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André Rocha

Bonucci é o pilar da reconstrução do Milan "novo rico chinês"

André Rocha

19/07/2017 12h42

A grana farta que vem da China comprou 99,93% do Milan e mais à frente deve negociar a "flexibilização" do Fair Play financeiro da UEFA – contratar o que precisa, mais um excedente para depois ser punido com uma multa, que para tamanho investimento será "troco de bala,  e não poder trazer novos jogadores por uma ou duas temporadas.

Tudo muito questionável em termos éticos, mas são os novos tempos. Então vamos falar do que se pode esperar desta reconstrução rossonera no campo.

Vincenzo Montella foi mantido como treinador, até porque todas as grifes mundiais estão empregadas. Fez um trabalho relativamente bom na temporada dentro do contexto, recolocando o clube numa competição europeia. Em outros tempos, a vaga na fase preliminar da Liga Europa seria motivo de crise em uma camisa sete vezes campeã da Europa, mas agora tem a marca do retorno após três anos de "seca".

Agora receberá um elenco promissor, mas heterogêneo, que terá que se entrosar na marra em uma pré-temporada mais comercial que esportiva na China, prática que vai se tornando cada vez mais comum em clubes que expandem seus tentáculos no mercado asiático.

O Milan conseguiu renovar com Gianluigi Donnarumma, o goleiraço de 18 anos que já despertou cobiça nos gigantes da Europa. Trouxe ainda os laterais Andrea Conti e Ricardo Rodríguez, o zagueiro Mateo Musacchio, os meio-campistas Kessié e Biglia, o meia Çalhanoglu e os atacantes Borini e André Silva. Há ainda a possibilidade de mais uma contratação para o ataque. Ambiciosa, para subir ainda mais o patamar da equipe no cenário do país e da Europa. Rumores de que o acerto com Belotti do Torino está bem encaminhado.

Mas mesmo que chegue uma estrela, a contratação que funciona como uma carta de intenções e pode em campo dar uma unidade a um projeto que antes dava a impressão de ser apenas torrar dinheiro para reunir bons jogadores – o que a rival Internazionale, em menor escala financeira, tem feito nos últimos anos sem muito sucesso – é Leonardo Bonucci.

Ainda que o zagueiro tenha deixado a Juventus mais por desavenças com o treinador Massimiliano Allegri que por convicção no projeto do Milan é alguém que chega com mentalidade vencedora, mesmo com duas derrotas em finais de Liga dos Campeões. Tem liderança e inteligência tática para ser um bom interlocutor de Montella. Alguém com personalidade para construir uma identidade futebolística com mais rapidez.

O novo Milan pode atuar no sistema com três zagueiros ou linha defensiva com quatro homens. Montella costuma trabalhar variando o desenho tático. Também a proposta de jogo, que pode ser de mais posse e ocupação do campo de ataque ou trabalhando em velocidade. Como pede o futebol atual.

O novo Milan pode atuar no 4-3-3, com laterais apoiando alternadamente, Biglia na proteção da retaguarda, Suso e Çalhanoglu nas pontas e André Silva no centro do ataque (Tactical Pad).

Musacchio pode fazer um trio com Bonucci e Romagnoli ou disputar posição com este último numa dupla. Conti e Rodríguez nas laterais defendendo e revezando no apoio. O meio com Biglia, Kessié ganha dinamismo e capacidade de recuperar a bola com o argentino, além da imposição física do marfinense. Podem se juntar a Bonaventura. Ou o trio disputar duas vagas.

Na frente, ponteiros que trabalham com os pés invertidos. Suso é canhoto e atua pela direita. Gosta do drible, da vitória pessoal e sabe alternar a busca pela diagonal para finalizar, mas também a linha de fundo, com o toque final de pé direito. Já o turco Çalhanoglu será o ponta articulador, criativo. Saindo da esquerda para ajudar o meio na organização com o pé direito. Sem contar a já conhecida eficiência na bola parada.

No centro do ataque, André Silva, o jovem e talentoso centroavante português que deve acelerar seu processo de amadurecimento como grande atacante no gigante italiano. Tem mobilidade e nas incursões de Çalhanoglu pelo centro, pode atacar o espaço à esquerda para infiltrar em diagonal em finalizar. Isso se não acabar eclipsado pela estrela pretendida para o ataque. E ainda há Borini e Bacca como opções.

Outra possibilidade é o 3-4-3, com Musacchio entrando no trio de zaga e Conti e Rodríguez atacando como alas e defendendo com laterais. No meio, Biglia e Kessié disputam duas posições com Bonaventura (Tactical Pad).

Este que escreve privilegiaria o 4-3-3 pela melhor combinação das características dos jogadores. Mas ter um time mutante, ou "camaleão", sempre é interessante pela chance de surpreender os oponentes dentro de um futebol tão estudado. E este Milan certamente será dissecado pelos rivais preocupados com o retorno de uma camisa que entorta varal quando recheada com qualidade.

Não é elenco capaz de resgatar os tempos de Van Basten ou de Kaká, mas já é um começo. Com Bonucci, o pilar da reconstrução deste Milan "novo rico chinês" que tem sua marca explorada para desfrutar do dinheiro forasteiro. Sinal dos tempos. Que ao menos a resposta em campo traga um rival à altura para a ilha de excelência da Juventus na monocórdica Série A do Calcio.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.