Liverpool é um carro só com acelerador e Klopp, o Nigel Mansell do futebol
Quem acompanhava a F-1 nos tempos de Ayrton Senna e Nélson Piquet certamente se recorda de Nigel Mansell, piloto inglês que a Williams tentou fazer campeão mundial na segunda metade dos anos 1980 e só conseguiu em 1992. No ano seguinte, partiu para a Fórmula Indy, sendo campeão no primeiro ano.
Apelidado de "Leão", é considerado por muitos o piloto mais louco da história do automobilismo por disputar provas com campeões como a dupla brasileira, Alain Prost e Niki Lauda pisando fundo no acelerador e partindo para cima, mesmo sem a técnica dos concorrentes. Por isso protagonizou "pegas" épicos e também cometeu erros bizarros, como disparar na ponta, empilhar voltas mais rápidas…e acabar a prova sem combustível a curvas da bandeirada final.
Jurgen Klopp é treinador, não piloto. Time de futebol não é carro. Mas cabe o paralelo. Porque o Liverpool do técnico "maluco beleza" parece só ter acelerador.
Nos 5 a 2 sobre a Roma no Anfield Road, o time italiano conseguiu conter a explosão do adversário negando espaços com um 5-4-1 sem a bola. Os Reds sofreram e sentiram mais ainda com a saída por lesão logo aos 15 minutos de Oxlade-Chamberlain, um dos meias do 4-3-3 que acionam o tridente Salah-Firmino-Mané.
Mas quando enfim encontrou a brecha para ligar o turbo…Dois de Salah, outro par de Firmino e um de Mané. Atacantes que agora totalizam 89 gols e 40 assistências no universo dos 122 em jogos oficiais. Na Liga dos Campeões, são dez de Salah e Firmino, oito de Mané.
Pressiona e acelera. Jogo direto até chegar ao trio da frente. Firmino se mexe e abre espaços, Salah e Mané infiltram em diagonal. Maneira de jogar que curiosamente ganhou encaixe com a saída de Philippe Coutinho. Ainda que o brasileiro seja meia que pensa correndo, a equipe inglesa na formatação atual parece ter incorporado de vez a essência de seu treinador.
Os efeitos colaterais desta intensidade máxima, porém, também se fizeram presentes. Klopp costuma dizer que prefere um futebol mais rock and roll. Mas às vezes parece um produtor que coloca todos os instrumentos na distorção e grava o resultado. Quando é preciso pisar no freio, diminuir o volume, controlar o jogo com a bola ou negando espaços aos adversários o rendimento sempre cai.
Contra o City na fase anterior, o segundo tempo depois dos 3 a 0 nos primeiros 45 minutos do jogo de ida só não foi mais complicado porque o time de Guardiola não conseguiu transformar o domínio e os espaços em finalizações e gols. Na volta no Etihad Stadium, a primeira etapa podia ter causado muito mais estragos caso os citizens fossem mais contundentes.
Os gols de Dzeko e Perotti, de pênalti, foram consequência da redução de ritmo. Também da saída de Salah, administrando o desgaste por conta deste ritmo insano. Cansado e sem o melhor jogador da Premier League e candidato a grande rival de Messi e Cristiano Ronaldo como o craque da temporada, o time da casa transformou uma classificação encaminhada para a final na esperança de novo "milagre" na capital italiana. No apito final, alegria dos romanistas e preocupação da torcida do time vencedor.
Só que o Liverpool tem jogo físico e contragolpe letal, algo que faltou ao Barcelona no Estádio Olímpico. A chance dos italianos é o treinador alemão reprimir o próprio instinto em nome do resultado. Se acelerar e partir para a troca de golpes como se não houvesse amanhã, nem vantagem, a chance de surpresa diminui bastante.
Porque Klopp é o Nigel Mansell do futebol. Um leão que só ruge na velocidade máxima.
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