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André Rocha

A incrível capacidade do Flamengo de passar vergonha na Libertadores

André Rocha

18/05/2017 00h26

Aconteceu de novo. Em 2007 e 2008, eliminações vexatórias nas oitavas-de-final. Contra o Defensor pela fragilidade do time uruguaio, apesar da terrível arbitragem de Hector Baldassi no Maracanã. No ano seguinte, o provincianismo patético de usar um jogo eliminatório de Libertadores para comemorar título estadual e se despedir de Joel Santana. Cabañas não perdoou.

Em 2012 e 2014, nem isso. Despedidas ainda na fase de grupos, com adversários acessíveis. Sempre fraquejando em jogos decisivos. Exceto em 2012, o Fla foi campeão estadual. Como nesta temporada.

Entre as nove combinações de resultados, apenas uma eliminava o então líder do Grupo 4. Exatamente a vitória do Atlético Paranaense no Chile sobre a Universidad Católica e a derrota em Buenos Aires para o redivivo San Lorenzo.

Aconteceu pela fé inabalável do time argentino, que teve 58% de posse, efetuou 50 cruzamentos e finalizou 13 vezes. Empatou com gol do zagueiro Angeleri, virou no ataque derradeiro com Belluschi. No "abafa" que só conseguira impor no início do jogo. Depois o Fla controlou sem posse de bola, fechando os espaços.

Abriu o placar com Rodinei. Com o gol de Santiago Silva em Santiago, tudo parecia sereno. Até entrar em campo o maior pecado rubro-negro na temporada, ou desde o ano passado: a fragilidade ofensiva.

A maior contratação para o ataque, Orlando Berrío, foi um enorme erro de avaliação de diretoria e comissão técnica. Porque não é driblador, nem finalizador como desejava o clube. Pior: tropeça na bola, comete erros técnicos grosseiros e não consegue levar vantagem no um contra um. Desperdiçou contragolpes simples. Assim como Everton, Gabriel. Antes Cirino…

Por último, Matheus Sávio, que entrou na vaga de Gabriel e foi frágil nas divididas nos lances dos dois gols. O jogo ficou grande demais para o jovem da base. Uma prova de que o elenco tem carências e desta vez a organização e a concentração defensiva não compensaram.

Zé Ricardo foi corajoso na formação inicial, mas a entrada de Romulo também foi profundamente infeliz. A troca de Everton por Juan um recado a Diego Aguirre que o Flamengo temia o que só não aconteceu um minuto antes por causa de uma grande defesa de Muralha em cabeçada de Caruzzo.

Mas no lance final foi inevitável. Com a virada atleticana por 3 a 2 com o gol do heroi improvável Carlos Alberto veio a punição ao clube que novamente superdimensionou um título estadual, desgastou o elenco na competição que não era prioritária.

San Lorenzo e Atlético conseguiram vencer fora de seus domínios. O Flamengo somou os nove pontos disputados no Maracanã. Não foi suficiente. Em 2017, porém, não foi o pecado capital. Sem qualidade para transformar oportunidades em gols, o Flamengo que podia ter chegado a Buenos Aires classificado ficou sujeito às aleatoriedades no futebol.

E, claro, à sua incrível capacidade de passar vergonha na Libertadores.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.