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André Rocha

No novo Bayern de Carlo Ancelotti, Muller será Cristiano Ronaldo. Entenda

André Rocha

15/08/2016 06h29

É injusto afirmar que o Bayern de Munique na passagem de bastão de Guardiola para Carlo Ancelotti será um time essencialmente pragmático levando em conta a atuação na Supercopa da Alemanha.

Porque o time bávaro comandado pelo catalão já sofreu e jogou nos contragolpes em Dortmund contra o Borussia. Inclusive com cinco na defesa e abrindo mão da bola diante da pressão das equipes de Jurgen Klopp e Thomas Tuchel.

Mesmo enfrentando um Dortmund sem Gundogan, Mkhitaryan e Hummels, agora no time de Munique. Ainda não podendo contar com Gotze e Schurrle, que ficaram no banco. Nunca é fácil enfrentar um time que, independentemente da formação, sempre tenta combinar posse de bola, velocidade na transição ofensiva e pressão na saída adversária.

O Bayern respondeu com maturidade. Também equilíbrio, marca de Ancelotti em suas equipes que sempre tentam combinar qualidade técnica e praticidade. O italiano não é um gênio criador como Guardiola. Prefere administrar dentro e fora de campo. Observador e inteligente, transita entre os dois mundos: o da posse e o do jogo reativo.

No Signal Iduna Park enfrentou a Muralha Amarela colocando em campo o que tinha de melhor à disposição. Javi Martinez foi soberbo na vaga de Boateng na zaga ao lado de Hummels. Lahm de volta à lateral, sem as funções de articulador dos tempos de Guardiola.

No desenho tático, trouxe uma variação que deu certo no Real Madrid: do 4-3-3 para o 4-4-2 sem a bola. Cristiano Ronaldo era o ponta que virava atacante na recomposição com o centroavante (Benzema) para guardar energias visando os contragolpes. Ideia de Paulo Bento na seleção portuguesa que disputou a Eurocopa em 2012.

No Bayern é Muller quem abre pela direita quando a equipe ataca e fica à frente com Lewandowski. No Real, Di Maria, depois James Rodríguez, abria para fechar o corredor esquerdo e Bale voltava do lado oposto para formar a linha de quatro. Agora Vidal sai do meio para a direita e Ribéry retorna à esquerda com Xabi Alonso e Thiago Alcântara centralizados.

No contragolpe, o francês acionou Lewandowski às costas da defesa, Muller fechou em diagonal e Vidal recebeu pela direita para abrir o placar. Depois Muller fechou os 2 a 0 que garantiu a sexta conquista do torneio de jogo único para o Bayern na bola parada.

Flagrante do início do contragolpe do primeiro gol: Ribéry vai acionar Lewandowski, Muller, que está mais adiantado, infiltra e Vidal se descola da linha de quatro no meio para aparecer pela direita e finalizar (reprodução ESPN Brasil).

Flagrante do início do contragolpe do primeiro gol: Ribéry vai acionar Lewandowski, Muller, que está mais adiantado, infiltra e Vidal se descola da linha de quatro no meio para aparecer pela direita e finalizar (reprodução ESPN Brasil).

Contra-ataque e jogada aérea. Duas armas do novo Bayern que compensaram as 20 finalizações do Dortmund contra apenas nove dos visitantes, que tiveram apenas 45% de posse.

Assim deve ser o gigante alemão sob o comando de Ancelotti. Menos mutante, mas com uma variação marcante. Muller será Cristiano Ronaldo, ao menos taticamente. Não por acaso, o novo chefe autorizou um prolongamento das férias e exigiu a permanência de Muller na equipe de Munique.

O Bayern espera repetir o Real Madrid e voltar a vencer a Liga dos Campeões com o técnico tricampeão continental.

No Real Madrid, versão 2014/15, Bale voltava à direita e James Rodríguez fechava o corredor esquerdo para liberar Cristiano Ronaldo. Ancelotti agora leva a ideia para o Bayern de Munique (reprodução ESPN Brasil).

No Real Madrid, versão 2014/15, Bale voltava à direita e James Rodríguez fechava o corredor esquerdo para liberar Cristiano Ronaldo. Ancelotti agora leva a ideia para o Bayern de Munique (reprodução ESPN Brasil).

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.