Camisa pesa, sim! É o clichê do qual não podemos fugir
Este que escreve aprendeu com os mestres amigos e os da sala de aula que no texto jornalístico devemos fugir dos clichês. O senso comum evitado ao máximo na afirmação de um estilo de escrita ou comunicação.
Mas com o tempo de ofício uma pergunta sempre ronda essa busca: se narramos ou analisamos acontecimentos sobre pessoas e estas costumam se agarrar a clichês, crendices e superstições como podemos desprezar a existência destes?
A história do futebol apresenta questões subjetivas, baseadas em acontecimentos eventuais, mas tratadas como regras não escritas. Capazes de interferir na disputa e ajudar na definição de vencedores e vencidos.
O "peso da camisa" é um exemplo clássico. Longe de garantir resultado, mas que no campo pode pesar se o contexto favorecer. Uma ideia que resume eventos importantes dentro de uma partida.
Como a vivência de um clube em jogos grandes, o histórico de momentos em que se agigantou e subverteu a lógica, a capacidade de no primeiro sinal de reação instalar medo no rival com menos tradição ou o respeito que impõe só pelo que representa. Até mesmo diante da arbitragem. Afinal, na dúvida qual clube terá mais poder de prejudicar o apitador e sua equipe em caso de erro?
É óbvio que esses fatores têm mais relevância se os desempenhos são equivalentes ou não há uma disparidade na verdade do campo. Como nos 180 minutos entre Real Madrid e PSG. Valeu mais a qualidade e a maturidade da equipe bicampeã da Europa.
Na prática, porém, podem influir, sim, na força mental dos times. Porque jogadores e torcedores, em geral, acreditam nesta espécie de "força estranha" que se mistura com toda a loucura e falta de lógica do jogo.
Como na virada da Juventus em Wembley sobre o Tottenham por 2 a 1 pelas oitavas de final da Liga dos Campeões. Primeiro tempo dominado e controlado pelo time londrino com o gol do sul-coreano Son e outras oportunidades. Organização e volume ofensivo mantendo a torcida quente no estádio.
Mas bastou a equipe italiana mostrar solidez para o Tottenham nitidamente ter sua confiança abalada, dentro e fora de campo. As jogadas de Eriksen e Dele Alli passaram a não acontecer com frequência, Harry Kane ficou isolado e o time de Mauricio Pochettino nitidamente se abateu com a pressão de um jogo deste tamanho. A torcida virou plateia. Silenciosa.
Empate com Higuaín. Com o golpe final três minutos depois, no contragolpe letal construído pelo pivô de Higuaín que encontrou Dybala livre, restou ao Tottenham o desespero. Que podia até ter acabado no empate que levaria à prorrogação na bola na trave de Buffon já nos acréscimos. Talvez a história contada fosse outra.
É óbvio que Massimiliano Allegri foi feliz nas substituições, especialmente a entrada de Lichtsteiner no lugar de Benatia e Barzagli sendo deslocado para fazer dupla com Chiellini na zaga. Com o lateral, o time ganhou um escape pela direita e companhia para Douglas Costa na execução do 4-4-1-1 que não havia até então. Ainda assim, o brasileiro, que cumpriu boa atuação, sofreu pênalti claro ignorado pela arbitragem na primeira etapa.
Com o melhor rendimento, o gigante italiano se impôs especialmente pela tradição na Liga dos Campeões. Ainda que com apenas duas conquistas em nove finais, a história é muito maior que a do Tottenham, cuja melhor campanha na competição foi o terceiro lugar em 1962, bem anterior à fase Champions. Mais ainda da geração da Velha Senhora que vem de duas decisões em três temporadas. A trajetória dos Spurs de Kane é de "pato novo". Faz diferença. Fez.
Por maior que seja a resistência à ideia, a camisa pesou. Entortou varal, como se costuma dizer. Acontece. E não dá para fugir deste clichê. Porque os grandes agentes do esporte se permitem afetar por isto. Para o bem e para o mal.
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