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André Rocha

Com goleada sobre o Betis, Valverde rasga de vez o "Manual Barcelona"

André Rocha

22/01/2018 03h19

O Barcelona já venceu ou construiu goleadas utilizando os contra-ataques. Segundo o site Whoscored.com, o time catalão terminou o jogo em Sevilla com 51% de posse. Ou seja, ainda que com vantagem mínima teve o controle da bola.

Mas nenhuma vitória foi tão emblemática como os 5 a 0 no Estádio Benito Villamarín para mostrar que o time de Ernesto Valverde, mesmo com a base de Luis Enrique e alguns remanescentes da Era Guardiola, pensa e executa futebol diferente do que ficou conhecido como a "Escola Barça".

Um primeiro tempo sofrendo com a marcação adiantada e com muita pressão do time da casa e dificuldade para chegar ao ataque. Segunda etapa matadora com quatro gols de contragolpes. O primeiro de Rakitic, aproveitando passe em profundidade de Luis Suárez.

Depois o croata retribuiria a assistência no terceiro, com um belo cruzamento da direita para finalização ainda mais bela do camisa nove uruguaio, que fecharia a goleada aproveitando arrancada e passe de Messi.

O gênio argentino mais uma vez cresceu com os espaços cedidos pelo adversário. Dois gols, além da assistência que fechou a goleada – a nona na liga espanhola. O primeiro gol foi o maior símbolo desta mudança de mentalidade: bola roubada por Sergio Busquets e o camisa cinco, que costuma ser um jogador de controle de jogo com o passe mais horizontal, de lado, acionou diretamente Messi. Vertical, simples e objetivo, como a conclusão do artilheiro da competição com 19 gols.

Messi faria o terceiro em outro contragolpe, do jeito que gosta: recebendo na meia direita com espaço para limpar os marcadores até encontrar o melhor ângulo para o chute. Se o craque da equipe é ainda mais desequilibrante com espaços, por que forçar sempre um jogo de posição que instala o adversário no seu próprio campo para justamente negar essas brechas?

Um Barcelona do 4-4-2 mais "duro", com uma segunda linha que teve Sergi Roberto mais adiantado aberto à direita, com Semedo ocupando a lateral, Rakitic e Busquets no centro e André Gomes pela esquerda. Pragmático para superar um rival complicado da maneira que era mais viável. Sem imposição de filosofia. O comportamento foi de acordo com a demanda.

Assim abre 11 pontos sobre o vice-líder Atlético de Madri. Desta forma pode dar um nó na cabeça de Antonio Conte para o duelo com o Chelsea pelas oitavas de final da Liga dos Campeões. Porque o confronto ataque x defesa que parecia previsível e puniu o Barça de Guardiola contra os mesmos Blues em 2012 deve ganhar outras nuances.

Ernesto Valverde rasga de vez o "Manual Barcelona" e cria um problema para os adversários: ninguém mais sabe o que esperar do time de Messi e Suárez.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.