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André Rocha

Flamengo de Muricy precisa de um “ponta armador” - Mancuello ou Ederson?

André Rocha

08/01/2016 12h13

Reapresentação do elenco do Flamengo com os novos contratados e Muricy Ramalho, confirmação da vinda do argentino Federico Mancuello. Ainda algumas especulações, a principal delas o volante chileno Marcelo Díaz.

Em meio aos exames médicos e testes físicos, já é possível começar a vislumbrar um time base para 2016. Ainda que mais importante que os nomes sejam o modelo de jogo do técnico que se diz renovado e as possibilidades do elenco, em características, de executar o plano traçado.

Mas pelas peças disponíveis não é difícil imaginar um 4-3-3 ou 4-1-4-1. Sistema que Muricy usou pouco na carreira, diga-se. Mas depois da passagem por Barcelona, quem sabe?

A questão é utilizar dois ponteiros agudos, como Marcelo Cirino e Emerson. Normalmente o ataque fica engessado, com única possibilidade de movimentação apenas a inversão de lado. Sem contar que o desempenho da dupla em 2015 não foi dos mais animadores.

Foi o que prejudicou Paolo Guerrero junto ao declínio técnico posterior. Com os pontas abertos e buscando as infiltrações em diagonal, muitas vezes o peruano precisava recuar para ajudar o meio-campo que produzia pouco. Lembre-se do gol da vitória sobre o Goiás no Serra Dourada: Guerrero recua e lança Cirino entrando no "facão".

Com Cirino e Emerson nas pontas, um ataque mais engessado e que obriga Guerrero a recuar (Tactical Pad).

Com Cirino e Emerson nas pontas, um ataque mais engessado e que obriga Guerrero a recuar (Tactical Pad).

Hoje a figura do "ponta armador" é muito presente no futebol mundial. Seja Messi no Barcelona, David Silva no Manchester City, Juan Mata no United ou Valbuena no Lyon. Por aqui, os últimos campeões brasileiros também aderiram: Everton Ribeiro no Cruzeiro e Jadson no Corinthians. Mesmo num 4-2-3-1 ou 4-4-2.

A dinâmica é sair da ponta para circular às costas dos volantes, criando superioridade numérica no centro e explorando os espaços entre defesa e meio-campo. Permite também abrir o corredor para o lateral e deixar brechas para outros ocuparem os espaços, como os meio-campistas ou até mesmo os companheiros de ataque.

O time fica menos previsível e não precisa da sacrossanta figura do "camisa dez", essa entidade mágica do futebol brasileiro. Em especial no Flamengo que ainda espera pelo "novo Zico".

No Flamengo, dois jogadores podem ocupar a função: Mancuello pela esquerda, abrindo espaço para Alan Patrick fazer companhia a Willian Arão no trio central. Sem a bola pode ser bem útil, voltando para ajudar Jorge na recomposição. O ex-meia do Independiente só precisaria ser mais efetivo e contundente no ataque.

Uma possibilidade, com Cirino à direita e Mancuello pela esquerda, ajudando Jorge na recomposição e vindo para o centro criar superioridade numérica no meio-campo.

Uma possibilidade, com Cirino à direita e Mancuello pela esquerda, ajudando Jorge na recomposição e vindo para o centro criar superioridade numérica no meio-campo (Tactical Pad).

Ou mesmo Ederson atuando por qualquer dos flancos – Emerson e Cirino disputariam a posição do lado oposto. Em boas condições físicas e com sequência de jogos pode funcionar como no Lyon. Necessitaria de uma adaptação sem a bola. Mas como tem mais poder de finalização e presença de área que Mancuello daria mais opções na frente.

Outra possibilidade, com Emerson pela esquerda e Ederson do lado oposto, reeditando posicionamento no Lyon: criando no meio e aparecendo na área para finalizar, além de abrir espaço para o apoio de Rodinei (Tactical Pad).

Outra possibilidade, com Emerson pela esquerda e Ederson do lado oposto, reeditando posicionamento no Lyon: criando no meio e aparecendo na área para finalizar, além de abrir espaço para o apoio de Rodinei (Tactical Pad).

Tudo que Guerrero precisa. Em 2014, seu melhor ano em desempenho, mesmo sem títulos relevantes, foi destaque e artilheiro do Corinthians partindo da esquerda para dentro e fugindo da marcação procurando os espaços entre o zagueiro e o lateral.

Muricy quer o Flamengo propondo o jogo, trabalhando no campo adversário. Para isso precisa de posse de bola e mobilidade. No Santos tinha Neymar de um lado, mas Elano trabalhando com os meias do outro. No melhor momento no São Paulo, um 4-4-2 com Kaká e Ganso abertos na segunda linha, mas vindo para o centro armar o jogo.

Ter dois ponteiros verticalizando o tempo todo e um centroavante finalizador deve esvaziar o meio-campo e deixar o ataque mais estático. Não parece a melhor receita. Um articulador partindo do lado pode ser mais interessante, alinhado ao futebol atual. A conferir.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.