Paulo Bento sabe o que lhe espera no Cruzeiro?

Foram muitas sondagens, uma conversa com Marcelo Oliveira e as propostas recusadas por Jorginho e Ricardo Gomes. Dezesseis dias depois da demissão de Deivid, a solução. Paulo Bento comandará o Cruzeiro.

Acerto definido em Portugal. O técnico da seleção de seu país na Copa do Mundo no Brasil certamente conhece a história de seu novo clube e pesquisou informações sobre o elenco celeste. A questão é: Paulo Bento sabe o que lhe espera em Minas Gerais e no futebol brasileiro?

Em clubes, apenas uma experiência. Sporting. De 2005 a 2009. Trabalho sólido, sem os recursos dos rivais Benfica e Porto, mas sem conquistar a liga portuguesa (quatro vices) ou alguma competição europeia. Sabemos como funciona por aqui. Dois resultados ruins e a pergunta cruel, covarde: "Ganhou o quê?"

Conteúdo não falta, como de costume entre os técnicos lusos. Até porque foram praticamente dois anos dedicados ao aprimoramento profissional, com formação UEFA Pro.

Na seleção, sua grande sacada foi variar o 4-3-3 para o 4-4-2 com Nani recuando pela direita, Raul Meireles abrindo pela esquerda e liberando Cristiano Ronaldo para circular por todo o ataque. O futebol do camisa sete explodiu na Eurocopa em 2012 e no ano seguinte Carlo Ancelotti aproveitou a ideia no Real Madrid.

A liderança do treinador de 46 anos é dura, sem grandes concessões. A relação com Cristiano Ronaldo era tensa. Um desafio grande para manter o vestiário sob controle. A história mostra que os "gringos" por aqui estão sempre a um passo de perder o comando sobre o elenco.

Cenário complexo, mas que pode dar certo. O Cruzeiro tem elenco heterogêneo, mas é possível formar equipe jogando futebol atual, com intensidade e qualidade na frente. No entanto, os obstáculos serão muitos. Ou os de sempre. Torcida, imprensa, corneteiros dentro do clube. Um toque de xenofobia, mesmo com quem fala a nossa língua.

Depois dos 7 a 1, a impressão que fica é de que, fora o corporativismo dos treinadores cavando uma reserva de mercado, a má vontade com os estrangeiros é como se eles chegassem como a prova viva de nossa defasagem e pagassem como o mensageiro que é morto pelo rei por trazer a má notícia.

Boa sorte ao Paulo Bento. Vai precisar.