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André Rocha

Só os clubes podem quebrar a blindagem do sistema da CBF. Agora é a hora!

André Rocha

04/12/2015 18h38

Marco Polo Del Nero indiciado nos Estados Unidos junto com Ricardo Teixeira. Ao invés de renunciar e ser substituído pelo desafeto Delfim Peixoto, vice-presidente mais idoso, pede licença e escolhe seu substituto: Marco Vicente, deputado federal da Bancada da Bola.

Agora tenta eleger um vice com mais idade que Delfim para a vaga deixada por José Maria Marín e garantir que o inimigo não assuma, independentemente da seqüência das investigações.

Se este cenário não for suficiente para visualizarmos o buraco no qual o futebol brasileiro se enfiou e entendermos que nem uma possível prisão dos hoje principais dirigentes será capaz de mudar o status quo, quando será?

Um círculo vicioso e viciado. Sustentado pelos estatutos e normas da estrutura federativa. Os homens podem sair de cena, ou dos holofotes. O sistema, porém, é blindado.

Tão fechado que se protege da entrada de lideranças da oposição. Delfim Peixoto é oponente de Del Nero na disputa do poder. Não porque seria uma possibilidade de mudança.

Para uma figura como, por exemplo, Leonardo, Zico ou Raí entrar nesse circuito, precisaria do apoio das federações que se alimentam e sobrevivem dentro da estrutura. Ou seja, na configuração atual pouco ou quase nada pode ser alterado. Não há espaço para oposição real. As regras foram bem amarradas.

Como alento, apenas a incerteza da impunidade dos agentes. As palavras de Loretta Lynch, Procuradora do Departamento de Justiça dos Estados Unidos foram contundentes: "Todos os que tentarem fugir, eu aviso: vocês não vão escapar". Com fins políticos e comerciais ou não do governo americano, o FBI conseguiu o que parecia impossível.

Mas para mudar efetivamente o futebol brasileiro não basta investigar seriamente e punir os responsáveis pelos conluios sórdidos nos bastidores. Não há momento mais apropriado para quebrar o sistema.

E só há um caminho: união dos clubes para tomar as rédeas e, com o apoio do governo federal, ainda que fragilizado (mas atento), partir para a formação de uma nova instituição ou um novo órgão regulador para mediar a relação entre os clubes e dialogar com a FIFA.

Com a comprovação dos indícios apontados pela Justiça Americana, não parece tão difícil questionar a legitimidade e a credibilidade da CBF para negociar contratos e definir os rumos do futebol.

Cabe aos clubes a mobilização organizada, com pauta, agenda, discurso duro e ação das novas lideranças escolhidas por eles. Mas rápido, antes que o sistema se reinvente.

No Seminário de Avaliação do Futebol Brasileiro, organizado pela Universidade do Futebol com o apoio do Ministério dos Esportes e do Bom Senso FC, realizado em São Paulo na última quarta-feira, dia 2, este que escreve teve a oportunidade de conversar rapidamente com o nosso Juca Kfouri.

Na troca de ideias, um consenso: os principais clubes ainda não têm noção de sua força e agem como o doente que prefere o paliativo que dá um alívio imediato a se esforçar para buscar a cura, mesmo com dor.

Não dá mais. A oportunidade é única de construir algo sobre os escombros do que hoje está desmoronando. Mudar ideias e ideais. Renovar o que cheira a mofo. Ou já está podre. Reescrever a história. Agora é a hora!

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.