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André Rocha

Há vida sem Messi (e Iniesta) no Barcelona de Neymar

André Rocha

01/11/2015 12h05

No dia 26 de setembro, Lionel Messi teve séria lesão no ligamento colateral do joelho esquerdo logo no início da vitória por 2 a 1 sobre Las Palmas. Na partida seguinte, pela Liga dos Campeões, foi a vez de Iniesta sentir a coxa direita e ser a má notícia da primeira vitória na Liga dos Campeões do atual campeão europeu: 2 a 1 sobre o Bayer Leverkusen no Camp Nou.

Sem poder utilizar os contratados Alexis Vidal e Arda Turan por conta da punição ao clube por descumprir a legislação sobre a contratação de menores que só termina na janela de inverno em janeiro, Luis Enrique ficou com elenco ainda mais curto. A incerteza era se haveria vida em time tão desfalcado e os prejuízos neste período poderiam comprometer toda a temporada 2015/16.

A derrota para o Sevilla por 2 a 1 logo em seguida parecia um prenúncio de crise, até pelo contraste com o ótimo início do Real Madrid de Rafa Benítez. Mas a recuperação veio rapidamente: quatro vitórias consecutivas, três na liga, uma na Champions. Mais um empate sem gols com o Villanovense utilizando time alternativo na Copa do Rei. Liderança no Grupo E do torneio continental, disputa ponto a ponto com os merengues pela ponta do Espanhol.

De fato, os adversários não são um parâmetro confiável para avaliar desempenho: Rayo Vallecano, Bate Borisov, Eibar e Getafe. Pelo contexto, porém, os resultados são mais importantes.

Ainda assim, o protagonismo de Neymar merece ser destacado. Cinco assistências, mesmo número de gols que alçaram o brasileiro a artilheiro do campeonato espanhol, com nove. Repertório cada vez mais rico de dribles, mudando de direção e surpreendendo os marcadores. Símbolo de um Barcelona definitivamente mais vertical, em especial no último terço do campo.

Não que já não fosse assim. Na temporada passada, a tríplice coroa já foi conquistada com um estilo diferente. Ainda a posse de bola, o jogo apoiado, o ataque posicional. Mas desta vez acionando mais rapidamente o trio MSN e definindo a jogada com profundidade e vitórias pessoais no um contra um.

Messi à direita, mas partindo para resolver. Abrindo o corredor para Daniel Alves ou Rakitic, trocando com Suárez em progressão num movimento em "x" – o argentino cortando da direita para dentro, uruguaio infiltrando no espaço às costas da retaguarda. Ou invertendo para a entrada em diagonal de Neymar. Sem contar as arrancadas imparáveis com a bola pregada no pé esquerdo. Um "sete" com funções de "dez".

Bem diferente do "falso nove" dos tempos de Guardiola. Naquela era, o centro nervoso ficava no meio-campo, com superioridade numérica e troca paciente de passes entre Xavi, Iniesta e Messi para criar espaços. Quando está em campo, o camisa oito é mais um facilitador, que coloca o corredor esquerdo com Jordi Alba e Neymar para funcionar. Mais apoio que protagonismo.

Na equipe adaptada, o 4-3-3 tradicional conta com menos variações. Pela direita, Munir El Haddadi ou Sandro Ramirez atua como ponta, obviamente sem o repertório de Messi como articulador. Por outro lado, colaboram mais na recomposição e liberam Neymar para participar da criação, com Rakitic e Sergi Roberto e procurando Suárez. Ou mesmo Busquets, avançado como meia quando Mascherano é adiantado para o meio-campo.

Sem Messi e Iniesta, o 4-3-3 com Munir à direita auxiliando sem a bola e Neymar mais liberado para desequilibrar a partir do lado esquerdo.

Sem Messi e Iniesta, o 4-3-3 com Munir à direita auxiliando sem a bola e Neymar mais liberado para desequilibrar a partir do lado esquerdo (Tactical Pad).

Muito apoio dos laterais Daniel Alves e Alba. E movimentação. No segundo gol sobre o Getafe, Sergi Roberto é quem cria pela direita. A consequência natural é um jogo ainda mais direto, mesmo mantendo a média de 60% de controle da bola. Ainda marcando na frente por pressão e propondo, mas num ritmo diferente. O de Neymar.

No gol de Neymar sobre o Getafe, assistência de Sergi Roberto aberto à direita.

No gol de Neymar sobre o Getafe, assistência de Sergi Roberto aberto à direita e infiltração do brasileiro, livre (reprodução: ESPN Brasil)

Assim segue vivo em todas as frentes, à espera do retorno dos talentos fora de combate – Iniesta já ficou no banco na vitória sobre o Getafe. Também dos reforços e de quem mais poderá vir em janeiro – Philippe Coutinho? Completo e maduro na variação de ritmos e estilos, o time do século 21 pode ser ainda mais inteligente e letal em busca de novas conquistas.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.