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André Rocha

Recado ao Chelsea: Pato é ponta, não centroavante

André Rocha

26/01/2016 11h31

Pato_Corinthians

Guus Hiddink, técnico "tampão" do Chelsea, até desdenhou publicamente, mas Alexandre Pato será jogador do Chelsea, por empréstimo de seis meses.

Se não terá o retorno dos 15 milhões de euros investidos em 2013, o Corinthians ao menos fica livre dos salários e pode negociar uma prorrogação do contrato para se proteger – no vigente, que vai até dezembro, Pato poderia assinar um pré-contrato com qualquer clube já em julho.

Sem contar o incômodo pela presença de um jogador que não teve ambiente em sua primeira passagem, provocou várias vezes o time em redes sociais quando esteve no São Paulo e, num cenário de crise, poderia ser uma "sombra" para os atacantes titulares de Tite.

A questão é que o Chelsea demonstra interesse em Pato, em tese, por conta da perda de espaço do francês Loic Rémy e a preocupação com Diego Costa – jogador tenso, de choque, suscetível a lesões e suspensões.

Só que Pato não é centroavante. Nunca foi. No Internacional formou pela esquerda um trio com Iarley e Fernandão no título mundial de 2006, aos 17 anos. No Milan atuou assim algumas vezes, mas sem regularidade. Até pela incrível seqüência de lesões que tanto prejudicaram sua carreira.

O mesmo na seleção brasileira, profissional e olímpica. O próprio jogador já disse não se sentir confortável de costas para o gol, acossado pelos zagueiros.

Tite tentou encaixá-lo numa dupla de ataque com Guerrero. No São Paulo, Muricy Ramalho foi pelo mesmo caminho, com Luis Fabiano ou Alan Kardec. Com liberdade para circular e deixar o companheiro mais fixo na área adversária.

Mas Pato só foi render mesmo como ponteiro no São Paulo em 2015. Resgatando sua origem no Inter. Parte do lado esquerdo, infiltra em diagonal e finaliza ou serve o atacante de referência. Por ali recuperou a capacidade de competir, sem a aparente indiferença de outros tempos.

Mapa de calor de Alexandre Pato no São Paulo em 2015: parte do lado esquerdo e infiltra em diagonal como um ponteiro. O melhor momento da carreira recente do atacante (Footstats).

Mapa de calor de Alexandre Pato no São Paulo em 2015: parte do lado esquerdo e infiltra em diagonal como um ponteiro. O melhor momento da carreira recente do atacante (Footstats).

No entanto, para os padrões ingleses, nem "winger" o brasileiro pode ser, já que não volta tanto para recompor uma segunda linha de marcação. Muito menos na velocidade e intensidade do futebol jogado na Inglaterra.

Na lógica do futebol atual, Pato é um atacante pelo flanco mais incisivo, finalizador, que normalmente tem o contraponto de um meia mais articulador do lado oposto. Como Neymar, Griezman, Martial, Sterling – sem comparações técnicas, obviamente.

Portanto, no Chelsea, Pato será muito mais uma opção a Hazard, em má fase e voltando de lesão, do que Diego Costa na execução do 4-2-3-1 costumeiro desde os tempos de José Mourinho.

Alexandre Pato desembarca em Londres e, antes da incógnita que é seu desempenho em Champions e Premier League, ligas mais fortes do planeta, a primeira questão a resolver é como Hiddink pretende posicioná-lo em campo.

Se os Blues querem um centroavante bateram na porta errada. Não pode ser Pato.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.