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André Rocha

Levir deixa o Galo. Nunca teremos um Alex Ferguson

André Rocha

27/11/2015 15h05

Levir Culpi deixa o Atlético Mineiro com saldo positivo: Copa do Brasil, Recopa Sul-Americana, título mineiro e aproveitamento de campeão no Brasileiro, se não houvesse o Corinthians de Tite no meio do caminho.

Dezenove meses de trabalho, desde abril do ano passado. Uma eternidade para o futebol cinco vezes campeão mundial. Porque o próprio Levir, mesmo com o desejo de permanecer, admitiu desgaste com dirigentes e até com o próprio elenco. "O jogador precisa ouvir mais o técnico", disse na coletiva depois do empate em 2 a 2 contra o Goiás.

Felipão já falou sobre a dificuldade de trabalhar a longo prazo com latinos. Com o tempo, os truques para motivar não funcionam mais, já estão "manjados". Para o atleta, dito profissional, seria como lidar com o pai. Na infância ele é o herói, depois chega a adolescência e tudo que ele fala começa a ser questionado. Se o treinador se sustenta apenas com o trabalho psicológico, sem conteúdo nos treinamentos, o longo prazo torna-se impossível.

Quando a longevidade é por conta das conquistas, muito comum por aqui, o problema é manter a fome por títulos. O técnico corre o risco também de criar laços de amizade e gratidão com alguns e ter paciência quase infinita. Como Tite no Corinthians em 2013, depois da saga Tolima-Brasileiro-Libertadores-Mundial desde 2010, sem saber lidar com a queda de produção de Fabio Santos, Danilo e Emerson.

Há também a impaciência na mudança de patamar. Muricy Ramalho foi tricampeão brasileiro no São Paulo, Marcelo Oliveira bi com o Cruzeiro. Não venceram Libertadores e viraram fracassos. Como se fosse simples fórmula matemática. O tricolor paulista não voltou a ganhar as Américas com outros profissionais. Muricy conseguiu no Santos de Neymar.

Imediatismo, pensar futebol movido apenas pela paixão. Da euforia à depressão. Estabilidade quase sempre significa tédio. Neste aspecto, o Brasil é o mais latino dos países.

Por isso nunca teremos um Alex Ferguson: 26 temporadas no Manchester United, primeiro título (Copa da Inglaterra) na terceira. Primeira conquista da Premier League seis anos depois de assumir. Para depois vencer mais doze e transformar o clube no mais vencedor do país e sua própria história numa lenda.

Sim, uma raridade, mesmo na Europa. Mas até os sete anos de Jurgen Klopp no Borussia Dortmund são improváveis nos grandes clubes em terras brasilis. Por isso Telê Santana no São Paulo de 1990 a 1996, período interrompido pela isquemia cerebral, é tão lembrado. Exceção.

Em 2016, Levir Culpi e Galo seguem suas vidas. Como será o amanhã?

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.