"Três volantes", "retranca"? Vitória do Flamengo chuta longe os clichês
A semana inteira de preparação do Flamengo foi de expectativa para a solução que Zé Ricardo encontraria para repor o lesionado Diego. Ao sinalizar a entrada de Rômulo, surgiu a velha confusão de conceitos. Misturando função e posição.
"Três volantes", "Flamengo vai jogar pelo empate", "técnico retranqueiro". Foi o debate que se viu e ouviu sobre o time rubro-negro antes da bola rolar. Até pela vantagem de empate na semifinal do Carioca por conta da melhor campanha.
No Maracanã molhado pela chuva, o que se viu foi o time "cauteloso" propondo o jogo. No 4-1-4-1, desenho tático "de cabeceira" de Zé Ricardo, desmanchado pela presença de Diego, típico meia central de um 4-2-3-1.
Trabalhando a bola, adiantando as linhas e apertando a marcação no campo adversário. Se não tinha o meia criativo, fazia as jogadas pelos flancos com triangulações. À direita, Pará, Arão e Gabriel; pela esquerda, Trauco, Romulo e Everton.
Guerrero voltava para fazer o pivô e distribuir as jogadas. Complicando um Botafogo que nitidamente buscou dosar energias no primeiro tempo para compensar o desgaste da viagem ao Equador e apenas um dia de treinamento para o clássico.
Só que tinha problemas além do cansaço, em função dos desfalques. Especialmente no meio-campo: Aírton, ainda lesionado, e Bruno Silva, suspenso pela estúpida expulsão depois do apito final da inútil decisão da Taça Rio. Fora Montillo.
Na lateral direita, mais uma improvisação: o volante Fernandes, que se juntava a João Paulo, o volante-meia do 4-3-1-2 armado por Jair Ventura que abria à direita para formar a linha de quatro no meio. Deixando Rodrigo Pimpão pela esquerda. Pelo contexto, parecia mais razoável inverter seu melhor ponteiro e atacar o setor mais forte do Fla, o esquerdo.
Acabou defendendo mal e o Flamengo teve o controle do jogo. Nem tanto nos números do primeiro tempo – 51% de posse e as mesmas cinco finalizações do rival, três a zero no alvo. Mas principalmente por sempre parecer mais próximo do gol.
Mas bolas nas redes só na segunda etapa. Com Guerrero, chegando aos nove no Carioca. Participando da construção pela esquerda e aparecendo para completar o corte errado de Victor Luís e abrir o placar. Depois a cobrança de pênalti segura e forte no meio do gol com o campo molhado.
A chance mais cristalina para o peruano acabou sendo desperdiçada em jogada de Pará para Berrío, substituto de Romulo, e passe para o chute fraco de Guerrero. De novo faltou ao Flamengo em um jogo grande a contundência no ataque para construir a vitória com mais autoridade.
O pênalti tolo de Rever sofrido e bem cobrado por Sassá, que entrara na vaga de Roger, transferiu uma emoção ao final do jogo, com o Botafogo, mesmo exausto, se lançando ao ataque, que não reflete o que foi a semifinal.
Posse de bola praticamente dividida, Flamengo finalizando 13 vezes, uma a mais que o Bota. Seis, porém, na direção da meta de Gatito Fernández contra apenas duas do alvinegro. O time de Zé Ricardo não foi brilhante, mas também não era com Diego em campo na maioria dos jogos. Em nenhum momento, porém, jogou fechado, especulando, dando a bola ao rival.
Com três volantes de ofício, mas na prática apenas um: Márcio Araújo, que cumpriu boa atuação. A tendência é manter o desenho tático e a proposta para a decisão. Um Fla-Flu que não valia o título regional desde 1995. Numa final em dois jogos como agora, desde 1991.
Pelo desempenho na temporada, o tricolor parece mais forte. E o Flamengo ainda tem um jogo decisivo contra o Atlético-PR na quarta, antes da primeira decisão. Favorito ou não, é improvável que o time de Zé Ricardo se acovarde no clássico. Com ou sem volantes, chutando pra longe os clichês.
(Estatísticas: Footstats)
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