Topo

André Rocha

Zagueiro técnico e veloz: raridade que vale ouro no mercado

André Rocha

16/01/2016 10h27

Você leu por aqui sobre a necessidade do São Paulo proteger Lugano – ídolo, líder, experiente, porém lento. Muricy Ramalho quer um zagueiro rápido para jogar com o veterano Juan no Flamengo. O Corinthians teme uma proposta irrecusável por Gil. O mesmo faz o Atlético Mineiro com Jemerson. O PSG pagou 50 milhões de euros por David Luiz, defensor um tanto tresloucado. Mas técnico e veloz.

O futebol mudou. Antes, em qualquer pelada ou peneira do planeta, os mais altos e menos rápidos e técnicos iam para o meio da defesa. Afinal, só era necessário cortar os cruzamentos, rebater os lançamentos e fazer faltas quando preciso.

Hoje as exigências são outras. Para jogar em 30 metros e com pressão no homem da bola, o zagueiro precisa saber o que fazer porque o passe errado vira contragolpe letal em segundos. A ligação direta tem mais chance de cair nos pés do adversário, que vai controlando o jogo.

E se a proposta do seu time é ter posse e marcar no campo rival, a consequência lógica é que com a compactação a última linha defensiva fica na intermediária na maior parte do jogo. A principal função do zagueiro, então, é estar pronto para as coberturas e ganhar na velocidade dos atacantes. Agilidade no um contra um também é importante.

Não por acaso, Pep Guardiola – grande catalisador das mudanças no esporte nos últimos sete anos – teve a sacada de adaptar volantes na defesa, no Barcelona e no Bayern de Munique: Mascherano, Yaya Touré, Javi Martinez, Alaba, Xabi Alonso. Passe e recuperação.

Como no futebol não há fórmula mágica, o efeito colateral é sofrer nas jogadas aéreas. Quando a estatura faz diferença, sim, e aquele zagueirão da peneira seria mais útil nesta ação eventual, mas que pode ser decisiva.

Por isso a busca pelo zagueiro alto e rápido. Novo paradigma que tem que partir da base. No Brasil, para complicar, existe a barreira cultural. É bom lembrar que há pouco tempo o jogo nos nossos campos era de ligações diretas, descompactado e com muitos cruzamentos. A função do zagueiro era "fechar a casinha" dentro da própria área e sair de campo com dor de cabeça. Ainda a "bola pro mato que o jogo é de campeonato". Ou chutão mesmo.

Felizmente começa a mudar. Muitos clubes desde a base já trabalham com linha de quatro, ensinando os laterais a atuarem primeiro como defensores. Saída qualificada e trabalho coletivo, com os zagueiros jogando com bola no chão. O problema é que só vai render frutos mais adiante. E os técnicos do profissional precisam das peças adaptadas ao futebol atual para ontem.

Uma dura transição. Portanto, quem tem seus zagueiros modernos que o segurem. Eles valem ouro.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.