Vitória do City é a prova de que Guardiola se reinventou e Mourinho não
O primeiro tempo do clássico de Manchester no Old Trafford foi um típico duelo Pep Guardiola x José Mourinho. City ocupando o campo de ataque, trocando passes e buscando surpreender o United com uma configuração inusitada do trio ofensivo: Sané pela direita, Sterling centralizado como uma espécie de "falso nove" entre a defesa e o meio-campo adversário e Gabriel Jesus à esquerda.
Provavelmente guiado pelo desenho tático dos Red Devils, desarmando o sistema com três zagueiros e voltando ao 4-2-3-1 com Smalling e Rojo na zaga e Lingard centralizado atrás de Lukaku. Sem tanta necessidade de esgarçar a marcação, os citizens tentaram explorar os ponteiros com pés invertidos buscando as diagonais.
Mas com 75% de posse de bola e num universo de nove finalizações, o gol saiu na bola parada. Cobrança de escanteio, desvio de Otamendi e gol de David Silva, aparecendo livre na falha de Ashley Young na tática de impedimento.
Só então o time da casa se aventurou no ataque e finalizou a gol, com Martial, que iniciou pela direita, mas logo depois da desvantagem no placar trocou com Rashford. Pela direita, a joia do lado vermelho de Manchester aproveitou falha grotesca de Fabian Delph no domínio para empatar já nos acréscimos. De novo Mourinho vivendo dos elos fracos dos adversários. Um exagero na especulação.
Guardiola foi ainda mais ousado na volta do intervalo ao trocar Kompany, sempre às voltas com problemas físicos, por Gundogan. Fernandinho foi para a zaga. O jogo ficou mais equilibrado, com United se aventurando um pouco mais. Também com uma substituição na zaga: Rojo por Lindelof.
Smalling trocou de lado na zaga. E deu azar no corte de Lukaku defendendo a própria área. A bola bateu nas suas costas e sobrou para Otamendi livre. Com a vantagem, entrou em ação o Guardiola mais pragmático.
Tirou Jesus, colocou Mangala. Preencheu o meio-campo com a volta de Fernandinho ao setor e abriu Sterling e Sané para os contragolpes. Também se protegeu do mais que previsível ataque aéreo do United na necessidade de reverter o resultado. Ibrahimovic no lugar de Lingard e Juan Mata substituiu Ander Herrera.
No abafa, quase o empate com Mata e Lukaku, mas Ederson salvou mostrando que é candidato, sim, à titularidade na seleção brasileira. Guardiola tirou Sané, exausto, mas deixou Aguero no banco. Colocou Bernardo Silva, que desperdiçou dois contragolpes cristalinos. Ainda falta um pouco de rapidez na tomada de decisão ao português para a intensa Premier League. De Gea ainda salvou em bela finalização do meia De Bruyne em mais uma rápida transição ofensiva.
Nos minutos finais, a frieza e o foco no resultado mantendo a bola perto da bandeira de escanteio. Lembrou times argentinos na Libertadores, principalmente o Boca Juniors de Riquelme. Gastando tempo pela noção do tamanho da vitória.
Os 11 pontos de vantagem no topo da tabela praticamente encaminham a conquista nacional. A campanha até aqui é espetacular e histórica: 15 vitórias – 14 seguidas – e só um empate. Reflexo da superioridade do City com um elenco renovado, mas também da reinvenção de Guardiola. Treinador que mantém seus princípios de jogo, mas se recicla para transformar o protagonismo em vitórias.
Seu time ataca de todas as formas, com bola no chão e pelo alto. Se preciso for, reforça o sistema defensivo e gasta o tempo. Provando de vez que não é romântico. Sempre quis vencer, mas agora sem exigir tanto que seja à sua maneira. Como for possível.
Por isso está à frente de Mourinho, que não abandona a persona anti-Guardiola, o homem que pára o ônibus e parece estacionado. O português tem elenco e orçamento para fazer mais nos clássicos. Ainda pragmático e mirando o resultado. Porém mais eficiente, como Guardiola vai se impondo na Premier League.
(Estatísticas: BBC)
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