saopaulo – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 São Paulo não venceu melhor da Europa em 2005, mas méritos são inegáveis http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/24/sao-paulo-nao-venceu-melhor-da-europa-em-2005-mas-meritos-sao-inegaveis/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/24/sao-paulo-nao-venceu-melhor-da-europa-em-2005-mas-meritos-sao-inegaveis/#respond Sun, 24 May 2020 20:49:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8542

Foto: Martin Rickett / Getty Images

Em dezembro de 2005, o melhor time da Europa já era o Barcelona de Ronaldinho. Líder do Espanhol, melhor campanha da fase de grupos da Liga dos Campeões 2005/06, superando Arsenal e Lyon no saldo de gols. Em novembro, massacrara o Real Madrid de Vanderlei Luxemburgo no Santiago Bernabéu por 3 a 0, na memorável atuação do brasileiro camisa dez blaugrana, que arrancou aplausos da torcida do maior rival. Ao final da temporada seria campeão nacional e europeu, no auge do trabalho de Frank Rijkaard no comando técnico.

Mas o Liverpool de Rafa Benítez era forte. Na Premier League, caçava o líder Chelsea, campeão da temporada anterior e comandado por José Mourinho. Os Blues também foram adversários dos Reds na fase de grupos da Champions. Empataram em 0 a 0 os dois jogos. O time vermelho vinha de uma invencibilidade de 11 jogos, sem sofrer gols, e carregavam uma confiança quase inquebrantável por conta da reação na final contra o Milan, saindo de um 3 a 0 contra, empatando e vencendo nos pênaltis. O “Milagre de Istambul”.

Na semifinal do Mundial, passaram com facilidade pelo Deportivo Saprissa, o surpreendente time da Costa Rica que vencera a Liga dos Campeões da CONCACAF. Três a zero e o campeão europeu carregava um favoritismo natural para a segunda edição do torneio organizado pela FIFA. O retrospecto recente, nos dez anos de 1995 a 2005, já mostrava um domínio do Velho Continente: foram oito conquistas a três, considerando as duas edições de 2000.

Também porque o São Paulo enfrentara mais dificuldades contra o Al-Ittihad na vitória por 3 a 2. O campeão da Libertadores que, depois do título sul-americano, passou o segundo semestre oscilando, chegou a flertar com a zona de rebaixamento no Brasileiro, mas terminou na 11ª colocação. Exatamente o meio da tabela na edição com 22 clubes.

Justificava os cuidados defensivos da equipe comandada por Paulo Autuori na final em Yokohama, reprisada pela TV Globo neste domingo, para São Paulo. Especialmente depois do gol de Mineiro, aos 27 minutos do primeiro tempo. O auge do único momento real de equilíbrio na partida.

O Liverpool, que fazia um jogo mais direto, terminou com 53% de posse porque impôs seu volume de jogo, buscando Morientes e Luis Garcia nas ligações diretas e jogo aéreo. Finalizou 21 vezes contra apenas quatro dos sul-americanos. Oito a dois na direção da meta.

Três ataques que terminaram com a bola nas redes bem anulados pela arbitragem, atuação portentosa de Rogerio Ceni, especialmente na antológica defesa em cobrança de falta de Steven Gerrard. Já ídolo e líder em Anfield, grande destaque da equipe inglesa que empurrou o São Paulo para um 5-2-2-1 com os alas Cicinho e Junior mais recuados e Josué e Mineiro se desdobrando à frente da defesa. Amoroso e Danilo ajudavam a fechar espaços e Aloísio, depois Grafite, lutando sozinho contra os zagueiros Carragher e Hyypia.

O São Paulo se virou como pôde e teve méritos inegáveis. O maior deles foi o de resistir. Sem vergonha de se reconhecer inferior na partida e defender a vantagem conquistada. No final, a justa celebração apoteótica, no Japão e no Brasil.

Porque definitivamente não venceu qualquer um no tricampeonato mundial inédito para brasileiros e, por isso, histórico.

]]>
0
No primeiro título nacional do Corinthians, Neto foi craque e “falso nove” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/12/no-primeiro-titulo-nacional-do-corinthians-neto-foi-craque-e-falso-nove/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/12/no-primeiro-titulo-nacional-do-corinthians-neto-foi-craque-e-falso-nove/#respond Tue, 12 May 2020 12:50:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8469

Foto: Acervo / Corinthians

Em 1990, o Corinthians já tinha 20 dos seus 30 títulos que o tornam o líder absoluto de troféus no Paulistão. Mas ainda faltava uma conquista nacional que não foi alcançado em 1976, perdendo a decisão para o Internacional bicampeão. Nem pelo time de Sócrates, Zenon e Casagrande no início dos anos 1980 – apenas duas semifinais, em 1982 caindo para o Grêmio e 1984, eliminado pelo Fluminense.

Coube a uma equipe desacreditada, que começou a campanha com derrotas para Grêmio (3 a 0) e Cruzeiro (1 a 0), foi irregular no desempenho durante praticamente toda a trajetória, mas que ganhou confiança e consistência na reta final até as duas vitórias por 1 a 0 no Morumbi sobre o rival São Paulo de Telê Santana na decisão.

O Corinthians de Nelsinho Baptista, treinador que vinha de um vice-campeonato paulista com o Novorizontino e assumiu o time depois da demissão de Zé Maria, o técnico das duas primeiras derrotas.

Uma equipe que sequer chegara à decisão dos dois últimos estaduais e, na edição de 1989 do Brasileiro decepcionou após um bom primeiro turno, perdendo a vaga na final para o São Paulo. Na recém fundada Copa do Brasil, eliminação nas quartas-de-final de 1989 para o Flamengo. Como na época só entravam o campeão e o vice do estadual, acabou ficando de fora da edição de 1990.

Campanha de 12 vitórias, oito empates e cinco derrotas. Apenas 23 gols marcados, média inferior a um por partida. Vinte sofridos. Fechou a primeira fase classificatória com um revés até vexatório para o Internacional por 3 a 0 no Pacaembu. Garantindo a oitava e última vaga por conta da derrota do Goiás para a Portuguesa por 2 a 0.

Nas quartas contra o Atlético Mineiro e na semifinal diante do Bahia, vitórias por 2 a 1 no Pacaembu e empates sem gols fora, sempre decidindo como visitante. Vivendo da força da torcida, das defesas do goleiro Ronaldo e do sacrifício coletivo da equipe. Mas fundamentalmente de José Ferreira Neto.

O camisa dez que chegou em 1989, vindo do Palmeiras em uma saída traumática para o jogador. Depois de se destacar em 1988 pelo Guarani vice-campeão paulista, com direito a golaço de bicicleta na ida da final contra o próprio Corinthians. Sempre enfrentando problemas físicos e a luta para não ganhar peso.

Mas muito talento em chutes, lançamentos e, especialmente, na bola parada. O problema, na época, era posicioná-lo em campo. Neto não tinha gás para fazer a ida e volta de meia no típico 4-2-2-2 daquele período. Também não tinha velocidade para ser um segundo atacante. E não gostava de jogar de costas para a defesa adversária como centroavante. Queria liberdade para circular.

A solução de Nelsinho durante a maior parte da campanha foi um 4-3-3 que sacrificava o centroavante – Paulo Sérgio, Dinei ou Tupãzinho – voltando na marcação e deixando Neto mais adiantado quando o time perdia a bola. Na retomada, o camisa nove retomava seu posicionamento e o dez ficava solto em campo para criar e finalizar. Em poucas partidas, um 4-4-2 com Tupãzinho no meio e Dinei no ataque.

Foram nove gols, cinco em cobranças de falta, e duas assistências. Participação em quase metade dos gols do Corinthians na campanha. Mas nos últimos jogos o fôlego e a força nas pernas para a bola parada pareciam no fim. A ponto de ser substituído na Fonte Nova contra o Bahia. O esforço tinha sido enorme nas duas vitórias em casa, com três gols e muita entrega.

Na final contra o São Paulo, a entrada de Wilson Mano no meio-campo ao lado de Márcio Bittencourt para proteger a defesa. Tupãzinho com a camisa nove e Fabinho e Mauro pelas pontas, mas também voltando para marcar a equipe de Telê Santana, que se destacava justamente pelo volume de jogo. Era o rascunho do time que venceria tudo nos anos seguintes.

E Neto? Totalmente liberado. Sem bola chegava a caminhar em campo, protegido por seus companheiros. Bola roubada, o mais talentoso procurava os flancos, zonas menos congestionadas, para arriscar lançamentos ou até chutes de longa distância.

Articulava e era ultrapassado pelo trio ofensivo, que preenchia a área adversária. Assim saiu a bela tabela entre Fabinho e Tupãzinho, que marcou o gol que selou a conquista. Depois da vitória também por 1 a 0 na ida, gol de Wilson Mano completando o cruzamento de Neto em cobrança de falta pela esquerda.

O termo “falso nove” obviamente não foi citado por Nelsinho, nem Neto em 1990. Só foi popularizado em 2011, com Messi no Barcelona. Mas a função era a mesma: ser o jogador mais adiantado da equipe sem a bola e ficar livre para se movimentar por todo campo e chegar à área adversária para concluir quando o time atacava.

Assim Neto viveu o grande momento de sua carreira errática e que o hoje apresentador e comentarista reconhece que poderia ter sido bem mais brilhante e vitoriosa. Ele mesmo e muitos torcedores e jornalistas cobram até hoje de Sebastião Lazaroni a presença do meia na Copa do Mundo daquele ano, mas o melhor futebol só apareceu no segundo semestre, depois do Mundial. No Brasileiro.

Destaque absoluto daquela edição e escreveu seu nome em uma das páginas mais importantes da história do Corinthians. O primeiro dos sete títulos de um gigante do futebol nacional. Não é pouco e merece ser lembrado e respeitado.

O Corinthians das vitórias sobre o São Paulo por 1 a 0 na decisão: um 4-3-3 que dava liberdade total a Neto, que ficava mais adiantado na fase defensiva e se movimentava procurando os flancos e sendo ultrapassado por Fabinho, Tupãzinho e Mauro quando o time atacava (Tactical Pad).

 

 

]]>
0
O Vasco campeão que “converteu” as filhas de Aldir Blanc http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/05/o-vasco-campeao-que-converteu-as-filhas-de-aldir-blanc/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/05/o-vasco-campeao-que-converteu-as-filhas-de-aldir-blanc/#respond Tue, 05 May 2020 13:22:12 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8432

Foto: Acervo / O Globo

Aldir Blanc partiu ontem aos 73 anos, perdendo a luta contra a Covid-19. O escritor e compositor, autor de “O Bêbado e a Equilibrista”, era um vascaíno apaixonado e dedicado. Artista que incluía o amor pelo clube em suas obras.

O título carioca de 1956 capturou o coração do menino de nove anos. Trinta e três anos depois conseguiu transmitir o sentimento cruzmaltino para as filhas Mariana, então com 14 anos, e Isabel, que tinha oito. Graças à comemoração da conquista do Brasileiro de 1989, o segundo da história do clube.

Triunfo que começou a se desenhar com a polêmica contratação de Bebeto, que deixou o Flamengo. Depois do presidente Antonio Soares Calçada negar o interesse em conversa com o presidente rubro-negro, Gilberto Cardoso Filho, o clube comprou o passe do artilheiro e craque da Copa América daquele ano.

Junto com Bebeto chegaram o lateral Luis Carlos Winck, o zagueiro equatoriano Quiñonez e o meio-campista Marco Antonio Boiadeiro e o ponta-esquerda Tato,  além de outros dois ex-rubro-negros repatriados: Andrade e Tita. O treinador seria Nelsinho Rosa.

O investimento focava na reconstrução da equipe que perdera a hegemonia estadual para o Botafogo com o desmonte do time bicampeão comandado por Sebastião Lazaroni. Paulo Roberto, Donato, Fernando, Geovani, Romário e Roberto Dinamite deixaram São Januário e o então diretor de futebol Eurico Miranda arregaçou as mangas.

O Vasco terminou a primeira fase, disputada em dois grupos de 11 times (!) com turno único dentro do mesmo grupo, na segunda colocação, atrás do Palmeiras com os mesmos 14 gols, porém um gol a menos no saldo. Cinco vitórias, quatro empates e a única derrota, justamente para o Alviverde por 1 a 0.

Na segunda fase, dois grupos de oito com turno único e os times enfrentando apenas os do outro grupo e a classificação considerava os pontos da fase anterior – haja criatividade para criar regulamentos esdrúxulos!

O time de Nelsinho Rosa terminou um ponto à frente do Cruzeiro e se classificou para a final. Com três vitórias, quatro empates e a derrota para o Flamengo por 2 a 0, gols de Bujica. Nesta partida, além de perder Bebeto expulso, o treinador constatou que a equipe que apostava em toque de bola reunindo na frente Tita, Bismarck, Boiadeiro e Bebeto precisava de mais presença de área.

Com o jovem Sorato formando dupla na frente com Bebeto, o Vasco saiu de campanha irregular para uma arrancada final  vencendo Corinthians e Internacional fora de casa. Gol de Sorato em São Paulo e dois de Bebeto em Porto Alegre.

A melhor campanha deu um ponto de vantagem na decisão contra o São Paulo, que contava com Raí e era comandado por Carlos Alberto Silva. Ou seja, se vencesse a partida de ida, no Morumbi, o Vasco seria o campeão nacional. O jogo na capital paulista aconteceu no dia 16 de dezembro, um sábado. Porque no dia seguinte aconteceria o segundo turno da eleição presidencial, a primeira depois da redemocratização do país, entre Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva.

O Vasco entrou em campo com a equipe de deu liga nas últimas partidas: Acácio no gol; Luis Carlos Winck e Mazinho nas laterais, Marco Aurélio e Quiñonez na zaga; Zé do Carmo como volante mais fixo, Boiadeiro fazendo o trabalho de área a área articulando com William, o “falso ponta” pela esquerda que circulava por todo campo. Bismarck era o meia-atacante, camisa dez, que encostava na dupla de ataque. Um 4-2-2-2 típico da época.

Jogo equilibrado definido pelo cruzamento preciso de Winck na cabeça de Sorato, aos cinco minutos do segundo tempo. Depois foi se fechar na defesa, Acácio garantir com boas defesas e o Vasco evitar a partida de volta no Maracanã que poderia proporcionar uma grande renda, mas colocaria em risco um título que não vinha desde 1974 e que consolidou a força cruzmaltina no período.

O artilheiro da equipe foi Bismarck, com oito gols. Sorato fez apenas três, porém decisivos – o primeiro no empate por 2 a 2 com o Botafogo na antepenúltima rodada da segunda fase. Acabou como heroi da conquista.

Mas o personagem foi Bebeto, que marcou seis e terminou um ano mágico na carreira com o primeiro título brasileiro reconhecido oficialmente – o atacante vencera a controversa Copa União de 1987 pelo Flamengo – e agora como ídolo nacional.

Certamente o talento do craque e a festa da torcida ajudaram Blanc a convencer suas meninas a amar a Cruz de Malta. Um momento feliz em período complicado da vida do artista que lutava contra a depressão. Mas naquele sábado histórico comemorou em família a conquista vascaína.

]]>
0
São Paulo 5×1 U. Católica (1993) – A obra-prima da carreira de Telê Santana http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/24/sao-paulo-5x1-u-catolica-1993-a-obra-prima-da-carreira-de-tele-santana/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/24/sao-paulo-5x1-u-catolica-1993-a-obra-prima-da-carreira-de-tele-santana/#respond Fri, 24 Apr 2020 11:20:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8355

É natural que Telê Santana seja lembrado pelos torcedores em geral por sua passagem pela seleção brasileira, marcante em duas Copas do Mundo, mesmo sem título. Mas o treinador contribuiu para o futebol nacional até quando não venceu, armando grandes equipes.

Não só no Atlético Mineiro no único título brasileiro, em 1971, ou no Grêmio que encerrou em 1977 a hegemonia de oito títulos estaduais do rival Internacional, então dominante no cenário nacional. Telê foi o mentor do Palmeiras que enfiou 4 a 1 no Flamengo de Zico no Maracanã em 1979, do Galo de melhor campanha na fase de grupos da Copa União de 1987 e do Fla que perdeu o título estadual para o Botafogo em 1989, porém brindou a torcida com futebol ofensivo, utilizando Zico como um armador mais recuado.

No Fluminense, time de coração, estreou como técnico sendo campeão carioca em 1969 e armando a base que seria campeã brasileira em 1970, com Paulo Amaral. Sempre apostando em futebol limpo, sem antijogo e voltado para o ataque.

Embora tenha demonstrado a partir de 1986 que aprendera com alguns equívocos da Copa do Mundo na Espanha, tornando suas equipes mais competitivas e com maiores cuidados defensivos, foi no processo de amadurecimento no São Paulo que, com mais de 60 anos e vinte como treinador, Telê chegou ao auge da carreira.

Dois paulistas, um brasileiro, duas Libertadores e dois Mundiais de Clubes. Mais uma Supercopa, duas Recopas Sul-Americanas e ainda a última final de Libertadores em 1994, perdida na decisão por pênaltis para o Vélez Sarsfield de Carlos Bianchi. Em cinco anos até a isquemia cerebral em janeiro de 1996 que o impossibilitou de trabalhar, a trajetória mais vitoriosa no Brasil depois do Santos de Pelé.

O triunfo mais emblemática talvez tenha sido a do primeiro título mundial, em 1992 sobre o Barcelona comandado por Johan Cruyff. De virada, em Tóquio, com dois gols históricos de Raí. Um triunfo para se colocar no topo do planeta, sem dúvidas.

Mas a grande obra-prima desse time e da trajetória de Telê, a consolidação da maneira de jogar se impondo com autoridade em um jogo grande, se deu no Morumbi em 1993. Partida de ida da final da Libertadores contra a Universidad Católica.

Não foi exatamente uma atuação perfeita, já que a equipe cedeu muitas chances ao time chileno e fez do goleiro Zetti um dos destaques da partida. Mas transição defensiva nunca foi o forte das equipes de Telê, até pela liberdade que dava aos jogadores de defesa para atacar. A solução encontrada para compensar ao longo do tempo, utilizando volantes mais marcadores, como Dinho e Pintado, nem sempre cobria os buracos da retaguarda.

Mas na fase ofensiva era bonito de ver como o quarteto formado por Cafu, Palhinha, Raí e Muller se entendia no olhar, sabendo o tempo certo de se apresentar para a tabela ou se lançar às costas da defesa adversária. Um sincronismo perfeito. Ainda que o primeiro gol tenha saído só aos 30 minutos e sido contra, de López, a equipe tricolor já havia criado e cedido oportunidades.

O segundo, ainda no primeiro tempo, na típica infiltração em velocidade do lateral direito Vitor, com chute também desviado. Um placar para tranquilizar e preparar o recital que viria na segunda etapa. Com golaço do zagueiro Gilmar em bela jogada individual pela esquerda. Contando com a cobertura do lateral Ronaldo Luiz e de Dinho.

Depois Palhinha acionou Cafu, que cruzou para Raí escorar de peito. E Muller marcou o quinto encobrindo o goleiro. Zetti faria uma sequência de quatro defesas à la Rodolfo Rodríguez, goleiro uruguaio que jogou no Santos e ficou famoso por um milagre parecido na Vila Belmiro contra o América de Rio Preto. E quase pegou o pênalti inventado pela arbitragem no final convertido por Almada que decretou o placar final em 5 a 1. Numa decisão continental!

No Chile, derrota por 2 a 0 e o título com sabor amargo de despedida para Raí, que partiria para o Paris Saint-Germain. Mas deixou nas retinas dos são-paulinos e fãs do futebol bem jogado uma exibição de gala, o auge de uma equipe histórica.

O ataque sem centroavante, nem definição clara das funções, que normalmente tinha Cafu pela direita, Raí mais centralizado, ora fazendo o papel de centroavante pela boa estatura e capacidade de proteger a bola, ora aparecendo na área como um dez para finalizar. Sintonia perfeita com Palhinha, que circulava por todo campo e era o articulador da equipe.

Muller era quem ficava mais avançado, normalmente pela esquerda. Já com a inteligência desenvolvida na passagem pelo futebol italiano, aprendendo a jogar em espaços mais reduzidos com deslocamentos e passes curtos que aceleravam os ataques. Era engraçado à época, na divulgação da escalação do time, tentarem encaixar os quatro no 4-2-2-2 típico da época, colocando Raí e Cafu como meias e Muller e Palhinha como atacantes. Na prática era algo mais próximo de um 4-2-3-1.

O São Paulo dinâmico de Telê Santana, maduro em 1993 para ser bicampeão da Libertadores e pronto para movimentar seu quarteto ofensivo, com Muller mais avançado pela esquerda, e alternar zagueiros, laterais e volantes no apoio (Tactical Pad).

No apoio ao quarteto, um grande revezamento que englobava todos os jogadores de linha. Os zagueiros Válber e Gilmar desciam alternadamente, o mesmo com os laterais Vitor e Ronaldo Luiz e os volantes Dinho e Pintado. Três iam, três ficavam. Às vezes eram surpreendidos, mas normalmente criavam um volume de jogo que sufocava os rivais, especialmente no Morumbi.

Para consagrar Telê, um treinador perfeccionista, às vezes um tanto invasivo na vida dos atletas. Talvez não seja tão grande para o futebol brasileiro quanto nomes como Zagallo e Luiz Felipe Scolari, nem se adaptasse aos tempos atuais se estivesse vivo e na ativa. Mas na sua época foi gigante e influente. Deixando um legado de integridade e amor pelo esporte. Não só por 1982.

Conquistando no São Paulo os títulos que seu trabalho sempre mereceu. Justiça tardia, mas inesquecível.

]]>
0
Atacante brasileiro mais subestimado não é Careca, Rivaldo nem Bebeto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/27/atacante-brasileiro-mais-subestimado-nao-e-careca-rivaldo-nem-bebeto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/27/atacante-brasileiro-mais-subestimado-nao-e-careca-rivaldo-nem-bebeto/#respond Fri, 27 Mar 2020 12:16:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8213

Foto: Arquivo / CBF

O tema surgiu novamente, até pela pausa no futebol em todo mundo, e vale uma contextualização sem paixões, nem memórias afetivas.

É dever reconhecer que Rivaldo, de fato, é menos reverenciado do que deveria. Importante em duas Copas do Mundo, decisivo em 2002. Craque da Copa América de 1999 também. Talvez não tenha sabido mesmo vender a própria imagem e foi eclipsado por Romário, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho.

Mas quem ganhou Bola de Ouro, justa premiação pelo ano mágico de 1999, não pode ser chamado de “esquecido” ou subestimado. O período foi prolífico de talentos no ataque e Rivaldo tinha uma característica bastante peculiar: era de lampejos e oscilava bastante dentro das próprias partidas. Capaz de sumir do jogo, às vezes prender demais a bola…mas de repente aparecer no estalo do craque.

Em alguns momentos, porém, o lampejo não apareceu e o desempenho caiu vertiginosamente. Como em 1996, nas Olimpíadas de Atlanta. Convocado como um dos acimas de 23 anos ao lado de Aldair e Bebeto, teve atuação trágica na eliminação para a Nigéria. Nada que não tenha sido compensado posteriormente, em clubes e seleção.

O mais subestimado também não é Careca. Longe disso. Idolatrado por são-paulinos e torcedores do Napoli, teve momentos brilhantes, de fato. Campeão brasileiro “precoce” com 19 anos em 1978, craque e artilheiro da principal competição nacional em 1986. Grande parceiro de Maradona em Nápoles. Autor do gol contra o Chile no Maracanã que classificou o Brasil para o Mundial de 1990.

Mas, objetivamente, falhou na seleção quando teve a chance de ser protagonista em Copas do Mundo. Seja fugindo das cobranças de pênalti nas quartas de final contra a França em 1986, sendo o artilheiro brasileiro com cinco gols. Ou quando se esperou demais dele, em 1990, porém foi eliminado nas oitavas pela Argentina – pior classificação brasileira desde 1966 – e perdendo um gol feito no início da partida.

Careca foi camisa nove e referência da seleção de 1986 a 1992. O único título conquistado no período foi a Copa América de 1989, disputada no Brasil. Careca ficou de fora, lesionado. O título veio com gol de Romário na final contra o Uruguai no Maracanã.

Muito bem assessorado por Bebeto, outro que poderia ser mais reconhecido. Craque do torneio continental há 31 anos, fundamental em 1994. O melhor companheiro de ataque de Romário, parceria que nasceu com a prata olímpica em Seul-1988.

Chave do sucesso das duas equipes, por ser um atacante com visão de jogo de armador. Compensava com criatividade os meias que jogavam muito mais como “secretários” dos laterais: Silas e Valdo em 1989, Mazinho e Zinho em 1994. Bebeto recuava e procurava Romário. Ainda marcava gols importantes, como contra os Estados Unidos na Copa do Mundo, e antológicos, como o de voleio sobre a Argentina no Maracanã.

Talvez tenha faltando um pouco mais de personalidade. Difícil imaginar Romário aceitando um tapa do treinador Carlos Alberto Silva em 1987. Bebeto também pagou por uma decisão equivocada no retorno ao Brasil: a volta ao Flamengo em 1996 não conquistou rubro-negros, ainda magoados pela saída para o Vasco em 1989, e ainda revoltou cruzmaltinos, que o alçaram à condição de ídolo e nunca imaginaram que ele pudesse escolher o grande rival. Outro impacto em sua imagem.

O atacante brasileiro mais subestimado da história chama-se Edvaldo. Edvaldo Izídio Neto. Ou Vavá. Ou “Peito de Aço”. Ou “Leão da Copa”. Pernambucano como Rivaldo, centroavante como Careca, discreto como Bebeto.

Bicampeão mundial em 1958/1962, as duas únicas Copas que disputou. Marcando nove gols, como Jairzinho e Ademir Menezes, só superados por Pelé e Ronaldo Fenômeno. Único da história a marcar em duas finais consecutivas, contra Suécia e Tchecoslováquia.

Cinco gols em 1958. Dois contra a União Soviética que impediram a eliminação na fase de grupos. O que abriu o placar na semifinal contra a França e os dois que decretaram a virada para 2 a 1 que terminaria em 5 a 2 na final. Mais quatro em 1962, sendo um dos seis artilheiros do Mundial no Chile. O mesmo número de bolas nas redes de Garrincha, o craque daquela edição.

Ainda seria campeão por Vasco, Palmeiras e América do México. Teve também sucesso na Europa, critério que os mais jovens utilizam para medir jogadores do passado. No Atlético de Madri, conquistou a Copa do Rei em 1960 e 1961 vencendo o Real Madrid nas duas finais. Ainda foi o artilheiro da então Copa dos Campeões da Europa em 1958/59. Só voltou ao Brasil em 1961 para jogar no Palmeiras para facilitar a convocação para a Copa no ano seguinte.

Morreu em 2002, aos 67 anos, sem o devido reconhecimento. Também frustrado por não ter sido treinador do Vasco, paixão desde menino.

Para a “geração internet” é um desconhecido. Na foto que ilustra o post, certamente será o menos reconhecido ao lado de Garrinha, Didi, Pelé e Zagallo. É claro que havia outros protagonistas na seleção bicampeã, mas Vavá foi fundamental. Não só com gols, mas também com movimentação que abria espaços para Pelé, depois Amarildo. Com o ponta “formiguinha” mais recuado, o centroavante caía pela esquerda e deixava o corredor central para o os companheiros infiltrarem. Também por isso colocou Mazzola e Coutinho no banco em duas Copas.

Não era um primor técnico, mas compensava com vigor, inteligência, fibra, boa colocação na área e precisão nas finalizações. Imagine em tempos midiáticos um jogador com seus feitos. Por isso vale a lembrança para fazer justiça a quem de fato merece.

 

 

]]>
0
Futebol em Quarentena – Os dez melhores times que vi em quatro décadas http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/#respond Tue, 17 Mar 2020 19:31:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8174

Foto: Javier Soriano / AFP

O futebol parou nos principais centros, inclusive no Brasil. Felizmente, a sensatez prevaleceu e quem puder ficar em casa para não arriscar um colapso nos atendimentos hospitalares por conta da pandemia do coronavirus, melhor para todos.

Mas o blog não pára e aproveita para olhar para trás e abrir espaços para postagens que em tempos velozes, de imediatismo e exigência do “quente”, do “gancho”, não costumam ter muito espaço.

Por isso a série “Futebol em Quarentena” trará rankings, análises de times históricos, jogos lendários, confrontos “dos sonhos” entre grandes equipes de épocas diferentes e o que mais pintar até a bola voltar a rolar no mundo – em breve, esperamos todos.

Para começar, a vontade da maioria do público que votou na enquete no Twitter:

Imagem: Reprodução / Twitter

Então seguem os melhores times (clubes) que vi em quase 40 anos acompanhando apaixonadamente o futebol. Com as devidas particularidades, incluindo memória afetiva. Lista é pessoal, sempre. E daqui a um ano pode mudar também… Vamos lá!

1º – Barcelona de Guardiola – 2010/11

Não foi a equipe mais vencedora comandada por Pep Guardiola na Catalunha, já que na primeira temporada do treinador novato (2008/09) veio a tríplice coroa. Mas mesmo perdendo a Copa do Rei para o Real Madrid de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, o Barcelona da temporada 2010/11 foi um primor coletivo que iluminou ainda mais o talento de Xavi, Iniesta, Messi e Daniel Alves.

O gênio argentino, definitivamente como “falso nove”, destruiu as defesas adversárias e foi o elemento de desequilíbrio em um modelo de jogo que tangenciou a perfeição. Pressão pós-perda, posse de bola, construção do jogo desde o goleiro e criação de superioridade numérica no setor da bola, sempre buscando o homem livre. Cansava e atordoava os adversários e conseguia impor a maneira de jogar, mesmo nas raras derrotas. Combinação quase perfeita do melhor das escolas espanhola, holandesa e argentina.

2º – Milan de Arrigo Sacchi – 1988/1989

Os 5 a 0 sobre o Real Madrid pela semifinal da Liga dos Campeões no Giuseppe Meazza representam o melhor do fantástico time dos holandeses Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco Van Basten. Comandados por Sacchi, que revolucionou o futebol italiano atualizando ideias de Rinus Michels.

Defesa em linha, comandada por Franco Baresi, marcando por zona, adiantando e aproximando setores, muitas vezes jogando em trinta metros e trabalhando a bola voltado para o ataque. Combinando a cultural solidez defensiva do “Calcio” com um estímulo ao talento que só rivalizava com a genialidade de Maradona no Napoli. Em 1990, faturou o bicampeonato europeu, último a conseguir o feito antes do Real Madrid de Zinedine Zidane. Um alento e um deleite em tempos de futebol defensivo, simbolizado pela Copa do Mundo disputada na própria Itália.

3º – São Paulo de Telê Santana – 1992/1993

Ganhar duas vezes seguidas a Libertadores é raro. Numa época ainda de muita violência no futebol sul-americano, além das já habituais arbitragens “polêmicas” e pouco controle de doping era ainda mais complicado. E priorizando o futebol bem jogado, mais raro ainda.

O que não era difícil era rivalizar com os gigantes europeus num período anterior à Lei Bosman, que transformou os grandes clubes do Velho Continente em verdadeiras seleções transnacionais. O São Paulo de Telê Santana conseguiu ser competitivo e ter momentos de futebol arte. O melhor exemplo na final do Mundial de 1992, contra o Barcelona. Com Cafu e Muller abertos, Rai e Palhinha por dentro e o suporte de Toninho Cerezo. Tocando, girando, envolvendo e virando para cima do “Dream Team” de Johan Cruyff. Um tempo de supremacia tricolor no planeta.

4º – Arsenal “Invincibles” – 2003/04

Campeão invicto da Premier League, já muito competitiva à época. O que o Liverpool de Klopp e o Manchester City de Guardiola sonharam, mas não conseguiram, os Gunners de Arsene Wenger fizeram história. Não é um título de Champions, mas não deixa de ser um feito extraordinário.

Méritos do time de contra-ataques de almanaque, mas que nunca abdicava de atacar. Uma equipe completa e que vivia um momento coletivo extraordinário, que potencializava as individualidades de Patrick Vieira, Thierry Henry e Dennis Bergkamp. Com auxílio luxuoso de Robert Pirés, Gilberto Silva, Ashley Cole e Fredrik Ljungberg. Transpiração e inspiração para primeiro garantir a taça, depois a trajetória imaculada e histórica. Que dificilmente será repetida.

5º – Bayern de Munique de Jupp Heynckes – 2012/13

Um rolo compressor improvável, depois do revés nos pênaltis em casa para o Chelsea na final europeia em Munique e de perder a hegemonia na própria Alemanha para o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp. Na temporada que Jupp Heynckes anunciou que se despediria dos gramados e o gigante bávaro foi atrás de Guardiola em seu “ano sabático”.

Parecia fim de festa. Mas com Robben e Ribéry desequilibrando pelas pontas, o Bayern atropelou o Barcelona com 7 a 0 no agregado e média de 40% de posse de bola. Mesmo sendo o segundo melhor no quesito na Europa, atrás justamente do time blaugrana. Provando ser uma equipe “camaleã”, que se adaptava às demandas das partidas, algo que seria tendência nos anos seguintes. Faturou a tríplice coroa, sendo o último título de outro clube que não Barcelona e Real Madrid na década até o Liverpool quebrar a sequência na temporada passada. Timaço!

6º – Flamengo de Zico – 1981/1982

O time que “unificou” os títulos depois do Santos de Pelé nos anos 1960. Em maio de 1982, era o último campeão da cidade (Taça Guanabara), estado (Rio de Janeiro), país (Brasil), continente e mundo. Com inovações táticas que virariam tendências.

Congestionando o meio-campo com um volante (Andrade) e quatro meias (Tita, Adílio, Zico e Lico), mais Nunes, o centroavante que caía pelas pontas abrindo espaços para os mais talentosos – incluindo os laterais Leandro e Júnior. Mas um camisa nove que aparecia para decidir as partidas mais importantes. Tocando, girando as peças e colocando os adversários na roda. Faltou um período maior de hegemonia no continente, mas o legado da maneira de jogar é imenso, influenciando a inesquecível seleção brasileira da Copa da Espanha.

7º – Liverpool de Jurgen Klopp – 2019/20

Uma construção paciente, qualificando o elenco, tornando a maneira de jogar mais versátil, adicionando pausas no estilo “rock’n’roll” do treinador alemão. Sofrendo com goleiros e zagueiros fracos inicialmente, para depois ir ao mercado e contratar Alisson e Virgil Van Dijk.

Para dar segurança a um ataque avassalador. Com Mohamed Salah, Roberto Firmino e Sadio Mané próximos uns dos outros e da meta adversária e os laterais Alexander-Arnold e Robertson abrindo o campo e sendo os principais municiadores de um time como volume de jogo sufocante e força mental para sair de várias situações difíceis. Venceu a Champions em 2019 e alcançou a melhor campanha do clube na história da Premier League, mas sem faturar o sonhado título nacional que deve vir agora, se a temporada na Inglaterra não for cancelada.

8º – Real Madrid de Zinedine Zidane – 2016/2017

Por motivo de: TRICAMPEÃO da Champions. Não é todo dia que acontece, mesmo descontando algumas atuações pouco inspiradas, pitadas de sorte e arbitragens polêmicas. Chama ainda mais atenção a manutenção da base nas três conquistas e o fato de ser a estreia de Zinedine Zidane no comando técnico de uma equipe de primeira divisão.

O auge na temporada 2016/17, com a conquista também do título espanhol. E o encaixe de Isco, armando um 4-3-1-2 muito móvel e mutante. E essencialmente técnico, com Carvajal e Marcelo abrindo o campo, Cristiano Ronaldo se juntando a Benzema na frente e muito controle no meio-campo, sustentado por Toni Kroos e Luka Modric. Todos suportados por Casemiro na proteção a Varane e Sergio Ramos. Se tudo desse errado, lá estava Keylor Navas para garantir. A camisa entortou varal algumas vezes, mas era um time com muito poder de decisão.

9º – Boca Juniors de Carlos Bianchi – 2000/2003

Um time “embaçado” para enfrentar, especialmente em mata-mata. Mas também capaz de ganhar o Apertura invicto, no início desta caminhada em 1998. Equipe que sabia amassar os adversários na Bombonera e cinicamente cozinhá-los como visitante. E, se tudo desse errado, ainda havia o “rei dos pênaltis” Oscar Córdoba na meta.

No ritmo de Juan Roman Riquelme. Craque um tanto tímido, de hábitos estranhos. Mas um “enganche” de enorme talento e leitura de jogo, inclusive da temperatura. O típico dez que dita o ritmo, acelerando ou escondendo a bola. Faturando a Libertadores em 2000, 2001 e 2003, superando o milionário Palmeiras e o Santos de Diego e Robinho. No último sem Riquelme e Palermo, mas com o jovem Carlos Tévez e Guillermo Schelotto. Uma máquina de faturar taças comandada por Bianchi, um estrategista copeiro que estava na hora certa e no clube certo para fazer história.

10º – Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo – 1996

Sim, o time alviverde mais vencedor comandado por Luxemburgo foi o de 1993/94. Este foi um “meteoro” que não durou seis meses. Mas, ora bolas! Futebol também é lúdico, capaz de fazer sonhar e encantar. E este que escreve chegou a faltar aulas e deixar de ver o time de coração para acompanhar esse futebol encantador.

Foram 102 gols e 13 goleadas de um time fulminante. Cafu e Júnior voando nas laterais, Djalminha e Rivaldo entregando talento no meio, Muller fazendo o pivô e Luizão perdendo e também fazendo muitos gols, tamanha era a superioridade coletiva e individual. Que encaixou no primeiro treinamento, segundo relato do próprio Djalminha a este que escreve em um “Bola da Vez” na ESPN Brasil em 2014. Só um título paulista, um revés doído para o Cruzeiro na final da Copa do Brasil, mas e daí? Nunca será esquecido e está na lista porque sim!

É isso!

Certamente muitos flamenguistas que acham que o futebol começou em 2019 vão cobrar: “Ain, e o time atual do Jorge Jesus?” Calma! Vamos esperar construir a história da equipe, ainda que ganhar Brasileiro com recorde nos pontos corridos e Libertadores no mesmo ano seja um feito espetacular. Mas vamos aguardar!

Para os mais inconformados, fica a promessa de uma análise mais detalhada do atual campeão nacional e continental em breve.

 

 

 

 

 

 

]]>
0
Com o São Paulo de Diniz, um jogo na mão é vendaval http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/06/com-o-sao-paulo-de-diniz-um-jogo-na-mao-e-vendaval/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/06/com-o-sao-paulo-de-diniz-um-jogo-na-mao-e-vendaval/#respond Fri, 06 Mar 2020 07:01:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8101

Foto: Ernesto Benavides / AFP

“Dinheiro na mão é vendaval na vida de um sonhador”, canta Paulinho da Viola em “Pecado Capital”.

Fernando Diniz é um treinador que sonha com um futebol que combine a essência brasileira, do menino que sente prazer em estar com a bola, com a maneira atual de se jogar – intensidade, pressão, saída de bola coordenada, jogo apoiado. Saudável, até louvável.

Mas há algo na execução que não funciona. E interfere diretamente na construção das vitórias que devem sustentar qualquer trabalho. Afinal, o objetivo é que o desempenho gere resultados. Mas o Athletico, o Fluminense e agora o São Paulo de Diniz falham miseravelmente na finalização das ações de ataque. Sem os gols que constroem a boa vantagem, o adversário se mantém no jogo e a menor intensidade com o desgaste pelo passar do tempo e a proposta ofensiva, com o time adiantado, ocupando o campo de ataque, oferecem espaços que os oponentes aproveitam. E não costumam perdoar quando têm a chance.

Um roteiro que se repete muitas vezes, apesar da recuperação no Paulista. E fica ainda mais complexo na altitude de 3.825 metros em Juliaca, no Peru. Com a tensão da estreia na Libertadores, depois da eliminação antes da fase de grupos no ano passado. Ainda a responsabilidade de garantir os 100% de aproveitamento dos brasileiros na primeira rodada, algo que não acontecia desde 2003.

O São Paulo não se intimidou diante do estreante Binacional. Mesmo com Diniz suspenso por atraso na volta do intervalo quando ainda comandava o Fluminense, contra o Peñarol na Sul-Americana. Se organizou para atacar, trocou passes com calma e movimentou as peças, com as trocas de posicionamento e de funções entre Daniel Alves e Igor Gomes no meio-campo e Pablo e Alexandre Pato na frente, completando o ataque com Antony.

Assim foi às redes com Pato e novamente alimentou a ilusão de que o jogo parecia controlado. Até pelas limitações do Binacional, com muitos erros técnicos, espaços entre os setores e sem apelar para a pressão sufocante que os times costumam impor quando mandam as partidas na altitude.

Mas era preciso resolver o jogo para administrar com mais tranquilidade a perda gradativa do fôlego. Justo o problema crônico. Antony e Pablo perderam chances cristalinas. Nem o ar rarefeito interferindo na força dos chutes podem justificar. E o primeiro tempo de domínio terminou só com um gol de vantagem. Pouco para o que o tricolor produziu.

Cobrou o preço no segundo tempo. O cansaço puxou o time para trás e empurrou o Binacional para o ataque, mesmo sem tanta qualidade. Marco Rodriguez e Johan Arango marcaram os gols da virada que seria improvável pelo que se jogou no primeiro tempo. Não contra o São Paulo, que cansou, cedeu espaços, perdeu força na frente e sucumbiu na defesa. Mesmo com 53% de posse, 87% de efetividade nos passes e 18 finalizações. Seis no alvo, uma a mais que o time peruano, que concluiu 16.

Diniz, representado por Márcio Araújo à beira do campo, perdeu de novo. Porque o São Paulo só não é superior no Grupo D ao River Plate, mas corre sério risco de sair eliminado contra LDU e o próprio Binacional, clube com apenas nove anos de existência. Porque quase sempre escorrega nos mesmos pecados capitais. Assim, um jogo na mão é vendaval.

(Estatísticas: SofaScore)

]]>
0
Palmeiras de Luxa não “foge” de Felipão/Mano. Ainda lembra Marcelo Oliveira http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/02/palmeiras-de-luxa-nao-foge-de-felipao-mano-ainda-lembra-marcelo-oliveira/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/02/palmeiras-de-luxa-nao-foge-de-felipao-mano-ainda-lembra-marcelo-oliveira/#respond Mon, 02 Mar 2020 09:02:54 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8072

Foto: Cesar Greco / Foto Arena / Estadão Conteúdo

Vanderlei Luxemburgo voltou ao Palmeiras depois de 10 anos prometendo resgatar o futebol ofensivo de seus tempos áureos nos anos 1990. Mais posse de bola, pressão no campo de ataque e presença no campo adversário.

Não foi a tônica dos últimos trabalhos do treinador veterano, mas o elenco mais forte e o propósito do clube depois do ano passado com Luiz Felipe Scolari e Mano Menezes pareciam forçar o treinador a uma mudança na prática.

Ao menos até aqui, nos confrontos contra as equipes de Série A – São Paulo, Red Bull Bragantino e Santos -, Luxemburgo e Palmeiras seguem com melhor desempenho quando encontram espaços para as transições ofensivas em velocidade.

Sim, o time é mais voltado para o ataque, não se entrincheira na defesa. Mas não “foge” muito de 2019 quando encontra dificuldades na circulação da bola com o adversário em fase defensiva, a saída de bola muitas vezes é confusa, embora com menos ligações diretas que a de Felipão, e as ações de ataque ainda ficam muito por conta das individualidades. Especialmente com Dudu.

O craque palmeirense começou o clássico com o Santos no Pacaembu alternando pelos flancos com Willian e Luiz Adriano no centro do ataque. Mas o problema era o espaço entre os setores bem aproveitado pelo Santos, mesmo mais lento e menos intenso com Jesualdo Ferreira.

Os últimos minutos do clássico foram malucos, com um buraco entre as intermediárias, erros técnicos que geravam contragolpes seguidos das equipes. Divertido, mas uma “pelada” considerando que estavam em campo o segundo e o terceiro colocados do último Brasileiro.

Em um cenário caótico, a consequência natural de trocar Raphael Veiga e Luiz Adriano por Gabriel Veron e o estreante Rony foi puxar Dudu para dentro, com liberdade e participando mais do jogo. O camisa sete encontrou alguns bons passes e preencheu o vácuo entre volantes e quarteto ofensivo.

O Palmeiras da parte final do clássico contra o Santos: um 4-2-4 com Dudu centralizado, participando mais do jogo e tentando preencher o buraco no meio-campo. Lembrou o time de 2015 com Marcelo Oliveira (Tactical Pad).

Lembrando o Palmeiras campeão da Copa do Brasil de 2015, comandado por Marcelo Oliveira. Mas aquele ainda tinha Robinho como uma espécie de ponta armador pela direita como contraponto, se juntando aos meio-campistas. Do lado oposto, o menino Gabriel Jesus partia da esquerda em diagonal.

Desta vez foram dois ponteiros agudos e um atacante móvel partindo do centro. No modo “briga de rua”, de um jogo mais direto e vertical, pode funcionar. Mas dentro de um modelo mais propositivo, de controle do jogo pela posse, parece um contrasenso. Ou coerente com o Luxemburgo atual.

Na coletiva depois do clássico, o técnico disse que a atuação foi normal e o trabalho está no caminho certo. Ainda é início de temporada, mas os primeiros testes em jogos grandes não foram muito promissores. Vejamos na estreia da Libertadores.

Com Dudu aberto ou por dentro? Veremos na Argentina, contra o Tigre na quarta-feira.

]]>
0
Sem gols, Palmeiras e São Paulo pagam por clássico “prematuro” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/26/sem-gols-palmeiras-e-sao-paulo-pagam-por-classico-prematuro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/26/sem-gols-palmeiras-e-sao-paulo-pagam-por-classico-prematuro/#respond Sun, 26 Jan 2020 21:25:25 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7866 O São Paulo controlou o “Choque-Rei” no início do primeiro tempo pela posse de bola. Em um 4-1-4-1 compacto, trazia o canhoto Helinho pela direita e o destro Vitor Bueno à esquerda cortando para dentro e procurando os meias Daniel Alves e Hernanes, criando superioridade numérica no meio. Com Tche Tche auxiliando Arboleda e Bruno Alves na saída de bola.

O Palmeiras sofria com setores espaçados e pouca mobilidade em um 4-2-3-1 que deixava Lucas Lima mais próximo de Luiz Adriano e fazia Dudu se sacrificar voltando pela esquerda, a mesma função de Gabriel Veron do lado oposto. Mudou depois da parada técnica, com mais dinâmica: Dudu e Lucas Lima alternando por dentro e aberto, revezando o posicionamento com Veron. Mais participação ofensiva dos meio-campistas por dentro também – Gabriel Menino e Ramires.

A equipe de Vanderlei Luxemburgo criou as melhores oportunidades, com Dudu recebendo de Lucas Lima e batendo em cima de Tiago Volpi e Ramires aparecendo para bater na trave. Nítida superioridade nos vinte minutos finais. Apesar dos 54% de posse do time de Fernando Diniz, além das dez finalizações a seis – três a um no alvo.

Vanderlei Luxemburgo desfez o 4-3-3 palmeirense da estreia, mas no 4-2-3-1 a equipe alviverde só cresceu quando fez Dudu, Lucas Lima e Veron circularem. São Paulo começou bem criando superioridade numérica no meio, dentro da execução do 4-1-4-1, mas faltou intensidade e profundidade (Tactical Pad).

Insatisfeito, Diniz trocou Helinho, que nada produziu pela direita nem auxiliou Juanfran na recomposição, por Liziero na volta do intervalo. Daniel Alves foi para a direita, mas com liberdade para circular. A ponto de aparecer na frente de Weverton numa reposição perfeita de Volpi e perder a melhor chance tricolor no jogo.

Vanderlei respondeu trocando Veron por Willian e depois os volantes: Ramires por Zé Rafael e Patrick de Paula. O calor na Arena Luminosa, em Araraquara, pesou no desgaste das equipes em um início de temporada. Mas novamente foi do Palmeiras a chance mais cristalina, na cabeçada de Luiz Adriano no travessão, completando cruzamento preciso de Marcos Rocha.

Diniz tentou aumentar a profundidade e o poder de fogo com Everton e Alexandre Pato nas vagas de Hernanes e Pablo, com Dani Alves voltando ao meio-campo e Vitor Bueno circulando mais por dentro. Mas de novo ficou a impressão de um time com intensidade baixa para um clássico. Morno, sem “punch”.

Mesmo com as substituições, times não mudaram suas estruturas táticas e foram cansando ao longo do tempo. São Paulo seguiu sem “punch”. Palmeiras teve a melhor chance com Luiz Adriano, mas segue dependendo demais de Dudu. Destaque para a boa movimentação de Lucas Lima (Tactical Pad).

Números equilibrados: São Paulo com 51% de posse, 17 finalizações para cada lado, 5 a 4 no alvo a favor do Tricolor. Mais uma chance desperdiçada de vencer o rival – são 11 anos de jejum no Paulistão. Para o Palmeiras, o incômodo de não ter conseguido se impor, mesmo com mando de campo e sendo ligeiramente superior. Precisa depender menos de Dudu, mas o desempenho de Lucas Lima novamente foi animador.

Problemas naturais em um início de temporada. Pagaram com apenas um ponto para cada lado. Janeiro não deveria ser mês de clássico. Faltou o gol no duelo “prematuro”.

(Estatísticas: SofaScore.com)

 

]]>
0
Tempo é o grande “reforço” do São Paulo de Fernando Diniz para 2020 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/13/tempo-e-o-grande-reforco-do-sao-paulo-de-fernando-diniz-para-2020/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/13/tempo-e-o-grande-reforco-do-sao-paulo-de-fernando-diniz-para-2020/#respond Mon, 13 Jan 2020 11:11:11 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7824

Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

A vitória por 2 a 1 sobre o Internacional no Morumbi pela penúltima rodada do Brasileiro garantiu o São Paulo na sexta colocação e a última vaga direta na fase de grupos da Libertadores 2020. Feito comemorado com empolgação por jogadores e dirigentes. Exagero para um gigante tricampeão sul-americano, mas o contexto ajuda a explicar.

2019 começou com Flórida Cup e disputa das fases classificatórias para o torneio continental. Eliminação para o Talleres na segunda etapa e, em fevereiro, o São Paulo já estava em crise e sem treinador, após a saída de André Jardine. Era importante não ficar de fora da Libertadores, mas de preferência fugindo do evento traumático e que sempre compromete qualquer planejamento pela obrigação de queimar etapas na preparação.

Pode ajudar muito uma equipe que ganhou reforços e trocou de treinador durante a principal competição nacional e Fernando Diniz, o atual responsável pelo comando técnico, encarou uma sequência de jogos desde a estreia com a retranca que foi obrigado a fazer para conter o então líder Flamengo no Maracanã no empate sem gols. Um returno insano, com jogos de quatro em quatro dias na média e sem tempo para treinamentos.

Agora há pré-temporada, base montada e técnico mantido. Só não há paz, em um clube sempre enfiado em turbulências políticas. A mudança da data de reapresentação do dia seis para oito gerou protestos contra um grupo, ou parte dos jogadores, que carrega a fama de preguiçoso, acomodado. Objetivamente não muda nada e pode ser usado como combustível.

Para a mudança tão desejada pelos tricolores. Um time consistente, trabalhando com conceitos atuais, mas também brilho nos olhos para tirar o São Paulo deste “limbo” em que se enfiou. Sem títulos desde a Sul-Americana de 2012, mas também sem um “fundo do poço” – como o rebaixamento, por exemplo – para virar tudo do avesso. Tudo muito morno.

Melhor seria contar com todos os atletas na preparação, mas a seleção pré-olímpica, comandada por André Jardine, levou Antony, Igor Gomes e Walce, que sofreu lesão grave no joelho e deve ficar oito meses sem jogar. Ainda assim, é possível encontrar, enfim, o melhor posicionamento para Daniel Alves  – este blogueiro segue acreditando que o jogador multicampeão deve ser um “oito” com a camisa dez – e completar a adaptação de Juanfran ao futebol brasileiro.

Também recuperar o melhor desempenho de Pablo e fazer Hernanes e Alexandre Pato contribuírem mais coletivamente. Ainda equilibrar juventude e experiência afirmando jogadores como Helinho e Shaylon e aproveitando os jovens das divisões de base. Por fim, o próprio Diniz amadurecendo as ideias e consolidando uma proposta de jogo dentro do que o treinador acredita, mas adicionando intensidade e competitividade que vêm faltando em seus trabalhos na Série A. A insistência nos primeiros treinos para o time reagir rápido e ser agressivo após a perda da bola para tentar recuperá-la é um bom começo.

A grande contratação até aqui foi a aquisição definitiva do goleiro Tiago Volpi. Nada excepcional, mas ao menos resolve um problema na meta desde a aposentadoria de Rogério Ceni. O principal “reforço” são-paulino, porém, é o tempo. Diante de tantas urgências, especialmente da torcida, a paciência pode ser a maior aliada do clube na temporada.

]]>
0