Topo

André Rocha

Tite, Neymar e o gosto pelo desempenho

André Rocha

28/03/2017 23h45

Sempre que pode em todas as entrevistas desde que assumiu a seleção brasileira, Tite ressalta a importância de jogar bem e construir o resultado naturalmente pelo desempenho. Logo após a goleada sobre o Uruguai, o treinador falou que sua equipe estava "pegando gosto pelo desempenho".

Para o jogo na Arena Corinthians havia clima de festa, retorno de Tite ao estádio que conhece tão bem, expectativa pela combinação de resultados que garantiria matematicamente o Brasil na Copa da Rússia.

Com bola rolando, um Paraguai fechado e batendo e provocando Neymar. Tentando jogar no erro ou na dispersão brasileira. Só ameaçou no erro na saída de bola que Derlis quase aproveitou no primeiro tempo.

A seleção jogou. Não foi brilhante, mas já transmite algo fundamental: segurança. É um time confiável. Que vai ser sério e competitivo, mas querendo fazer bem feito. Nos movimentos coletivos e nas jogadas individuais.

Trabalhou a bola até Philippe Coutinho arrancar pela direita, buscar a diagonal, receber o belo toque de calcanhar de Paulinho e, aproveitando a falha do zagueiro Paulo da Silva na leitura da jogada e chegar atrasado, colocar no canto e transformar a confiança em tranquilidade.

Serenidade de Neymar. Uma impressionante espiral de maturidade nos últimos tempos. Talvez Tite e Luis Enrique, seu treinador no Barcelona, tenham contribuído. Mas parece algo mais do craque que agora entende seu tamanho.

Apanhou, não reclamou. Sofreu e perdeu pênalti, mas em nenhum momento perdeu o foco. Seguiu atento à sua função no jogo, atacando e defendendo pela esquerda, buscando a diagonal. Coroado com um golaço, o segundo.

A senha para virar passeio em Itaquera. Com o time tranquilo, Tite gritando à beira do campo seguidas vezes: "Vamos jogar!" A torcida no estádio pedindo olé e a seleção vertical, objetiva. Mesmo depois do gol da redenção de Marcelo. Respeitando o adversário, o público.

Acima de tudo, o cuidado com o desempenho. Para o resultado ser mera consequência. Algo que devia ser um parâmetro para todos os setores da sociedade. Planeja, executa, faz o melhor sem tentar controlar os resultados. Sem jeitinho, sem subterfúgios. Se o oponente for melhor ou mais feliz, é da vida. Vale a consciência tranquila.

O Brasil de Tite e Neymar gosta do desempenho. Quem gosta de futebol e de ver a coisa bem feita, que transcende as oito (ou nove, se contar o amistoso contra a Colômbia) vitórias seguidas, tem que exaltar essa seleção.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.