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André Rocha

As lições para o Vasco e todos nós da noite de "San Martín" em Sucre

André Rocha

22/02/2018 09h46

Este que escreve é o primeiro a tirar um aprendizado, de uma vez por todas, da incrível virada do Jorge Wilstermann sobre o Vasco no confronto que só não terminou em tragédia para o time brasileiro porque Martín Silva garantiu nos pênaltis.

Com o jogo mais intenso e dinâmico de hoje, sem as muitas bolas recuadas para os goleiros segurarem com as mãos e retardarem o jogo e a reposição muito mais rápida por termos bolas em várias partes do campo, é possível reverter praticamente qualquer placar. Portanto, não convém bancar a classificação na ida, como o blogueiro fez aqui e no seu último comentário sobre os 4 a 0 em São Januário na semana passada pelo Placar Uol.

Tantos outros fizeram o mesmo. Porque o futebol e a vida ensinam e a gente se faz de bobo.

A maior virtude do time boliviano teve pouco a ver com questões técnicas e táticas. Foi acreditar. Ainda que em algo que sempre será questionável como essa vantagem de 2.800 metros que a Conmebol ainda aceita para fazer política e tentar forçar um equilíbrio que normalmente não existe.

Mas nada dessa epopeia teria acontecido se o Vasco não entrasse em campo para uma decisão na Libertadores tão desconcentrado. Como se fosse obrigado a aguentar um desconforto para respirar por pouco mais de 90 minutos para cumprir uma simples formalidade.

Quando acordou estava 3 a 0 em 20 minutos. Três assistências do brasileiro Serginho, sempre pelo lado de Pikachu mal assessorado por Wagner no setor. Ele também daria o passe para o quarto.

Agora é fácil dizer…mas se não havia nenhum compromisso no Brasil por que não viajar para a Bolívia na quinta, logo após o primeiro jogo? Ainda que houvesse os custos de hospedagem, deslocamento, além da turbulência política no país que dificultaria toda a logística, seria o planejamento correto para um disputa tão importante. Será que dimensionamos bem a relevância do torneio mais importante do continente?

O jovem Vasco sentiu o baque, reagiu e podia ter evitado o drama. Mas também podia ter levado o golpe final quando, já com 4 a 0 contra, Thiago Galhardo foi expulso por uma tolice inominável. Outra vez o brasileiro atrapalhando o time com seu despreparo emocional. Tudo quase ruiu no incrível gol perdido por Alex "Pirulito" Silva no último ataque.

Seria uma pancada dura, quase uma pá de cal, na carreira do promissor Zé Ricardo. Depois da eliminação traumática no ano passado com o Flamengo, o vexame colaria no treinador o rótulo de perdedor. Injusto e precoce. Mas se o rubro-negro tinha Muralha, o Vasco contava com Martín Silva.

Em noite de "San Martín", um dos Libertadores da América do Sul, o goleiro uruguaio tirou o Vasco de uma cilada criada por si mesmo. Três defesas para colocar o time cruzmaltino onde parecia já estar há uma semana: no grupo 5 com Cruzeiro, Racing e Universidad de Chile. Como "zebra", mas talvez seja melhor assim.

Porque ainda não entendemos muito bem que favoritismo não é garantia no esporte mais imprevisível e caótico. Nos apaixonamos por isto, mas não aprendemos. Que fiquem as lições.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.