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André Rocha

A primeira imagem do São Paulo de Ceni é animadora. Só faltou acabamento

André Rocha

20/01/2017 00h14

O analista de futebol trabalha com o momento. Fotografias de cenários. Chamado a opinar quase diariamente, precisa ter uma visão do todo, mas fundamentalmente observar o que está acontecendo e tentar perceber tendências.

A foto da estreia de Ceni trouxe imagens interessantes: linhas adiantadas, pressão sobre o adversário com a bola, velocidade na transição ofensiva. Protagonismo que envolveu o River Plate nos primeiros 45 minutos com a formação considerada titular.

E o novo treinador já mostrou uma prática influenciada por Jorge Sampaoli, um de seus "gurus": contra apenas um atacante (Lucas Alario), dois zagueiros ficam mais fixos para garantir superioridade numérica atrás – Maicon e Breno. O terceiro, na teoria, seria Rodrigo Caio, que foi adiantado como volante para qualificar a saída de bola à frente da retaguarda.

O uruguaio Rodrigo Mora também é atacante, mas circula mais pelos flancos. Por isso Ceni optou por segurar um pouco os alas Bruno e Buffarini como laterais, fazendo diagonais de cobertura, mas se projetando nas ações ofensivas.

Na frente, destaque para Wellington Nem, canhoto pela direita cortando para dentro. Rapidez e criatividade. Luiz Araujo tentava fazer o mesmo pela esquerda, porém entrando mais na área rival se juntando a Chávez. Em números, um 4-3-3.

Não faltou criatividade, mesmo sem um típico articulador. Cueva é meia que pensa correndo e teve o suporte de Thiago Mendes. Mas com bola retomada na frente, mobilidade e trabalho coletivo o time soube criar espaços.

Sobraram gols perdidos. Desde o pênalti sobre Nem cobrado por Cueva que o goleiro Bologna defendeu logo aos quatro minutos, passando pelas chances desperdiçadas por Luiz Araujo e Chávez. O volume de jogo que encurralou o adversário não encontrou o acabamento para ir às redes.

Trabalho para Michael Beale, auxiliar inglês de Ceni obcecado por fundamentos, precisão técnica. Não vai ensinar ninguém a finalizar, mas pode criar treinos para aprimorar o que for possível.

Foram dez trocas na volta do intervalo, depois Buffarini saiu para a entrada de Foguete. Como quase sempre acontece em amistosos, o jogo perde intensidade e interesse com tantas mudanças.

O River equilibrou, criou oportunidades aproveitando mais espaços entre os setores são-paulinos e o natural desentrosamento. Carimbou as traves duas vezes, inclusive no lance derradeiro com Martínez.

Valeu para Ceni ter a confirmação de que o jovem Shaylon será muito útil e constatar que Lucão está mais maduro na retaguarda. O treinador ainda espera pelo talentoso David Neres, a serviço da seleção sub-20.

Na decisão interminável de pênaltis pela vaga na final do torneio contra o Corinthians, vitória por 8 a 7 nas mãos de Sidão. Mas o resultado é secundário. Importante foi o bom desempenho na primeira etapa. A primeira imagem. Só faltou o acabamento.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.