Formiga: a heroína da luta inglória do futebol feminino. Valeu por tudo!
O problema do futebol feminino enquanto "produto" que depende de audiência para gerar receitas e se autossustentar no Brasil é a concorrência.
Com as principais competições entre os homens no país e no mundo acessíveis pela TV, aberta e fechada, e sendo consumidos nos horários de folga por um público grande, mas que não deixa de ser um nicho, é difícil imaginar uma audiência, dentro ou fora dos estádios, que viabilize o negócio.
Porque as mulheres, por genética, perdem em explosão muscular e intensidade na prática do esporte. Evoluíram muito, inclusive entre as goleiras – grande gargalo histórico da modalidade. Mas não acompanham o masculino, que também progride. Não por acaso, os treinamentos contra homens normalmente envolvem garotos da base para não ficar tão desigual.
Não é machismo, é uma constatação que valoriza as atletas e a preparação nos grandes centros do planeta. No Brasil é dever reconhecer o esforço da CBF em ao menos fazer a seleção ter uma gestão mais qualificada. Marco Aurélio Cunha realiza o seu trabalho. Faltam os clubes, com seus orçamentos já estrangulados com dívidas, ainda que do passado, que não se sentem estimulados a investir pela falta de público.
Se há um culpado, talvez seja a nossa falta de cultura de valorizar o esporte. Desde as escolas, com a massificação da prática de todas as modalidades. O imediatismo nos atrapalha sempre. Queremos os vencedores, os fenômenos que superam tudo. Inclusive o descaso com atenção apenas nos grandes eventos.
As brasileiras foram heroicas. Duas prorrogações nas disputas eliminatórias, contra Austrália e Suécia. Esta última numa tarde quente no Maracanã. Diante de um rival organizado, que desclassificou as americanas favoritíssimas.
Apesar de alguns problemas táticos na equipe de Vadão. O principal: na ausência de Cristiane, maior artilheira olímpica com 15 gols no banco de reservas por conta de uma lesão, deixar Marta pela direita é um desperdício. Ainda mais com a lateral reserva Poliana que não chega à linha de fundo.
Por que não dar liberdade para a mais talentosa? Não como centroavante, mas solta, circulando perto da zona de decisão, criando espaços para finalizar. Marta buscava a linha de fundo e, canhota, cruzava fraco. Quando cortava para dentro tinha um bolo de oponentes na frente.
De novo os pênaltis. Desta vez Bárbara não salvou a última cobrança depois dos erros de Cristiane e Andressinha. Apesar de tudo, méritos das meninas exauridas e do esforço da goleira de olhos claros. Mereceram os aplausos.
Mais que todas, a grande heroína desta história: Formiga. 38 anos, justificando em 360 minutos o apelido. Incansável jogando de uma área à outra. Defendendo e atacando com a intensidade possível. Não parece mesmo humana no fôlego inesgotável.
Até porque resiste há mais de duas décadas de dificuldades. Cinco olimpíadas. Uma luta inglória. Resta a consciência tranquila de ter entregado o máximo. Pode terminar em mais uma medalha. A terceira depois de duas prateadas.
Formiga, valeu por tudo!
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