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André Rocha

Autuori retoma tema calendário, mas problema não é o jogo da segunda-feira

André Rocha

12/07/2016 11h24

O Atlético Paranaense entrou no G-4 com a vitória sobre o Cruzeiro por 3 a 0 construída com autoridade e controle de jogo no segundo tempo. Mas o técnico Paulo Autuori não parecia tão satisfeito e na entrada ao vivo no programa da emissora detentora dos direitos de transmissão na TV fechada, o Sportv, reclamou do jogo marcado para segunda à noite.

Quem já conversou com Autuori sabe da sua opinião sobre o que ele chama da banalização do futebol com jogos em todos os dias da semana. Segundo ele, não há mais um tempo para arejar a mente e se criar uma expectativa saudável para um grande jogo devido à massificação.

Questionamento respeitável. E retomar o tema calendário é sempre saudável. Mas, na prática, mudou pouco para seu Atlético a preparação para a partida no Mineirão. Até teve um saldo positivo, já que ganhou mais um dia. Mais pertinente foi a reclamação anterior, do adiamento do segundo tempo da partida contra a Chapecoense para a quinta-feira à tarde, quando a manhã seria mais razoável por minimizar os prejuízos na rodada seguinte.

É notório o poder da televisão na ordem dos jogos de cada rodada. A influência, por questões comerciais, é desproporcional. Não por acaso os clubes mais organizados procuram outras fontes de receita para se tornarem autossustentáveis e dependerem menos das cotas.

Só que o problema está longe de ser os jogos às segundas. Se no meio da semana os times atuarem na quinta e depois no domingo, dá na mesma que jogar domingo, quarta e sábado.

Mais passível de discussão é a distribuição de jogos nos domingos às 11h. Por envolver desgaste físico e logística complicada, deveria haver um revezamento, com todos jogando o mesmo número de partidas, ou quase isso.  Não é o caso. Ainda assim, não é o olho do furacão.

A grande questão continua a mesma: os estaduais inchados consumindo quatro meses da temporada, de fevereiro a maio, e obrigando a encavalar datas de Copa do Brasil, Brasileiro, Libertadores e Sul-Americana e invadir as datas FIFA, prejudicando exatamente os clubes competentes que, em boa fase, cedem os jogadores para as seleções. Punem o formador e o investidor.

A adequação ao calendário europeu é tema polêmico. Este que escreve defende uma temporada de teste para se avaliar todas as questões, como, por exemplo, presença de público, audiência na TV, lógística e desgaste dos jogadores atuando no verão em partidas intensas numa fase intermediária do campeonato brasileiro.

Ao final do debate entre Autuori e o apresentador Galvão Bueno, este leu um trecho de nota oficial da CBF afirmando que "calendário é tema complexo tratado continuamente com muita seriedade, sempre buscando conciliar todos os interesses". Será mesmo todos?

O colega Luis Filipe Chateaubriand, estudioso do calendário brasileiro, colunista do Lance sobre o tema e ex-colaborador do Bom Senso FC, foi convocado para um grupo de trabalho da CBF. Participou de algumas reuniões e desistiu. Palavras dele: "Saí porque vi que a proposta é por mudanças tópicas, se tanto. Acredito que nosso calendário precisa de mudanças profundas".

Difícil, quase impossível. Os estaduais inchados mantêm a estrutura federativa. O clubes pequenos são beneficiados jogando contra os grandes, embora a maioria seja prejudicada na sequência sem ter algo relevante a disputar nos outros sete meses do ano. Este vota no presidente da Federação que vota no presidente da CBF e a estrutura segue intacta. A TV, com os estaduais para transmitir, exige que os principais times, ou os que entregam maior audiência, usem seus principais jogadores – com a Globo fez com o Flamengo este ano.

Que a iniciativa de união dos clubes seja concreta, sem que as rivalidades dos dirigentes-torcedores atrapalhem o processo de amadurecimento do futebol brasileiro. Tardio, mas cada vez mais urgente.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.