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André Rocha

Listas são listas, mas a da “FourFourTwo” de camisas dez se superou

André Rocha

07/11/2015 13h38

Funciona mais ou menos assim: alguém passa pela redação pedindo aos colegas um ranking qualquer. Top 10, Top 5…Solicitam um ou outro critério e…virem-se! Os jornalistas, quase sempre atarefados, elaboram sem pensar ou pesquisar muito, entregam e a vida segue.

Alguém recebe, totaliza e pronto! Temos uma lista, hierarquizada. Se o editor gostar de uma polêmica para atrair atenções, ainda que banhada de críticas, quanto mais incoerente melhor.

Observando de longe, parece que aconteceu mais uma vez. A revista "FourFourTwo" elencou os melhores "camisas dez" de todos os tempos. E se superou na bizarrice.

Não, não é porque deixou Pelé em terceiro lugar, atrás de Maradona e Puskas. A proposta deste post não é dar piti patriota. O problema foi a justificativa. Segundo a publicação, Pelé não representaria a "essência" do dez.

Como? A mística da camisa dez só existe por causa de Pelé, ainda que o mágico Ferenc Puskas tenha surgido antes e encantado o planeta bola na primeira metade dos anos 1950. Visão de jogo, habilidade, técnica, capacidade de finalizar e servir os companheiros. O Atleta do Século 20 fazia tudo isso com excelência.

Essa impressão talvez tenha ficado porque nas seleções de 1958 e 1970 havia dois "falsos pontas" pela esquerda: Zagallo e Rivellino. Por conta da movimentação de Vavá e Tostão, que procuravam esse espaço e abriam o corredor central, as infiltrações de Pelé davam a impressão de que ele seria um centroavante ou "falso nove".

Mas no Santos, com Coutinho, Pelé era ponta-de-lança no 4-2-4. Trabalhava com Mengálvio no meio, se juntava ao seu eterno parceiro e Dorval e Pepe pelas pontas. Camisa dez. Ponto. Maradona inspirou sucessores como Ortega e Riquelme? Pelé foi, é e será a referência para todos na função.

Questionáveis também nomes entre os dez primeiros como Hagi, Francescoli, Platini, Baggio, Laudrup e…sim, Zico. Todos craques espetaculares, mas com uma aura "cult" na Europa. Como se citá-los fosse um atestado de conhecimento futebolístico. A velha obsessão de fugir do clichê.

Nenhum desses pode ficar à frente de Messi, que é tão dez quanto Pelé e Maradona. Este último, seu compatriota, também procurava o lado direito para iniciar suas jogadas – onde ele recebe a bola para marcar contra a Inglaterra em 1986 o gol mais bonito da história dos Mundiais? No mais, se a falta de uma Copa do Mundo pode colocá-lo atrás de Diego, qual a desvantagem para os citados acima? Faz tudo melhor e mais rápido que eles e ao menos disputou uma final de Mundial, assim como Baggio.

Deixar de fora Zidane, Ronaldinho e Rivaldo, todos com Bola de Ouro e campeões mundiais em suas seleções, são mais alguns absurdos desse ranking. Ainda que o francês trate Francescoli como seu grande mestre. Superado pelo "aluno". Assim como Maradona deixou Rivellino para trás na história do esporte.

Listas são listas. Todas são discutidas, contestadas. Rendem boas discussões. Mas essa da "FourFourTwo" (veja o top 10 completo AQUI) se superou…

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.