócrates e Falcão na equipe de Telê Santana.

No México, Careca surgiu como protagonista e logo ganhou a companhia de Romário e Bebeto, destaques do tetra em 1994. Depois Ronaldo Nazário com Rivaldo e em seguida Ronaldinho Gaúcho, que teria Kaká como parceiro.

Neymar segura a bronca desde 2010. No “vácuo” de Ronaldinho, Kaká, Robinho e Adriano que caíram de produção no mais alto nível, cada um por seus motivos, e não lideraram uma renovação na seleção brasileira. De lá para cá, desde Paulo Henrique Ganso a Philippe Coutinho e Gabriel Jesus, ninguém conseguiu de fato e por um bom período tirar este peso misturado com privilégio do nosso craque maior.

Mas respondendo objetivamente a pergunta do final do primeiro parágrafo, este blogueiro diria que Neymar é, sim, o melhor desde Pelé. Não o maior.

A análise sobre quem é melhor é absolutamente pessoal e subjetiva, envolve preferências pessoais, estilo, estética. Obviamente considerando jogadores dentro de uma mesma “prateleira” ou ao menos próxima. Neste contexto, Neymar pode ser colocado acima de Zico, Careca, Romário, Rivaldo, os Ronaldos e Kaká.

Porque é arco e flecha, arma e finaliza. Tem tudo para se tornar o segundo maior artilheiro da seleção, só atrás de Pelé. Provavelmente com média inferior a Ronaldo, Zico e Romário, mas um feito considerável dentro de um cenário muito mais parelho. Sem, por exemplo, as goleadas sobre seleções semiamadoras de outros tempos.

Neymar tem um repertório de jogadas superior aos “concorrentes”. E jogando com muito menos tempo e espaço para pensar e executar. 60 gols e 36 assistências em 96 partidas com a camisa verde e amarela. Em clubes(Santos, Barcelona e PSG), 291 bolas nas redes e 148 passes para gols em 469 jogos. Muita regularidade e interferência nos jogos e no desempenho de suas equipes.

Contestado? Obviamente, como todos os outros, fora Pelé, antes de vencer a primeira Copa do Mundo. Talvez a memória afetiva de muitos não permita recordar, mas Romário, Rivaldo e os Ronaldos, para ficar apenas nos destaques dos últimos dois títulos, tiveram sua capacidade colocada em xeque.

O Baixinho depois da expulsão tola contra o Chile em 1989 e a irresponsabilidade de jogar peladas com gesso na perna que prejudicaram a recuperação de uma fratura a tempo de disputar a Copa de 1990 em bom nível. Rivaldo foi execrado na Olimpíada de 1996 e, mesmo jogando bem no Mundial de 1998, conviveu com críticas por não render na seleção o mesmo que nos clubes até brilhar em 2002.

O Fenômeno aturou vaias em 1996, ganhou fama de “amarelão” em 1998 e só se redimiu com a conquista na Ásia. Ronaldinho também era cobrado para mostrar o mesmo rendimento do Barcelona e, depois de ser demonizado pela derrota em 2006 nunca mais recuperou prestígio na seleção.

Mas, ainda assim, são maiores que Neymar. Porque venceram a Copa do Mundo. Um feito que separa meninos de homens. E aumentam a distância porque o craque de hoje insiste em não amadurecer, principalmente fora de campo. Comportamento, posturas e palavras que impedem que se torne um ídolo nacional. E neste aspecto fica atrás de outros que também não levantaram taças, como Sócrates e Zico.

O posicionamento como figura pública também engrandece e Neymar vive numa espécie de bolha, no próprio mundinho. Eterno adolescente, mais produto que homem. Uma escolha que traz seus prazeres, mas também prejuízos. Ele parece não se importar, só quer se divertir jogando e com os “parças”. A vida, porém, não é só isso.

Neymar é o único com títulos de Libertadores, Liga dos Campeões e Mundial de Clubes. Não conquistou a Bola de Ouro porque compete com Messi e Cristiano Ronaldo, que provavelmente roubariam prêmios individuais dos brasileiros contemplados no passado. É craque com momentos geniais. O mais talentoso a surgir em nossos campos desde que Pelé parou de jogar, gostem os saudosistas ou não desta opinião.

Mas para ser o maior é preciso crescer. Eis o ponto que Neymar não parece entender. Ou não quer enxergar. Será que dá tempo depois dos 27 anos?

 

 

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Quando vamos aceitar de vez que o futebol mudou e nos tirou do topo? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/05/quando-vamos-aceitar-de-vez-que-o-futebol-mudou-e-nos-tirou-do-topo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/05/quando-vamos-aceitar-de-vez-que-o-futebol-mudou-e-nos-tirou-do-topo/#respond Tue, 05 Feb 2019 11:02:46 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5850

Seleção brasileira sub-20 perde para o Uruguai por 3 a 2, não tem mais chances de título do Sul-Americano e, com apenas um ponto em três rodadas do hexagonal, complica até a vaga para o Mundial da categoria. Campanha lamentável até aqui que provoca as “reflexões” de sempre sobre o futebol cinco vezes campeão do mundo. Incluindo um “editorial” de Galvão Bueno no programa “Bem, Amigos!” do SporTV.

“Geração mimada”, “chuteiras coloridas, cabelos  exóticos”, “jogadores de empresários”, “falta ginga”, “CBF corrupta e incompetente” são algumas das explicações para os insucessos. Talvez com alguma razão em todos os pontos, mas sem focar na questão central: o futebol mudou e nos tirou do topo.

Galvão citou como último grande momento da seleção brasileira a conquista da Copa das Confederações em 2005. Sim, o torneio da ilusão que inebriou o país naquele ano e também nas duas edições seguintes, em 2009 e 2013.

Pois nas vitórias sobre Alemanha e Argentina há quase 14 anos, um dos destaques foi Robinho. Um ano antes chamado de mimado, marrento e irresponsável ao baixar o calção do amigo Diego Ribas e se transformar no culpado pela eliminação no Pré-Olímpico, tirando a chance de uma geração promissora disputar os Jogos de Atenas.

É evidente que tem faltado um trabalho nas divisões de base com respaldo e apoio da gestão da CBF. Edu Gaspar virou coordenador por ser o homem de confiança de Tite, em uma bizarra inversão de valores. A base caiu no seu colo e as decisões foram tomadas sem grande conhecimento. Agora chega Branco com a típica “boleiragem” que ataca o periférico, com churrascos e críticas veladas à qualidade da geração, e mais uma vez esquece do principal: o campo.

A última vez que o Brasil contou com um trabalho de real integração entre seleção principal e a base foi com Mano Menezes e Ney Franco. Interação, estudo e antenas ligadas ao que estava acontecendo no futebol pelo planeta. Não por acaso foram as últimas conquistas do torneio continental e também do Mundial no Sub-20, em 2011.

O jogo mudou e nos empurrou para fora do protagonismo. Nos títulos coletivos e, consequentemente, nos individuais. Guardiola, Mourinho, Klopp, Ancelotti, Simeone e outros tiraram os trunfos dos nossos craques no cenário mundial: tempo, espaço e marcação individual.

Com linhas compactas, pressão sobre o homem da bola e o bloqueio por zona o jogador precisa pensar e agir rápido, tomar as decisões certas. Nossa cultura ainda é de jogo intuitivo e condução da bola. O “pra cima deles!” de Galvão ainda é o nosso mote. Mas como, se no domínio já tem alguém pressionando e na hora de partir para o drible e “gingar” há um muro de oito ou nove jogadores em, no máximo, 30 metros?

O Brasil conta com ótima geração de dribladores: Neymar, Douglas Costa, Vinicius Júnior, David Neres, Willian…Só que a questão agora é saber a hora de tentar a vitória pessoal, com um trabalho coletivo para potencializar o talento. Os treinadores nos clubes europeus conseguem, já os daqui…

Impossível dizer se Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká, os brasileiros que ganharam os prêmios de melhor do mundo, conseguiriam se impor hoje. Mas é fato que Messi e Cristiano Ronaldo se adaptaram melhor ao contexto e sobraram por dez anos. Neymar tentou furar a bolha e se aproximar, mas sem sucesso. Luka Modric, que ganhou tudo em 2018, é o típico meio-campista que deixamos de formar. Arthur é a exceção à regra. Brotou meio ao acaso e deve gratidão eterna a Renato Gaúcho no Grêmio.

Tite conseguiu alguns espasmos de reação, com o título mundial do Corinthians em 2012 e tornando o Brasil competitivo, sobrando nas eliminatórias e equilibrando a disputa com as principais seleções do planeta. Mas ainda não é suficiente para recuperar protagonismo.

Já passou da hora de sermos humildes e aceitarmos que se o futebol brasileiro não tem vencido é porque outros estão trabalhando melhor. Não é saudável nem inteligente se agarrar a teses simplistas ou ao saudosismo. Porque aí seremos nós os mimados, não os jovens com potencial que viram alvos das críticas a cada revés.

A bola não é mais nossa e a saída é trabalhar, não choramingar sem tirar os olhos do próprio umbigo.

 

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O abismo de centímetros entre Romário e Neymar http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/10/o-abismo-de-centimetros-entre-romario-de-neymar/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/10/o-abismo-de-centimetros-entre-romario-de-neymar/#respond Tue, 10 Jul 2018 10:10:21 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4882

17 de julho de 1994. Rose Bowl, Pasadena, Estados Unidos. Brasil e Itália decidem a Copa do Mundo. Disputam o tetracampeonato, repetindo a final de 1970. Um tira-teima depois da vitória da Azzurra sobre a seleção de Telê Santana em 1982. Disputa direta entre Romário e Roberto Baggio pelo prêmio de melhor jogador da Copa e, consequentemente, do mundo naquele ano.

Arrigo Sacchi voltava a contar com Franco Baresi na defesa depois de uma milagrosa recuperação de uma lesão séria no joelho. Um extraordinário defensor, mas não deixava de ser incógnita quanto à sua condição física e ao ritmo de jogo para uma final de Copa. Ainda mais no calor sufocante de verão americano naquela tarde de domingo.

Era a chance de Romário brilhar, já que Roberto Baggio também sofria com desgaste físico, inclusive atuando com uma proteção na perna direita. Mas o Baixinho não repetiu o bom desempenho de toda a campanha brasileira. Cinco gols e uma assistência para Bebeto marcar o gol salvador contra os Estados Unidos em 4 de julho.

Baresi controlou bem as arrancadas de Romário ao longo dos 90 minutos. Na prorrogação, com Viola e mais fôlego, os espaços apareceram. Surgiu a chance de se consagrar completando passe de Cafu. Mas o camisa onze perdeu na pequena área. Uma chance que não costumava desperdiçar. Decisão por pênaltis, a primeira da história das Copas. Com personalidade, pediu ao treinador Carlos Alberto Parreira para cobrar. Não bateu bem, mas deu sorte de Pagliuca saltar para o outro canto e a bola tocar na trave direita e cair dentro do gol. A última cobrança, de Baggio, entrou para a história e o Brasil comemorou o tetracampeonato.

Foi a consagração de Romário. Prometeu classificar o Brasil e fez dois gols no Uruguai na última partida das Eliminatórias. Garantiu a conquista do tetra e não decepcionou. Todos os méritos para ele.

Mas imaginemos que aquele chute, por um detalhe do futebol e da vida, tocasse na trave e fosse para fora. Pênalti perdido pelo melhor do time. Poderia abalar a seleção pressionada por críticas e 24 anos sem títulos. A Itália poderia ter se aproveitado e virado a história do avesso.

Centímetros que salvaram um Romário sempre polêmico. Criticado em 1990 por não ter cuidado bem de uma fratura na perna jogando pelo PSV. Disputou pelada com gesso, tratou com a sua rezadeira Dona Nazaré da Vila da Penha. Foi para o Mundial na Itália, mas não rendeu o esperado. Disputou apenas o jogo contra a Escócia. Já tinha perdido a vaga de titular no ano anterior para Careca por ter sido expulso contra o Chile em Santiago pela Eliminatória,  complicando a equipe de Sebastião Lazaroni que precisou vencer no Maracanã na famosa partida da farsa do goleiro Rojas e da “fogueteira”.

Romário que teve seus privilégios nos Estados Unidos. Não só a liberação de treinos físicos e outras atividades que entendiavam o Baixinho. Jornais da época publicaram fotos de uma “namorada” que o atacante teria levado para a concentração da seleção, mesmo em dias que não eram de folga. Segundo as fontes, Parreira e Zagallo sabiam, o capitão Dunga também. Tudo foi abafado para não perturbar a estrela máxima da seleção.

Não é difícil prever o que aconteceria caso o Brasil não fosse campeão do mundo. Na caça às bruxas de sempre, o maior alvo seria o centro das atenções. Alguma dúvida de que tudo que hoje é tratado como “folclórico” seria motivo para demonização, mesmo sendo decisivo nas partidas anteriores?

É bom lembrar que a capacidade e a personalidade de Ronaldo Fenômeno também foi questionada pela convulsão e atuação apática na final da Copa de 1998 até escrever uma das maiores histórias de redenção do esporte com o título e a artilharia em 2002. Até de “amarelão” foi chamado, em colunas e mesas redondas. Sem contar as vaias em 1997 e 1998 quando não rendia.

Ronaldinho virou vilão em 2006. Rivaldo foi perseguido em 1996 pelo desempenho pífio na seleção olímpica. Kaká já foi alvo de pipocas no São Paulo e também criticado pelo desempenho com a camisa verde e amarela em 2006. Todos Bolas de Ouro, como Romário. Até Pelé, que teria um busto em cada esquina em qualquer país do mundo que ama futebol, é criticado e ironizado no Brasil.

Todos tinham um outro craque para dividir um pouco os holofotes. Pelé teve Garrincha, Romário teve Bebeto, depois Ronaldo. Fenômeno que teve Rivaldo, mais tarde Ronaldinho Gaúcho que chegou a dividir o bastão com Kaká.

E chegamos a Neymar. Estrela única do futebol brasileiro atual. A referência na bola e na mídia. Com idiossincrasias e privilégios, como quase todo destaque. Como Messi na Argentina e no Barcelona, Cristiano Ronaldo em Portugal e no Real Madrid. Como Romário por onde passou.

Criticado no inicio da Copa por individualismo, simulações, irritação. A partir do jogo contra a Sérvia, até por estar pendurado com um cartão amarelo, focou no futebol e foi importante para a classificação brasileira. Diante do México, a melhor atuação com gol e o chute que Ochoa deu rebote e Firmino completou. Pisado por Layun, pode ter exagerado na reclamação, mas não a ponto de transformar o agressor em vítima como Juan Carlos Osorio tentou fazer parecer.

Com o camisa dez brasileiro mais concentrado e rendendo, as críticas ficaram mais discretas. Ou veladas. Afinal, a cobrança era para que ele jogasse futebol e esquecesse as polêmicas, os enroscos. Foi o que fez. Mas quem persegue fica à espreita esperando o momento do bote. Ele veio.

Contra a Bélgica, atuação irregular como todo time. Mal no primeiro tempo pela desvantagem de 2 a 0. Mesmo com 26 anos, não tem o perfil de liderança de pegar a bola e conduzir a equipe. Nem Romário tinha. Em 1994, esta era a função de Dunga.

Melhorou na etapa final como toda a equipe. No ataque derradeiro, o belo chute que parou na defesa ainda mais espetacular do goleiro Courtois. Tocou na bola o suficiente para desviá-la e impedir o empate. Centímetros. De braço. De história.

Imaginemos Neymar empatando o jogo no final. Deixando o Brasil com vantagem física e emocional para a prorrogação. Com chances de marcar pelo menos mais um que garantisse a vaga nas semifinais. Alguém imagina como seria o discurso? No mínimo, exaltando a personalidade no momento decisivo.

Certamente lembrariam do desempenho fantástico nas disputas de mata-mata do título do Barcelona na Liga dos Campeões 2014/15. Superior a Messi, inclusive. Artilheiro junto com os dois gênios da geração. Gol em final. Ou a conquista da Libertadores de 2011 também marcando na decisão contra o Peñarol. Ou quando assumiu a responsabilidade e conduziu o Barcelona aos 6 a 1 sobre o PSG em 2017, arbitragem à parte. Feitos que Romário, por exemplo, não ostenta em seu currículo. Na única final europeia, derrota do seu Barcelona por 4 a 0 para o Milan.

De certa forma, Neymar também ajudou a colocar o Brasil na Copa. Ausente de boa parte dos jogos da Era Dunga nas Eliminatórias, assumiu a responsabilidade no início do trabalho de Tite. Quando os resultados eram fundamentais para tirar da incômoda sexta posição, fez um gol de pênalti, deu assistência no terceiro e participou da jogada do segundo, ambos de Gabriel Jesus nos 3 a 0 sobre o Equador em Quito. Nos 2 a 1 sobre a Colômbia, cobrou escanteio na cabeça de Miranda e marcou o gol da vitória. Terminou com seis gols, um a menos que Gabriel Jesus. Hoje parece quase nada, mas teve seu peso naquele momento de dificuldade.

Não aconteceu para Neymar na Rússia. E veio a onda de dedos apontados. Piadas e memes. De todo o planeta. Reduzindo Neymar a um pseudocraque que rola pelos gramados. Um mero produto da mídia mimado e que engana os incautos e pachecos. Marrento e antipático. Como se outros talentos não fossem. Como Romário.

Centímetros. Que salvaram Romário em 1994 na sua última Copa do Mundo. Em 1998, pelo temperamento complicado e por tudo que aprontou nos Estados Unidos e depois, não contou com a paciência de Zagallo para aguardar a recuperação de uma lesão na panturrilha. Em 2000, por conta de uma desavença com Vanderlei Luxemburgo no Flamengo em 1995, ficou de fora da Olimpíada. Dois anos depois, descartado por Luiz Felipe Scolari, viu o penta pela TV. Tudo porque era “difícil”. Também simulava faltas e pênaltis. Dobrava os joelhos e jogava o corpo para a frente. Mas aí entrava na cota da “malandragem”…

Como foi tetra virou mito. Com a fama de “jogar e decidir”, ainda que ostente poucos títulos para os 22 anos de carreira profissional. Merece o reconhecimento. Mas sabemos que um detalhe poderia ter jogado um dos maiores atacantes de todos os tempos no limbo da história.

Neymar corre este risco. Mesmo superando Romário na artilharia da seleção, agora com 57 gols – e homenageou o artilheiro aposentado na comemoração. Todos que não aceitam sua personalidade contraditória aproveitam o momento de baixa para a vingança. Ou apenas aproveitam para colocar em prática a crueldade de afirmar teses em cima da imagem dos outros.

Por centímetros do braço de Courtois. Com final diferente do efeito dos centímetros que levaram a bola da trave para dentro na cobrança de pênalti de Romário em 1994. Um chute não tão bom que entrou, outro perfeito interceptado na trajetória que parecia inevitável. Medida que cria um abismo entre dois dos maiores da história do futebol cinco vezes campeão do mundo.

No Brasil do pensamento binário, no qual quem não odeia é passador de pano, é bom deixar claro: este post não é uma crítica a Romário. Este que escreve viu ainda garoto, em 1984, marcando gols pelos então “juniores” (sub-20) do Vasco nas preliminares do Maracanã. E tantas vezes testemunhou no estádio o talento do gênio da grande área do século 20. Um ídolo.

Muito menos a intenção é blindar Neymar. Quem acompanha o blog sabe que este que escreve evita mencionar o nome do personagem que mais atrai cliques na internet. Oportunismo aqui passa longe. E para massacrar já há gente até demais. Mas não discordo de quem considera Neymar mal orientado e assessorado. Na bolha em que vive há quase uma década ele precisa de uma voz que o conecte à realidade para evitar certos desgastes desnecessários. Já passou da hora de amadurecer.

O texto e o “se” que o norteia propõem apenas uma reflexão sobre a nossa capacidade de idolatrar ou ridicularizar por um resultado. Definido por detalhe, pelo imponderável. Tão pouco. Centímetros.

 

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Adriano Imperador e a síndrome do “ah, se ele quisesse…” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/28/adriano-imperador-e-a-sindrome-do-ah-se-ele-quisesse/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/28/adriano-imperador-e-a-sindrome-do-ah-se-ele-quisesse/#respond Thu, 28 Dec 2017 17:22:21 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3916

O leitor deste blog nunca se deparou com uma linha sequer por aqui sobre Adriano Imperador. Simplesmente porque o espaço existe desde 2015 e o atacante não joga profissionalmente, com muito boa vontade, desde a passagem de quatro jogos e um gol pelo Atlético Paranaense em 2014 – ano passado atuou pelo Miami United por duas partidas e fez um gol, mas é difícil incluir seriamente no currículo.

A rigor, o último ato relevante de Adriano foi o gol pelo Corinthians sobre o Atlético Mineiro na virada por 2 a 1 que ajudou demais na conquista do Brasileiro em 2011. Portanto, tecnicamente é um ex-jogador. Como o blog não costuma caçar cliques através da espetacularização de uma história de vida recente que não pertence ao esporte,  não há razão para falar dele. Para o bem ou para o mal.

Mas ele voltou à pauta. A festa de Zico no Maracanã e a presença do “Didico”, mesmo com atraso na chegada, voltou a despertar em muitos a esperança de vê-lo novamente em ação. Com 35 anos e sem jogar regularmente desde 2010. A fé embalada pela nostalgia de um jogo amistoso, com senhores se divertindo no campo, muitas vezes caminhando, numa brincadeira com um fim muito nobre, de solidariedade. Mas que não pode ser levada a sério pensando no mundo real e competitivo.

É claro que Adriano pode construir uma reviravolta épica, um último ato grandioso caso alguém queira pagar pra ver. Mas racionalmente é muito improvável.  Porque ele é mais um grande personagem cuja biografia merece ser transformada em livro e filme. Mas objetivamente não escapa da síndrome brasileira do “ah, se ele quisesse…”

Este que escreve cresceu ouvindo que Garrincha foi melhor que Pelé porque quando a seleção brasileira precisou em 1962 na ausência do camisa dez, o ponta das pernas tortas desequilibrou na conquista do bicampeonato no Chile. Mas uma breve pesquisa do jornalista avaliando feitos, conquistas, regularidade e até o confronto direto nos duelos entre Santos e Botafogo desconstrói o discurso. Porque pelos mais variados motivos Pelé quis mais que Garrincha.

Mas o Mané é mais fácil de ser idolatrado por ser o lado mais fraco na história. O que não exorcizou seus fantasmas, mas naquele breve despertar foi o heroi das massas, identificadas com a trajetória de mais perdas e tropeços que redenções. De fato, é uma história mais sedutora, com doses de drama e humor.

Não destroi, porém, a sensação de talento mal aproveitado, que com foco e profissionalismo poderia ter produzido muito mais. Guardando as devidas proporções e respeitando os contextos, o mesmo poderia ser dito sobre Ronaldinho Gaúcho, Renato Portaluppi, Edmundo, Romário, Sócrates e até Maradona. Todos com algo em comum: em um determinado momento da carreira resolveram levar o futebol a sério, entregando 100%, e naqueles espasmos, uns mais longos e outros nem tanto,  brilharam intensamente.

Por causa disso são colocados em pedestais quase intangíveis, como se caso eles levassem a carreira sempre a sério teriam aquele desempenho do auge até o fim. Sem oscilações. “Se ele quisesse…” ou “se comparar no talento é imbatível”.

Só que talento sem realizações, sem a transpiração para ajudar a inspiração, é estéril. O que o craque inconstante poderia ter produzido só existe na cabeça de cada um. Vale mais a seriedade de Pelé, Zico, Messi, Cristiano Ronaldo, Kaká, Bebeto e outros exemplos de profissionais – também com cada um em seu patamar e em comparação com seus pares contemporâneos. Ainda que a história para contar não seja tão romântica. Afinal, enquanto os “malditos” viviam suas aventuras e vidas erráticas, os trabalhadores estavam treinando ou em repouso.

Adriano parece querer viver uma utopia: passar os dias com seus amigos nas favelas e praias do Rio de Janeiro e no fim de semana se materializar no Maracanã com a camisa do Flamengo fazendo gols e partindo para o abraço dos que o amam. Só que há um processo, como tudo na vida. Muito suor para banhar a magia.

Assim ele parece não querer, ou conseguir. Só resta mesmo a imaginação. “Se ele quisesse…”

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Alô, Tite! Cinco momentos em que o auge da seleção chegou antes da Copa http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2016/11/16/alo-tite-cinco-momentos-em-que-o-auge-da-selecao-chegou-antes-da-copa/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2016/11/16/alo-tite-cinco-momentos-em-que-o-auge-da-selecao-chegou-antes-da-copa/#respond Wed, 16 Nov 2016 14:12:17 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=1860 Brasil Festa Confederacoes 2005

“Que m… que parou” Assim Tite deixou claro na coletiva que gostaria que as eliminatórias sul-americanas seguissem com rodadas próximas e não só em março, quando a seleção brasileira enfrenta Uruguai e Paraguai. Ainda concordou que seria ótimo que a Copa do Mundo começasse ainda em 2016.

De fato, sem nenhuma equipe tão dominante e absoluta, nem a campeão Alemanha,a fase positiva em desempenho e resultados poderia ser bastante favorável. Mas até 2018 na Rússia a estrada é longa – e com armadilhas. Por isso o blog lembra, até para esfriar um pouco o oba oba,  cinco momentos em que o auge do time canarinho chegou antes da Copa:

1981 – As exibições na Europa

Inglaterra, França e Alemanha. O Brasil de Telê Santana superou três forças do continente como visitante e consolidou sua imagem de favorito à conquista na Espanha. Com golaço de Zico, a primeira vitória de um sul-americano no lendário Estádio de Wembley. Depois 3 a 1 nos franceses no Parc des Princes, com novo gol do Galinho, outros de Sócrates e Reinaldo. Antes da bola rolar, Pelé recebeu o prêmio de “Atleta do Século” do jornal “L’Equipe”.

Por fim, os 2 a 1 sobre a então campeã da Eurocopa de 1980 em Stuttgart, com Waldir Peres defendendo duas cobranças de pênalti do antes infalível Paul Breitner. Triunfos que pareciam consolidar a formação com Paulo Isidoro como falso ponta pela direita e Reinaldo no comando do ataque.

No ano seguinte, porém, Telê precisou encaixar Falcão no meio-campo e sacou Isidoro. Com a queda de produção de Reinaldo e a lesão de Careca, Serginho Chulapa virou titular. Não houve exatamente uma queda técnica, mas a seleção parecia mais ajustada com o time que encantou a Europa um ano antes. Talvez tenha faltado uma passada em Roma ou Milão…

1989 – Copa América e time sólido

Depois de um início com muitas críticas e protestos em Salvador por conta da ausência de Charles ou de algum jogador do Bahia campeão brasileiro de 1988, a seleção de Sebastião Lazaroni encontrou abrigo no Recife para vencer o Paraguai por 2 a 0 e partir para o título da Copa América, que não acontecia há 40 anos, superando os mesmos paraguaios, argentinos (com Maradona) e uruguaios no Maracanã.

A formação com três zagueiros, considerava defensiva, contava com Bebeto e Romário aprimorando o entrosamento dos Jogos Olímpicos de Seul um ano antes e marcando todos os gols das quatro vitórias consecutivas que terminaram em taça.

Com a expulsão de Romário contra o Chile pelas eliminatórias, Careca voltou absoluto e o Brasil garantiu sua vaga na Copa e, com vitórias sobre Itália, anfitriã do Mundial no ano seguinte, e a Holanda campeã da Eurocopa no ano anterior, o time sólido virou favorito. Com Muller no ataque e Alemão no meio na vaga de Silas, eliminação nas oitavas de final para a Argentina de Maradona e Caniggia em Turim.

1997 – Dupla “Ro-Ro” encanta o mundo

Ronaldo e Romário. Dois dos maiores atacantes da história do esporte. Juntos e entrosados. Era bonito de ver na seleção campeã da Copa América disputada na Bolívia. Também da Copa das Confederações, disputada na Arábia Saudita e não França, país sede da Copa no ano seguinte.

Os franceses sediaram um torneio no qual o time de Zagallo também deixou boa impressão, empatando com os anfitriões em 1 a 1, com o lendário gol de falta de Roberto Carlos em Barthez, nos eletrizantes 3 a 3 com a Itália e a vitória por 1 a o sobre a Inglaterra, que conquistou o título.

Mas Romário se lesionou num jogo do Flamengo contra o Friburguense, acabou cortado numa polêmica com Zagallo e Zico que durou anos e uma seleção muito irregular acabou chegando à decisão. Nunca saberemos o que aconteceria um Saint-Denis com o craque do mundial anterior em campo para compensar um Ronaldo combalido contra a equipe de Zinedine Zidane.

2005 – O “quadrado mágico” do “Dream Team”

Campeão mundial em 2002. Conquista da Copa América em 2004 no Peru com time reserva, líder das Eliminatórias e campeão da Copa das Confederações com um espetáculo nos 4 a 1 sobre a Argentina.

Ronaldinho Gaúcho absoluto como o melhor do planeta, já sendo comparado a Pelé e Maradona, e Carlos Alberto Parreira encaixando um “quadrado mágico” com Kaká, Ronaldo e Robinho ou Adriano. Comparações com o “Dream Team” americano campeão olímpico de basquete em 1992. Poucas seleções fecharam um ano tão favoritas ao título mundial quanto o Brasil antes da Copa na Alemanha.

Mas veio a preparação confusa desde Weggis, fruto da euforia e da autosuficiência difíceis de segurar com tantas estrelas…e um futebol paupérrimo desde a primeira fase até cruzar novamente com a França de Zidane, desta vez nas quartas de final, e ficar pelo caminho. Sem o tal quadrado, já que Adriano e Robinho começaram no banco e Juninho Pernambucano iniciou a partida em Frankfurt. De novo a frustração.

2013 – A “fórmula mágica” de Felipão

Hino nacional com a torcida cantando o final à capela, pressão sufocante e gol no início do jogo para deixar o estádio ainda mais elétrico, contragolpes com o talento de Neymar e o faro de gol de Fred.

Não tinha como dar errado na Copa disputada no Brasil para enfim apagar o trauma do “Maracanazo” em 1950. A “fórmula mágica” de Luiz Felipe Scolari deu muito certo e atingiu seu ápice nos 3 a 0 sobre a então campeã mundial e bicampeã europeia Espanha no Maracanã. Com Luiz Gustavo e Paulinho colocando Xavi e Iniesta no bolso.

De novo a Copa das Confederações. Ou seria das Ilusões. De novo o Brasil achou que estava pronto para o Mundial um ano antes, desta vez com o agravante de não se testar nas eliminatórias. Novamente o técnico fechou o grupo e os olhos para nítidas quedas técnicas e físicas. Mais uma vez um torneio que é apenas uma pequena amostragem do que pode ser a Copa empolgou o povo que cantou “O campeão voltou!” O resto é história. Trágica.

 

 

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Já é hora do Fluminense deixar a Era da Incerteza http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2016/11/08/ja-e-hora-do-fluminense-deixar-a-era-da-incerteza/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2016/11/08/ja-e-hora-do-fluminense-deixar-a-era-da-incerteza/#respond Tue, 08 Nov 2016 09:35:16 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=1828 Peter Siemsen Fluminense

Dezesseis anos não são duas semanas e dois dias. Era previsível e é possível compreender a dura transição no Fluminense depois do fim da parceria com a Unimed. Ainda mais pelo desinteresse do patrocinador em ajudar o clube a se tornar autossustentável.

Cortar o cordão umbilical sem uma preparação foi como largar o filho juvenil no mundo para tomar suas próprias decisões. E o Fluminense nem se saiu tão mal no início do processo, buscando outras fontes de receita, equacionando dívidas, renegociando contratos. Segundo um ex-dirigente, “pilotar o próprio carro popular e não a BMW alheia”.

Até que o jovem se sentindo independente, ou o senhor maduro novamente solteiro, resolveu bancar uma festa cedo demais. Sim, Ronaldinho Gaúcho. Segundo o presidente Peter Siemsen em entrevista ao UOL, sem o aval do então treinador Enderson Moreira. O velho equívoco de achar que o craque por si só, sem um time forte, é capaz de se pagar.

A equipe competitiva do início do Brasileiro se perdeu, mesmo com o craque boêmio entrando pouco em campo. Porque é difícil se achar sem uma convicção mínima, uma linha de raciocínio. Sempre no caso a caso.

Envolvendo até Fred, que foi considerado descartável quando o time venceu a Primeira Liga sem ele. Na coletiva de despedida do artilheiro, o blogueiro esteve nas Laranjeiras e a leitura foi de que a permanência do ídolo no clube se deu pelo salário que ainda era alto para os padrões brasileiros, mas principalmente por se sentir parte do processo decisório como imagem e referência.

Quando colocado como uma peça da engrenagem, importante mas sem tratamento especial, e tolhido pela hierarquia, preferiu um Galo mais estelar, competitivo e com melhor estrutura.

Agora o Levir Culpi fortalecido de outrora é demitido. Também porque o clube não se preparou para caminhar sem Fred – figura midiática, lider e conselheiro dos mais jovens. Artilheiro que acostumou a todos com o papel de coadjuvante, assistente. O resultado prático é um time inconstante, hesitante.

Para complicar, a demora em definir um estádio como “casa” no Rio de Janeiro sem o Maracanã e as viagens que dificultaram o planejamento da temporada. A relação cíclica com a FERJ e a frágil parceria com o Flamengo são outros exemplos da falta de convicções que respinga no campo.

Quando Levir sai dizendo que o Fluminense é “o clube que mais demite” e “um dos mais oscilantes no convívio entre vitória e derrota” reflete a visão de um profissional que percebe a insegurança geral que agora apela para a velha “chacoalhada”. Muito conveniente num ano eleitoral.

Colocar o centro de treinamento para funcionar e, enfim, sair das Laranjeiras é passo importante para o futuro. Mas vital mesmo para clube e time de futebol é enfim escolher um norte e acreditar nele, mesmo com as turbulências no caminho. Deixar para trás a Era da Incerteza e seguir adiante.

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