Topo

André Rocha

Chelsea de Conte é a última chance de resolver o mistério David Luiz

André Rocha

05/09/2016 06h25

David Luiz

David Luiz é um atleta com qualidade em todos os fundamentos técnicos: passe, cabeceio, chute, domínio, condução de bola. Também é veloz, com boa explosão muscular. Além disso, é carismático, sanguíneo, confiante, transmite energia positiva, é solidário e humilde. Suas camisas vendem como água, é uma estrela do marketing. Profissional ao extremo, trata com cuidado da sua principal ferramenta: o corpo.

Também não perde o brilho no olho, mesmo com a vida financeira já resolvida com tantas transações milionárias entre clubes abastados da Europa. A última o retorno ao Chelsea, que pagou 38,5 milhões de euros. Aos 29 anos. Com um currículo recheado de conquistas, incluindo Liga dos Campeões  e Liga Europa pelos Blues e títulos nacionais no Benfica e no Paris Saint-Germain. Na seleção, a Copa das Confederações em 2013.

A grande questão é: por que David Luiz não é um zagueiro confiável, alternando atuações soberbas e outras pluripatéticas, despertando simpatias, ódio e muitas polêmicas?

Uma das possíveis respostas é exatamente a combinação das características citadas acima: tem qualidade, é confiante e positivo, com uma chama que não se apaga…e por isso se afoba. A grande lacuna do zagueiro é a tomada de decisão.

Driblar ou passar? Dar o bote ou cercar? Sair para o jogo ou guardar posição? Uma fração de segundo para definir. O erro para quem atua na última linha de defesa costuma ser letal. Contra Luis Suárez, histórias trágicas. No 7 a 1, nem se fala. Nenhuma falha individual grotesca, simplesmente porque nem posicionado estava, na ânsia de levar o time à frente de forma tresloucada.

Não por acaso, José Mourinho abriu mão do seu futebol em 2014 e agora Unai Emery também não fez força para mantê-lo no PSG. Até porque conta com Marquinhos e Thiago Silva, que talvez não sejam tecnicamente mais jogadores, mas como defensores são muito superiores.

David Luiz agora vai trabalhar com Antonio Conte, que fez história na Juventus e um ótimo trabalho na seleção italiana formando um sólido sistema defensivo. Com Barzagli, Bonucci e Chiellini. Trinca de zagueiros que são exatamente o oposto do brasileiro: erram pouco, tomam decisões corretas tanto individuais quanto nos movimentos coletivos.

Conte é conhecido por valorizar cada detalhe do jogo. Exige precisão na construção e no trabalho de negar espaços aos adversários. David Luiz não era prioridade, o técnico italiano tentou tirar Bonucci da Juve. Depois buscou Romagnoli do Milan e Koulibaly, do Napoli. Por último sondou no próprio PSG o jovem Presnel Kipembe.

Quinta opção, o brasileiro vai encontrar em Londres a concorrência de Terry, Cahill, Ivanovic e Zouma. A tendência é ganhar oportunidades na variação do sistema para três zagueiros.

Ainda assim, Conte pode, enfim, ajudar a resolver o mistério David Luiz e fazer o zagueiro ser mais constante e maduro nas decisões em campo. Será ótimo para todos, talvez até para Tite, que ganharia mais uma peça na seleção brasileira. É a última chance.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.