Topo

André Rocha

É hora do "vai e vem" do mercado! Você conhece as carências do seu time?

André Rocha

08/12/2017 00h56

Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press

Se o leitor clicou neste post guiado pelo título ou até pela foto acima do Alexandre Mattos, ávido por informações sobre as possíveis chegadas e saídas de seu time de coração e até com uma hipotética formação titular…desculpe, este texto não é para você.

A temporada 2017 no Brasil vai chegando ao fim com apenas Flamengo e Grêmio ainda envolvidos em competições internacionais. Os demais times das principais divisões do país já planejam e até contratam pensando em 2018. Muitas especulações, algumas cavadas de empresários e negócios fechados movimentam o mercado e o noticiário.

Se o ano anterior foi ruim é natural que o torcedor viva a ansiedade pela contratação de reforços. Muitos anseiam até uma total reformulação se os resultados e o desempenho estiveram longe de agradar até os menos exigentes. Outros tantos até tiram sarro do rival se seu time contrata e os rivais não.

Este que escreve lembra de, nos longínquos anos 1980, separar as folhas que ficaram em branco no caderno escolar para simular o time do ano seguinte com todos os nomes especulados. Era excitante, embora na maioria das vezes acabasse decepcionado no fim do ano e recomeçasse o ciclo. O velho duelo expectativa x realidade.

A vivência de toda esta roda vida em anos de janela, no entanto, vai construindo algumas convicções ao longo do processo. E também gera alguns questionamentos. O principal deles: afinal, qual é a carência do seu time?

É um goleiro seguro ou um trabalho defensivo organizado e com participação de todos para que o jogador da posição, mesmo o que lá está e não vem agradando, não seja obrigado a tantas intervenções e quando for exigido ter companheiros para dificultar a finalização? Será que nas próprias "canteras" um arqueiro não está sendo preparado com um jogo melhor com os pés, mais adequado à dinâmica atual?

A prioridade deve ser investir em laterais que funcionaram em outras equipes porque o trabalho coletivo os beneficiava tanto na fase defensiva, amparados por ponteiros que compactavam os setores e zagueiros rápidos na cobertura, e na ofensiva, com apoios para tabelas, ultrapassagens e infiltrações, o que não quer dizer que renderão numa mudança de ares, ou trabalhar melhor os que estão no clube?

Trazer zagueiros é tão importante ou fundamental mesmo é preparar melhor os defensores com conceitos como bola coberta x descoberta, posição corporal, posicionamento, noção de espaços, tomada de decisão, entre outros dentro de uma função das mais complexas?

Volantes que marcam e jogam são raros no mercado e quem tem não abre mão. Vale pagar caro ou entrosar melhor e estimular a qualidade no passe dos meio-campistas e afinar a sintonia com a última linha defensiva? Eles têm que ser rápidos e intensos ou mais ligados à função de cadenciar o jogo e qualificar a saída de bola?

Meias criativos e que pisam na área também custam uma fortuna. Muitas vezes suas características encaixam melhor nos times em que estão, mas não servem para o seu. Vale investir apenas na grife e na crença de que "os talentos se entendem" ou "craque que é craque joga em qualquer lugar"?

Vale o mesmo para atacantes, os mais valiosos. Aquele centroavante que empilhou gols no ano anterior serve para o meu time ou o encaixe na dinâmica ofensiva será complicada e o seu estilo pode até atrapalhar o desempenho individual e coletivo? Ou pior, se o treinador tiver que colocá-lo na reserva em benefício da equipe a estrela vai rachar o vestiário?

Qual a proposta de jogo do treinador? O elenco tem peças que se adequem a ela? A contratação do novo comandante se sustenta em convicções do que o clube quer ou foi apenas guiada pela grife ou pelo "vai que dá certo"? E se não der, virá outro com as mesmas ideias para seguir o que estava sendo feito com aquele grupo de jogadores, dentro de uma mesma filosofia, ou o nome da vez, ainda que com visão de futebol diametralmente oposta?

E as divisões de base? Quais jogadores estão prontos para fazer a transição para os profissionais com segurança, ganhando minutos aos poucos até se afirmar no elenco ou mesmo entre os titulares? O clube conta com profissionais competentes para este momento tão importante na vida do jovem atleta e da agremiação que investiu nele por tanto tempo?

Muitas perguntas que devem ser feitas antes de ir ao mercado. No ano em que Grêmio, Corinthians e Cruzeiro venceram mostrando identidades bem claras, essa roleta russa de compra e venda na base da paixão e do feeling, sem um diagnóstico preciso e lúcido soa como um duro recomeço. Correndo todos os riscos, sem algo para se sustentar. Como caminhar na total escuridão, entregue à própria sorte.

Partir de uma base é sempre o melhor início. Ataque ao mercado só em caso de terra arrasada. Ou de desmanche como o Corinthians de Tite no início de 2016. Definir filosofia que se adeque aos jogadores que já estão no clube e aos que estão subindo do sub-20. Contratações pontuais. Aproveitar o entrosamento em campo e no vestiário que já existe. Parece o melhor caminho.

Por isso, se seu time de coração for o mais citado no noticiário de contratações/vendas, desconfie. Não comemore, salvo raras exceções. Normalmente há algo muito errado na condução do futebol do clube. Se você é sócio-torcedor ou mesmo se tem acesso apenas pelas mídias sociais cobre, fiscalize e proteste, se for o caso.

Só não se empolgue com o "vai e vém" tão valorizado nesta época, mas que na maioria das vezes não leva a lugar algum. Se você chegou até aqui na leitura, o blogueiro espera sinceramente que reflita a respeito.

A foto do Mattos? Ora, ninguém nos últimos tempos foi tão feliz e midiático ou tão questionado e perseguido, apesar das conquistas recentes, com as indas e vindas de jogadores quanto o diretor de futebol do Palmeiras. Já foi ídolo e vilão. Ninguém simboliza melhor este período. A prova viva do perde-ganha desta estratégia.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.