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André Rocha

Bélgica vence fácil, mas só com o alívio do primeiro gol contra a retranca

André Rocha

18/06/2018 14h16

Bélgica na estreia do Mundial jogando num 3-4-3 ofensivo com Meunier e Carrasco abrindo o campo, De Bruyne organizando e ponteiros Mertens e Hazard mais próximo de Lukaku. Panamá no 4-1-4-1, mas fechando espaços com uma linha de seis jogadores guardando a própria área (Tactical Pad).

Para encaixar o máximo de individualidades dentro de uma geração talentosa, o treinador espanhol Roberto Martínez armou a Bélgica num 3-4-3 que lembra o Chelsea de Hazard comandado por Antonio Conte no posicionamento. Um 5-4-1 sem a bola e na transição ofensiva os ponteiros Mertens e Hazard se juntam ao centroavante Lukaku e os alas Meunier e Carrasco são os responsáveis por abrir o campo e espaçar a marcação adversária.

Na dinâmica ofensiva, um ataque posicional construindo volume através da posse e da retomada pela pressão logo após a perda da bola. Em alguns momentos com Vertonghen atacando como lateral e empurrando Carrasco como ponteiro à esquerda.

Só que é cada vez mais desconfortável jogar como favorito. Antes o futebol era um grande tabuleiro de duelos individuais em que o melhor, se jogasse bem, vencia com naturalidade. Hoje há uma disputa por espaços no qual os corpos precisam estar bem posicionados e se movimentar corretamente para fazer um bom trabalho defensivo e dar trabalho como "zebra", sempre à espera de um contragolpe.

Foi o que fez o Panamá do colombiano Hernan Gomez. Um 4-1-4-1 que, na prática, recuava os ponteiros Barcenas e Rodríguez como alas formando uma linha de seis homens guardando a própria área. Recurso inspirado no handebol para impedir as infiltrações. Complicou o jogo belga.

A tensão da estreia em uma Copa do Mundo novamente com pressão por bom desempenho e resultados condizentes com a expectativa também contribuiu para a inconstância de atuações de Hazard e De Bruyne. Algumas jogadas construídas e mal acabadas. Ou bloqueadas pelo muro defensivo do Panamá.

Até o alívio do primeiro gol, logo no início da segunda etapa. Lindo chute de Mertens. Não é apenas uma questão de ganhar espaços, mas também confiança e desanimar o adversário fechado que sabe que terá que subir uma montanha para buscar uma reação.

Os gols de Lukaku, o segundo concluindo linda assistência de três dedos do De Bruyne e o terceiro completando passe de Hazard num contragolpe, saíram naturalmente e cabia até mais que os 3 a 0. 61% de posse, 88% de efetividade nos passes e 15 finalizações contra seis – meia dúzia no alvo contra duas.

Vitória fácil no saldo dos 90 minutos, mas com o incômodo até abrir o placar e a retranca que perdeu a vergonha e ganhou inteligência ao longo do tempo para negar espaços. Nada raro no futebol atual e a Copa do Mundo não seria exceção.

(Estatísticas: FIFA)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.