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André Rocha

Cruzeiro pragmático vence Santos (ainda) sem identidade

André Rocha

01/08/2018 22h16

O duelo na Vila Belmiro com chuva pelas quartas da Copa do Brasil marcava a estreia de Cuca no Santos. Contra o trabalho mais longo da Série A: do Cruzeiro, com Mano Menezes no comando técnico desde julho de 2016.

Por isso as linhas avançadas e a marcação por pressão nos primeiros minutos do time mineiro, mesmo como visitante. No 4-2-3-1 habitual, com Robinho pela direita participando mais da articulação e dando liberdade a Thiago Neves e De Arrascaeta para se aproximarem de Hernán Barcos.

Mas aos poucos o Cruzeiro foi cedendo campo ao time mandante. Um pouco de insegurança por conta das derrotas para Corinthians e São Paulo depois das vitórias sobre América e Atlético-PR logo após a volta da Copa do Mundo. Muito pela grande marca de seu treinador: o pragmatismo.

Desde a primeira passagem, ainda em 2015, Mano Menezes deixa a impressão de que pode fazer seu time entregar mais, porém o time prioriza o resultado. Sem o "gol qualificado" no torneio, ir às redes fora de casa nem era tão importante assim.

Mas foi, com Raniel em bela virada. O substituto de Barcos deu mais rapidez e mobilidade no ataque. Não pode ser reserva, pois suas características casam melhor com as dos companheiros. Gol justamente quando o Santos era melhor em campo.

No primeiro tempo parecia clara a falta de identidade em campo do time da casa. O conflito entre a maneira de jogar de Jair Ventura e o que Cuca pensa e aplica em seus times. Por isso a opção pelo 4-1-4-1 que adiantava Renato como um meia ao lado de Diego Pituca e tinha Bruno Henrique pela esquerda no ataque e o revezamento entre Rodrygo e Gabriel Barbosa à direita e no centro do ataque. Dependia fundamentalmente das individualidades.

Na saída de bola, adiantava os laterais Victor Ferraz e Dodô e recuava Renato e Alison para ajudar os zagueiros David Braz e Gustavo Henrique. Dificuldade no início, mas aos poucos foi se ajustando e aproveitando o recuo gradativo do adversário. Cresceu quando Cuca trocou Renato, extenuado no campo molhado, por Daniel Guedes. A primeira intervenção do novo treinador foi deslocar Victor Ferraz para o meio-campo, talvez tendo em mente a prática de Dorival Júnior de fazer seu lateral direito apoiar por dentro.

Por ali saiu a jogada para a finalização de Gabriel que obrigou Fábio a grande defesa. Na primeira descida cruzeirense após o susto, o gol que encaminha a classificação que deve ser confirmada no Mineirão. Triunfo com 38% de posse cinco finalizações, duas no alvo, contra nove santistas – também apenas duas na direção da meta de Fábio. Não foi um grande jogo.

Típico do atual campeão do torneio. Pode não funcionar sempre e até dar a impressão de entregar menos que pode pela qualidade do elenco para o nível do futebol jogado no país. Mas é uma identidade e vem alcançando resultados.

Tudo o que Cuca não tem como "herança". Por isto precisará de ainda mais trabalho. Recebeu terra arrasada e precisa reorganizar quase tudo. Olhando pelo lado positivo, a provável eliminação da Copa do Brasil pode dar o que o treinador campeão brasileiro de 2016 mais precisa: tempo. Até porque há Libertadores e mais de um turno no Brasileiro para salvar a temporada.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.