Márcio Araújo é o 5º passador do BR-2017, mas quem constrói no Fla é Trauco
Ao deixar o campo aos 34 minutos do segundo tempo para dar lugar a Renê, Miguel Trauco era o melhor passador do Flamengo na vitória por 2 a 0 sobre o São Paulo na Arena da Ilha do Governador com 49 acertos e três erros. Ao final, foi ultrapassado por Pará, que alcançou 51 passes certos (três errados).
Márcio Araújo, o volante de proteção à defesa, terminou com 29 acertos e um erro. Bem abaixo dos laterais e também de Cuéllar, seu companheiro de meio-campo, que completou 40 passes corretos e três erros. Ou seja, a bola passou menos pelo camisa oito rubro-negro.
Contestado exatamente por destoar quando o Flamengo recupera a bola. Poucos passes verticais e inversões de jogo. Uma tentativa de lançamento, correto. Trauco tentou dez vezes, 50% de aproveitamento. Mas faz o jogo correr.
Quando o time precisou criar no primeiro tempo até marcar os gols com Guerrero, em bela cobrança de falta, e Diego, na melhor jogada coletiva da partida, o lateral peruano foi disparado o que mais passou, com 34 acertos e um equívoco. Quase o dobro de Márcio Araújo – 19 passes corretos, nenhum erro.
Ficou nítido no quarto triunfo consecutivo da equipe de Zé Ricardo, terceiro no Brasileiro, que houve uma mudança de atribuições sem mudar as funções em campo. Márcio Araújo protege a zaga, que ganhou qualidade e liderança com a entrada de Rhodolfo, mas continua apostando mais em posicionamento que velocidade no enfrentamento dos atacantes.
Quem se junta a Cuéllar, Diego e agora Everton Ribeiro para construir as jogadas é Trauco, que mostra bem mais visão de jogo. Normalmente o lateral ataca por dentro, enquanto Everton, o ponteiro no 4-2-3-1 do Fla, fica aberto para espaçar a marcação adversária.
A solução não é nova, embora adaptada à marcação por zona. No Vasco campeão brasileiro de 1997 e da Libertadores no ano seguinte, o treinador Antônio Lopes, para dar liberdade ao talentoso lateral Felipe, plantava o volante Nasa praticamente como terceiro zagueiro. Também para deixar o veterano Mauro Galvão na sobra da defesa. Tempos de encaixe e perseguições individuais mais frequentes no futebol brasileiro.
Algumas vezes Márcio Araújo apareceu pela esquerda na cobertura de seu companheiro. Mas a principal tarefa é mesmo desarmar e interceptar. Segundo a comissão técnica, sua principal virtude é a mudança rápida de comportamento quando o time perde a bola. Ele não desperdiça aquele segundo para se situar no campo e iniciar o trabalho defensivo. Pensa e reage rápido.
Com a bola não tem a mesma leitura. Mas, curiosamente, uma olhada no ranking de passadores no Footstats revela o volante como o quinto passador do campeonato. Arredondando, média de 45 acertos e apenas três erros. Já Trauco não é nem o segundo melhor do Fla. Fica atrás de Pará e Rever. Acerta 44, erra cinco por jogo.
Erra porque arrisca o passe mais criativo. Costuma acionar Guerrero em lançamentos tão logo entra na intermediária do adversário. Ousa, tenta criar. Márcio toca de lado, passe seguro, de controle. Importante, mas que objetivamente acrescenta muito pouco nas ações de ataque.
Fica a impressão de que Zé Ricardo poderia dar mais oportunidades a Romulo ou ao jovem Ronaldo, ou mesmo recuando Cuéllar e voltando com Willian Arão, e tentar fazer com que coletivamente a equipe consiga reagir rápido na recomposição e possa abrir mão de um volante que a cada contratação que estreia parece destoar mais tecnicamente. Todos jogam, todos marcam. Como deve ser no futebol atual.
Para que os passes de Trauco sejam apenas mais um recurso e não a compensação para o volante à moda antiga do Flamengo que sobe na tabela, mas ainda precisa evoluir em entrosamento e desempenho para ser, de fato, um rival à altura para o até aqui inabalável líder Corinthians.
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