Petkovic exalta o novo Neymar e faz lembrar o "paradoxo" de Cruyff
"No Barcelona, Neymar aprendeu a jogar sem a bola". Quem afirma em resposta a este jornalista é Dejan Petkovic, o Pet, convidado do programa "Jogando em Casa" no Esporte Interativo.
O meia aposentado é sérvio, mas se diz carioca. Jogou por Flamengo, Vasco e Fluminense, além de Vitória, Atlético Mineiro, Santos e Goiás no Brasil. Agora é treinador. Há poucos meses deixou o Criciúma na Série B. Antes foi sondado para assumir o Flamengo na saída de Luxemburgo e a chega de Cristóvão Borges.
Com uma visão mais tática e conceitual que a reta final da carreira ajudou a construir, Petkovic contou que foi consultado por jornais espanhóis sobre Neymar em 2013. Sabia do talento do brasileiro e vislumbrava o que ele poderia evoluir na compreensão do jogo em um grande centro da Europa. Avalizou e hoje colhe o reconhecimento por isso.
"Neymar antes jogava apenas com a bola. Driblava, marcava gols e fazia a diferença, mas sozinho, não com o time ou seleção. Agora ele sabe o que fazer, como se movimentar e, no deslocamento, se desmarcar e receber a bola livre ou no um contra um", explica.
No primeiro gol da goleada por 4 a 0 sobre a Real Sociedad, Neymar centraliza quando a bola é virada para Daniel Alves à direita e, ao perceber a queda de Luis Suárez na corrida enroscada com o adversário, acelera em diagonal para receber livre quase na marca do pênalti para marcar seu 14º tento no Espanhol. Cada vez mais artilheiro. Por se comportar cada vez melhor sem a pelota.
No Brasil das jogadas individuais é difícil compreender a importância das ações sem a posse de bola. Desde os elogios de Zagallo a Tostão pelo trabalho na Copa de 1970 que facilitiva para Jairzinho, Gérson, Pelé e Rivelino.
Jogar sem a bola também pode significar dedicação no combate. Neymar aprendeu a defender. Não na base do carrinho e do desarme, mas através do posicionamento. Muitas vezes formando uma segunda linha no meio com Rakitic, Busquets e Iniesta. Setor fechado, o adversário não infiltra. Induz o oponente a uma posse inócua, sem profundidade.
Uma lógica espacial e matemática que faz lembrar Johan Cruyff. Uma das máximas do gênio holandês é tão simples quanto sutil: o jogador tem a bola, em média, por dois minutos em uma partida de futebol. Portanto, o mais importante para a sua equipe é o que ele faz nos outros 88 minutos, mais os acréscimos, sem ela. Por isso a resistência à contratação de Neymar há dois anos. Hoje não mais.
Muito por esta espécie de paradoxo não tão fácil de assimilar, ainda mais por aqui: para ficar com a bola, base da filosofia do Barça atual implantada pelo próprio Cruyff há quase três décadas, todo o time precisa jogar sem a posse. Marcando e negando espaços para retomá-la. Tocando rápido, procurando o lugar correto no campo, criando linhas de passes.
Inteligência, acima de tudo. Saber onde está, para onde vai e o que fazer quando chegar lá e receber a bola, ou não. Neymar aprendeu. Por isso desequilibra cada vez mais quando tem a pelota no Barça. Com Suárez e o retorno de Messi, o trio MSN pode seguir dando as cartas na Europa.
Petkovic enxergou antes, como antevia a jogada. Desde a extinta Iugoslávia no início dos anos 1990, passando pelo Real Madrid até o Flamengo campeão brasileiro em 2009. Papo de craque. Com ou sem a bola.
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