uruguai – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Seleção de 1994 tinha bola para vencer dando espetáculo. O que atrapalhou? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/26/selecao-de-1994-tinha-bola-para-vencer-dando-espetaculo-o-que-atrapalhou/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/26/selecao-de-1994-tinha-bola-para-vencer-dando-espetaculo-o-que-atrapalhou/#respond Sun, 26 Apr 2020 06:16:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8377

Foto: Acervo / CBF

A vitória por 2 a 0 sobre o Uruguai no Maracanã pelas eliminatórias em 1993 ficou na história como “o jogo de Romário”. Justo, por toda via-crucis que trouxe o então melhor atacante do mundo, brilhando no Barcelona, de volta à seleção. Depois de uma “geladeira” de quase um ano por reclamar da reserva em um amistoso contra a Alemanha em Porto Alegre. Prometeu voltar garantindo o Brasil na Copa nos Estados Unidos e cumpriu. Com louvor e uma das maiores atuações individuais da história do mítico estádio.

Mas foi também uma fantástica exibição coletiva da equipe de Carlos Alberto Parreira. Trazendo tudo que fizera de bom até aquele momento, em especial nos 6 a 0 sobre a Bolívia em Recife, e adicionando o toque genial e diferente do mais genial e genioso jogador daquela geração. O bom desempenho coletivo potencializou o grande talento, como costuma acontecer.

O 4-4-2 que antes tinha Muller no ataque deixava Bebeto mais centralizado para finalizar. Raí precisava compor mais o lado direito para fechar a segunda linha e fazer dupla com Jorginho. No Maracanã, Bebeto ganhou mais liberdade para circular e procurar o setor no qual tinha entrosamento dos tempos de Flamengo com o lateral direito.

Assim Raí apareceu por dentro em vários momentos, quase como um “enganche”. Até porque Mauro Silva e Dunga eram fantásticos marcadores e, auxiliados por Zinho pela esquerda, davam conta de fechar o meio. E à direita ainda estava o zagueiro Ricardo Rocha, vivendo fase espetacular e muito rápido na cobertura, permitindo que, se necessário, Jorginho saísse para pressionar o adversário sem deixar um buraco às costas.

É o craque do São Paulo quem tabela com Romário no chute do camisa 11 no travessão, logo no início da partida. O camisa dez também chega na área, pouco atrás do Baixinho, quando Bebeto escapa pela direita e faz o cruzamento para o primeiro gol. Raí, bicampeão da Libertadores e ainda em boa forma no início da temporada 1993/1994 pelo Paris Saint-Germain.

O triunfo transformou o Brasil automaticamente em um dos favoritos ao título mundial. Até porque não havia uma seleção se destacando na Europa – na Euro 1992, a campeã foi a convidada Dinamarca.

Mais tranquilo com a classificação, Parreira poderia aperfeiçoar a base e melhorar o entrosamento da estrela redimida com os companheiros. A maioria calejada pelo fracasso em 1990 e pronta para a missão de encerrar uma seca de 24 anos.

O processo teve apenas uma mudança: Leonardo na vaga de Branco, com problemas físicos. Dando leveza e aproveitando a boa sintonia entre o lateral e Zinho, que jogaram juntos por três anos no Flamengo. Perderia o chute forte e a experiência de dois Mundiais do ex-titular, mas ganhava fluidez e rapidez nas ultrapassagens pela esquerda.Mesmo com Leonardo já atuando no meio-campo pelo São Paulo.

Do lado oposto, Jorginho e o revezamento entre Bebeto e Raí. Quem não aparecesse no flanco se juntaria a Romário por dentro na frente. A construção das jogadas ficava a cargo de Dunga e Mauro Silva se dedicava à proteção da defesa, especialmente o lado esquerdo, com Ricardo Gomes mais técnico, porém menos rápido que o xará Rocha e já sofrendo com dores atrozes nos joelhos.

Uma seleção segura, trocando passes, valorizando a posse e atacando com volume e um toque de fantasia. Competindo e, sempre que possível, dando espetáculo. A referência de Parreira, com Zagallo ao lado como coordenador técnico, continuava sendo a seleção de 1970. A síntese do futebol que aliava beleza e eficiência.

Parreira planejava uma seleção brasileira ofensiva: fluida e rápida pelos flancos, com Zinho e Leonardo pela esquerda e Jorginho com o apoio revezado de Bebeto e Raí e a rápida cobertura de Ricardo Rocha. Dunga seria o organizador no meio com Mauro Silva na proteção dos zagueiros Na frente, Romário para decidir (Tactical Pad).

Não foi possível pela queda brusca de produção de Raí com a má fase no time francês, inclusive perdendo ritmo ao ficar no banco. Ainda mais prejudicial pela compleição física que tornava o meia pesada se não estivesse em plena forma. Impossível cumprir as funções com e sem bola.

Parreira insistiu até o limite, deu moral mantendo a braçadeira de capitão, mas depois da fraca atuação contra a Suécia no empate por 1 a 1, Mazinho acabou ganhando a vaga. Mais fixo pela direita, liberou Bebeto para se juntar de vez a Romário. Na função que, na prática, era de meia-atacante. A mesma que o camisa sete já exercera em 1989, na seleção campeã da Copa América com Sebastião Lazaroni no comando técnico. Com Taffarel, Mazinho, Aldair, Ricardo Gomes, Branco, Dunga, Bebeto e Romário, pode ser considerada a gênese da equipe do tetracampeonato mundial.

O treinador também precisou se preocupar mais com a proteção da defesa, que perdeu a dupla de zaga por lesão. Entraram Aldair e Márcio Santos, que ganharam confiança justamente porque a seleção ficou mais engessada nas duas linhas de quatro. Com Dunga e Mauro Silva concentrados no combate, embora o camisa oito seguisse como o centro de distribuição das jogadas, com passes curtos e longos para inverter o lado da ação ofensiva.. Leonardo também precisou ser mais cuidadoso no apoio e guardar mais o próprio setor.

Até ser expulso e suspenso pela cotovelada que mandou Tab Ramos para o hospital, Branco retornou, mesmo longe das melhores condições atléticas. Menos mal que Aldair e Márcio Santos já haviam ganhado confiança para manter a defesa bem coordenada na proteção da meta de Taffarel.

A formação campeã mundial, sem a zaga titular, Leonardo e Raí. Por isso mais pragmática e engessada num 4-4-2 com meias protegendo laterais e Bebeto livre para articular com o meio-campo e se aproximar de Romário (Tactical Pad).

Assim como no Maracanã contra os uruguaios, a seleção viveu durante a campanha na Copa um grande  paradoxo: Romário criava as chances com genialidade, posicionamento correto e movimentação inteligente, mas desperdiçava muitas oportunidades cristalinas.

Não é absurdo pensar que o Brasil poderia ter marcado pelo menos mais dois gols contra os russos nos 2 a 0 da estreia, também vencido os Estados Unidos em 4 de julho por 2 a 0 – Romário perdeu uma chance depois de driblar o goleiro. Na semifinal contra a Suécia, pelo menos 3 a 0, já que Zinho e o próprio camisa onze perderam gols feitos. Na final, Bebeto e Romário falharam em finalizações simples com total liberdade.

Terminar a campanha com seis vitórias e um empate, marcando 17 gols e sofrendo apenas três gols era uma realidade palpável e compatível com o rendimento. Com esses resultados mais robustos e vencendo os italianos sem necessidade de disputa de pênaltis na decisão do Rose Bowl que a TV Globo reprisa neste domingo, talvez fosse menos criticada. Ou devidamente reconhecida.

Parreira queria vencer e planejou sua equipe para isso. Mas o contexto atrapalhou e não permitiu que houvesse mais beleza. Fez falta para consagrar ainda mais a melhor seleção daquela Copa do Mundo.

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As dez maiores atuações individuais em Copas do Mundo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/#respond Thu, 23 Apr 2020 08:26:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8349

Foto: Acervo / FIFA

10º – Alcides Ghiggia (Uruguai – 1950)

É claro que eu não assisti a nenhum jogo completo da campanha uruguaia em 1950. Mas, ora bolas, o ponta direita da Celeste fez gols nas quatro partidas da campeã mundial. Mesmo descontando a bizarra primeira fase com apenas um adversário – a Bolívia, que levou de 8 a 0 no Independência, em Belo Horizonte. No jogo decisivo do quadrangular final, encarou um Maracanã abarrotado e deitou e rolou em cima do lateral Bigode. Assistência para Schiaffino e  gol da virada e do título, o do “Maracanazo”. Virou lenda e merece constar nesta lista, mesmo que na base da “licença poética”.

9º – Lotthar Matthaus (Alemanha – 1990)

A Copa na Itália não é das mais memoráveis, mas Matthaus compensou. Depois de ser o volante disciplinado que dificultou a vida de Maradona na final em 1986, foi o craque, capitão e camisa dez que liderou a Alemanha na vingança, quatro anos depois. Compensava o meio-campo esvaziado no 5-3-2 armado por Franz Beckenbauer com dinamismo e versatilidade. Quatro gols, liderança e protagonismo que lhe valeram a Bola de Ouro da “France Football” e, na carona, o primeiro prêmio de melhor da FIFA em 1991. Recordista de partidas em Copas, com 25 em cinco edições. Craque.

8º – Zinedine Zidane (França – 2006)

O primeiro não campeão da lista. Vencedor em 1998, com dois gols na final contra o Brasil, mas nem sombra do que fez o craque já veterano a partir das oitavas da Copa na Alemanha, oito anos depois: gols contra Espanha, Portugal e na final contra a Itália. Atuação majestosa, flutuando em campo nas quartas contra a então campeã, além da assistência para o gol da vitória, de Henry. Na prorrogação da decisão, uma cabeçada parou nas mãos de Buffon, outra no peito de Materazzi. Encerrando uma carreira brilhante que merecia uma última taça. Pena.

7º – Romário (Brasil – 1994)

Foram cinco gols, um pênalti sofrido contra a Rússia, um chute que Bebeto aproveitou no rebote contra Camarões, a assistência para Bebeto derrubar os Estados Unidos em casa num quatro de julho. Mais o “fingir de morto” no gol de Bebeto e o contorcionismo para deixar a bomba de Branco passar pelo seu corpo contra a Holanda nas quartas. Na final contra a Itália, o peso dos 24 anos sem título e a atuação quase perfeita de Baresi na marcação. Perdeu gol feito na prorrogação, mas assumiu a responsabilidade e converteu o pênalti na decisão. Definitivamente, foi a Copa do Baixinho.

6º – Johan Cruyff (Holanda – 1974)

O arquiteto do futebol moderno é o segundo e último sem taça da lista. Azar da Copa, embora tenha ficado bem entregue para os anfitriões Beckenbauer, Muller, Maier e Breitner. A arrancada no primeiro minuto da final desde a defesa – era o holandês mais recuado quando recebeu a bola – é a síntese do grande líder do “Carrossel” que influencia o jogo até hoje. A Holanda jogava no 4-3-Cruyff-2. Liderança, leitura de espaços, capacidade de ditar o ritmo e o tempo do jogo. Tudo isso sendo marrento, usando uniforme diferente e sendo um fumante compulsivo. Surreal.

5º – Pelé (Brasil – 1958)

Dezessete anos. Seis gols decisivos nas três partidas eliminatórias. Dois antológicos, contra País de Gales nas quartas e Suécia na final. Imagine o que isso renderia de visibilidade e milhões de euros para esses feitos hoje. A camisa verde e amarela, e a dez em particular, ganhou outro significado graças a um menino, que nem foi o melhor da seleção e da Copa. Mas brilhou intensamente na equipe de Feola que ganhou encaixe desde os primeiros segundos da estreia de Pelé, e também de Garrincha, contra a União Soviética. Começava a trajetória épica do maior de todos.

4º – Didi (Brasil – 1958)

Apenas o cidadão que tirou de Pelé, Garrincha e do francês Just Fontaine – até hoje o maior artilheiro de uma edição de Copa, com 13 gols – o prêmio de melhor jogador do Mundial na Suécia. O líder que calmamente pegou a bola no fundo das redes em uma final contra os anfitriões depois de sofrer o primeiro gol, acalmou os companheiros enquanto caminhava até o centro do campo e, logo após a saída, acertou um lançamento de quarenta metros para Garrincha acertar a trave. Meio-campista completo, de passes curtos e longos, dribles e elegância única. Um monstro de jogador!

3º – Pelé (Brasil – 1970)

Quatro gols e sete assistências. Mais três quase-gols históricos: a cabeçada para a defesa lendária de Banks, o chute do meio do campo por cobertura na estreia contra a Tchecoslováquia e a finta em Mazurkiewski sem tocar na bola e o chute para fora na semifinal diante dos uruguaios. A última Copa de Pelé foi a do atleta do século XX no esplendor da leitura de jogo e da liderança técnica. A grande referência da maior seleção de todos os tempos. Servindo Jairzinho contra a Inglaterra e Carlos Alberto no gol que consolidou o tri. Os mais simbólicos da campanha. A0s 29 anos, a consagração no México.

2º Mané Garrincha (Brasil – 1962)

Um gênio improvável decidindo o bi brasileiro no Chile que pareceu impossível com a lesão de Pelé vivendo o auge da carreira na segunda partida da Copa. Nas fases finais, um Mané impossível contra Inglaterra e na semifinal diante do anfitrião. Percebendo a necessidade da seleção envelhecida e ampliando o repertório além do famoso drible na direita em busca da linha de fundo. Marcou de cabeça e de pé esquerdo. Fez o inimaginável para alguém com problemas cognitivos e longe de levar uma vida de atleta, mesmo para os padrões dos anos 1960. Simplesmente genial.

1º Diego Maradona (Argentina – 1986)

Não foi só pelo gol mais belo, emblemático e tocante da história das Copas, representando cada cidadão argentino contra os ingleses pela derrota na Guerra das Ilhas Malvinas. Nem pela atuação magnífica na semifinal contra a Bélgica ou por causa da assistência para Burruchaga decidir a Copa contra os alemães no Estádio Azteca. Diego Armando Maradona foi o melhor da Copa de 1986 desde que tocou na bola pela primeira vez, na estreia contra os violentos sul-coreanos. Apanhou, compensou as limitações dos companheiros e desequilibrou. Ninguém jogou mais que ele em uma edição de Mundial. Ponto.

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“Briga com bêbado” é cenário mentiroso e perigoso para o Brasil no Maracanã http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/05/briga-com-bebado-e-cenario-mentiroso-e-perigoso-para-o-brasil-no-maracana/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/05/briga-com-bebado-e-cenario-mentiroso-e-perigoso-para-o-brasil-no-maracana/#respond Fri, 05 Jul 2019 11:21:48 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6814

Foto: Pedro Vilela/Getty Images

O brasileiro se acostumou a respeitar apenas uruguaios e argentinos na América do Sul. Natural pelo domínio histórico de ambos no continente, seja no universo de clubes ou seleções. A superioridade da seleção verde e amarela se dá apenas nas Copas do Mundo, com as cinco conquistas superando a soma dos dois mundiais conquistados por cada rival.

Mas Peru e Paraguai, depois Chile, Colômbia e agora a Venezuela se candidatando a entrar no grupo, sempre fizeram parte de um bloco intermediário que beliscava aqui e ali. Os dois primeiros com duas conquistas de Copa América cada e dando trabalho nas Eliminatórias. O Peru, por exemplo, tirou a Argentina da Copa de 1970 e o Uruguai da de 1982.

Contra o Brasil, um duro confronto pela vaga na Copa de 1958: empate em Lima por 1 a 1 e a “folha seca” de Didi no Maracanã lotado garantindo a seleção que venceria aquele mundial. Em 1970, duelo pelas quartas de final com a lendária equipe comandada por Zagallo superando os peruanos por 4 a 2 em um dos melhores jogos do torneio em termos de qualidade técnica.

Às vezes é preciso lembrar o óbvio: se não jogar futebol, só camisa e tradição não vão resolver. O Brasil já era o favorito natural para esta edição da Copa América por jogar em casa. Afinal, venceu todas as edições como país-sede: 1919, 1922, 1949 e 1989.

Em 2019 está na decisão novamente. A semifinal contra a Argentina já tinha ganhado ares de “final antecipada”. Com a eliminação do bicampeão Chile e por conta dos 5 a 0 sobre o Peru na fase de grupos, o jogo de domingo vem sendo tratado por muitos como uma “briga com bêbado”. Se vencer não fez mais que a obrigação e a derrota será vergonhosa.

Cenário mentiroso e perigoso. Até porque a última eliminação brasileira na Copa América se deu por uma derrota por 1  0 para os próprios peruanos em 2016. A seleção brasileira, então comandada por Dunga, ficou em terceiro lugar no grupo que teve Peru e Equador classificados para o mata-mata da edição especial de centenário no Estados Unidos.

O Peru venceu os chilenos com autoridade e estarão no Maracanã com a situação mais confortável. A campanha já é histórica e a conquista será lendária. Pode repetir a estratégia que deu certo também contra os uruguaios nas quartas de se fechar, negar espaços e acelerar contragolpes. Estão com a confiança lá em cima e sabem que se evitarem um gol do adversário no início podem transformar o clima de euforia e “já ganhou” em drama.

Para aumentar a esperanças em nova “zebra”, o clima na seleção brasileira é um perigoso misto de festa e desvio de foco. A informação do blog do Juca Kfouri de que Tite pode deixar o comando ao final da competição tomou conta do noticiário. Ainda ganhou mais holofotes com a nota confusa da CBF afirmando que a entidade confia no trabalho do treinador – mas o que se diz é que o profissional é que pensa em sair, não sobre risco de demissão.

Agora a coletiva de Tite no sábado é cercada de expectativas, mas não para falar sobre a decisão no campo. Não costuma dar muito certo. A história mostra que quase nunca há “almoço grátis” na América do Sul. Menos ainda com o equilíbrio de forças na atualidade do futebol mundial.

Sim, nas últimas eliminatórias o Brasil nadou de braçadas, mas porque entregou desempenho muito acima dos concorrentes. Agora o rendimento vem oscilando. Os 5 a 0 no primeiro confronto foram um tanto “mentirosos”, condicionados por eventos da partida que não costumam se repetir.

A final será dura no campo, ainda que fora dele insistam em um discurso arrogante – ou seria uma casca de banana para desonestamente gritar “Vexame histórico!” em caso de revés? As respostas virão no domingo.

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Peru manda Uruguai para casa e vira a “zebra”. Nada é definitivo no futebol http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/29/peru-manda-uruguai-para-casa-e-vira-a-zebra-nada-e-definitivo-no-futebol/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/29/peru-manda-uruguai-para-casa-e-vira-a-zebra-nada-e-definitivo-no-futebol/#respond Sat, 29 Jun 2019 21:57:49 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6779 O jogo na Fonte Nova foi de baixíssimo nível técnico. Muitos erros de passe, condicionados também pelos eficientes sistemas defensivos e outro gramado ruim. Faltou novamente ao Uruguai a criatividade, por dentro e pelos flancos. A ausência de Laxalt pela esquerda pesou muito na equipe de Óscar Tabárez.

Ainda assim, Suárez, Cavani e Godín tiveram chances cristalinas, sem contar os gols anulados da dupla de ataque e de Arrascaeta. Camisa dez  que era a chama criativa, mas vivendo de espasmos, uma constante na carreira do meia do Flamengo. Acende e apaga. Serve um passe para finalização, mas depois some da partida. Baixíssima intensidade, pouca mobilidade. A julgar pelo que Jorge Jesus quer neste início de trabalho no time rubro-negro, a adaptação não será simples.

Já Trauco voltará ao Rio de Janeiro mais tarde e por cima. Se não for negociado antes, claro. Bom desempenho no torneio, inclusive no trabalho defensivo que costuma ser o ponto fraco. Dentro do 4-1-4-1 que tirou velocidade da transição ofensiva com Guerrero isolado e, eventualmente, Cueva se aproximando. Mas compactando setores e guardando a meta de Gallese com muita entrega e concentração máxima. Trocando muitos passes no campo de defesa, o que garantiu a superioridade mínima na posse: 51%;

Foram nove finalizações uruguaias, três no alvo. Três peruanas, nenhuma na direção da meta de Muslera. Mas a eficiência da seleção comandada por Ricardo Gareca foi máxima na decisão por pênaltis. Sobrou para Suárez, na primeira cobrança da série, o papel de vilão. Logo o maior artilheiro da história da Celeste. Defesa de Gallese, fim do sonho, volta para casa.

Aos que detonaram o Peru depois dos 5 a 0 impostos pelo Brasil, este blog reforça: gol no início hoje muda tudo. Condiciona o jogo, abre espaços, abala o ânimo de quem sofre. A falha de Gallese no gol de Firmino pavimentou o caminho para a goleada.

Julgamentos definitivos no futebol já são perigosos, com o nivelamento de hoje então…E o Chile, depois do vexame nas eliminatórias e o vacilo de poupar titulares contra o próprio Uruguai na fase de grupos, vira favorito à vaga na sua terceira final sul-americana consecutiva. Mas nem tanto. Convém respeitar a “zebra” entre os semifinalistas.

(Estatísticas: Footstats)

 

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O pecado mortal de Rueda: não se poupa contra o Uruguai de Cavani e Suárez http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/o-pecado-mortal-de-rueda-nao-se-poupa-contra-o-uruguai-de-cavani-e-suarez/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/o-pecado-mortal-de-rueda-nao-se-poupa-contra-o-uruguai-de-cavani-e-suarez/#respond Tue, 25 Jun 2019 01:02:40 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6753 Por mais que o desgaste físico fale alto a esta altura do ano para quem atua na Europa, foi difícil entender a estratégia de Reinaldo Rueda poupando quatro chilenos para o grande jogo do grupo. Mesmo com a chance razoável de terminar em segundo lugar, encarar a forte Colômbia na sexta e ter um dia a menos de descanso.

Já o Uruguai tropeçava no problema grande que a ausência por lesão de Laxalt criou. Sem o lateral esquerdo forte no apoio, a Celeste perdeu profundidade, já que nem Giovanni González, nem o lateral-base Cáceres que inverteu o lado chegam ao fundo. Nem Nández, que começou no banco para De Arrascaeta começar jogando no Maracanã. O meia do Flamengo e Lodeiro afunilavam as ações de ataque numa espécie de 4-2-2-2 “à brasileira” e restava à equipe de Óscar Tabárez insistir novamente no jogo direto para Suárez e Cavani.

A Roja se defendia com cinco na última linha e, sem o auxílio de Arturo Vidal, Aránguiz tentava acionar Vargas e Aléxis Sánchez na frente. Ainda assim se aproveitou das dificuldades do rival na circulação da bola para dominar a posse e controlar o primeiro tempo. Foram seis finalizações, duas no alvo. Contra três uruguaias, nenhuma na direção da meta do goleiro Arias.

Com o passar do tempo na segunda etapa, o Uruguai foi adiantando linhas e colocando intensidade na frente para se impor no volume de jogo. O Chile parecia satisfeito por conter a dupla de ataque adversária. Tabárez trocou Lodeiro por Nández, invertendo o lado de Arrascaeta, que saiu depois para a entrada de Jonathan Rodríguez, que passou a formar um trio na frente.

Simbólico no gol da vitória: Suárez achou Rodríguez, que da esquerda colocou na cabeça de Cavani. Movimento perfeito de um atacante fantástico. Enorme trunfo que o Uruguai sabe usar no momento certo, mesmo quando o desempenho fica devendo. Com 48% de posse e oito finalizações no final, duas a menos que o Chile.

Mas vai encarar o Peru nas quartas, enquanto o atual bicampeão mede forças com a única que fechou a fase de grupos com três vitórias. Os chilenos aprenderam da pior maneira que contra Cavani e Suárez não se pode entregar menos que 100%. Pecado mortal.

(Estatísticas: Footstats)

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Copa América reforça: futebol moderno em alto nível é dos clubes europeus http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/copa-america-reforca-futebol-moderno-em-alto-nivel-e-dos-clubes-europeus/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/copa-america-reforca-futebol-moderno-em-alto-nivel-e-dos-clubes-europeus/#respond Mon, 24 Jun 2019 09:46:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6749

França campeã mundial, Portugal vencedor da Eurocopa e Chile bi da Copa América. Qual destas seleções demonstrou um futebol de fato consistente dentro de suas propostas, independentemente da questão estética?

Pois é. Tirando um ou outro espasmo, aqui como lá, o desempenho médio ficou muito aquém do futebol moderno realmente em alto nível. Hoje privilégio dos grandes clubes europeus, mais especificamente a Liga dos Campeões. Ainda que a última final da maior competição continental que contou com ótimo rendimento ao menos de uma das equipes tenha sido a de 2016/17, com o espetáculo do Real Madrid nos 4 a 1 sobre a Juventus em Cardiff.

Nas duas últimas, muita tensão pelo que havia em jogo e uma disputa mais mental que técnica ou tática. É de se pensar se o período sem jogos entre o fim das ligas e a grande decisão europeia paradoxalmente não vem atrapalhando corpos e mentes acostumados a constante atividade.

Pode ser também um dos fatores que prejudicam o futebol de seleções. Os jogadores vêm de seus clubes carregando todos os condicionamentos, jogadas executadas sem pensar, até por conta do tempo e do espaço reduzidos, e precisam rememorar os movimentos praticados com seus compatriotas. Isso quando há uma base montada.

É bem provável que a Copa América 2019 tenha hoje o seu primeiro jogo realmente de bom nível, entre Chile e Uruguai no Maracanã, fechando o Grupo C e a primeira fase do torneio. A Celeste com o trabalho de Óscar Tabárez desde 2006 e a busca de um maior repertório além das jogadas aéreas e do jogo direto para Cavani e Suárez; a Roja tentando o tricampeonato com o terceiro treinador diferente – Sampaoli, Pizzi e agora Reinaldo Rueda. Mantendo, porém, uma base experiente e qualificada, a melhor da história do país. Apesar da decepcionante campanha nas Eliminatórias que limou a participação na Copa do Mundo na Rússia.

Equipes que tentam aproximar suas propostas: o Uruguai busca ficar mais com a bola, o Chile procura solidez defensiva e competitividade, mas sem abrir mão das próprias virtudes. Futebol versátil, de acordo com a demanda. Porque é o que a “elite” faz, mas com a possibilidade do dia a dia. Treina, repete, corrige, repensa, aprimora. Há tempo. Também o alto faturamento, no caso dos clubes mais ricos, para contratar quem possa adicionar talento e casar melhor com as características dos companheiros. Sem a “barreira” da pátria.

Para tornar tudo mais complicado, os principais torneios entre seleções acontecem no final da temporada europeia. Cada vez mais desgastante para pernas e cérebros, só deixando os “bagaços” para as seleções. Outro obstáculo para desenvolver um jogo mais elaborado. No torneio sul-americano disputado no Brasil, os gramados ruins são mais uma dificuldade.

Eis o ponto. É mais simples montar as retrancas modernas, com linhas compactas, sincronia de movimentos para negar espaços principalmente no “funil” e muita intensidade, pressionando o adversário com a bola. As seleções com mais camisa, tradição e/ou talento precisam de entrosamento, sintonia para se instalar no campo de ataque e criar as brechas para furar esses blocos cada vez mais sólidos. Uma solução seria a marcação por pressão perto da área adversária, para roubar a bola e acelerar com campo livre. Mas cadê as pernas para isso entre junho e julho, quando a maioria deveria estar de férias?

Não por acaso, Espanha e Alemanha conseguiram se impor em 2010 e 2014 com um jogo mais eficiente e plástico que o da França no ano passado. Trazendo suas bases de Barcelona/Real Madrid e Bayern de Munique/Borussia Dortmund, o “jogar sem pensar” dentro de uma proposta mais posicional, de controle pela posse, ficou mais viável e até proporcionando algum espetáculo. Aos franceses, com jogadores espalhados pela Europa e pela pressão por conta do fracasso em casa na final da Euro 2016, restou o pragmatismo, apelando para bola parada, velocidade de Mbappé e os lampejos de Griezmann e Pogba.

Por isso e também pela questão financeira, Guardiola, Klopp, Simeone, Pochettino, Ancelotti, Sarri e outros treinadores das prateleiras mais altas não se aventuram no futebol de seleções. Em momento de baixa, José Mourinho até considerou a hipótese, mas ainda com mercado e Fernando Santos em alta com as conquistas recentes por Portugal é bem possível que volte ao cenário em um grande clube. Até porque o salário não é baixo.

A Copa América deve “pegar” agora na reta final e a tendência é que termine deixando uma melhor impressão. Mas o futebol de seleções, que no início dos anos 1980 fez este blogueiro se apaixonar pelo esporte antes mesmo de escolher o time de coração, hoje vive um dilema. O jogo moderno exige uma fluidez que só é possível com treinos e jogos seguidos. Trabalho diário e no auge físico e técnico. Tudo que falta a treinadores e jogadores que representam seu países.

O nível mais baixo de desempenho não é “falta de amor” ou ser “mercenário”. Os mais abastados, na prática, nem precisam de suas seleções. Antes, sim, a presença na lista de convocados proporcionava contratos mais vantajosos. Hoje pode ser até um grande problema na avaliação individual de uma temporada – Messi é o maior exemplo. A realidade é dura e só tende a ficar mais complexa com o futebol mais intenso e o calendário inchado.

A Liga dos Campeões já é do tamanho da Copa do Mundo e tende a ser maior e melhor a cada ano.

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VAR salva Uruguai desconcentrado no empate com Japão da posse de bola http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/21/var-salva-uruguai-desconcentrado-no-empate-com-japao-da-posse-de-bola/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/21/var-salva-uruguai-desconcentrado-no-empate-com-japao-da-posse-de-bola/#respond Fri, 21 Jun 2019 05:32:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6731 Este que escreve passaria longe de marcar pênalti de Ueda sobre Cavani, mesmo com os auxiliares de vídeo enxergando falta do defensor japonês no primeiro tempo. Assim como assinalaria uma infração dentro da área uruguaia de Giovanni González em Nakajima na segunda etapa, depois de belo giro à la Zidane do camisa dez japonês. A arbitragem claramente prejudicou o jovem time convidado na Arena do Grêmio.

Já o que prejudicou o Uruguai em Porto Alegre foi a desconcentração. Tranquilo depois dos 4 a 0 na estreia sobre o Equador, acreditou que conseguiria impor seu estilo e construir a vitória com naturalidade. Mas em competições de futebol profissional, mesmo em um nível intermediário, sem foco não se joga. Ou joga mal. Depois de uma pressão inicial na empolgação da torcida que era maioria no estádio, a Celeste só acordou quando sofreu o primeiro gol de Miyoshi. E foi salva pelo pênalti inexistente e convertido por Luis Suárez.

Mesmo assim não tomou para si o controle do jogo. Porque o Japão trocava passes no ritmo do bom meio-campista Shibasaki e acelerava com o quarteto ofensivo formado por Miyoshi e Nakajima nas pontas, Okazaki na referência e Abe se aproximando por dentro. Com mobilidade e arriscando dribles que criavam problemas para a última linha de defesa adversária.

Desorganizada por conta da lesão de Laxalt que, sentindo dores, não acompanhou Miyoshi no lance do gol. Óscar Tabárez foi obrigado a trocar Cáceres de lado e colocar González pela direita. A mudança desestruturou a equipe não só no posicionamento defensivo como nas ações de ataque, já que Cáceres, que é o lateral de base, que fica mais preso com Giménez e Godín, tinha que apoiar para aproveitar o corredor deixado pelo movimento de Lodeiro da esquerda para dentro.

Restou aos uruguaios a fibra. Também o jogo direto e físico, tentando levar vantagem na estatura e na força. Bola para Suárez e Cavani, problemas para a retaguarda asiática e trabalho para o goleiro Kawashima. Mas o Japão respondia com boa circulação da bola. E sorte, aproveitando a falha de Muslera para Miyoshi marcar o segundo gol.

No “abafa” e apelando para cruzamentos  – foram 38, 23 no segundo tempo – os sul-americanos empataram com Giménez e poderiam ter virado. Foram 26 finalizações uruguaias, doze no alvo. Fora as bolas no travessão da dupla de ataque, responsável por 18 conclusões. Por conta do volume de jogo e dos muitos desarmes certos (35 no total), o Uruguai terminou com mais posse: 54%.

Mas o Japão é que foi a equipe na partida a valorizar a bola, Porque sabe que necessita dela. Não foi acaso a mudança de escola de velocidade para a da troca de passes. A partida mostrou que recuar linhas para jogar em rápidas transições ofensivas não é uma boa estratégia, já que atrai o adversário e perde nas disputas no vigor físico e pelo alto. Melhor tocar a bola e manter o oponente longe da própria área.

Com uma equipe se preparando para os Jogos Olímpicos em Tóquio fica ainda mais difícil ser protagonista. Mas os 2 a 2 confirmam o equilíbrio na Copa América. Só a Colômbia tem 100% de aproveitamento até aqui, mas sofrendo para furar a defesa do Catar. O Uruguai demorou a reagir e pode ser grato aos equívocos da arbitragem, que não vão deixar de existir mesmo com o VAR. Fica a lição: sem atenção qualquer jogo pode se complicar.

(Estatísticas: Footstats)

 

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Primeira rodada da Copa América abala ainda mais o favoritismo do Brasil http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/18/primeira-rodada-da-copa-america-abala-ainda-mais-o-favoritismo-do-brasil/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/18/primeira-rodada-da-copa-america-abala-ainda-mais-o-favoritismo-do-brasil/#respond Tue, 18 Jun 2019 10:22:41 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6713 O Chile é o atual bicampeão da Copa América, mas na dinâmica do futebol atual a superioridade absoluta da seleção brasileira nas Eliminatórias é mais recente e, portanto impactante. Por isso e também por ser o anfitrião é o grande candidato ao título continental que não conquista desde 2007. Mesmo sem Neymar.

Este favoritismo, porém, foi abalado por acontecimentos ainda mais próximos do cenário que se apresenta agora. Como um Uruguai forte na Copa do Mundo, liderando o grupo com a Rússia, o país-sede, superando Portugal de Cristiano Ronaldo campeão europeu nas oitavas e só caindo nas mesmas quartas de final que o Brasil. Mas para a campeã França em um jogo relativamente equilibrado, no qual a Celeste sentiu demais a ausência do lesionado Edinson Cavani.

Centroavante do PSG que foi o protagonista dos 4 a 0 sobre o Equador na estreia da Copa América no Mineirão com um belo gol de voleio. De um Uruguai que mantém Óscar Tabárez no comando técnico, mesmo aos 72 anos e com dificuldades para se locomover, e preserva suas duas grandes virtudes: força no jogo aéreo com a dupla Giménez e Godín, trazendo o entrosamento do Atlético de Madrid, e o ataque poderoso com Cavani se juntando a Suárez.

Mas também acréscimos importantes, especialmente no meio-campo. Não mais a formação clássica da segunda linha, com dois volantes de contenção por dentro e dois pontas que correm de uma linha de fundo à outra. Como Álvaro González e Cristian “Cebolla” Rodriguez no time campeão da Copa América de 2011 na Argentina, protegidos por Arévalo Ríos e Diego Pérez ou Eguren à frente da defesa.

Agora Tabárez tem Bentancur e Vecino por dentro com mais qualidade no passe, Nández abrindo o campo pela direita e um Nicolás Lodeiro que se apresentou repaginado nos 4 a 0 da estreia sobre o Equador. Deixou De Arrascaeta no banco, abriu o placar em bela jogada individual logo aos cinco minutos e mostrou mais desenvoltura e contundência nas combinações com a dupla de ataque e também com Laxalt pela esquerda. Outro acréscimo recente, o lateral do Milan é o sucessor natural de Álvaro Pereira e chega ao fundo com intensidade e vigor físico.

Mantendo a tradição de ter um lateral mais fixo e outro liberado para o apoio. Durante muitos anos foi Maxi Pereira à direita. Agora Cáceres é quem atua por ali, fazendo a base e o balanço defensivo de um time mais equilibrado e que conta com mais qualidade técnica para criar espaços diante de sistemas defensivos fechados. Teve 59% de posse e finalizou 14 vezes, metade no alvo, aproveitando, obviamente, a superioridade numérica ainda no primeiro tempo depois da expulsão de Quintero.

O Uruguai se junta à Colômbia, que se apresentou mais sólida defensivamente nos 2 a 0 sobre a Argentina graças ao trabalho que já se faz notar do português Carlos Queiroz, como os grandes adversários da seleção de Tite. Mas o Chile de Reinaldo Rueda também não pode ser descartado.

Não pelos 4 a 0 no Morumbi sobre o convidado Japão em processo de renovação e dando rodagem aos atletas que vão buscar o título olímpico em Tóquio no ano que vem. Mas pelo futebol mais fluido e consistente, coordenado pelo trio de meio-campistas formado por Pulgar, bom volante qualificando a saída de bola e forte no jogo aéreo marcando o primeiro gol da partida, e mais Vidal e Aranguiz.

Na frente, Fuenzalida e Alexis Sánchez pelas pontas e o móvel Vargas na frente. Com dinâmica e faro de gol que não costuma apresentar nos clubes. Foi artilheiro das últimas edições da competição sul-americana e já larga com dois gols. Com um ano e meio de trabalho, Rueda já faz sua equipe melhorar a circulação de bola para acelerar no último terço.

Só precisa melhorar o sistema defensivo, na transição e no posicionamento. Concedeu 11 finalizações aos japoneses e só não foram vazados porque apenas três foram na direção da meta de Arias e os asiáticos desperdiçaram pelo menos duas chances cristalinas, uma em cada tempo. Talvez contra o Uruguai na fase de grupos e nos jogos eliminatórios, a Roja bicampeã e buscando recuperação depois de ficar de fora do último Mundial aumente a concentração no trabalho sem bola.

O torneio ainda não “pegou” no país por vários motivos, incluindo os valores absurdos cobrados por ingressos e uma certa banalização. Não só da competição em si, que teve edições em 2015, 2016 e terá outra no ano que vem, na Argentina e na Colômbia, para se ajustar aos anos pares como a Eurocopa, mas também do próprio Brasil como sede, depois da Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro há três anos.

Mas a primeira rodada serviu para mostrar que não há um favorito absoluto e a fase final pode apresentar duelos interessantes na disputa da hegemonia do continente. Incluindo a possibilidade, ainda que remota, da “ressurreição” da Argentina de Messi. Talvez já encarando o Brasil nas quartas. Em jogo único seria mais um obstáculo para a equipe de Tite na dura tarefa de se impor em seus domínios. Ficou mais difícil apostar.

(Estatísticas: Footstats)

 

 

 

 

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Mais Gérsons, menos Kepas. A independência necessária do jogador de futebol http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/26/mais-gersons-menos-kepas-a-independencia-necessaria-do-jogador-de-futebol/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/26/mais-gersons-menos-kepas-a-independencia-necessaria-do-jogador-de-futebol/#respond Tue, 26 Feb 2019 16:17:39 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6023

“Agora vamos ouvir o que o professor vai falar para a gente virar esse jogo no segundo tempo”.

Não é raro ouvir esta frase de algum jogador brasileiro na saída para o intervalo. Quase sempre deixa a impressão de que o time que saiu perdendo ao final dos primeiros 45 minutos cometeu erros que os atletas não conseguiram corrigir em campo. É claro que as paradas para hidratação aos 20 minutos minimizam esta ideia, mas a imagem segue forte.

Quem lê este blog sabe que o saudosismo não tem muita voz por aqui. Mas é impossível negar a saudade dos tempos em que os jogadores tinham mais autonomia ou iniciativa para se acertar em campo e encontrar soluções para os problemas criados pelo adversário.

O exemplo mais clássico é o de Gérson, o “Canhotinha de Ouro” campeão mundial em 1970. Nas imagens disponíveis e nos próprios relatos dele e de seus colegas, era possível ver o meio-campista conversando, gesticulando e às vezes até pegando o companheiro pelo braço para reposicioná-lo.

Na semifinal da Copa de 1970 contra o Uruguai, ao se perceber muito marcado, Gérson aproveitou uma paralisação no jogo e propôs uma troca, sem consultar Zagallo: ele faria a função de volante e liberaria Clodoaldo para apoiar Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivelino. Tabelando com Tostão, infiltrando e pisando na área, o camisa cinco marcou o gol de empate no final do primeiro tempo. O início à virada por 3 a 1 que colocou o Brasil na final do Mundial no México.

Mudança que partiu do jogador, que nem era o capitão da seleção. Ninguém se sentiu melindrado ou com a autoridade questionada. A liderança se fazia natural para melhorar o trabalho coletivo. Pela inteligência do Gérson, mas também porque havia o costume do jogador interferir diretamente na tática e na estratégia.

Infelizmente, nos últimos tempos a manifestação mais notável de independência do atleta em relação ao treinador, no Brasil e no exterior, tem sido a recusa de ser substituído. Não é frequente, mas quando acontece chama muito a atenção. De Paulo Henrique Ganso pelo Santos contra o Santo André na decisão do Paulista de 2010 ao goleiro Kepa pelo Chelsea na final da Copa da Liga Inglesa contra o Manchester City.

No evento mais recente, um desrespeito do jogador a Caballero, o substituto que já estava pronto para entrar. Mas também ao técnico Maurizio Sarri. Por conta da ascendência quase total do treinador sobre seus comandados, a atitude de Kepa é mais chocante. Gera repercussão principalmente porque escancara a insubordinação. No caso de Sarri, também a falta de moral dentro de um cenário de crise.

Por outro lado, se houvesse um Gerson em campo pelos Blues talvez o problema fosse solucionado por um interlocutor. Apenas David Luiz se dirigiu a Kepa. Só Rudiger tentou acalmar Sarri. Pouco diálogo que pode ser a prova material de um elenco rachado. Mas também da cultura recente de jogadores que não participam do processo descisório em campo. Só em casos extremos. Mesmo com bom entendimento e estimulado a tomar decisões no jogo.

Culpa dos treinadores também, que passaram a centralizar decisões e aceitar por conveniência um aumento da exposição e também da responsabilidade. Na ponta do lápis, vale mais a pena, inclusive financeiramente, ganhar os louros nas vitórias e o chicote nas derrotas. Se for demitido, dependendo do contrato, ainda pode receber uma multa gorda pela rescisão ou até seguir na folha de pagamento do clube por um bom tempo.

Um equívoco, sem dúvida. Ninguém defende a liderança caótica, com todo mundo gritando e ninguém com a razão. Mas deixar todas as decisões por conta do treinador e da comissão técnica é até contraproducente na maioria dos casos. Um tempo perdido que pode comprometer desempenho e resultado.

Por exemplo, a mudança do Brasil no segundo tempo contra a Bélgica na Copa de 2018. Não há imagens de um companheiro acalmando Fernandinho depois do gol contra. Por que só no intervalo houve a definição de uma marcação individual sobre os três atacantes do oponente na transição defensiva – Fagner em Hazard, Fernandinho sobre De Bruyne, Miranda duelando com Lukaku e Thiago Silva fazendo uma espécie de sobra?

Poderia ter evitado o desequilíbrio que gerou vários contragolpes belgas, inclusive o do segundo gol. Tite revezou o capitão, estimula as lideranças polifônicas, mas a cultura segue lá. Só agir depois de “ouvir o professor”.

É pouco em um futebol tão profissional. Precisamos de mais iniciativa com visão do todo e menos rebeldia irresponsável, egoísta. Mais Gérsons e menos Kepas. A independência que se faz necessária em nossos campos.

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Afinal, De Arrascaeta vale toda essa guerra entre Cruzeiro e Flamengo? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/08/afinal-de-arrascaeta-vale-toda-essa-guerra-entre-cruzeiro-e-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/08/afinal-de-arrascaeta-vale-toda-essa-guerra-entre-cruzeiro-e-flamengo/#respond Tue, 08 Jan 2019 12:36:31 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5727

Foto: Uarlen Valério – O Tempo/Estadão

A ideia deste post não é avaliar o comportamento dos dirigentes de Cruzeiro e Flamengo no imbróglio por De Arrascaeta. Os colegas Rodrigo Mattos e Julio Gomes já abordaram o tema e a opinião deste blogueiro fica entre as duas visões: o Fla poderia ter sido mais transparente e se dirigido primeiro ao clube mineiro, que deveria ter honrado o compromisso e não contraído uma dívida com o Defensor. Não há santos nesse caso. Nem o jogador, que força a saída com seu agente de maneira pouco ética.

O que o blog propõe é uma análise sobre a importância de contar com o meia uruguaio na equipe. O time carioca oferece um salário bem superior ao que o atleta recebe no Cruzeiro, que luta como pode para mantê-lo em seu elenco ou ao menos receber a melhor compensação financeira possível, ainda que não tenha pagado integralmente por seus direitos econômicos.

De Arrascaeta é o típico meia que agrada a maioria dos treinadores brasileiros. Camisa dez que “pisa na área”. Marcou quinze gols em 2018. Atua centralizado ou cortando da esquerda para dentro. Combina técnica e timing para aparecer na área e finalizar. Ou servir seus companheiros. No Brasileiro, em 20 jogos foi responsável por seis assistências. Com 24 anos, ainda tem muita lenha para queimar.

Um ótimo parceiro para Thiago Neves no Cruzeiro. O meia que o Flamengo deseja para substituir Lucas Paquetá, artilheiro da equipe na temporada passada com 12 gols, junto com Henrique Dourado. Com a provável saída de Diego Ribas para o Orlando City, a camisa dez ficará vaga.

Mas talvez a virtude que mais justifique essa guerra seja a capacidade de decidir jogos grandes. O Fla sentiu na própria carne, com o uruguaio marcando o gol do empate por 1 a 1 na ida da final da Copa do Brasil 2017 que não complicou a vida dos mineiros para o jogo em Belo Horizonte. No ano passado, novo confronto pelas oitavas da Libertadores e mais um gol de Arrascaeta no Maracanã na vitória por 2 a 0.

Em 2018 o meia também foi protagonista na final do Mineiro, marcando o gol que abriu o caminho para a vitória por 2 a 0 sobre o rival Atlético no Mineirão, e na decisão da Copa do Brasil. O Cruzeiro fez um enorme esforço para contar com o atleta, a serviço da seleção uruguaia, e o camisa dez saiu do banco para ir às redes e não só confirmar a virada sobre o Corinthians, mas também garantir a campanha histórica com 100% de aproveitamento como visitante.

Tudo que Abel Braga precisa para tirar do Fla o rótulo de “arame liso” e “pecho frio” em finais. Justamente o que Mano Menezes não quer perder para manter seu time competitivo. Ainda que o meia se ausente em muitas datas FIFA e não seja um jogador regular, constante. Tanto nas competições quanto nas próprias partidas. Às vezes peca também na intensidade do trabalho defensivo, mesmo atuando com mais liberdade. A reação rápida com pressão logo após a perda da bola hoje é fundamental para os que atuam mais adiantados.

O futebol tem seus mistérios e De Arrascaeta pode não ser feliz numa possível, até provável, mudança de clube. Mas para o nível da bola jogada no Brasil a resposta à pergunta do título deste post é simples: vale muito o investimento. Mesmo com toda polêmica que já arranhou a relação entre dois dos maiores clubes do país.

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