Topo

André Rocha

O "Galo Tyson", do jogo aleatório, está em mais uma decisão

André Rocha

03/11/2016 00h20

Cuca fundou a Era "Galo Doido" no Atlético. Um time que se fosse um boxeador seria no estilo Mike Tyson. Sem jogo de pernas e calma para controlar a luta. Esquiva? Só para preparar o golpe seguinte. Só quer atacar e bater mais forte para vencer.

Paulo Autuori herdou a equipe campeão da Libertadores e tentou organizar e transferir um mínimo de cadência. Sem sucesso. Levir Culpi assumiu, buscou algum controle e foi soltando aos poucos. Venceu a Copa do Brasil na intensidade máxima.

Superou o Cruzeiro campeão brasileiro. Com Marcelo Oliveira. Um técnico à moda antiga, da escola Telê Santana. Que acredita no entrosamento adquirido na sequência de treinos coletivos e jogos. Num clima de paz e cordialidade entre os jogadores.

Mas no time celeste bicampeão brasileiro havia intensidade, mas também inteligência e dosagem de ritmo. Um meio-campo com Lucas Silva e Everton Ribeiro não pode viver desse "bate e volta".

No Palmeiras, sim. Pelas características dos jogadores e por todo um contexto que levou à conquista da Copa do Brasil. A primeira de Marcelo. Jogando no modo "aleatório".

Foi esse encontro do treinador que enfim ganhou o torneio mata-mata depois de três finais com o time acostumado a jogar como quem parte para uma briga de rua, só trocando golpes, que manteve o "Galo Doido" em rotação. Depois de Aguirre também tentar coordenar melhor e falhar.

Atlético que está na final da Copa do Brasil após eliminar um Internacional repleto de reservas e priorizando a fuga do rebaixamento. Vencendo no Beira-Rio, empatando com muitos sustos no Independência.

Porque jogou aberto o tempo todo. Não é por acaso que Rafael Carioca, um dos melhores passadores do país lembrado por Tite na seleção, esteja no banco para Leandro Donizete e Júnior Urso. Um leão na marcação, outro que se junta ao quarteto ofensivo e corre demais. Só aceleração. Com linhas espaçadas, encaixe de marcação. Sem muita ordem.

Na frente, os responsáveis pelos "diretos nos queixos" dos rivais: De Pratto para Robinho, de Robinho para Pratto nos dois gols. Isso porque Fred não pode disputar o torneio por ter jogado pelo Fluminense.

Mas sofreu atrás com o gol de Aylon, a falha grotesca de Victor que entregou a bola nos pés de Anderson. Duas das quatro finalizações no alvo do time de Celso Roth. Total de 13 conclusões. Demais para um Galo que teve 62% de posse. De volume, zero controle.

No seu estilo está em mais uma decisão. Em grandes torneios, a terceira em quatro anos. Fora a conquista da Recopa Sul-Americana, os dois vice-campeonatos no Brasileiro de pontos corridos. O período mais vencedor da história do clube, sem dúvida.

Construído com grandes histórias de viradas, de "Eu acredito!", de apoteoses da massa atleticana. No Mineirão ou no Horto. Também de momentos não tão felizes assim, como o vexame contra o Raja Casablanca no Mundial de Clubes, a eliminação para o Internacional de Aguirre na Libertadores 2015 e os humilhantes 3 a 0 para o Corinthians no Brasileiro. Alguns James "Buster" Douglas pelo caminho.

Contra o Grêmio, a busca de mais uma taça. A quinta final de Marcelo Oliveira. No jogo aleatório, querendo o nocaute mais que a vitória por pontos, não se importando em ser golpeado também. O "Galo Tyson".

(Estatísticas: Footstats)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.