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André Rocha

Tite vê Neymar mais completo no PSG: "não mudou, mas agregou qualidades"

André Rocha

28/11/2017 09h08

Foto: divulgação CBF

Não é fácil falar com Tite. Nunca foi simples conseguir um minuto do treinador da seleção brasileira, ainda mais com Copa do Mundo se aproximando. Seja Zagallo, Dunga, Felipão…

Com Adenor Leonardo Bacchi, a demanda fica ainda maior pelo sucesso no trabalho de recuperação e de resgate da autoestima do futebol cinco vezes campeão do mundo pós 7 a 1. Na impossibilidade de uma exclusiva, que este blogueiro conseguiu por duas vezes nos tempos de Corinthians, e na dificuldade até de um contato por e-mail, tão frequente nos últimos seis anos, surgiu a chance de tentar ao menos uma pergunta.

Foi no Footlink, evento promovido no Rio de Janeiro por Paulo Angioni e Eduardo Barroca, aos quais agradeço pelo convite. O tema era preparação de seleções para a Copa do Mundo. Estiveram presentes também Sebastião Lazaroni, técnico da seleção na Copa de 1990, e Reinaldo Rueda, atual treinador do Flamengo e que comandou Honduras em 2010 e Equador no último Mundial.

As perguntas do público presente eram enviadas por e-mail para um endereço indicado pela organização. Tive a sorte do colega Gilmar Ferreira, mediador do debate, selecionar o meu questionamento a Tite – também enviei perguntas aos outros dois, mas minha expectativa era pela resposta do atual técnico do escrete canarinho.

Reproduzo aqui a questão enviada: você diz que trabalha baseado no que os jogadores fazem em seus clubes. Mas como fazer quando o jogador muda de time e de função? Sim, me refiro ao Neymar – ponta no Barcelona e agora mais articulador e condutor de bola no PSG.

O resumo da resposta de Tite: "Neymar mudou, mas agregou qualidades. Ele pode trabalhar por dentro, mas também ser usado do lado. Continua forte no um contra um e está mais completo. Vai trazer tudo isso para a seleção".

O blogueiro não discorda da resposta inteligente do treinador. Mas viu com preocupação Neymar buscando a bola demais no empate com a Inglaterra em Wembley. Diante de linhas defensivas bem posicionadas, o camisa dez exagerou um pouco na condução e praticamente não chegou a fundo. Afunilou as ações ofensivas, exatamente para a região mais congestionada e com mais pressão.

Como Marcelo não apoia tão aberto, e Tite ressaltou em seu momento de exposição no evento esta diferença em relação à maneira de atuar do lateral do Real Madrid, o Brasil não conseguiu abrir o jogo, espaçar a retaguarda inglesa e sofreu para criar oportunidades, especialmente na primeira etapa.

Porque Neymar deixou de ser um ponteiro que recebe pela esquerda e parte para a jogada pessoal para chegar ao fundo ou infiltrar em diagonal e servir Messi e Suárez para se transformar praticamente num meia no PSG que recua e tenta armar as jogadas para Mbappé e Cavani. Como previsto neste blog, no time de Unai Emery o brasileiro é mais Messi e Mbappé é mais Neymar na equipe francesa.

Neymar mudou, sim. E levou essa alteração na movimentação em campo para a seleção. Só que na equipe de Tite o ponta articulador que sai do flanco para o centro é Philippe Coutinho, não Neymar. Com isso perdeu um pouco a infiltração letal do camisa dez, assim como o drible de ponta que abre as defesas.

Preocupante, mas com soluções. Ou resgatar essa dinâmica de atacante pelo flanco do início do trabalho de Tite na seleção, especialmente no período de treinamentos para a Copa na Rússia. Ou mudar o time. Com Willian, que tem mais características de ponteiro pela direita, Neymar pode circular mais sem que o ataque perca amplitude e profundidade. Questão de ajuste.

Valeu mesmo foi a chance de fazer ao menos uma pergunta a um dos homens mais requisitados e midiáticos do país. Algo que deve ficar ainda mais concorrido até junho de 2018.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.