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André Rocha

A "retranca handebol" do Irã que exigiu da Espanha a força de Diego Costa

André Rocha

20/06/2018 17h37

Pelo histórico recente de Espanha e Irã e o que aconteceu na primeira rodada era esperado o maior duelo ataque x defesa da Copa do Mundo até agora. E o jogo confirmou a previsão, especialmente pela postura do Irã.

Uma estratégia que não é novidade há tempos no futebol mundial. Vem de José Mourinho na classificação da Internazionale para a final da Liga dos Campeões de 2009/10 segurando com um homem a menos o Barcelona de Pep Guardiola ao alinhar em vários momentos sete jogadores na última linha de defesa impedindo as infiltrações.

O próprio Irã resistiu a Argentina de Messi o quanto pôde na Copa de 2014 no Brasil trabalhando da mesma forma. Aproxima bastante os quatro defensores da última linha fechando as infiltrações pelo centro e recuando os dois meias pelos flancos negando a chegada ao fundo dos laterais adversários. Ou seja, formando uma linha de seis homens e mais três à frente deixando apenas um atacante. Ou seja, a "retranca handebol".

A Espanha respondeu como sabe: com posse de bola, invertendo o lado do campo, criando espaços com a movimentação e a inteligência de Iniesta, David Silva e Isco, abrindo o campo com Carvajal e Jordi Alba. O "corpo estranho" era Lucas Vázquez, que no Real Madrid atua como ponta, mas no jogo circulou tentando se associar com os meias. Para isto seria melhor manter Koke ou encaixar Thiago Alcântara.

Foram 69% de posse, 89% de efetividade nos passes. 17 finalizações, mas apenas três na direção da meta de Beiranvand. Um tanto pela imprecisão espanhola, mas muito pela competência da seleção de Carlos Queiroz, no comando desde 2011. Movimentos perfeitos no bloqueio de passes, cruzamentos e chutes. Um muro ou ônibus guardando a própria meta.

Quem resolveu? Diego Costa, à sua maneira. Enrosco, disputa física, dividida e bola na rede. A sofisticação espanhola ganhou um toque "ogro" no ataque para arrancar um gol à forceps. Talvez a Espanha campeã mundial em 2010 achasse o gol num passe genial de Xavi para David Villa ou na cabeçada de Puyol, mas alguns problemas poderiam ter sido resolvidos pelo típico centroavante que tem força física, posicionamento e qualidade suficiente para dialogar com os meias talentosos.

Mas não há nada resolvido no Grupo B. Porque a Espanha provavelmente terá mais espaços contra Marrocos, mas também sofrerá mais na defesa, ainda que o adversário da última rodada seja "arame liso". Porque Hierro conta com Carvajal e Alba como laterais ofensivos, mas Piqué e Sergio Ramos não são tão rápidos na cobertura e Sergio Busquets é lento na proteção da retaguarda. Mesmo tão fechado, o Irã criou problemas e poderia ter empatado. Mas num universo de seis finalizações não acertou nenhuma no alvo. Ou apenas o gol bem anulado de Saeid Ezatolahi.

Se melhorar este desempenho ofensivo pode criar problemas para Portugal, que sofre bem mais na construção que a Espanha. Missão novamente para Cristiano Ronaldo. Este problema ao menos os espanhois tiraram do caminho.

(Estatísticas: FIFA)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.