ronaldo – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 De Ronaldo a Adriano, 2009 foi o ano “The Last Dance” no futebol brasileiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/05/de-ronaldo-a-adriano-2009-foi-o-ano-the-last-dance-no-futebol-brasileiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/05/de-ronaldo-a-adriano-2009-foi-o-ano-the-last-dance-no-futebol-brasileiro/#respond Fri, 05 Jun 2020 13:38:04 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8601

Foto: Folha Imagem

“The Last Dance” (“Arremesso Final” no Brasil) é a série da Netflix que apresenta com incríveis registros de bastidores a trajetória do Chicago Bulls de Michael Jordan  na conquista de seis títulos da NBA em oito anos. A “última dança” é a temporada 1997/98, definida em lendária cesta de Jordan contra o Utah Jazz. O brilho final de um mito dos esportes em todos os tempos.

Difícil encontrar história semelhante no esporte nacional, até por nuances como a pausa de Jordan para jogar beisebol em 1994, depois da morte do pai, e o anúncio do manager Jerry Krause, antes da última temporada começar, de que o treinador Phil Jacskon não seguiria na franquia. Sem contar a aposentadoria da estrela maior até a aventura no Washington Wizard de 2001 a 2003.

Mas o futebol brasileiro teve um ano especial que consagrou em seus campos pela última vez grandes estrelas do esporte. Cada um dentro de sua escala de grandeza.

2009 começou com Ronaldo Fenômeno voltando ao Brasil para liderar o Corinthians na sua volta à Série A e marcando um processo de reconstrução que levaria o time mais popular de São Paulo às maiores conquistas de sua história.

Mesmo com problemas físicos por conta das sérias lesões nos joelhos e a dificuldade de manter o peso ideal, Ronaldo foi protagonista nas conquistas do Paulista, este de forma invicta, e Copa do Brasil. Os últimos títulos da carreira de um dos maiores atacantes da história do futebol mundial. Com direito a gol antológico encobrindo Fabio Costa contra o Santos na Vila Belmiro pela decisão estadual.

Se o primeiro semestre foi do Corinthians do Fenômeno, o segundo reservou uma grande surpresa: o Flamengo campeão brasileiro depois de 17 anos, comandado por Adriano Imperador, que deixou a Internazionale para jogar pelo time de coração. Bem assessorado por Petkovic, de volta ao clube aos 36 anos para receber uma dívida ainda da primeira passagem, entre 2000 e 2002.

Apesar da gestão caótica, com direito à efetivação do interino Andrade depois da demissão de Cuca, o time conseguiu uma impressionante arrancada no returno que aproveitou as oscilações de São Paulo e Internacional para alcançar o título. O derradeiro protagonismo da dupla improvável e também o único do ídolo que virou treinador.

O ano do futebol no Brasil ainda teve o Mineirão como palco da última conquista de Libertadores do tetracampeão Estudiantes de La Plata. Vencendo o Cruzeiro por 2 a 1 depois de um empate sem gols na Argentina.

Liderado por Juan Sebastián Verón. Ou “La Brujita”, por ser filho de “La Bruja”, o também ídolo Juan Ramón Verón, tricampeão continental de 1968 a 1970. Aos 34 anos comandou o meio-campo na virada histórica com gol de Mauro Boselli. A última grande conquista de uma carreira com indas e vindas, assim como a de Jordan – sem comparações, é claro.

2009 foi o ano “The Last Dance” no futebol brasileiro.  Se não efetivamente da despedida dos campos de Ronaldo, Adriano, Petkovic ou Verón, marcaram os últimos momentos memoráveis de suas carreiras. De contribuições decisivas em conquistas relevantes. Para cada um, a “última dança” inesquecível.

]]>
0
Trocar o jogo pelo marketing foi o grande erro do Real Madrid “galáctico” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/15/trocar-o-jogo-pelo-marketing-foi-o-grande-erro-do-real-madrid-galactico/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/15/trocar-o-jogo-pelo-marketing-foi-o-grande-erro-do-real-madrid-galactico/#respond Fri, 15 May 2020 12:35:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8492

Foto: Getty Images

Uma estrela por temporada. Era a promessa de Florentino Pérez ao assumir o Real Madrid em 2000. Começou tirando Luís Figo do Barcelona. Em 2001, contratou Zinedine Zidane. E no ano seguinte, Ronaldo Fenômeno.

Era a temporada 2002/03. Depois de vencer a Liga dos Campeões no ano anterior, o Real Madrid alcançou o título mundial vencendo o Olimpia por 2 a 0 em Tóquio e faturou a liga espanhola, superando a surpresa Real Sociedad. Na Champions, eliminação nas semifinais para a Juventus, que seria vice-campeã.

Uma jornada que poderia ser considerada natural, mesmo com elenco estelar. A campanha nos pontos corridos não foi tão sólida, mas a equipe de Vicente Del Bosque se afirmou na reta final com maior entrosamento de Ronaldo com os companheiros e a consolidação de uma maneira de jogar.

O desenho tático, na prática, era um 4-2-3-1. O lado forte era o esquerdo, com Roberto Carlos apoiando no corredor deixado por Zidane, que era uma espécie de “ponta articulador”, circulando por todo campo. Ronaldo também caía muito por ali. Raúl ficava mais centralizado, como um ponta-de-lança à moda antiga.

Do lado oposto, Luis Figo atuava bem aberto, abusando das jogadas individuais em busca da linha de fundo. Contava com o apoio do brasileiro Flávio Conceição, já que Michel Salgado descia pouco. Fernando Hierro, com 34 anos, liderava a zaga com experiência e Helguera saía mais para cobrir Roberto Carlos.

À frente da defesa, Claude Makelele. 30 anos, posicionamento preciso. Inteligência na leitura dos espaços, senso se cobertura. Também sabia jogar, até pelo passado como ponta direita. Tinha drible e passe corretos. Porém discreto, sem grande marketing. Trabalhava para as estrelas brilharem. Equilibrava o time.

Não era o bastante para Florentino. “Não vendia camisas, por isso foi descartado”, afirmou Carlos Queiroz, o treinador do time merengue na temporada seguinte. Para Florentino, o volante não sabia cabecear e não arriscava passes mais longos que de três metros. Hierro discordava, considerando o francês o mais importante jogador da equipe naquele período.

Makelele quis um aumento de salário, Florentino alegou que não tinha recursos. Uma piada considerando que acabara de anunciar a quarta estrela da constelação: David Beckham, por 37,5 milhões de euros. O francês partiu para se consagrar no Chelsea, a partir da temporada 2004/05 com José Mourinho. A ponto de muitos na Inglaterra tratarem a função de primeiro volante como “Makelele role”.

E o Real? Bem, Florentino não foi tão feliz na reformulação do elenco. Hierro partiu para o fim da carreira no futebol árabe, atuando pelo Al-Rayyan. Carlos Queiroz queria Gabriel Milito, Luisão ou Pepe. Ficou com Pavón. Contava com Morientes, que foi parar no Monaco. Justamente o algoz da eliminação nas quartas-de-final do torneio continental.

E Beckham? Bem, na função que executava no Manchester United o Real já tinha Figo. A única vaga disponível era o volante apoiador pela direita, já que Flávio Conceição havia sido emprestado para o Borussia Dortmund. Sem Makelele, tentou Guti, Cambiasso, Solari e Raúl Bravo como parceiros do inglês no meio-campo. Mas o fato é que o time perdeu unidade.

Foi o auge da fase “Zidanes e Pavóns”. Estrelas na frente buscando encaixe e queimando na fogueira das vaidades, com espanhois de um lado liderados por Raúl, estrangeiros do outro. Ou europeus contra sul-americanos mais à frente, quando Vanderlei Luxemburgo assumiu e, com Robinho em 2005, encheu o elenco de brasileiros.

Na segunda metade de 2004/05, Luxemburgo tentou encontrar uma maneira de abrigar as estrelas, que ganhara Michael Owen para aquela temporada. Florentino pensou que poderia consertar a bobagem de dispensar Makelele contratando o dinamarquês Thomas Gravesen. Ele seria o “cão-de-guarda” protegendo a defesa.

Luxemburgo arriscou inicialmente um losango que teria Gravesen plantado, Beckham pela direita, Zidane à esquerda e Raúl como “enganche”. Na frente, Owen e Ronaldo. Figo perdia a vaga com o novo sistema tático. O time até conseguiu uma arrancada, mas não tirou o título do Barcelona de Ronaldinho Gaúcho. Apesar da boa exibição nos 4 a 2 sobre o rival catalão no Santiago Bernabéu.

Na Liga dos Campeões, nova eliminação para a Juventus. No famoso erro admitido por Luxemburgo que minou sua permanência em Madri: tirar Ronaldo no primeiro jogo e Zidane na partida de volta em Turim. Logo as grandes estrelas que dominaram a premiação de melhor do mundo naquele período. Os mais temidos. Beckham também foi sacado pelo treinador brasileiro.

Ainda assim, foi o melhor momento do Real com o camisa 23 até a conquista do titulo em 2006/07. Sem Florentino na presidência, com Fabio Capello no comando técnico e um elenco mais competitivo. Zidane se aposentara, Ronaldo partiria para o Milan na segunda metade, deixando o comando do ataque para Van Nistelrooy, artilheiro do time na temporada com 33 gols.

Foi a única conquista relevante de Beckham, que também vencera a Supercopa da Espanha assim que chegou ao clube. É claro que o inglês protagonizou belos lançamentos, chutes de média/longa distância e cobranças de falta. Também rendeu muito aos cofres do clube, especialmente no mercado asiático. Ajudou demais a reforçar a marca global.

Em campo, porém, dispensar Makelele e contratar Beckham se mostrou o grande erro de Florentino Pérez. A melhor definição foi de Zidane: “Para que aplicar mais uma camada de tinta dourada no Bentley se você acabou de perder o motor?”

O Real Madrid trocou o jogo pelo marketing. No futebol não costuma dar muito certo. Porque nada vende mais e melhor do que um time forte e vencedor.

 

]]>
0
Fracasso da seleção “Joga Bonito” em 2006 começou com ilusão no Mangueirão http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/18/fracasso-da-selecao-joga-bonito-em-2006-comecou-com-ilusao-no-mangueirao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/18/fracasso-da-selecao-joga-bonito-em-2006-comecou-com-ilusao-no-mangueirao/#respond Sat, 18 Apr 2020 08:39:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8316

Foto: Evaristo Sá / AFP Photo

É preciso dar nome aos bois. Foram os perfis do Esporte Interativo no Facebook e no Twitter que começaram a onda de saudosismo com a seleção brasileira de 2006. Difícil entender  a razão, mas foi lá. Talvez uma espécie de “efeito rebote” dos 7 a 1 de 2014.

Muito já foi dito sobre o fracasso do grande favorito, o time do slogan “Jogo Bonito”. Que ganhou tudo depois do título mundial em 2002: Copa América (com reservas), Eliminatórias e Copa das Confederações. Menos o principal, na Alemanha.

Por isso é preciso contextualizar, resgatar a história com informação precisa. Justamente para entender que o período de futebol exuberante foi bastante efêmero, embora impactante e capaz de despertar emoções que andavam adormecidas. Talvez desde o recital de Romário contra o Uruguai em 1993 garantindo vaga no Mundial dos Estados Unidos, com favoritismo imediato acoplado. Ou o encantamento em 1982, para os mais velhos.

Temos que voltar ao dia 20 de maio de 2004, no Stade de France, em Paris. Ao jogo comemorativo do centenário da FIFA. Aquele dos uniformes que replicavam modelos do passado, de um lendário domínio de Zidane saltando e aconchegando a bola no peito. Do empate sem gols.

Também da seleção comandada por Carlos Alberto Parreira com Juninho Pernambucano, usando a camisa dez, e Zé Roberto no meio-campo, Kaká e Ronaldinho, este com a camisa sete, mais adiantados encostando em Ronaldo Fenômeno. Isso soa familiar, não?

O 4-3-1-2 brasileiro em 2004 contra a França: Juninho e Zé Roberto atrás de Kaká, que encostava na dupla de Ronaldos na frente. Cafu e Roberto Carlos faziam os corredores pelos flancos (Tactical Pad).

Desenho tático que dava mais liberdade à então estrela reluzente Ronaldinho e exigia um pouco mais taticamente do Kaká em ascensão no Milan. Que continuava dependendo fundamentalmente de Cafu e Roberto Carlos – o primeiro com 34 anos, o outro com 29 – para abrir o campo e chegar à linha de fundo.

O desempenho coletivo não empolgava e os resultados eram apenas razoáveis nas eliminatórias. Cinco vitórias, cinco empates e uma derrota para o Equador por 1 a 0 na despedida da temporada. O grande momento com os titulares foi contra a Argentina, no Mineirão, com os três pênaltis sofridos e convertidos por Ronaldo. Com Juninho, Zé Roberto e Kaká no meio, mas Luís Fabiano fazendo companhia ao Fenômeno na frente na vitória por 3 a 1.

Seguiu monótono e burocrático no início de 2005 com uma vitória magra sobre o Peru no Serra Dourada, gol de Kaká. Com a substituição que foi uma espécie de ensaio para o que viria: saiu Juninho Pernambucano, entrou Robinho. Desfazendo o 4-3-1-2/4-3-2-1 e indo para o 4-2-2-2.

Contra o Uruguai em Montevidéu, com Ricardo Oliveira se juntando a Ronaldo na frente, mas dando lugar a Robinho. Empate por 1 a 1. O suficiente para amadurecer Parreira, que no jogo seguinte arriscou o sistema mais ousado que variava naturalmente em campo para o 4-2-3-1 pela mobilidade de Robinho, se juntando a Kaká e Ronaldinho no apoio a Adriano, o substituto de Ronaldo em Porto Alegre.

Os 4 a 1 empolgaram Parreira, que repetiu a ousadia no Monumental de Nuñez. Mas a sede de revanche dos argentinos ajudou a construir os 3 a 1, na última derrota brasileira naquelas eliminatórias. No dia oito de junho, a oito dias da estreia na Copa das Confederações contra a Grécia.

Sem Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo. Com Cicinho, Gilberto e Adriano. Campanha oscilante, com boa estreia nos 3 a 0 sobre os gregos, mas derrota por 1 a 0 para o México e empate por 2 a 2 com o Japão. Segunda colocação do grupo, confronto com a anfitriã Alemanha na semifinal.

E Adriano, já “Imperador” na Internazionale e com moral por ter sido decisivo na conquista da Copa América com o gol salvador sobre a Argentina, ganhou de vez a confiança de Parreira com dois gols nos alemães e mais dois sobre a mesma albiceleste.

Nos 4 a 1 tratados como um marco daquela seleção. A despeito do desgaste e dos desfalques dos grandes rivais, de fato a seleção apresentou futebol de alto nível com momentos de arte, como na longa troca de passes até o cruzamento de Cicinho na cabeça de Adriano.

O “click” se deu com a movimentação na frente que preenchia melhor os espaços: Adriano, ao contrário de Ronaldo, procurava o lado direito para cortar para dentro e finalizar. Isso permitia que Robinho e Ronaldinho se alternassem à esquerda e Kaká circulasse com liberdade. Com vitalidade nas laterais, o jogo ficou mais fluido.

A formação que venceu a Copa das Confederações, com Robinho se mexendo no quarteto com Kaká, Ronaldinho e Adriano e mais o apoio dos laterais Cicinho e Gilberto (Tactical Pad).

A expectativa, então, era como seria com a volta dos titulares. Contra o Chile não foi possível pela suspensão de Ronaldinho. O Fenômeno entrou na frente, com Robinho recuando para fazer dupla com Kaká na criação. O espetáculo nos 5 a 0 empolgaram o Mané Garrincha e muitos brasileiros. Este que escreve se lembra de receber “scraps” de amigos mais jovens no finado Orkut perguntando: “era assim em 1981/1982?”

Com três gols, Adriano virou titular absoluto e Parreira enxergou a viabilidade do “quarteto mágico” contar com o Imperador e Ronaldo na frente. Apesar da loucura de alguns torcedores e comentaristas que sonhavam com um quinteto que incluiria Ronaldinho e Robinho, o treinador sabia que um teria que ficar de fora.

Na despedida das eliminatórias, dos estádios brasileiros e dos jogos oficiais em um ano mais que vencedor, a primeira oportunidade de escalar Kaká e Ronaldinho no meio, Adriano e Ronaldo na frente. Também a chance de terminar com mais uma conquista, ainda que simbólica: a liderança na disputa sul-americana, pelo saldo de gols, em caso de vitória sobre a Venezuela em Belém e uma derrota da Argentina, já classificada, para o Uruguai que lutava pela quinta vaga, a da repescagem, com a Colômbia.

Deu tudo certo em Montevidéu com os uruguaios marcando 1 a 0. Também no Mangueirão, com os 3 a 0 sobre o frágil adversário, antepenúltimo colocado. Sem atuação de gala,com o quarteto centralizando demais o jogo. O suficiente, porém, para convencer Parreira que a base para o Mundial estava montada. Foi o erro capital. O jogo da ilusão.

Com Kaká e Ronaldinho na articulação e Adriano e Ronaldo na frente, uma seleção engessada, que centralizava demais o jogo e necessitava de seus laterais veteranos para abrir o campo – note Cafu bem aberto no canto inferior direito (reprodução TV Globo).

Porque a convicção foi alimentada pelo amistoso “inconclusivo” contra a Rússia em março – vitória por 1 a 0, gol de Ronaldo. E as “carnes assadas” Luzern, da Suíça, e Nova Zelândia, já na preparação para a Copa, que começou com a bagunça em Weggis.

É óbvio que o desgaste de Ronaldinho na temporada europeia com título da Champions, a queda vertiginosa de rendimento de Adriano e os problemas físicos de Ronaldo contribuíram, mas o fato é que a seleção ficava engessada no 4-2-2-2. Cafu e Roberto Carlos não conseguiam mais entregar tanta eficiência e vigor jogando de uma linha de fundo à outra e Zé Roberto era sobrecarregado cobrindo o enorme buraco no meio.

Porque Parreira queria Kaká bem aberto à direita, como exigiu de Raí em 1994. O mesmo com Ronaldinho do lado oposto, na esperança que ele brilhasse adotando posicionamento parecido com o do 4-3-3 do Barcelona de Frank Rijkaard. Não podia dar certo. O fato é que a mobilidade de Robinho alternando pelos flancos era mais que necessária.

Ficou claro no terceiro jogo do Mundial, depois dos triunfos sem nenhum brilho sobre Croácia por 1 a 0, gol de Kaká, e por 2 a 0 sobre a Austrália – Adriano e Fred. Mesmo considerando a fragilidade do Japão treinado por Zico, a seleção ficou mais solta com as mudanças de Parreira: Cicinho e Gilberto nas laterais, Gilberto Silva e Juninho Pernambucano no meio e Robinho se juntando a Kaká, Ronaldinho e Ronaldo, que marcou dois gols e ficou a um do recorde em Copas do Mundo.

O 15º tento veio no início das oitavas contra Gana, aproveitando bela assistência de Kaká. Com a volta de Adriano, forçada por uma lesão de Robinho, e o quarteto engessado. Mas deu para o gasto, especialmente pela atuação fantástica de Zé Roberto, autor do terceiro gol. Nas quartas, o reencontro com a França do redivivo Zidane, que foi às redes contra a Espanha e sonhava se aposentar como bicampeão mundial.

Robinho se recuperou, mas não para noventa minutos. Sem confiança em Adriano, Parreira cometeu seu último equívoco no ciclo como treinador da seleção: resgatar o que não deu certo e precisou mudar lá em 2004: Juninho Pernambucano entrando no meio-campo com Gilberto Silva, substituto do lesionado Emerson, e Zé Roberto. Kaká na ligação e Ronaldinho se juntando a Ronaldo na frente.

O mesmo 4-3-1-2 do amistoso em Paris dois anos antes. Mas diante dos Bleus mais concentrados e coordenados, com Ribéry e Malouda negando espaços a Cafu e Roberto Carlos, Makelele e Vieira cuidando de Kaká e Ronaldinho e Zinedine Zidane flutuando em campo e humilhando quem aparecesse na frente. Inclusive com chapéu em Ronaldo.

O 1 a 0 com gol de Henry saiu barato. A única finalização na direção da meta de Barthez foi de Ronaldo, aos 45 minutos do segundo tempo. Já com Adriano na vaga de Juninho, Robinho na de Kaká e Cicinho no lugar de Cafu. Era tarde e o Mundial se encerrou para o Brasil com Ronaldinho como grande decepção. Uma caricatura do melhor do planeta, aquele que ameaçava concorrer ao Olimpo de Pelé e Maradona.

Frustração que provocou mudanças como a invenção de Dunga como treinador, para impor disciplina e evitar a farra de Weggis. A volta do capitão de 1994 sepultava o sonho de resgatar 1970 com os craques que não conseguiram brilhar coletivamente.

Deixa saudades talvez pela reunião dos Bolas de Ouro – incluindo Kaká, que venceria em 2007 – antes da Era Messi x Cristiano Ronaldo. Mas como time era inviável, mesmo há 14 anos. E o jogo pouco comentado em outubro no Mangueirão pesou mais que os 4 a 1 sobre a Argentina em Frankfurt.

Os colegas do Esporte Interativo não devem se lembrar. Memória afetiva e, por isso, seletiva. Compreensível.  Ainda mais com as derrotas que viriam depois, com Neymar como estrela solitária e sem chances nas premiações individuais. Seja como for, é preciso reconhecer: em 2005 foi mais lúdico e divertido mesmo.

 

]]>
0
As dez maiores duplas de ataque da história http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/as-dez-maiores-duplas-de-ataque-da-historia/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/as-dez-maiores-duplas-de-ataque-da-historia/#respond Wed, 15 Apr 2020 11:10:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8305

Dupla de ataque é diferente de dupla de atacantes. Aqui entram jogadores que eram os mais avançados de suas equipes ou, dentro de um 4-3-3 ou 4-2-4, os que mais se procuravam para tabelas – o centroavante e o ponta-de-lança. Então duplas como Garrincha-Pelé, Ronaldo-Zidane ou Neymar-Messi, por exemplo, não fazem parte da lista. Questão de critério.

Então vamos ao “Top 10”, desta vez indo da décima à primeira colocação para os preguiçosos e/ou ansiosos ao menos passarem os olhos até o final.

[E, sim, este que escreve reconhece há um pouco de “pachequismo” envolvido, neste caso.]

10º – Bergkamp & Henry – Dos “Invincibles” de Arsène Wenger em 2003/04. Talento, velocidade, explosão, elegância e muita eficiência diante dos goleiros. Responsáveis por 34 gols e 17 assistências naquela campanha mágica.

9º Maradona & Careca – Um gênio e um grande centroavante fazendo história no Napoli mais vencedor, com título italiano e da Copa da UEFA, que hoje corresponde à Liga Europa. Foram a maior dor de cabeça de Arrigo Sacchi nos grandes duelos com o Milan no final dos anos 1980.

8º Ronaldo & Romário – Efêmera, porém espetacular, com os dois maiores atacantes do futebol brasileiro depois da Era Pelé, protagonistas nos dois últimos títulos mundias da seleção. Um bom entendimento em campo, especialmente no ano mágico de 1997.

7º Messi & Suárez – Desde 2014, viveram o melhor momento no Barcelona formando o tridente com Neymar que venceu a tríplice coroa e o Mundial de Clubes, mas ainda sintonizados e vencedores nas temporadas seguintes, com quatro ligas e quatro Copas na Espanha.

6º Cristiano Ronaldo & Benzema – Nada menos que quatro títulos de Liga dos Campeões em cinco temporadas. Demoraram a engrenar, já que chegaram juntos ao Real Madrid para a temporada 2009/10. Afinaram a sintonia com Ancelotti e arrebentaram com Zidane.

5º Ronaldo & Rivaldo – Nem tanto por 1998, já que Bebeto é que formava a dupla com o Fenômeno. Mas em 2002 eram os mais avançados e acionados por Ronaldinho Gaúcho. Marcaram 13 dos 18 gols da seleção de Luiz Felipe Scolari e resolveram na decisão com a Alemanha.

4º Gullit & Van Basten – Ganharam tudo no Milan e ainda a Eurocopa de 1988 com a Holanda de Rinus Michels. Entendimento no olhar, movimentação inteligente, inteligência nas tabelas e força no jogo aéreo. Não fossem os muitos problemas físicos e teriam sido ainda mais espetaculares.

3º Di Stéfano & Puskas – Dois dos maiores jogadores da história vencendo juntos duas Copas dos Campeões da Europa e quatro títulos espanhois pelo Real Madrid. Sintonia perfeita em campo, com um abrindo espaços para o outro e ainda forte amizade na vida pessoal. Monstros.

2º Bebeto & Romário – Carregaram nas costas a responsabilidade de acabar com um longo jejum de títulos da seleção brasileira. Primeiro em 1989, na Copa América em casa; cinco anos depois o Mundial nos Estados Unidos. De quebra uma prata olímpica em 1988. Se entendiam no olhar e sem o suporte de grandes meio-campistas.

1º- Pelé & Coutinho – Sem eles essa lista talvez nem existisse. Criaram no imaginário popular do Brasil e do mundo o simbolismo da dupla de ataque, com tabelas espetaculares, gols em profusão e muitos títulos pelo Santos. Faltou o protagonismo de Coutinho também na seleção, mas ainda assim viraram lendas.

]]>
0
Cinco momentos em que o acaso protegeu o Brasil-2002 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/#respond Mon, 13 Apr 2020 05:45:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8296

Foto: Divulgação / FIFA

Se em 1982 não era para ser, vinte anos depois tudo conspirou a favor da seleção brasileira. Mesmo com quatro treinadores no ciclo – Vanderlei Luxemburgo, Candinho, Emerson Leão e Luiz Felipe Scolari – e muita desorganização, sem grupo nem time definido até dois meses antes da viagem para a Ásia.

É óbvio que houve muitos méritos em campo e fora dele na conquista do título mundial, o quinto e último da seleção mais vencedora do planeta, mas o acaso protegeu a “Família Scolari” em momentos cruciais até a grande final, relembrada pela TV Globo no domingo. Por isso o blog lista cinco acontecimentos que ajudaram a construir a história do campeão mundial no Japão e na Coréia do Sul.

1 – O descarte de Romário

Felipão nunca explicou com clareza a razão de ter descartado Romário bem antes da lista final para o Mundial, apesar do clamor popular, especialmente no Rio de Janeiro, sede da CBF. A cada entrevista uma versão diferente, inclusive admitindo que quase cedeu ao último apelo emocionado do craque veterano. Mas sempre sinalizou que tinha a ver com gestão de vestiário, falta de confiança no jogador.

A decisão, porém, beneficiou mais o treinador no campo. Sem o heroi do tetra, Felipão pôde encaixar o trio de R’s – Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Fenômeno –  que o encantou nos 4 a 2 sobre a Argentina num amistoso em Porto Alegre, ainda sob o comando de Luxemburgo em 1999. Com o Baixinho, o técnico poderia ser pressionado e antecipar em quatro anos um “quarteto mágico” só no papel que dificilmente funcionaria na prática. Até pela pouca mobilidade de Romário com 36 anos.  Com o título, Felipão saiu como heroi visionário que assumiu os riscos e tinha razão.

2 – A “descoberta” de Gilberto Silva e Kléberson

Felipão virou 2002 com um time na cabeça, usando a base da equipe que venceu a Venezuela por 3 a 0 em São Luís e esperando pela incógnita Ronaldo, em recuperação de seríssima lesão no joelho direito. Mas faltavam opções para fechar os 23 convocados. O caminho até então tinha sido tortuoso, com eliminação na Copa América para Honduras e sofrimento para se classificar para o Mundial, com vaga confirmada só em novembro.

Nos primeiros amistosos do ano, Felipão resolveu fazer experiências convocando jogadores que vinham se destacando no cenário nacional. Nas goleadas sobre Bolívia por 6 a 0 no Serra Dourada e 6 a 1 na Islância em Cuiabá, além do 1 a 0 sobre a Arábia Saudita, em Riad, acabou “descobrindo” Gilberto Silva e Kléberson. A dupla dos Atléticos – Mineiro e Paranaense, este campeão brasileiro – marcou cinco gols e foi convocada para a reserva de Emerson e Juninho Paulista. Terminaram a campanha como titulares e fundamentais. Mérito do treinador, mas também muita sorte em uma escolha forçada pelas circunstâncias.

3 – As eliminações das favoritas Argentina e França

O Brasil estreou no Mundial diante da Turquia com tantas incertezas que pensar em título era utópico. Principalmente porque havia duas seleções como favoritas destacadas: a Argentina intensa de Marcelo Bielsa, líder das Eliminatórias e inspiração para o 3-4-3 de Felipão, e a França campeã mundial de 1998, da Eurocopa em 2000 e da Copa das Confederações em 2001. Disparada a melhor seleção do planeta.

Mas a Albiceleste sucumbiu em um duro grupo com Inglaterra, Nigéria e Suécia e voltou para casa. Assim como a França de jogadores desgastados e Zinedine Zidane destruído pela temporada europeia com título da Liga dos Campeões e golaço na final. Eliminada sem ir às redes uma única vez contra Uruguai, Senegal e Dinamarca. Vexames que pavimentaram o caminho para a seleção brasileira.

4 – O gol anulado da Bélgica nas oitavas

O primeiro tempo da disputa das oitavas de final foi de tensão pura para a equipe de Felipão. Totalmente desorganizada, com um buraco entre os três zagueiros, os alas Cafu e Roberto Carlos, mais Gilberto Silva à frente da defesa, e os três talentos na frente que Juninho Paulista não conseguia cobrir.

A Bélgica jogava com personalidade e muitos espaços, por dentro e nas laterais. Aos 35 minutos, uma jogada trabalhada com toda liberdade desde a ligação direta do goleiro De Vliegers foi parar no setor direito e de lá o cruzamento na cabeça de Marc Wilmots. Disputa absolutamente normal com Roque Junior, bola na rede e gol anulado. Um absurdo que tranquilizou a seleção que, na volta do intervalo, mesmo sem jogar bem, achou dois gols no talento de Rivaldo e Ronaldo e também o time da reta final com Kléberson na vaga de Juninho.

5 – A ausência de Ballack na final

A decisão em Yokohama foi tensa e equilibrada. A rigor, definida pela noite feliz de Marcos, um dos herois da conquista com grandes defesas, e a falha grotesca de Oliver Kahn, eleito o melhor da Copa antes da final, no primeiro gol de Ronaldo. Artilheiro letal ao aproveitar os erros adversários e também os lampejos de Rivaldo, que não foi bem na primeira etapa.

Clássico mundial que poderia ser ainda mais duro se o craque da Alemanha entre os dez da linha estivesse em campo. Michael Ballack foi suspenso pelo segundo amarelo na semifinal contra a Coreia do Sul. O autor do gol que colocou a desacreditada equipe de Rudi Voller na final. Liderança técnica e anímica, uma ausência que isolou Miroslav Klose no ataque e tirou volume de jogo dos alemães. O golpe derradeiro da ventura que empurrou o Brasil para o título.

]]>
0
Luizão foi um bom camisa nove, mas errou feio ao falar sobre centroavantes http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/06/luizao-foi-um-bom-camisa-nove-mas-errou-feio-ao-falar-sobre-centroavantes/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/06/luizao-foi-um-bom-camisa-nove-mas-errou-feio-ao-falar-sobre-centroavantes/#respond Mon, 06 Apr 2020 11:35:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8257

Foto: Pedro Ivo Almeida / UOL

“O Brasil não tem centroavante hoje. Não temos e sentimos muita falta disso. O Brasil foi pentacampeão mundial sempre com um 9, uma referência. […] Gabriel Jesus e Firmino não começaram a carreira como centroavantes. Eles são adaptados ali”.

Palavras do ex-jogador Luizão no programa “Última Palavra” no canal Fox Sports. Campeão mundial em 2002 e um bom centroavante, artilheiro e vencedor por Palmeiras, Vasco, Corinthians, São Paulo e Flamengo.

Mas errou feio ao falar sobre a sua posição. Em relação ao passado e aos tempos atuais. E não venham com o velho, surrado e furado papo de “ele jogou, você nunca chutou uma bola e não pode criticar”. Posso, sim. Primeiro pela liberdade de expressão, segundo porque ele já parou de jogar e está ali analisando o cenário futebolístico. E precisa ter conhecimento para não dizer bobagem.

E ele disse. “O Brasil foi pentacampeão mundial sempre com um 9, uma referência”. Quem era a referência em 1970, justamente a seleção considerada a melhor não só brasileira, mas de todas as Copas?

A resposta: ninguém. Tostão era um meia-atacante, um “ponta-de-lança”. Na equipe montada por Zagallo tinha a função de se movimentar, abrir espaços. Procurar o lado esquerdo, ajudando Rivellino, já que o lateral Everaldo praticamente não atacava. Deixava o corredor central para Pelé e as infiltrações em diagonal de Jairzinho.

Fez apenas dois gols no Mundial, na vitória por 4 a 2 sobre o Peru nas quartas de final da Copa no México. Foi muito mais importante, porém, facilitando o trabalho dos companheiros. Muito longe de ser o tal “homem-gol”.

A rigor, o único centroavante típico campeão mundial pelo Brasil foi Vavá, em 1958 e 1962. E mesmo ele também se movimentava. Com Zagallo mais recuado, ele dava dois passos para o lado esquerdo para que o jovem Pelé entrasse para concluir. Quatro anos depois, também ajudou com mobilidade para que Garrincha brilhasse.

Ronaldo e Romário foram craques geniais, atacantes completos – ou quase, já que o Fenômeno, por conta de um trauma por bolada, passou a ter medo de cabecear. Não atuavam exatamente na referência. Em 1994 o ataque era uma dupla, com Bebeto. Ambos criavam e finalizavam. No último título mundial brasileiro, o 3-4-3 da primeira fase precisou ser desmontado e Rivaldo ganhou mais liberdade para sair da esquerda e também formar uma dupla com Ronaldo.

Em algumas Copas, ter uma referência mais atrapalhou que colaborou. No Mundial de 1982, na Espanha, o grande time de Telê Santana contava com Serginho Chulapa. Artilheiro do Brasileiro daquele ano pelo São Paulo ao lado de Zico, mas com menos jogos. Um típico homem-gol, jogador do último toque para as redes. Alto, forte, sempre rondando a área adversária.

E perdeu gols de forma constrangedora. O mais grave justamente na derrota para a Itália, no primeiro tempo, tomando à frente de Zico. Livre, na cara do goleiro Zoff. Fora as muitas chances desperdiçadas nos demais jogos, especialmente na estreia contra a União Soviética. Apenas dois gols, contra a semiamadora Nova Zelândia e diante da Argentina, completando com total liberdade um cruzamento perfeito de Falcão.

Para muitos analistas, se a seleção tivesse um típico ponta pela direita em alto nível, o ataque e o time ficariam mais equilibrados com Sócrates e Zico se alternando como “falso nove”. Ou jogando com um atacante mais móvel, como Careca ou Nunes, que se deslocasse para a direita, no espaço deixado pelo “quadrado mágico” no meio. A referência não colaborou em nada.

O mesmo em 2014. Fred chegou ao Mundial longe do bom momento de 2012, quando foi campeão e artilheiro do Brasileiro com o Fluminense, e 2013, também vencedor e goleador da Copa das Confederações pela seleção. Na Copa, apenas um gol, nos 4 a 1 sobre Camarões. E uma falta de mobilidade que facilitou a marcação, sobrecarregou Neymar e desequilibrou a equipe de Felipão até a tragédia dos 7 a 1.

A crítica a Gabriel Jesus na última Copa do Mundo é válida. De fato, terminar o Mundial sem gols não é para se orgulhar. Os citados acima, em má fase ou não jogando como centroavante, ao menos foram às redes. A juventude do atacante de 21 anos atenua, mas não justifica a falta de contundência.

Mas fazer gols não era a única função de Jesus. Assim como Tostão em 1970, sem comparações, a tarefa era facilitar com mobilidade o trabalho de Neymar e Philippe Coutinho, as duas grandes estrelas. Algo muito comum no futebol mundial, como Suárez trabalhando para Messi no Barcelona e Benzema para Cristiano Ronaldo no Real Madrid tri da Liga dos Campeões.

E Giroud na França campeã mundial. O camisa nove alto e forte não marcou gols no torneio disputado na Rússia, assim como Gabriel Jesus. No entanto, o posicionamento no centro do ataque empurrou as defesas adversárias para trás e criou os espaços que Mbappé, Griezmann e Pogba precisavam para desequilibrar.

Roberto Firmino, também criticado por Luizão, é o nove do Liverpool, atual campeão da Champions e virtual da Premier League, se houver um final para esta edição do Inglês. Faz gols, mas a função principal é recuar, articular e deixar brechas para as infiltrações em diagonal de Salah e Mané.

Jogar exclusivamente para um goleador no centro do ataque é coisa do passado. As equipes hoje são muito mais móveis e dinâmicas, até pela falta de espaços. O ideal é tirar a referência justamente para dificultar a retaguarda do oponente. Lewandowski, Cavani, Diego Costa, Icardi, Aguero…Todos marcam gols, mas também se mexem bastante.

Assim como Luizão, que nos anos 1990 já procurava os flancos e deixava Rivaldo, Muller e Djalminha brilharem no lendário Palmeiras de 1996. O mesmo no Vasco campeão da Libertadores de 1998 com Donizete e Ramon ou Pedrinho e no Corinthians campeão brasileiro e mundial em 1999/2000 com Marcelinho Carioca, Edilson e Ricardinho. E aparecendo na área para ser decisivo e colocar o Brasil no Mundial de Japão/Coreia do Sul com dois gols sobre a Venezuela na última rodada das eliminatórias, em 2001.

Jogava bem, mas mandou mal na análise sobre a sua posição. Mais uma prova de que jogar e comentar são tarefas distintas. Uma não é, nem pode ser, consequência natural da outra. Só o feeling não basta, é preciso saber.

]]>
0
O que tem faltado à seleção brasileira desde 2002? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/22/o-que-tem-faltado-a-selecao-brasileira-desde-2002/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/22/o-que-tem-faltado-a-selecao-brasileira-desde-2002/#respond Sun, 22 Mar 2020 13:12:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8186

Foto: Arquivo / CBF

“O Brasil não pode estar tantos sem ser campeão mundial”. Palavras de Jorge Jesus em entrevista ao canal Fox Sports.

Em 2022 serão vinte anos. Menos que os 28 entre 1930 e 1958 e os 24 que separaram as Copas no México e nos Estados Unidos. Mas, de fato, muito tempo para quem costuma ser competitivo até quando não vive seus melhores momentos.

Pode ser algo natural, como a Alemanha que ficou de 1990 a 2014 sem a conquista, mesmo chegando à decisão em 2002 e sendo semifinalista nas duas Copas seguintes, uma delas em casa. Ou a sinalização de que a Europa está levando para o universo de seleções a superioridade que ostenta entre os clubes. Em técnica, tática e gestão, não bastando mais aos sul-americanos contar com os craques.

Desde 2012, um sul-americano não conquista o Mundial de Clubes. Desde 2002, os europeus vencem os Mundiais. Dois na Europa (Alemanha e Rússia), mas um na África (do Sul) e outro no Brasil. Único país sul-americano vencedor no Velho Continente em 1958 e que sediou o primeiro Mundial na América conquistado por um europeu.

Observando caso a caso, porém, é possível notar que tem faltado “timing” à seleção brasileira. Em 2005, 2009, 2013 e 2017, anos anteriores às Copas, viveu momentos melhores que na “hora da verdade”. Objetivamente, a campeã mundial não costuma ser a melhor do ciclo de quatro anos, mas a que sobrevive nas circunstâncias daquele mês de disputa.

O problema é que não há como mensurar isso, muito menos planejar. Pior ainda no Brasil, em que se cobra resultados da seleção até em amistosos. A ponto de Dunga tratar os primeiros jogos de 2014, ainda com o trauma dos 7 a 1, como verdadeiras finais. Muitas vezes deixando as substituições naturais de uma partida que não vale pontos para o final, ganhando tempo e administrando a vitória.

Ou Tite tratando o primeiro confronto contra os alemães depois do “Mineirazo”, a menos de três meses do Mundial, como uma final de Copa e também fazendo substituições no final para garantir a vitória por 1 a 0, gol de Gabriel Jesus. Superestimando uma Alemanha já sinalizando uma queda que se concretizaria na Rússia, com eliminação na primeira fase.

O país pentacampeão precisa ganhar sempre. E as eliminatórias sul-americanas acabam sendo tratadas como uma Copa de pontos corridos. Melhores campanhas para as Copas de 2006, 2010 e 2018. O que significaram? Grupos praticamente fechados, um trabalho torto de “manutenção” que tirou os desafios e acomodou os titulares absolutos. Sem contar a chance que dá para os adversários estudarem os padrões para anulá-los.

Em 2018, algo suis generis. Uma mudança na proposta de jogo dentro das necessidades de dois fatos não planejados: a queda de rendimento de Renato Augusto, seguido de problemas físicos, e a dificuldade para furar a linha de cinco na defesa da Inglaterra praticamente reserva no empate sem gols em Wembley.

Era novembro de 2017 e Tite resolveu criar uma nova maneira de atacar, mais posicional. Abriu Willian na ponta direita, colocou Daniel Alves para articular por dentro, centralizou Coutinho e ficou sem um organizador no meio, que era Renato Augusto, além de quebrar a mobilidade que existia com Coutinho vindo da direita para dentro na execução do 4-1-4-1 das eliminatórias.

Não foi isso que decretou a eliminação para a Bélgica, mas as atuações apenas razoáveis na primeira fase e nas oitavas contra o México abalaram a confiança que desmoronou no primeiro tempo do duelo com o gol contra de Fernandinho, substituto do pilar Casemiro, e o segundo de Kevin De Bruyne. A reação na segunda etapa com bombardeio contra a meta de um inspirado Courtois não foi suficiente para a virada.

De 2005 a 2013, outro fator que aumentou a impressão de que estava tudo certo e bastava esperar 12 meses, sem evolução, apenas para confirmar o hexa: a Copa das Confederações. Ou das ilusões.

Em 2005, uma Argentina desfalcada e exausta. Em 2009, a favorita Espanha tropeçando contra os Estados Unidos na semifinal e, quatro anos depois, a mesma Roja caminhando para um fim de ciclo e sem levar o torneio muito a sério tomando um 3 a 0 no Maracanã que criou o delírio coletivo de “O campeão voltou!”

O exemplo de 2002 também não é o melhor. Troca de comando técnico um ano antes, crise na eliminação para Honduras na Copa América e classificação sofrida na última rodada das eliminatórias. O acaso acabou protegendo bastante o Brasil na trajetória até o título na Ásia.

Primeiro a gratidão de Luiz Felipe Scolari acima da convicção. Aliviado por não ser o primeiro treinador a deixar o time canarinho fora de um Mundial, o técnico, ainda no vestiário do Castelão depois dos 3 a 0 sobre a Venezuela, prometeu que os onze que entraram em campo estariam na lista final.  Oito entrariam em campo na estreia contra a Turquia.

Três mudanças: Cafu, que entrou na vaga de Beletti, e dois do trio ofensivo – Ronaldinho Gaúcho, que até entrou no decorrer do jogo em São Luis, e Ronaldo Fenômeno, que se recuperava de gravíssimas lesões no joelho direito. O trio de “R’s”, com Rivaldo, era uma ideia de Felipão antes mesmo de assumir o comando técnico da CBF.

Em Porto Alegre, o treinador vira, sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, o trio destruir a Argentina em 1999 num amistoso que terminou 4 a 2. Bastou posicionar Ronaldinho mais perto dos meio-campistas e Rivaldo próximo de Ronaldo para dar liga de vez.

Encaixe que se deu a partir das quartas contra a Inglaterra. Antes, sofrimento com uma equipe desequilibrada, que perdera o capitão Emerson lesionado na véspera da estreia e posicionou Gilberto Silva mais próximo do trio de zagueiros para dar liberdade aos alas Cafu e Roberto Carlos, o meia Juninho Paulista e o trio de ataque com posicionamento mais fixo: Ronaldinho e Rivaldo nas pontas, Ronaldo de centroavante. A ideia era emular o 3-3-1-3 de Marcelo Bielsa na Argentina.

Com Kleberson mudando o complicado duelo contra a Bélgica nas oitavas, Felipão rearrumou a equipe em um 3-5-2 que mantinha a variação com Edmilson adiantando como volante quando o adversário atuava com apenas um atacante. Mas dando liberdade de vez ao trio que acabou desequilibrando na reta final.

Uma Copa um tanto suis generis, com as favoritas França e Argentina saindo na primeira fase – muito pelo desgaste da temporada europeia que não sacrificou Ronaldo e Rivaldo, vindo de lesões – e arbitragens para lá de suspeitas. A mais escandalosa nas quartas favorecendo a anfitriã Coreia do Sul contra a Espanha. Mas também beneficiando o Brasil, como no pênalti mais que “mandrake” sobre Luizão nos 2 a 1 sobre a Turquia na fase de grupos e o gol anulado de Marc Wilmots para a Bélgica, ainda com zero a zero no placar.

Mas não tira os méritos da conquista. O Brasil foi a melhor seleção naquele mês de junho. Como precisa ser no final de 2022, se houver Mundial no Catar em um cenário de pandemia e eventos esportivos empurrados para frente no mundo todo.

A questão é como construir uma trajetória de evolução constante até a Copa. Como fizeram, por exemplo, Espanha e Alemanha. A Roja em um ciclo que duraria até a Euro de 2012, os alemães persistindo com o trabalho de Joachim Low mesmo sem conquistas durante todo o período.

Tite terá tempo para refletir. Não se sabe como será o futebol depois da pandemia. A pausa, inclusive, não foi tão boa para a estrela maior, Neymar, de novo em alta com a classificação do PSG para as quartas da Liga dos Campeões.

A missão será inglória em qualquer cenário. Para encerrar o jejum que não é tão inaceitável como Jorge Jesus enxerga. Mas é claro que incomoda.

]]>
0
Gabriel Jesus é reserva de Aguero e não tem obrigação de ser “Fenômeno” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/05/gabriel-jesus-e-reserva-de-aguero-e-nao-tem-obrigacao-de-ser-fenomeno/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/05/gabriel-jesus-e-reserva-de-aguero-e-nao-tem-obrigacao-de-ser-fenomeno/#respond Sun, 05 Jan 2020 06:50:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7798

Foto: Getty Images

O Brasil é cinco vezes campeão do mundo e, no universo das seleções, teve dois períodos de domínio: o primeiro de 1958 a 1970, com três títulos em quatro Copas e protagonismo de Garrincha e Pelé; o segundo de 1994 a 2007, com mais duas conquistas mundiais e cinco jogadores contemplados com as maiores premiações individuais – Romário em 1994, Ronaldo em 1996, 1997 e 2002, Rivaldo em 1999, Ronaldinho Gaúcho em 2004 e 2005 e Kaká em 2007.

A última fase coincidiu com a perda de relevância das Copas do Mundo. A partir de 2008, com a hegemonia de Messi e Cristiano Ronaldo, a Liga dos Campeões ganhou força e o argentino e o português dominaram mesmo sem um título mundial por suas seleções. O Brasil teve Neymar oscilando, três eliminações em quartas de final e os 7 a 1 no Mineirão em 2014.

Olhando para a história do futebol, um ocaso compreensível. Tirando o “espasmo” em 1982, foi mais ou menos o que o aconteceu entre 1970 e 1994. A arrogância brasileira, porém, cobra um protagonismo ininterrupto, como se o escrete canarinho perdesse sempre para si mesmo e ninguém mais jogasse em alto nível no planeta. Uma percepção que muda pouco no senso comum, mesmo com jogos internacionais sendo transmitidos como nunca por aqui.

E toda derrota carrega seu vilão no jeito emocional de analisar o jogo no “país do futebol”. Em 2018, além das quedas de Neymar, a falta de gols de Gabriel Jesus, então com 21 anos, foi o grande alvo dos críticos. De fato, o jovem atacante do Manchester City não teve bom desempenho, embora tenha sido útil taticamente em muitos momentos.

Mas a expectativa criada pelos gols na campanha do ouro olímpico, nas eliminatórias e o da vitória no amistoso contra a Alemanha que foi tratado como jogo oficial e uma “revanche” contra os algozes da Copa no Brasil foi exagerada.

Porque Gabriel Jesus não é um extra-classe. E pode construir uma carreira digna, mesmo sem seguir a linhagem de Ronaldo e Romário que Adriano Imperador ensaiou uma continuidade. Na carreira tem 86 gols e 29 assistências em 209 partidas. No City, 58 bolas nas redes adversárias e 19 passes para gols. É comandado por Pep Guardiola desde que chegou a Manchester.

E é reserva de Kun Aguero. Simplesmente o maior artilheiro da história do clube com 245 gols em 357 jogos. Presente nos quatro títulos da Era Premier League, sendo peça decisiva em todos – especialmente no primeiro, temporada 2011/12, a primeira do argentino no clube, definindo o título com o terceiro gol, já nos acréscimos, sobre o Queens Park Rangers. Aos 31 anos é ídolo inquestionável, um símbolo.

Por isso Pep Guardiola o chamou de “insubstituível” e classificou Gabriel Jesus como “um bom reserva”. O suficiente para ferir o orgulho brasileiro, ainda mais por exaltar um “hermano”. Bobagem, até porque o brasileiro é jovem, tem mostrado evolução e ganha minutos naturalmente nas temporadas. Aguero não dá conta de todos os jogos da temporada, seja por desgaste ou lesões, suspensões… E há tempos esse conceito de titulares e reservas mudou significativamente, com o aumento da intensidade da disputa.

Jesus já marcou oito gols em dezessete aparições na liga, os dois últimos nos 2 a 1 sobre o Everton. Sete vezes saindo do banco de reservas. Na Liga dos Campeões foi às redes quatro vezes, no mesmo número de partidas – uma vez saindo do banco. Aguero tem dez gols na competições por pontos corridos em 15 jogos. Mais dois gols em três partidas pela Champions. Mais um na goleada por 4 a 1 sobre o Port Vale pela Copa da Inglaterra.

Os números podem ser semelhantes na média, mas são atacantes de prateleiras diferentes. Ao menos por enquanto, e no contexto do City. Falta ao brasileiro mais “punch” em jogos grandes, mas vem evoluindo em fundamentos e ficando menos afobado na hora de tomar a decisão perto da meta adversária. Questão de tempo e treino.

Porque ninguém é obrigado a ser “Fenômeno”, ou “gênio da grande área”. Guardiola conhece bem e sabe como utilizá-lo. Na seleção, Tite tenta encaixar o camisa nove com Roberto Firmino, mas não é tão simples sem a rotina de treinamentos. Parte do processo. Ainda assim, foi peça importante na conquista da Copa América no Brasil ano passado.

E a vida segue, como deve ser. Sem histeria ou fatalismo. O atacante brasileiro não pode viver apenas entre a consagração e o fracasso. Ser gênio ou um lixo. Jesus é bom e deve ficar ainda melhor. O tempo precisa ser aliado, não adversário na nossa pressa de definir uma carreira. Menos mal que Guardiola tem paciência e plena noção do que tem nas mãos. Pensando também no futuro.

(Estatísticas: Whoscored.com)

 

 

]]>
0
Por que Romário é o maior jogador brasileiro pós-Pelé http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/15/por-que-romario-e-o-maior-jogador-brasileiro-pos-pele/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/15/por-que-romario-e-o-maior-jogador-brasileiro-pos-pele/#respond Fri, 15 Feb 2019 13:21:16 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5936

Respondendo à pergunta que fizeram a este blogueiro nas redes sociais depois do post sobre Neymar ser o melhor jogador brasileiro pós-Pelé: então quem seria o maior? Confira no vídeo acima.

]]>
0
Neymar é o melhor jogador brasileiro pós-Pelé, mas não o maior http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/13/neymar-e-o-melhor-jogador-brasileiro-pos-pele-mas-nao-o-maior/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/13/neymar-e-o-melhor-jogador-brasileiro-pos-pele-mas-nao-o-maior/#respond Wed, 13 Feb 2019 13:31:00 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5915

Imagem: Reprodução Placar

A edição especial de fevereiro da revista Placar rende homenagem aos 10 anos de carreira de Neymar no futebol profissional celebrando o craque do PSG como “o maior jogador brasileiro pós-Pelé”. Será?

Quem lê este blog sabe que aqui não há perseguição ao camisa dez da seleção brasileira e do Paris Saint-Germain. Pelo contrário, os textos procuram situar bem no contexto do futebol nacional e mundial a estrela solitária do país cinco vezes campeão do mundo.

Aliás, este é um fator a ser considerado na análise. Todos os nossos protagonistas sempre tiveram alguém para dividir responsabilidades e holofotes: o jovem Pelé teve Didi e Garrincha, em 1970 o veterano camisa dez dividiu com Gerson, Tostão, Rivelino e Jairzinho os méritos pelo tricampeonato mundial. Depois Rivelino viu Zico surgindo, mais tarde o Galinho seria a estrela junto com Sócrates e Falcão na equipe de Telê Santana.

No México, Careca surgiu como protagonista e logo ganhou a companhia de Romário e Bebeto, destaques do tetra em 1994. Depois Ronaldo Nazário com Rivaldo e em seguida Ronaldinho Gaúcho, que teria Kaká como parceiro.

Neymar segura a bronca desde 2010. No “vácuo” de Ronaldinho, Kaká, Robinho e Adriano que caíram de produção no mais alto nível, cada um por seus motivos, e não lideraram uma renovação na seleção brasileira. De lá para cá, desde Paulo Henrique Ganso a Philippe Coutinho e Gabriel Jesus, ninguém conseguiu de fato e por um bom período tirar este peso misturado com privilégio do nosso craque maior.

Mas respondendo objetivamente a pergunta do final do primeiro parágrafo, este blogueiro diria que Neymar é, sim, o melhor desde Pelé. Não o maior.

A análise sobre quem é melhor é absolutamente pessoal e subjetiva, envolve preferências pessoais, estilo, estética. Obviamente considerando jogadores dentro de uma mesma “prateleira” ou ao menos próxima. Neste contexto, Neymar pode ser colocado acima de Zico, Careca, Romário, Rivaldo, os Ronaldos e Kaká.

Porque é arco e flecha, arma e finaliza. Tem tudo para se tornar o segundo maior artilheiro da seleção, só atrás de Pelé. Provavelmente com média inferior a Ronaldo, Zico e Romário, mas um feito considerável dentro de um cenário muito mais parelho. Sem, por exemplo, as goleadas sobre seleções semiamadoras de outros tempos.

Neymar tem um repertório de jogadas superior aos “concorrentes”. E jogando com muito menos tempo e espaço para pensar e executar. 60 gols e 36 assistências em 96 partidas com a camisa verde e amarela. Em clubes(Santos, Barcelona e PSG), 291 bolas nas redes e 148 passes para gols em 469 jogos. Muita regularidade e interferência nos jogos e no desempenho de suas equipes.

Contestado? Obviamente, como todos os outros, fora Pelé, antes de vencer a primeira Copa do Mundo. Talvez a memória afetiva de muitos não permita recordar, mas Romário, Rivaldo e os Ronaldos, para ficar apenas nos destaques dos últimos dois títulos, tiveram sua capacidade colocada em xeque.

O Baixinho depois da expulsão tola contra o Chile em 1989 e a irresponsabilidade de jogar peladas com gesso na perna que prejudicaram a recuperação de uma fratura a tempo de disputar a Copa de 1990 em bom nível. Rivaldo foi execrado na Olimpíada de 1996 e, mesmo jogando bem no Mundial de 1998, conviveu com críticas por não render na seleção o mesmo que nos clubes até brilhar em 2002.

O Fenômeno aturou vaias em 1996, ganhou fama de “amarelão” em 1998 e só se redimiu com a conquista na Ásia. Ronaldinho também era cobrado para mostrar o mesmo rendimento do Barcelona e, depois de ser demonizado pela derrota em 2006 nunca mais recuperou prestígio na seleção.

Mas, ainda assim, são maiores que Neymar. Porque venceram a Copa do Mundo. Um feito que separa meninos de homens. E aumentam a distância porque o craque de hoje insiste em não amadurecer, principalmente fora de campo. Comportamento, posturas e palavras que impedem que se torne um ídolo nacional. E neste aspecto fica atrás de outros que também não levantaram taças, como Sócrates e Zico.

O posicionamento como figura pública também engrandece e Neymar vive numa espécie de bolha, no próprio mundinho. Eterno adolescente, mais produto que homem. Uma escolha que traz seus prazeres, mas também prejuízos. Ele parece não se importar, só quer se divertir jogando e com os “parças”. A vida, porém, não é só isso.

Neymar é o único com títulos de Libertadores, Liga dos Campeões e Mundial de Clubes. Não conquistou a Bola de Ouro porque compete com Messi e Cristiano Ronaldo, que provavelmente roubariam prêmios individuais dos brasileiros contemplados no passado. É craque com momentos geniais. O mais talentoso a surgir em nossos campos desde que Pelé parou de jogar, gostem os saudosistas ou não desta opinião.

Mas para ser o maior é preciso crescer. Eis o ponto que Neymar não parece entender. Ou não quer enxergar. Será que dá tempo depois dos 27 anos?

 

 

]]>
0