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André Rocha

A lição do Grêmio em Guayaquil: toda hora é hora para atacar

André Rocha

25/10/2017 23h53

Virou clichê no futebol mundial, com exceção das grandes potências europeias que atacam em qualquer campo, a máxima de que os 15 ou 20 primeiros minutos como visitante são para suportar a pressão inicial do time da casa com apoio da sua torcida.

Só que o cenário provoca tensão também no mandante, pela necessidade de alcançar um resultado positivo pensando na volta. E o Barcelona entrou apavorado no Monumental de Guayaquil. Pelo retrospecto ruim como mandante na Libertadores, pela ausência do artilheiro Jonatan Álvez, substituído por Ariel Nahuelpan. Principalmente pela consciência que encarava o adversário mais forte com que cruzou no torneio.

O Grêmio praticamente completo, apenas com Jailson no meio-campo na vaga de Michel, sem ritmo de competição após longa inatividade e começando no banco. Com Luan passeando entre as linhas do espaçado time equatoriano e Arthur alternando os ritmos no meio-campo.

Mas principalmente sem esperar ou pedir licença para atacar, mesmo longe de Porto Alegre numa semifinal de Libertadores. Aos sete, o gol de Luan com Cortez descendo pela esquerda; Ramiro, Lucas Barrios e Fernandinho na área e o camisa sete chegando para tirar do alcance do goleiro Máximo Banguera.

Arqueiro que armou mal a barreira e se posicionou ainda pior na cobrança de falta de Edilson, 13  minutos depois. Aos 20 minutos, o Grêmio vencia por 2 a 0. Depois abdicou um pouco do jogo, preferiu controlar espaços e levou alguns sustos, não aproveitados pelo "pecho frio" meia argentino Damian Díaz e um Barcelona apressado e sem confiança. Ainda assim, o time anfitrião teve 66% de posse e oito finalizações, o dobro da equipe brasileira. Mas apenas duas no alvo, uma a menos que os gremistas, mais precisos.

Cirúrgicos na defesa de Marcelo Grohe aos cinco minutos da segunda etapa em chute de Ariel. Uma das mais espetaculares que este que escreve viu em mais de três décadas acompanhando futebol. Na volta, transição rápida e mais um de Luan, o melhor em campo. Com a equipe descendo em bloco, com Edilson cruzando rasteiro para trás e três companheiros na área. De novo não escolhendo o melhor momento para chegar à frente.

Os 3 a 0 derrubaram animicamente o Barcelona. O time de Renato Gaúcho botou a bola no chão, entraram Leonardo Moura, Michel e Cícero para renovar o fôlego e a chance de ampliar foi palpável. Finalizou cinco vezes no segundo tempo contra as mesmas oito do adversário no primeiro tempo, porém com oportunidades mais cristalinas.

Nem foi preciso. Só uma tragédia sem precedentes tira o Grêmio da decisão sul-americana após dez anos. Porque se no Equador não escolheu momento para atacar, em casa a vocação ofensiva será colocada em campo ainda mais naturalmente.

Fica a lição para o futebol brasileiro: menos "pilha" errada e medo longe de seus domínios, mais bola no chão e autoridade para impor a superioridade técnica. Sem temor nem escolha da hora para atacar. Toda hora é hora. Como deve ser.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.