A "nova ordem nacional" diz que o Palmeiras está bem vivo contra o Cruzeiro
Ninguém é uma coisa só e, por isso, devemos fugir dos estereótipos. Mas é inegável que Mano Menezes e Luiz Felipe Scolari, embora tenham suas origens no sul do país, têm perfis bem distintos.
Mano é mais "alemão". Duro, pragmático, frio na maior parte do tempo. Ainda que ande cada vez mais destemperado à beira do campo, especialmente com a arbitragem. Já Felipão é "italiano": sanguíneo, passional, protetor. Mas igualmente focado no resultado final.
Dois "europeus" que são símbolos do futebol jogado no Brasil. Não por acaso dois dos últimos quatro treinadores da seleção. Como Dunga e Tite, todos do sul.
Porque a "nova ordem nacional" copia o futebol europeu no trabalho sem bola. A sofisticação do "fechar a casinha". O futebol gaúcho, em especial, sempre teve como característica a organização defensiva, o jogo físico e a pressão sobre o adversário com a bola. Características dos times de Ênio Andrade, Rubens Minelli e outros. Inspirações declaradas da grande maioria dos treinadores bem sucedidos vindos do Rio Grande do Sul.
A vitória do Cruzeiro sobre o Palmeiras no Allianz Parque pela semifinal da Copa do Brasil foi típica. O mando de campo induziu um dos times a avançar suas linhas e arriscar mais. Na entrevista antes da partida, Felipão foi bastante claro: "Precisamos ter cuidados principalmente quando estivermos com a bola".
Dudu vacilou e o contragolpe foi letal. Toques rápidos, práticos até Barcos tocar na saída de Weverton. Jogada de manual. Com espaços a beleza se faz presente.
Diante de duas linhas de quatro compactas e muita concentração defensiva, o Palmeiras teve dificuldades para impor seu jogo simples e direto. Muitas vezes jogou feio. No geral, o desempenho não foi bom. Porque criar brechas em um "muro" é cada vez mais complexo.
Não basta entregar a bola para o talento resolver na base do drible ou do passe mágico no meio da defesa. Agora há mais corpos condicionados e bem posicionados para bloquear. Em jogos grandes mais ainda. Atacar requer repertório coletivo. Trocas de passes, movimentação, infiltração na hora certa e precisão no acabamento da jogada – assistência e finalização.
Tudo que o time da casa não teve. Mesmo com Lucas Lima no lugar de Thiago Santos aumentando a criatividade e a expulsão de Edilson empurrando ainda mais a equipe mineira para o próprio campo. Com 66% de posse, 19 finalizações contra apenas quatro. Levantando 37 bolas na área de Fábio. Mesmo com bola no travessão em chute de Willian faltou a chance cristalina em jogada construída.
No final, o lance polêmico. Para este que escreve, disputa normal entre Edu Dracena e Fábio. Goleiro não é intocável dentro da área. O árbitro Wagner Reway anulou antes do toque de Antonio Carlos para as redes. Podia ter sido o empate do Palmeiras. Mas também não é o fim do mundo.
O Cruzeiro não tem conseguido se impor no Mineirão. Muito pela proposta de Mano de não correr riscos mesmo quando o cenário é tão favorável. Ficou por um gol de ser eliminado pelo Santos na fase anterior da Copa do Brasil e de ter que disputar com o Flamengo nos pênaltis pela Libertadores.
É melhor se cuidar, porque o Palmeiras está bem vivo e parece mais forte que os outros oponentes eliminados. E Felipão certamente usará o tradicional discurso "contra tudo e todos" para inflamar seu time. Como visitante, a pressão diminui e o jogo costuma fluir melhor. O Cruzeiro tem sentido mais o peso, inclusive do favoritismo. Sempre incômodo no futebol brasileiro.
Confronto muito aberto. A missão do Cruzeiro é entregar em casa a atuação segura que a torcida tanto aguarda. Mas se terminar com a vaga em mais uma decisão do torneio, mesmo com sofrimento, a festa será igual. Porque a exigência no Brasil vai pouco além do resultado final. Mano e Felipão são dois grandes expoentes dessa mentalidade.
(Estatísticas: Footstats)
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