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André Rocha

Nem contra El Salvador, Neymar?

André Rocha

11/09/2018 23h18

O problema não é usar uma data FIFA para fazer um treino nos Estados Unidos com a camisa oficial da seleção brasileira contra El Salvador. Nenhuma seleção do mundo passa todo o ciclo de quatro anos sem um enfrentamento muito desproporcional como esse.

O que gerou desconforto desta vez foi mais do mesmo: o calendário inchado que não permite uma pausa até o fim de semana e sacrificando, na prática, duas das quatro equipes envolvidas nas semifinais da Copa do Brasil. Responsabilidade da CBF. Mas Tite poderia ter encontrado uma solução de bom senso. Se queria testar Dedé e Paquetá, que o fizesse por 45 ou mesmo 90 minutos contra os Estados Unidos e dispensasse os dois no sábado. Simples assim.

Mas a pior notícia dos  5 a 0 em Washington foi Neymar simulando um pênalti, levando cartão amarelo, reclamando da arbitragem e depois, claramente por birrinha infantil, dar um chapéu no adversário na linha média, para trás, e perder a bola. Um "combo" no final do primeiro tempo, com 3 a 0 no placar, que ressalta a falta de maturidade, mesmo depois de toda repercussão negativa pós-Copa do Mundo. Pelo visto, a braçadeira de capitão não veio com uma cobrança do comando pela mudança de postura. A transmissão mostrou Tite sinalizando que o cartão amarelo para Neymar teria sido injusto.

Eis o ponto: não fosse Neymar, talvez o árbitro não interpretasse com tanta certeza a simulação. Ou seja, está estigmatizado e alimenta a imagem mais que desgastada. Mesmo contra um adversário indigente tecnicamente, sem capacidade de oferecer uma mínima resistência. Pouco inteligente, para dizer o mínimo. Muito pior que o gol perdido por puro individualismo minutos antes. Até compreensível por ter marcado dois, mas em cobranças de pênalti.

Quem acompanha este blog sabe que não há má vontade, nem perseguição com o craque controverso. Pelo contrário. Este que escreve tenta focar no rendimento em campo e, dentro do alcance do espaço, propor soluções para potencializar um talento que, na seleção, quase sempre pareceu subaproveitado. Mas não pode recolher a crítica diante de uma situação absurda. Mesmo com tristeza.

Richarlison aproveitou bem a primeira oportunidade de início com dois gols. Valeu também para dar minutos a Neto, Militão, Dedé, Felipe, Arthur, Paquetá, Andreas e Everton. E pouco mais que isso. Não é o fim do mundo. O trabalho está no começo. Se é para enfrentar uma "carne assada", que seja agora e não às vésperas de uma Copa do Mundo. Como aconteceu em 1994, por exemplo, nos 4 a 0 também sobre El Salvador. Mas como a CBF terceiriza a agenda da seleção, tudo parece suspeito. Ou pouco transparente.

Nítido mesmo foi o comportamento lamentável de Neymar. E decepcionante, mesmo não se complicando na segunda etapa. Difícil vislumbrar uma melhora a curto prazo. Se nem contra El Salvador ele é capaz de se conter…

 

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.