Pressionar qualquer time brasileiro agora é covardia. Cenário é dramático!
O ano virou com a constatação de que nossos times estavam atualizando seus conceitos no trabalho defensivo. Sem a bola vemos compactação, coordenação dos setores, concentração e preocupação em negar espaços ao adversário. Algo já ficando parecido com o que se vê pela TV nos grandes campeonatos do mundo.
Mas é nítido que falta organização para atacar. Tudo ainda fica entregue à intuição e ao talento. Vemos pouco jogo associativo, deslocamentos para dar opção ao companheiro, ultrapassagens apenas para atrair a marcação. Trabalho coletivo, fundamental exatamente para criar espaços em retaguardas sólidas e bem fechadas.
Começa 2018 com suas não mais que duas semanas de pré-temporada e já temos times pressionados. Por torcida, imprensa, dirigentes… Ainda que a maioria dos adversários nos estaduais não joguem a Série A do Brasileiro e muitos sequer tenham divisão para disputar no segundo semestre, os treinadores também têm acesso às informações para qualificar o trabalho sem a bola. Aproximar setores ou mesmo estacionar um ônibus na frente da própria área.
Em 15, 20 dias de treinos e jogos não foi possível resolver os problemas de 2017. Ainda mais para quem trocou de treinador e mudou a base titular. Logo, o sofrimento para abrir defesas está lá. Muitas vezes em gramados ruins, com o calor do verão, etc.
É covardia cobrar demais agora. Não é passar pano ou blindar. Apenas ser razoável. Qualidade com regularidade neste início é utopia. Quem conseguir agora tem que se preocupar, porque pode faltar nos momentos mais importantes. Ainda que se trate como relevante a reta final dos estaduais.
Agora é o momento de testar, oscilar. Errar. Pedir a cabeça de Dorival Júnior no São Paulo pela estreia com derrota utilizando reservas no Paulista contra o São Bento só porque o time flertou com o Z-4 em 2017 e não ganha um título desde 2012 beira a insanidade. Ganhar do Novorizontino no Morumbi virou obrigação. Com o empate sem gols, vaias e mais cobranças. Dorival já sinaliza uma mudança no planejamento. Como questionar alguém que já se sente ameaçado em um ambiente já conturbado por conflitos políticos e outras particularidades?
O mesmo vale para todos os clubes, uns mais e outros nem tanto. Palmeiras, Flamengo e Internacional começaram com duas vitórias. Cada um com seu contexto. Mas também não estão isentos das mazelas de um calendário inchado, irresponsável. Inclusive podem pagar mais à frente pelo sucesso inicial. Porque não há tempo.
É obrigação vencer o pequeno. No clássico não pode perder. No Brasileiro todo jogo é importante. Libertadores é prioridade, Copa do Brasil é mata-mata, tiro curto, tem que dar tudo. Por mais que se alegue que na elite do futebol do país os salários estão muito acima da média do trabalhador comum e que muitos dariam a vida para ter como ofício algo tão prazeroso como jogar bola, a exigência é desproporcional. Massacrante.
Com o problema para criar espaços tudo fica ainda mais complexo. Então tome cruzamentos, na bola parada ou com ela rolando (ou voando)! Resultadismo para atender o imediatismo e seguir empregado, poder sair na rua, viver em paz.
Muitos dirão "quem não quer pressão que vá trabalhar em outra coisa". Não estão de todo errados, é o ônus de tantas vantagens e privilégios. O que se questiona é a pouca inteligência de não entender os processos, exigir soluções mágicas e duradouras. Vencer sempre. Sem trégua. Se não atender, troca. E troca até "dar certo".
Sem tempo não há trabalho, entrosamento e o produto final que pode resolver essa carência de ideias quando se está com a bola. A pressão por mudanças é o veneno tratado como remédio. Treinadores e jogadores não precisam de salvo conduto, cabide de emprego ou estabilidade de serviço público. Só de um pouco de paz. Sem gente histérica perseguindo, com ou sem microfone – ou teclado do computador ou celular com acesso às redes sociais.
O cenário já é dramático no final de janeiro! Pelo visto, serão mais onze meses no mesmo dilema.
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