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André Rocha

Renovação no meio-campo é a melhor notícia da primeira lista de Tite

André Rocha

17/08/2018 12h09

É uma lista cheia de contextos, inclusive o cuidado de não desfalcar muito os times brasileiros envolvidos em disputas decisivas. São 13 remanescentes da Copa do Mundo por uma questão de coerência. Afinal, é a sequência de um trabalho.

Os adversários não são de primeira linha: Estados Unidos e El Salvador. Vale mais perceber as intenções de Tite neste início de novo ciclo na seleção. Já fica claro o vazio na lateral direita, com Fagner voltando e o zagueiro Marquinhos e Fabinho, há tempos atuando no meio-campo, podendo ser improvisados no setor. Militão parece ser o nome da vez e foi citado como um dos não convocados, mas observados. Questão de tempo.

Na esquerda, uma pausa para Marcelo e novas oportunidades para Filipe Luís e Alex Sandro. Na zaga, a oportunidade para Dedé já acenada com o elogio ao zagueiro do Cruzeiro quando do anúncio da lista dos 12 nomes além dos 23 convocados para o Mundial. Felipe do Porto e campeão brasileiro em 2015 com Tite no Corinthians, também é nome interessante. No gol, a surpresa ao levar Hugo, do sub-20 do Flamengo. Em um ciclo de quatro anos é possível pensar no futuro.

No ataque, Roberto Firmino largando na frente de Gabriel Jesus e prêmios a Everton, fator de desequilíbrio no Grêmio, e Pedro, o melhor camisa nove em atividade no país e com potencial para ser um centroavante seguindo a linhagem dos grandes que já vestiram a camisa cinco vezes campeã do mundo. Neymar era nome mais que esperado, mas desta vez quase como um coadjuvante. Boa oportunidade para repensar, reciclar e ressurgir. Malcom podia estar já nesta lista, Richarlison também. Vinícius Júnior e David Neres são joias para o futuro.

A melhor notícia, porém, vem do meio-campo. Casemiro é o homem da proteção e os melhores tecnicamente do grupo que esteve na Rússia continuam: Renato Augusto, Fred, Phillipe Coutinho e Willian. Sustentação e experiência para ajudar as ótimas novidades. Arthur e Lucas Paquetá, nomes já esperados pelo enorme potencial, e Andreas Pereira – bela sacada de Tite, jogando mais recuado no Manchester United e já demonstrando sintonia fina com Fred. E Douglas, ex-Vasco e hoje no Manchester City, é outro no radar. Sem falar em Maycon, ex-Corinthians.

Qualidade no nosso "gargalo" de muito tempo. Enfim jogadores de bom toque e leitura de jogo. Não só volantes de infiltração e intensidade ou o meia de talento, mas pouca entrega sem a bola. Meio-campistas completos. Pontos para os clubes, que estão propondo uma melhor formação aos jovens que atuam no setor.

Como em toda lista, presenças e ausências serão questionadas. Fica a impressão de que Tite não convocou jogadores do Palmeiras por um misto de convicção, até porque só Bruno Henrique tem bom desempenho recente para merecer, com instinto de defesa para evitar atritos com o desafeto Felipão.

Mas já é possível ver o copo meio cheio. Cabe ao treinador aprender com os dois anos atropelados à frente da seleção – um para classificar, outro para se tornar competitivo no mais alto nível – e construir um novo trabalho a partir do legado do anterior. Evolução é a palavra que deve nortear todos os processos a partir deste primeiro ato.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.