A "estreia" do Brasil do passe facilitou o espetáculo em Salvador
Dirão que a mudança foi anímica. "Mais raça". Ou de casa, com o calor de Salvador. Podem também colocar na conta das mudanças de Rogério Micale: os gremistas Walace e Luan que, de fato, alteraram a dinâmica ofensiva. Ou tirar os méritos do jovem técnico e creditar ao papo com Tite antes do jogo.
Mas a grande transformação mesmo na seleção olímpica nos 4 a 0 sobre a Dinamarca foi na execução inteligente do modelo de jogo. Menos bolas longas e jogadas individuais, mais passes e deslocamentos. Menos pressa. Mesmo na pressão psicológica até abrir o placar e ir às redes depois de 105 minutos.
Ajudou muito o posicionamento de Neymar, centralizado e alternando com Luan às costas dos volantes adversários e procurando Gabriel à direita e Jesus pela esquerda, que sempre buscavam as diagonais.
Colaborou também a atuação soberba de Renato Augusto, em perfeita sintonia com Walace, outro monstro em campo. Camisa cinco distribuindo e liderando. Sem procurar o lado direito e fazendo Zeca centralizar como no empate contra o Iraque. Laterais aproveitando os corredores.
Especialmente Douglas Santos, autor de duas assistências em aparições pela esquerda, para Gabriel e Luan. Jesus começou tenso, errou a passada e o pé numa finalização à frente do goleiro Hojbjerg. Mas tocou bonito para concluir bela jogada de Zeca e Luan à direita. No final recebeu bela enfiada de Neymar e serviu Gabriel no quarto gol.
Um espetáculo do "caos organizado" que Micale idealizou. Sim, facilitado pela baixa intensidade dos dinamarqueses. Sem pressão no homem da bola e atenção no posicionamento, escancarando espaços entre as linhas em qualquer tabela ou ultrapassagem. Também o estado do gramado, bem melhor que no Mané Garrincha.
Mas com o mérito brasileiro de priorizar o passe. Contra a África do Sul na estreia, 540 certos e 42 errados. Diante do Iraque, 505 corretos e 36 equivocados. Desta vez foram 686 acertos, apenas 29 erros. Os números não dizem tudo sempre, mas estes são emblemáticos.
Retrato do jogo coletivo que fez todos brilharem. Próxima missão: Colômbia, quartas-de-final. Arena Corinthians, sábado. Disputa eliminatória. É dever manter a calma e o foco no campo como na "estreia" na Fonte Nova.
(Estatísticas: Footstats)
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