Isto aqui é um pouquinho de Brasil, Aguirre
Diego Aguirre pediu demissão no Atlético Mineiro, muito provavelmente porque sabia que seria dispensado a qualquer momento depois da eliminação na Libertadores.
Mais uma vez deixa um clube brasileiro sem completar um ano de trabalho. Em 31 jogos, 16 vitórias, sete empates, oito derrotas. 59% de aproveitamento. Bem próximos dos 60% no Internacional em 48 partidas, com um título gaúcho e uma fase a mais no torneio continental de diferença.
Mesmo tomando a iniciativa, Aguirre certamente sai sem entender definitivamente como funciona o futebol brasileiro. Ainda que tenha atuado por aqui também como jogador.
Em cinco meses de trabalho, uma final de estadual – que dizem que é uma extensão da pré-temporada, momento de fazer testes e sem prioridade no calendário – e desclassificação no "gol qualificado", com vitória, nas quartas-de-final do torneio prioritário no primeiro semestre.
Por isso, o blog, sem se excluir do processo, tenta ajudar o técnico uruguaio com algumas dicas sobre como a coisa funciona em "terras brasilis":
1 – O resultado, e só ele, é o que pauta. Se vence, mesmo jogando mal, é "boa fase" e nós, jornalistas, procuramos as histórias e os aspectos positivos como se nada houvesse para corrigir. Se perde, ainda que jogando bem e mostrando lastro de evolução, é "crise" e a busca será pelas razões – salários atrasados, grupo rachado, craque na noitada. Infelizmente, nós induzimos os torcedores nessa montanha russa;
2 – Não existe mérito do adversário. Para torcida, dirigentes e imprensa, especialmente a local, o time sempre perde para ele mesmo, por conta de seus erros;
3 – Planejamento é o próximo jogo. Estadual para testar? É o que mais derruba técnicos. A meta é uma "boa campanha" na Libertadores? Mentira. Se não vier o título a crítica pesada chega embutida na eliminação;
4 – O que é tratado como virtude no triunfo se transforma magicamente em defeito no revés. Seja o rodízio de jogadores, a escalação de uma peça para função tática específica, manter o jogador talentoso no banco. Se a bola bater na trave e entrar, todas as escolhas foram precisas. Se for para fora vira tudo contra o treinador;
5 – Para um técnico se manter vivo nos momentos de crise ele precisa de pelo menos um desses itens: carisma, discurso ou currículo de títulos. Sem um deles ele será detonado por ser "sem sal" ou virá o covarde "ganhou o quê?";
6 – Por fim, a pior notícia para Aguirre: a maioria dos envolvidos com futebol por aqui tangencia a xenofobia. Um técnico estrangeiro quase sempre é um invasor, uma ofensa ao futebol cinco vezes campeão do mundo que nada tem a aprender. Visto com desconfiança, há má vontade e impaciência até com a natural dificuldade de falar uma língua nova. O "gringo" é o retrato da decadência que não queremos ver.
Isto aqui é um pouquinho de Brasil, Aguirre. Boa sorte e não volte aqui tão cedo.
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