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André Rocha

Tempo será maior aliado do Internacional. Primeira impressão não é boa

André Rocha

19/01/2018 09h13

Volta da Série B sem título, treinador sem "grife" e, portanto, estofo para manter alguma estabilidade num revés de maior impacto. O elenco não contou com grande reformulação por conta de dificuldades financeiras. Para aumentar a irritação da torcida, 2017 foi de tricampeonato da Libertadores para o rival Grêmio.

Se em outros anos, especialmente, 2016, o campeonato gaúcho mais iludiu que trouxe soluções para o Internacional, desta vez pode funcionar como um aliado. Para ganhar tempo.

Tempo para assimilar a proposta de Odair Hellmann que foi interino após a saída de Guto Ferreira e acabou efetivado com as recusas de Roger Machado e Abel Braga. Jogos para vencer e ganhar confiança, mesmo sem um desempenho consistente, como no triunfo por 1 a 0 sobre o Veranópolis na estreia oficial da temporada no Beira-Rio. Uma sequência de trabalho para reavaliar o elenco, podendo ir ao mercado ou buscar nas divisões de base – o Inter é semifinalista da Copa São Paulo depois de golear o Santos por 4 a 0.

A primeira impressão não é boa, mesmo considerando o pouco tempo de preparação. A equipe ainda encontra dificuldades para criar espaços no campo adversário, como quer o treinador numa proposta valorizando a posse de bola. O 4-2-3-1 tem D'Alessandro, ídolo mas já na reta final de carreira aos 36 anos, como articulador central. Eventualmente procurando o lado direito para fugir da pressão mais intensa na marcação. Camilo atua como um meia aberto à esquerda procurando o centro para articular ou finalizar. Vem faltando o passe diferente, que encontra o companheiro em condições de finalizar.

O Internacional sempre vai melhor quando acelera. Pelos flancos com William Pottker, autor do gol único em contragolpe veloz. Ou com Edenílson, que leva a equipe ao ataque conduzindo a bola. Rodrigo Dourado até tem bom passe, mas não é exatamente o volante organizador que faz o time jogar. Na dificuldade, saída pelas laterais com Cláudio Winck e Uendel, o que não garante qualidade na transição ofensiva. Ou ligação direta procurando Leandro Damião, que é finalizador e contribuiu pouco no trabalho de pivô.

Ou seja, é um time vivendo um paradoxo: quer a bola para controlar o jogo, mas funciona melhor explorando os espaços deixados pelos adversários. Para mudar é preciso trabalho e tentar combinar as características dos atletas com o modelo de jogo escolhido.

Roger, contratado ao Botafogo, deve funcionar melhor a médio prazo. Assim como a habilidade de Wellington Silva, que veio do Fluminense, pode abrir defesas fechadas com dribles. Nico López é a opção para quando D'Alessandro cansa, mas também pode funcionar como "falso nove".

Não é de todo ruim, mas também não parece o suficiente para o Inter voltar forte à Série A do Brasileiro. O tempo será o maior aliado até abril para ganhar equilíbrio e resgatar em campo o respeito por um gigante do futebol brasileiro.

 

 

 

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.