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André Rocha

Brasil vence, mas não fura linha de cinco da Rússia como Tite queria

André Rocha

23/03/2018 14h55

Não é nada fácil colocar em prática algo tão complexo como o jogo de posição em pouco tempo. Problema do ciclo de apenas dois anos de Tite e uma certa demora para trabalhar esses conceitos, só depois do "susto" contra a Inglaterra. E sempre é mais complicado desequilibrar sem Neymar, o maior talento brasileiro.

Por isso a seleção sofreu no primeiro tempo e, objetivamente, não furou a linha de cinco da Rússia como Tite queria: trocando passes, com meio-campistas buscando jogo entre as linhas e ponteiros bem abertos esgarçando a marcação adversária. Paciência até infiltrar e finalizar.

Imaginava-se os laterais atacando por dentro, mas Marcelo desceu mais aberto. Talvez porque Tite pense em Neymar circulando mais e procurando o centro, criando a necessidade do lateral ser o responsável pela amplitude. Preocupante mesmo foi o desempenho de Daniel Alves. Confuso, errando passes fáceis, arriscando lançamentos sem sentido. Sem contar o posicionamento defensivo às vezes desatento.

Casemiro também merece um capítulo à parte. Na construção das jogadas contribui pouco. E ainda obriga jogadores que neste conceito deveriam receber a bola mais adiantados a voltar para articular. Nesta ideia Fernandinho seria mais interessante. Só que com os lapsos defensivos dos laterais é preciso ter alguém mais seguro na proteção dos zagueiros. Efeito colateral.

Como o Brasil, então, construiu os 3 a 0? Da maneira como o futebol viveu seus melhores momentos nos últimos dez anos: bola parada no gol de Miranda que abriu o placar, completando desvio de Thiago Silva, e a velocidade nas transições ofensivas quando a seleção anfitriã da Copa do Mundo se empolgou com as deficiências brasileiras e largou um pouco o ferrolho.

Deu ao jogador brasileiro o que ele mais precisa: espaços. Aí apareceram os pontas Willian e Douglas Costa em velocidade, Coutinho achou as brechas para conduzir e Paulinho para infiltrar. O meio-campista do Barcelona sofreu o pênalti que Coutinho converteu e completou mais um contragolpe brasileiro.

Alisson, Thiago Silva e Miranda salvaram alguns ataques e o Brasil podia ter marcado mais gols, inclusive na primeira infiltração do jogo, com Gabriel Jesus recebendo passe longo de Daniel Alves. Com as linhas postadas, só a desatenção russa deu chances ao Brasil.

Todo teste é válido para observações. Até para perceber as dificuldades para executar o que se planeja. Contra a Alemanha os desafios serão outros, ainda que Joachim Low arme sua seleção com cinco na defesa. É clássico mundial. Jogo para vislumbrar o que pode vir em fases finais da Copa.

Mas para enfrentar Suíça, Costa Rica e Sérvia na primeira fase as dúvidas continuam. Furar linha de cinco segue como um desafio.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.