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André Rocha

Prévia tática de França x Croácia: quem sairá do "encaixe perfeito"?

André Rocha

13/07/2018 10h21

Pelo esforço absurdo de três prorrogações seguidas é impossível saber se Zlatko Dalic vai manter a formação titular da Croácia para a grande final. Mas também é improvável que algum jogador, a menos que esteja com uma lesão muscular grave por conta do esforço, queira ficar de fora do "filé" depois de roer o osso em 360 minutos, mais duas decisões por pênaltis.

Partindo do 4-1-4-1 da semifinal e da melhor atuação da seleção na Copa, os 3 a 0 sobre a Argentina, e do 4-2-3-1 da França que ganhou corpo desde a vitória sobre o Peru com Matuidi pela esquerda mais compondo o meio que formando o quarteto ofensivo, temos uma espécie de "encaixe perfeito" das equipes. Tanto no desenho tático quanto nas características dos atletas.

Ainda que Kanté e Brozovic tenham perseguido Messi em muitos momentos dos jogos, o volante do Chelsea tenha feito o mesmo com De Bruyne e Pogba sofrido com Fellaini na semifinal, França e Croácia marcam essencialmente por zona. Mas, de acordo com o posicionamento básico, os jogadores de cada setor acabam se encontrando e duelando ao longo da partida.

Ambas contam com laterais que não são brilhantes, mas equilibram bem as funções de ataque e defesa e se adequam caso precisem guardar posição ou descer pelo corredor. No embate de domingo é bem provável que Strinic fique mais atento à movimentação de Mbappé e Vrsaljko apoie mais, já que não há um atacante agudo pelo seu setor.

No meio-campo, os duelos mais prováveis são Kanté x Modric, Pogba x Rakitic e Griezmann x Brozovic. Pavard espera Perisic e Hernández faz o mesmo contra Rébic. Os zagueiros Lovren e Vida cuidam de Giroud e Varane e Umtiti ficam atentos aos movimentos de Mandzukic.

É óbvio que o futebol não acontece numa imagem estática como no campinho abaixo. Mas mesmo com o dinamismo da disputa, uma palavra será chave para desequilibrar o oponente: mobilidade.

Os franceses têm guardado mais o posicionamento, talvez pelo temor de serem pegos com as linhas desorganizadas na perda da bola. Um desperdício, já que este 4-2-3-1 "torto" tem como principal arma ofensiva o deslocamento de outros jogadores para o lado em que há um volante ou meia e não um ponteiro. Ou seja, o espaço deixado por Matuidi poderia ser melhor explorado por Griezmann, Giroud ou até mesmo Mbappé invertendo o flanco. Nos jogos apenas o lateral Hernández se projeta pela esquerda. Uma inversão entre Griezmann e Mbappé também pode ser interessante para deixar o jovem atacante do PSG mais solto para aproveitar na velocidade o trabalho de pivô de Giroud.

Já a Croácia na execução de seu modelo permite apenas como surpresa a inversão dos pontas Rébic e Perisic que buscam as diagonais aproveitando o espaço deixado pelo móvel Mandzukic, que sabe atuar como referência ou pelo lado. Modric e Rakitic também costumam trocar o posicionamento por dentro, de acordo com as características dos volantes adversários.

As estatísticas apontam a Croácia com maior posse de bola e efetividade nos passes, mas é a quarta que mais utiliza os cruzamentos, média de 26 por jogo – potencializada, logicamente, pelas prorrogações que disputou. Luka Modric é o meia que mais acerta passes e vai encontrar Kanté, o líder absoluto de desarmes e interceptações. Mbappé é o finalista que mais acerta dribles, Griezmann o que mais finaliza. Rakitic está no topo entre os que mais acertam inversões de jogo, fundamentais para desarticular sistemas defensivos organizados como o do oponente.

A França sofreu apenas quatro gols em 540 minutos – três da Argentina e um, de pênalti, da Austrália na estreia. A Croácia cinco em 630 – um de pênalti da Islândia (com time repleto de reservas), Dinamarca, em cobrança de lateral na área, e Inglaterra (falta), dois da Rússia, o de Mário Fernandes na típica jogada de bola parada que gerou tantos gols neste Mundial. A previsão, não o desejo, é de uma final com poucos gols, definida no detalhe, na precisão técnica. Talvez até mais uma prorrogação para os croatas.

A resistência física deve ser um fator preponderante. Didier Deschamps pode optar por uma proposta de maior intensidade na pressão pós perda da bola, velocidade na transição ofensiva para desgastar ainda mais o adversário, que tende a aproveitar seus talentosos meio-campistas para adicionar pausas ao ritmo do jogo que façam a equipe respirar e acelerar no momento certo.

O palpite do blog é vitória francesa. Em 120 minutos. Porque a Croácia mentalmente é dura de se curvar, mesmo com os músculos extenuados. Só que desta vez encontrará um rival que foi implacável até aqui com as fragilidades e oscilações de quem cruzou o seu caminho. Na Copa da força mental é um trunfo para definir quem leva a taça para casa.

França no 4-2-3-1 que deve ter mais mobilidade de Griezmann, Mbappé e Giroud aproveitando o espaço à esquerda deixado pelo recuo de Matuidi; Croácia no 4-1-4-1 com os ponteiros Rebic e Perisic invertendo o posicionamento e Modric e Rakitic tentando ditar o ritmo contra Kanté e Pogba. Nos sistemas que encaixam, a mobilidade pode fazer a diferença (Tactical Pad).

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.