Topo

André Rocha

"Badernaço" não é coisa de Flamengo. A história é outra

André Rocha

13/12/2017 07h55

A torcida do Flamengo não são os pouco mais de 30 torcedores que foram ao aeroporto "recepcionar" os jogadores do Independiente e se frustraram com a saída alternativa da delegação. Nem os cerca de 300 que provocaram um "badernaço" na área do hotel em que o time argentino estava hospedado na Barra da Tijuca, com fogos de artifício, e os 40 que depois perturbaram a madrugada de sono do time adversário no hotel para o qual se transferiram em Copacabana. Muito menos os que agrediram torcedores do visitante.

Estes são os baderneiros de quase sempre, a maioria de envolvidos em brigas de torcidas organizadas. Gente que gosta e precisa de violência. O clube é apenas um pretexto. Caso de polícia que devia ser tratado como tal, sem politicagem e média.

As redes sociais são um termômetro. E muitos apoiaram as ações, até torcedores de outros clubes. Mas também não representam a maior torcida do Brasil.

O verdadeiro flamenguista é o que irá ao Maracanã hoje apoiar o time para vencer na bola. Também, e especialmente, o que não é sócio e verá pela TV aberta. A mesma que paga milhões ao clube. O descartado pela política elitista de preços de ingressos, mas não menos apaixonado e importante pelos índices de audiência. Aquele que saiu hoje esperançoso para trabalhar com a camisa rubro-negra. Em paz.

Este sabe que esses recursos menos nobres adiantam bem pouco. Ainda que torcedores do oponente tenham respondido às provocações com racismo e o tratamento em Avellaneda não tenha sido dos mais dignos, como é de costume, a resposta mais contundente é sempre na bola. A história mostra.

Em 1981 houve o soco de Anselmo em Mario Soto do Cobreloa. Mas o que está na história é a grande atuação em Montevidéu com os dois gols de Zico na conquista da única Libertadores. Na bola. Assim como em 1999 o Flamengo apanhou covardemente e perdeu por 3 a 2 para o Peñarol no Uruguai pela semifinal da Copa Mercosul. Classificou-se pelos 3 a 0 no Maracanã. Jogando futebol.

O time de 2017 não inspira tanta confiança, oscilou na temporada, falhou em alguns momentos decisivos. Mas tem condições de vencer o Independiente por mais de um gol no tempo normal e sair com o título. Não precisa mais do que futebol. Sem pilha errada e clima de guerra. Sem "badernaço".

Não é ser politicamente correto, apenas ter bom senso e conhecer a história do Flamengo. Do futebol brasileiro. Não precisamos repetir o pior do outro lado, porque aí sim seremos os "macaquitos" (de imitação) dos quais eles tanto debocham. A melhor resposta sempre vem do campo.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.